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    A tempestade rugia ao redor deles, como se o próprio mundo estivesse conspirando contra suas chances. A neve chicoteava o rosto de Juno, mas ela ignorou a dor. Seu corpo tremia, tanto pelo frio quanto pela exaustão. Ao seu lado, Marcus se movia com precisão calculada, os olhos fixos nas pedras rolando, pouco a pouco.

    Numa explosão repentina, todas as pedras voaram para fora. Marcus se manteve na postura, ainda com a coronha em seu ombro, apenas ajustando lentamente em relação aos movimentos. Cada pedra erguida, cada pedaço de madeira e ferro que subiram e caíam — ele enxergava tranquilamente.

    — Ele está vindo — murmurou Marcus, ajustando a Carabina ISE. O brilho azulado do cano se intensificava conforme ele canalizava a Energia Cósmica para mais um disparo. — Não baixe a guarda, Juno.

    — Não vou — respondeu ela, erguendo as mãos com esforço. Os filamentos azuis emergiram de suas costas, ondulando como serpentes famintas. — Apenas me diga o que fazer.

    Marcus olhou para ela por um breve momento, avaliando suas condições. Apesar do desgaste evidente, havia algo em seus olhos — uma determinação teimosa que ele reconhecia bem. Ele assentiu, voltando sua atenção para a criatura.

    — Vou atrair a atenção dele enquanto você me dá suporte. Nçoa faça nada complicado. Quando eu der o sinal, use suas correntes para puxá-lo para baixo. Se eu estiver na linha de frente, use em mim e me jogue pra cima. Entendeu tudo?

    — Entendi.

    O Felroz rugiu novamente, seus olhos injetados de raiva e fome fixos neles. Ele golpeou o chão com um dos braços, rachando o asfalto como se fosse vidro frágil, e disparou na direção deles com uma velocidade surpreendente.

    — Agora — gritou Marcus, rolando para o lado enquanto disparava a Carabina. O tiro ricocheteou no ombro da criatura, arrancando um pedaço de carne podre e expondo veias pulsantes que brilhavam com uma luz dourada. O Felroz uivou de dor, desviando sua atenção para ele.

    Aproveitando a distração, Juno lançou suas correntes. Os filamentos se esticaram em um arco elegante, envolvendo duas das pernas da criatura. Com um grito de esforço, ela puxou com todas as suas forças. O Felroz cambaleou, perdendo o equilíbrio por um instante, mas logo se recuperou, arrancando as correntes com um dos braços restantes.

    — Mais uma vez! — gritou Marcus, disparando outro tiro que explodiu no flanco da criatura, espalhando sangue negro pela neve.

    Juno obedeceu, lançando suas correntes novamente. Desta vez, elas se enrolaram ao redor do braço direito do Felroz. Antes que ele pudesse reagir, Marcus correu em direção a ele, deslizando pela neve enquanto ajustava a mira. A Carabina brilhou intensamente, emitindo um zumbido que reverberou pelo ar.

    O disparo atingiu o Felroz diretamente no peito, criando uma explosão de luz que o fez recuar alguns passos. Juno aproveitou o momento para puxar as correntes com toda a sua força, forçando a criatura a cair de joelhos.

    — Agora, Juno! Acabe com ele! — gritou Marcus.

    O vento cortava a pele de Marcus como lâminas invisíveis, mas ele mal sentia. O foco absoluto estava no Felroz, uma criatura que parecia crescer a cada momento, como se a própria fúria alimentasse sua carne. Juno estava à frente, lutando para manter as correntes firmes enquanto os dois braços monstruosos do inimigo se enroscavam nelas, puxando com força suficiente para deslocar pedras e carros ao redor.

    Marcus viu o medo nos olhos dela. Não era o medo de morrer, mas o de falhar.

    — Juno! — gritou ele, ajustando a Carabina ISE no ombro. — Não ceda! Segure firme!

    A criatura, com um rugido gutural, fincou uma perna grotesca contra um carro próximo, usando-o como apoio para arremessar outro veículo diretamente em Marcus. Ele mergulhou para o lado, rolando na neve gelada, os flocos se agarrando ao seu casaco enquanto ele se levantava rapidamente. Sem perder tempo, puxou a carabina de volta, o azul intenso da Energia Cósmica iluminando o espaço ao redor.

    O disparo cortou o ar velozmente, mas o Felroz abaixou no último instante, o projétil explodindo em uma parede atrás dele. Marcus ficou imóvel por um segundo, a surpresa nítida em seu rosto. Ele percebeu o que havia acontecido.

