Índice de Capítulo

    A espada de Render passou rasgando onde Dante estava. Teve que se abaixar, jogar para o lado e pular na diagonal, dando um chute que simplesmente terminou por ser bloqueado pela espada. Dante caiu, saltando por cima dele e viu os olhos frios do homem que o ensinou.

    As estocadas vieram em seguida. Cada um dos golpes variando de uma ponta a outra, a maestria sendo imposta como um imenso respaldo, não dando chance ou brecha. Variando entre golpes de um lado para o outro, Dante apenas parou quando seu pai parou.

    E mesmo assim, num corte seco de baixo para cima, Render não ousou descansar.

    A rajada de ar foi deslocada como um imenso turbilhão, envolvendo-se com a neve em sincronia.

    Esse ataque, Dante tinha visto pela primeira vez quando era novo, e seu pai o salvou de um lobo selvagem. Naquele dia, viu a arrogância e também o desdenho de ver um filho tão fraco ser chacota para um simples animal que vivia sem consciência.

    — Está chorando porque achou que ia morrer – disse Render, secamente. – E o que faria se morresse, idiota? Levante-se e volte pra casa.

    Não ousaria desviar de um golpe que viu tão cedo, tão novo. Dante forçou o punho pra frente, num soco estrondoso, obrigando sua Energia Cósmica se libertar de uma só vez.

    Não vou te deixar me olhar assim de novo. Não agora. Nem daqui pra frente.

    A pressão do ar dos dois se chocou, criando um estalido tão forte, tão estrondoso, que o céu se envolveu em um tufão. As nuvens se alinharam para rodar uma ao lado da outra, conversando perto de mais para seu atrito criar relâmpagos e trovões.

    Abaixo de seus pés, a grama foi arrancada, criando apenas a terra para sustentar o peso deles. Até as árvores se curvaram para o lado oposto, com medo do poder dos dois.

    Render abaixou a espada, apresentando sua postura ereta, como um Imperador encarando seus súditos. Ele não recuou em nenhum momento, apenas fitando seu filho com o mesmo olhar de antes. Nada impressionado.

    — Eu ensinei que se alimentasse através do próprio atrito – disse Render. – Está apenas gastando sua energia e nem mesmo consegue se manter em pé, não é?

    Dante tinha os dois braços erguidos, tremendo violentamente. Mas, ele sorriu.

    — Não estou sem energia, pai. – Os dois olhos, arregalados. – Eu estava ansioso por isso.

    — Ansioso? Apanhar sempre foi um dos seus passatempos preferidos. Por isso, está tão animado. Acredita que irá aprender mais com minhas lições. Que seja. – Ele ergueu a espada em riste. – Morrer vai ser sua próxima lição, garoto.

    A lâmina de Render brilhou sob o céu carregado, cortando o ar com uma força que parecia dividir o próprio mundo. Dante ergueu os braços, bloqueando o golpe com os punhos reforçados pela Energia Cósmica, o impacto ecoando como o som de pedra contra ferro. Ele deslizou para trás na terra nua, mas seus pés permaneceram firmes, os olhos fixos no homem que o criara e agora o tratava como um inimigo.

    Render avançou novamente, cada golpe um assalto calculado. Suas estocadas eram rápidas, precisas, mas Dante não era mais o menino que se escondia sob as sombras do pai. Ele esquivava, girava, desviava os ataques com uma agilidade feroz, suas respostas vindo como marteladas brutais.

    Um soco atravessou a guarda de Render, acertando-o no ombro. O impacto o fez recuar um passo, algo que Dante jamais vira antes.

    — Está recuando, pai? — Dante zombou, o sorriso desafiador em seus lábios. — Isso é novo.

    Render estreitou os olhos, ajustando sua postura.

    — Não se engane, garoto. Isso é uma dança. Eu guio os passos.

    Ele investiu novamente, a espada girando em um arco devastador. Dante bloqueou com o antebraço, a força do golpe fazendo seus músculos arderem. Mas ele respondeu de imediato, girando o corpo e desferindo um chute que acertou a lateral do tronco de Render.

    O velho cambaleou, um som gutural escapando de sua garganta. Seus pés escorregaram na terra, e ele teve que fincar a lâmina no chão para se equilibrar.

    Dante não deu trégua. Avançou como um lobo farejando sangue, seus punhos envolvendo-se em uma aura brilhante de energia. Cada golpe vinha com a força de uma avalanche, e Render foi obrigado a ceder terreno, passo após passo.

    O ar ao redor deles parecia vibrar com a intensidade da luta. As árvores que antes se curvavam agora balançavam violentamente, algumas perdendo galhos que caíam como testemunhas do confronto. A neve foi varrida do chão, revelando a terra endurecida por baixo, marcada pelos passos dos combatentes.

