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    O céu de GreamHachi era um espetáculo de desespero. O dourado e o verde das energias cósmicas rasgavam as nuvens, uma dança de luzes que parecia um prenúncio do fim. Cada raio e explosão iluminava a cidade como se um deus irado houvesse escolhido aquele lugar para descarregar sua fúria.

    A cidade reagia como uma colônia de formigas perturbada por um gigante. Comerciantes deixaram seus produtos rolarem pelas ruas de pedra, mães agarraram os filhos ao peito, e os guardas na torre principal se entreolharam, suas lanças inúteis nas mãos trêmulas.

    — Isso não é um sinal bom, — murmurou um dos soldados, um homem velho com cicatrizes que traíam décadas de batalha. — Eu já vi tempestades, já vi monstros, mas isso… isso é outra coisa.

    O mercado central, normalmente pulsante de vida e comércio, parou como se o próprio tempo tivesse sido interrompido. No alto, um monstro bestial despencava como uma estrela caída, suas asas deformadas tentando, em vão, sustentar o peso de sua derrota. Mas não era só o monstro que caía. Três vultos acompanhavam sua queda, figuras humanas que desafiavam a gravidade com uma coragem ou loucura que ninguém sabia definir.

    Dante, no centro do turbilhão, mantinha uma mão firme nas asas quebradas do Felroz, o corpo tensionado como uma corda de arco prestes a se soltar. O monstro rugia, sua energia pulsando, mas ele não cedia. Atrás dele, Gerhman segurava-se como podia, o rosto rígido e pálido, enquanto Cerberus tentava controlar as correntes de energia que prendiam a criatura, seu rosto um retrato de exaustão.

    — Você disse que isso seria rápido! — gritou Gerhman, o vento roubando parte de sua voz.

    — E foi! — retrucou Dante, seu tom quase alegre. — Não disse que seria elegante.

    — Se isso é o que você chama de rápido, — interveio Cerberus, a respiração pesada e irregular, — me lembre de nunca mais acreditar em você!

    Dante riu, um som inapropriado para a situação, mas que parecia vir de um lugar genuíno.

    — Relaxem, vocês dois! Estamos vivos, não estamos? Isso já é mais do que esperávamos!

    No entanto, o Felroz não parecia disposto a se render. Mesmo em sua queda, a criatura reuniu forças para abrir a boca, uma esfera de energia cósmica crescendo lentamente entre suas mandíbulas. Dante percebeu o perigo e agiu rápido. Com um giro preciso, ele acertou um soco na lateral do crânio do monstro, desviando o disparo que explodiu no ar, iluminando ainda mais o caos.

    — Não na minha cidade, — murmurou Dante, os dentes cerrados em um sorriso feroz.

    Enquanto isso, em GreamHachi, o pânico crescia. A multidão na praça central observava a cena com uma mistura de fascínio e horror. Alguns corriam para as casas, outros permaneciam, congelados pelo espetáculo.

    — Isso é uma invasão? — perguntou um homem, segurando um martelo de ferreiro como arma improvisada.

    — Invasão ou castigo dos deuses, tanto faz, — respondeu uma mulher ao seu lado, os olhos fixos no céu.

    Quando finalmente os quatro corpos — três humanos e uma besta colossal — atingiram o solo, a terra tremeu. O impacto criou uma cratera na praça central, rachando o chão e levantando uma nuvem de poeira tão espessa que parecia engolir tudo ao redor.

    Dante foi o primeiro a emergir da poeira, o sorriso ainda no rosto enquanto limpava o casaco rasgado. Gerhman tropeçou logo atrás, os cabelos desgrenhados e o rosto manchado de sujeira. Cerberus, por outro lado, caiu de joelhos, arfando como se tivesse corrido por dias.

    — Nunca mais… nunca mais faço isso com vocês… — murmurou ele, entre ofegos.

    — Claro que faz, — respondeu Dante, estendendo a mão para ajudá-lo a se levantar. — Você sabe que não resiste a uma boa aventura.

    A multidão, que antes se mantinha à distância, agora começava a se aproximar. Murmúrios cresciam como um zumbido de abelhas.