    A criatura não era apenas forte. Ela estava aprendendo. O movimento, a antecipação… era humano demais.

    — Ele se adaptou — murmurou Veronica em sua mente, a voz fria como sempre. — Acha que é o único com experiência aqui? Acha que uma bala seria suficiente para atravessar carne que se regenera quase tão rápido quanto é destruída?

    — Se tem algo útil pra dizer, diga agora — respondeu Marcus, já em movimento, guardando a carabina com um movimento fluido e puxando a pistola Gen Se do coldre. — Porque eu não vou parar até ele cair.

    A poucos metros do Felroz, Marcus viu o monstro virar-se abruptamente, como se sentisse sua aproximação. Um braço enorme balançou na direção dele, cortando o ar com força suficiente para partir um tronco. Marcus se abaixou, escorregando na neve, cada movimento meticulosamente calculado. Ele puxou a Gen Se, ajustada por Clerk, sentindo o cartucho de Energia Cósmica vibrar em sua mão.

    — Você gosta de rugir, não é? — disse ele, a voz baixa e carregada de sarcasmo. — Vamos ver como você lida com isso.

    O disparo foi quase instantâneo. A bala carregada de energia rasgou o ar, atingindo o pescoço da criatura em um ponto exposto. O Felroz recuou, soltando um grito estrangulado, enquanto sangue escuro e grosso jorrava do ferimento. Mas Marcus sabia que isso não seria o suficiente. Não enquanto Juno estivesse vulnerável.

    — Juno, agora! — gritou ele, apontando para o alto.

    Ela entendeu imediatamente, mesmo com os braços tremendo de esforço. As correntes, brilhando com uma intensidade renovada, se reconfiguraram. Em vez de puxar o Felroz para baixo, elas se prenderam a Marcus. Ele sentiu o impacto nos ombros quando foi lançado ao ar, a força do movimento o impulsionando acima da criatura.

    Observando o mundo inteiro parar de brigar contra sua vontade, ele subiu girando no mesmo sentido. O Felroz, solto, saiu em disparada na direção de Juno, usando a mão para esticar e encurtar o espaço mais rápido.

    Nem que fosse dez braços ao mesmo tempo, ele nunca chegaria rápido o suficiente contra ela. Não quando bem acima dele, a Carabina ISE estava puxada e a Gen Se engatilhada junto.

    O principal valor que um atirador tem é nunca errar o alvo, seja ele qual for, filho.

    Independente de onde estivesse, como estivesse ou por quem estivesse, quando uma arma é erguida contra seu alvo, sua única missão é acertá-lo. Custe o que custasse, contrariando até mesmo as próprias leis criadas para isso.

    — Sem hesitar — sussurrou ele para si mesmo, o dedo firme no gatilho.

    A criatura o escutou, erguendo a cabeça ao mesmo tempo que um dos braços subiu e desceu esticado contra Marcus.

    Não importava mais se ele fosse mirado ali no ar — nem a tempestade podia salvar a vida daquela criatura.

    O primeiro disparo explodiu, atingindo o centro da garganta do Felroz. A explosão foi ensurdecedora, iluminando o campo de batalha em um clarão ofuscante. Fragmentos de carne e osso voaram pra todos os lados.

    Marcus apertou o segundo gatilho, da Gen Se, e a arma disparou um segundo antes do braço acertar seu peito. Ele voou contra o outro lado da rua, batendo contra a neve e escorregando até uma estátua de um homem montado em um cavalo.

    Ele ergueu a cabeça, vendo o pescoço da criatura aberto, com a Pedra Lunar exposta.

    — Não foi o suficiente — falou Veronica. — Vai precisar de mais.

    — Os disparos estavam contados. — Marcus mostrou um sorriso vitorioso. — A bala sempre acerta o alvo.

    Um risco amarelo cortou diante do Felroz, acertando diretamente sua garganta. Juno caiu pra trás, vendo o monstro levar a mão até o membro ferido, tentando ajustar, forçando a carne e sangue subirem. Uma ação inútil, era o que Marcus achava.

    Dante havia explicado que um Felroz que comeu a Pedra Luna dependia exclusivamente dela para sobreviver. Agora que o disparo havia acertado, não tinha mais nada a ser feito.

    — Acabou — disse para si, dando um sorriso. Ele soltou a Carabina ISE, relaxando os ombros e respirando fundo.

    Lembrava que a sensação de enfrentar as dezenas de Felroz no Reservatório foi dez vezes pior, mas dessa vez, ele tinha dado o golpe final.

    Não chamaria de orgulho, só que o queixo erguido ele não podia deixar de ter.

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