    Render tentou recuperar a vantagem, girando a espada em um arco horizontal que deveria ter aberto o peito de Dante. Mas o filho se abaixou no último momento, desviando por um fio e respondendo com um soco ascendente que acertou o queixo de Render.

    O impacto levantou o velho do chão por um breve instante antes de ele cair pesadamente de costas. Ele rolou, ágil apesar da idade, mas Dante já estava sobre ele, a mão envolvida em energia, pronta para descer como um martelo.

    Render bloqueou com a espada, mas o impacto da energia o jogou para trás, arrastando-o pelo chão. Ele conseguiu se levantar, o rosto sujo de terra e sangue, o olhar fixo no filho que avançava com a determinação de um homem que não aceitaria nada menos que a vitória.

    — Você está… — Render começou, a respiração pesada, mas foi interrompido por outro ataque. Dante não o deixava falar, cada movimento era um lembrete de que não havia mais espaço para palavras entre eles.

    Agora, Render estava sendo forçado contra uma árvore solitária no campo devastado. Ele olhou ao redor, vendo que não havia mais para onde recuar.

    — Não é tão fácil, não é, pai? — Dante disse, a voz carregada de algo entre desafio e mágoa. — Não quando o que está na sua frente não se curva mais.

    Render ergueu a espada, os braços tremendo sob o peso da batalha.

    — Você acha que venceu, garoto? — Ele sorriu, mas havia sangue entre seus dentes. — Eu só recuo para ganhar impulso.

    E erguendo as duas pernas, ele liberou uma rajada de ar que lançou Dante para trás. Render se levantou como uma andorinha, e ao invés de tocar o solo, se manteve flutuando. A espada em riste, mas uma nova dança.

    Saber que seu pai podia fazer exatamente tudo o que Dante fazia não lhe dava menos do que uma sensação de euforia. Era como se cada um dos seus movimentos foram dados de presente pelo único capaz de um dia assumir a responsabilidade de criar um filho tão medíocre.

    Era por isso que Dante nunca recuou em nada em sua vida. Nem naquele momento, quando dava uma gargalhada ao ver o pai suspenso no ar usando os jatos de ar liberados pela sua sola.

    Viu, por um segundo, o sorriso de Render no canto dos lábios.

    — Venha me pegar, garoto.

    Dante e Render subiram aos céus como dois cometas, o choque de suas energias abrindo clareiras nas nuvens escuras. O ar parecia vibrar ao redor deles, eletrificado pela fúria da batalha. Dante avançava com os punhos cerrados, envoltos em uma aura luminosa, enquanto Render cortava o espaço com sua espada, cada movimento deixando rastros brilhantes como fissuras no próprio céu.

    — É isso que você se tornou, garoto? Está apenas imitando. Nunca aprendeu a verdadeira lição. — Render gritou, a voz ecoando no vazio acima.

    — Tudo o que eu sei, você me ensinou. Então, não abaixe a guarda! — Dante respondeu, desviando de um corte que passou a centímetros de sua cabeça.

    Render girou no ar, sua espada desenhando um arco de luz que explodiu em uma onda de cortes em direção ao filho. Cada golpe parecia vivo, buscando a carne de Dante como uma fera faminta. Mas Dante não recuava. Ele avançava contra os cortes, bloqueando-os com os antebraços e desviando no último instante.

    Um dos golpes passou de raspão, rasgando a manga de sua roupa e deixando um corte superficial em seu braço. Dante grunhiu, mas não perdeu o ritmo. Ele usou o momento para fechar a distância entre eles, girando o corpo no ar e desferindo um soco que acertou o peito de Render.

    O impacto reverberou, jogando o velho para trás, mas Render recuperou o equilíbrio, estabilizando-se com um bater de energia sob os pés. Ele sorriu, embora houvesse sangue escorrendo do canto de sua boca.

    — Você está aprendendo — Render admitiu, erguendo a espada acima da cabeça. — Mas ainda está longe de me superar.

    Ele desceu a lâmina em um movimento brutal, e o céu ao redor deles pareceu se partir. Um corte massivo atravessou o ar, um ataque tão poderoso que fez as nuvens ao redor se dissiparem instantaneamente. Dante cruzou os braços em frente ao rosto, invocando toda sua energia para formar uma barreira que o protegesse.

    O impacto foi como um trovão, jogando Dante para trás como uma pedra atirada por uma catapulta. Ele conseguiu se estabilizar, mas mal teve tempo de respirar antes que Render já estivesse sobre ele novamente, a espada girando em cortes rápidos e mortais.

    Dante desviava como podia, seus movimentos cada vez mais rápidos. Ele usava os punhos para desviar a lâmina, cada choque enviando faíscas de energia para todos os lados. Em um movimento arriscado, ele agarrou a lâmina com ambas as mãos, a energia queimando suas palmas, mas conseguiu segurar Render por um momento.