    — O que é isso? — perguntou alguém, apontando para o Felroz inconsciente na cratera.

    — Um monstro, claramente, — respondeu outro. — Mas o que eles são?

    Antes que alguém pudesse responder, um grupo de guardas atravessou a multidão, liderados por uma mulher de armadura pesada e olhos de aço. Ela segurava uma espada longa, a lâmina reluzindo mesmo na luz turva do dia.

    — Vocês têm ideia do que fizeram? — perguntou ela, a voz dura e autoritária.

    Dante abriu os braços em um gesto teatral.

    — Salvaram a cidade? Deram a vocês um show inesquecível? Eu poderia listar várias coisas.

    A mulher estreitou os olhos.

    — Salvaram a cidade? Vocês caíram do céu como um meteoro! Poderiam ter matado centenas!

    Gerhman suspirou, esfregando o ombro.

    — Algum dia, Dante, sua boca vai nos matar.

    — Mas não hoje, — respondeu Dante, piscando para ele.

    A líder dos guardas não parecia impressionada. Ela ergueu a espada, apontando-a diretamente para o peito de Dante.

    — Por ordens da Cúpula, todo impuro que pisa nessas terras deve ser executado. Rendam-se agora, ou morram sem dignidade.

    Dante riu, um som baixo e perigoso.

    — Sem dignidade? — Ele deu um passo à frente, ignorando a espada. — Vim a pedido dele.

    Ele apontou para Gerhman, que, mesmo exausto, ergueu a cabeça e deu um passo à frente.

    — Vocês enviaram emissários para buscar ajuda, não foi? Para salvar Leonardo? Pois bem, ele está aqui. — Gerhman apontou para Dante. — Este é o homem que vai fazer o que nenhum de vocês foi capaz de fazer.

    O silêncio caiu sobre a praça, pesado e denso. A líder dos guardas hesitou, a lâmina da espada tremendo ligeiramente.

    — Vocês têm muito a explicar, — disse ela finalmente, baixando a espada.

    Dante sorriu, o brilho em seus olhos mais forte do que nunca.

    — Explicações são fáceis, minha senhora. Mas antes disso, onde posso conseguir algo para comer? Estou faminto.

    A multidão, aos poucos, começou a rir, a tensão diminuindo. Mas Dante sabia que aquela era apenas a calmaria antes da próxima tempestade. E ele estava mais do que pronto para enfrentá-la. Se fosse apenas uma luta, ele não seria tão informal.

    O motivo dele estar ali era justamente para acabar com a reputação do que foi imposta. E também, para que Raver e aquela Cúpula pudesse entender que o que fizeram com Marcus e Clara não ficaria impune. Além de Cerberus, que passou nove anos sendo aprisionado por uma corrente invisível do lado de fora.

    Quando Dante ergueu a cabeça, viu Raver parado em cima de uma casa. Ele observava com desdenho, mas não havia avançado ou falado nada. Dante ergueu o queixo, orgulhoso de estar ali, mas do jeito correto.

    Cerberus – sua voz se tornou mais séria. — Pode prender o nosso bicho de estimação. Nós vamos levar ele para assistir.

    Assistir o que?

    A humilhação que eles vão passar. Se eles querem nos tratar como merda, então vamos fazer pior.

    Gerhman e Cerberus notaram que o tom do velhote tinha mudado para um mais seco do que antes. E então, viram Raver, com Harrow e Trinity, afastados, mas observantes. Gerhman não esperava que eles fossem ser recebidos daquela forma, mas vendo que nenhum dos guardas se aproximou, ficaram curiosos.

    Era notável a força que Dante possuía. Gerhman assistiu Leonardo, Januario e até mesmo Raver lutarem e conhecia a força por trás de suas palavras. No entanto, mesmo com aquela imagem de guerreiros corajosos e destemidos, eles ainda perdiam quando a insanidade de um velho homem, com um sorriso tão desdenhoso surgia.

    O quão frustrados eram os rostos daqueles que nada podiam fazer nada contra? 

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