    — Isso é tudo o que você tem, pai? — Dante disse, os dentes cerrados.

    — Garoto insolente! — Render gritou, liberando uma explosão de energia que o forçou a se soltar.

    Dante foi jogado para trás, mas girou no ar, recuperando o controle. Ele avançou novamente, desta vez mais rápido, mais feroz. Seus punhos eram como martelos, desferindo golpes incessantes que forçaram Render a recuar pela primeira vez.

    A batalha parecia uma tempestade viva, com relâmpagos cortando o céu ao redor deles, atraídos pela intensidade de suas energias. Cada golpe, cada corte, era acompanhado por trovões que ecoavam por todo o campo abaixo.

    Render tentou um golpe descendente, mas Dante o interceptou com um soco direto, quebrando a sequência de ataques do pai. Ele seguiu com uma sequência brutal, acertando o estômago de Render, depois o queixo, e por fim girando no ar para desferir um chute que lançou o velho para trás como um meteoro.

    Render parou no ar, a respiração pesada, o rosto marcado pelo cansaço e pelos golpes. Ele ergueu a espada novamente, mas seus braços tremiam.

    — Você está me forçando… a lutar a sério, garoto — ele disse, mas Dante percebeu a hesitação em sua voz.

    Dante respirou fundo, cerrando os punhos.

    — Então lute a sério, pai. Porque eu não vou parar até você cair.

    E os dois se lançaram um contra o outro novamente, como duas forças da natureza em colisão, iluminando o céu com o brilho de sua batalha.

    Dante abriu a boca e puxou o ar como se estivesse sugando o peso do mundo. Antes que Render pudesse surgir diante dele com a espada em riste, disparou rajadas de vento com precisão, moldando cada sopro como um arqueiro ajusta sua mira. O ar saiu cortante e certeiro, comprimido pelo movimento rápido de sua língua, disparos silenciosos que atingiram Render com força suficiente para fazê-lo recuar.

    Render, no entanto, não era homem de ser afastado tão facilmente. Seu olhar permaneceu fixo no filho, olhos duros como pedras de rio, refletindo tanto julgamento quanto determinação. Ele avançou, mas Dante, pela primeira vez, abriu os braços como se quisesse acolher a luta.

    A espada de Render cortou o ar em um arco horizontal, e o brilho azul que emanou de sua lâmina iluminou a tempestade ao redor, um zumbido agudo como o de mil abelhas ecoando no vazio. O golpe parecia destinado a dividir o próprio mundo em dois, mas Dante, com um sorriso que misturava orgulho e amargura, forçou o ataque para baixo com um gesto firme.

    — Pai — disse ele, o sorriso agora firme como aço. Pela primeira vez, o homem que ele tanto admirara e invejara o estava levando a sério. O reconhecimento, tardio e amargo, ardeu como um braseiro em seu peito. — Espero que possa me perdoar por ter sido fraco. Não pude voltar para casa. Não como o senhor queria. Mas agora… há outro lugar que preciso proteger.

    As palavras pairaram no ar, mas Dante não teve tempo de sentir alívio. O som metálico, frio e calculado, ecoou em sua mente como um toque de sino no silêncio de uma catedral:

    “Conversão cinética em 15%. Perigo eminente.”

    Era um aviso, uma profecia de autodestruição. Ele sentiu a ameaça em cada fibra de seu corpo, mas não desviou os olhos de Render.

    — Por isso eu sei que o senhor não é real.

    A energia ao redor de Dante mudou. Não era mais um simples fluxo; era um maremoto, uma força primitiva que se libertava sem restrições. A Energia Cósmica explodiu de dentro dele como uma onda que não reconhecia limites, expandindo-se como um tsunami em direção à costa.

    — Porque eu sei que nunca o venceria. — As palavras saíram como um sussurro e um grito ao mesmo tempo. — Esse sempre foi o meu maior medo. Mas também… minha maior lição.

    Dante fechou os braços em um movimento rápido, e o estrondo que se seguiu foi como o rugido de um titã. O impacto rasgou a tempestade em pedaços, os ventos caóticos se dispersando como folhas diante de uma rajada avassaladora. O corte de energia de Render foi consumido pela força de Dante, desfeito em fragmentos brilhantes que desapareceram na luz crescente.

    Quando a tempestade se dissipou, o horizonte, antes envolto em trevas, revelou um céu limpo, de um azul tão puro que parecia irreal. O brilho roxo e dourado da energia de Dante ainda dançava no ar, como uma aurora que trazia consigo a promessa de redenção.

    O céu azul se mostrou presente, para todos aqueles que um dia haviam se perdido na tempestade.

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