Capítulo 175: Dois Contra Um
A espada de Leonardo Vulkaris ergueu-se, e como se pela vontade do próprio cosmos, outras cinco lâminas espectrais materializaram-se ao seu redor, girando lentamente, como luas orbitando um planeta. Não era apenas o peso de sua presença que se fazia sentir; era o poder bruto, a precisão afiada e a autoridade incontestável de um verdadeiro espadachim. Arsena e Juno não puderam evitar um calafrio ao compreenderem o significado de Leonardo estar novamente com sua arma. Ele não era um homem comum, e tampouco alguém consumido pela ferrugem do tempo.
— E então? — Sua voz ecoou como um trovão calmo, a lâmina empinada à altura dos olhos. — O que estão esperando? Vou ensinar a vocês como se porta uma espada de verdade.
Juno não conseguiu desviar o olhar. A energia que irradiava de Leonardo era familiar, assustadoramente semelhante à de Dante quando ele se entregava ao campo de batalha. Não era o mesmo sorriso sarcástico, nem a mesma postura rígida, mas havia algo nos movimentos dele, na forma como dominava o ambiente, que exalava a mesma opressão avassaladora.
É isso que preciso alcançar?
— Era exatamente isso, — ela murmurou para si mesma, como se confirmando um pensamento antigo.
Arsena deu um passo à frente, empunhando sua espada com firmeza. Seus olhos estavam fixos em Leonardo, e o fogo da determinação brilhava neles.
— Vê se consegue me acompanhar, Juno.
Com isso, ela avançou, o som de seus passos ecoando pelo chão. Sua espada ergueu-se no ar, e duas outras lâminas de pura energia manifestaram-se ao seu lado, acompanhando o movimento. Quando desferiu o golpe, Leonardo moveu-se com uma simplicidade que beirava o desdém. Um único passo para trás foi suficiente para evitar o ataque, e então ele contra-atacou.
Mas não foi um ataque comum. O braço de Leonardo moveu-se devagar, como se o tempo houvesse desacelerado apenas para ele. Em um piscar de olhos, ele já havia ultrapassado Arsena, sua lâmina erguida, a postura perfeita, o equilíbrio impecável. Arsena cambaleou para trás, sua espada tremendo em sua mão.
— Você estaria morta se tentasse me acertar dessa maneira. — Leonardo falou com frieza, sem traço algum de crueldade, apenas a honestidade de um mestre instruindo seus aprendizes. — Uma luta até a morte não perdoa erros. Vocês precisam enxergar além do espaço. Devem ser destinadas a isso.
Arsena largou a espada por um instante, o tremor ainda evidente em sua mão. Juno, por outro lado, permanecia imóvel, seus olhos arregalados enquanto absorvia a cena.
— Sua habilidade carrega o destino? — Jix finalmente quebrou o silêncio, a admiração clara em sua voz. — Impressionante.
Leonardo girou sua espada lentamente, os anagramas na lâmina reluzindo à luz.
— A habilidade ‘Fio do Destino’ foi algo que herdei de minha mãe. — Sua voz era grave, carregada pelo peso das memórias. — Cada golpe que acerto me permite prever a falha do oponente. Se ele for mais forte do que eu, vejo onde errará. Se for mais fraco, vejo o ponto exato onde devo atingi-lo.
Arsena pegou sua espada novamente, o tremor dando lugar a um sorriso irritado.
— Velhinho, vai pagar por isso. Tem que ter peito pra dizer que sou mais fraca do que você.
Leonardo riu, um som seco e curto.
— Não se sinta ofendida. — Ele girou a lâmina mais uma vez, desenhando um arco no ar. — Se eu ativar minha habilidade aqui, verei o destino de todos vocês ao me enfrentarem a sério.
Juno deu um passo à frente, a curiosidade vencendo sua hesitação.
— E o que o senhor vê?
Leonardo ergueu o olhar, seus olhos brilhando com algo que parecia ser tanto compaixão quanto um aviso.
— Morte. Todos vocês morreriam. É por isso que GreamHachi me aceitou muitos anos atrás. — Ele fez uma pausa, como se pesaroso. — Nenhum dos soldados ou comandantes deles podia me derrotar. E ainda acredito que não há muitos que possam.
Ele hesitou, mas um sorriso curvou seus lábios.
— Embora tenha encontrado um. Um homem tão forte quanto uma montanha e tão rápido quanto uma bala. Quando tentei ver o destino dele, só vi escuridão.
Leonardo deu uma risada, sacudindo a cabeça.
— Vocês deveriam agradecer a Heian. Com esta espada, posso voltar a ser o que fui. Agora… — Ele ergueu a lâmina, a energia ao redor dela crepitando como um trovão contido. — Por que vocês não vêm?
As correntes de Juno serpentearam em seu pulso como serpentes vivas, impulsionando-a para frente em um giro que parecia desafiar as leis da gravidade. Fagulhas azuladas dançaram no ar, formando uma dezena de pontos brilhantes que desabaram sobre Leonardo como uma chuva de estrelas cadentes. Ele bloqueou cinco com a precisão de um artesão trabalhando em um metal precioso, mas ouviu o som inconfundível dos passos de Arsena contornando-o.
Mais três espadas flutuavam ao redor dela, disparadas em uníssono com as fagulhas de Juno. Leonardo deu uma passada larga para a direita, depois outra, e fechou a distância entre ele e Arsena, a lâmina baixa, como um predador espreitando sua presa. Seus olhos brilharam em um tom carmesim, e ali estavam eles: os fios.
Caminhos invisíveis, teias do destino entrelaçadas que revelavam cada falha, cada vulnerabilidade. Para onde quer que ele atacasse, o fim seria inevitável. Leonardo puxou sua espada, desviando duas lâminas de energia antes de avançar. Sua mão livre encontrou a garganta de Arsena, apertando-a por um instante antes de soltá-la, apenas para que um golpe direto em seu abdômen a lançasse para trás como uma folha ao vento.
Ele virou-se no exato momento em que uma lança elétrica atingiu o chão onde estivera segundos antes. Juno vinha em alta velocidade, cercada por seis correntes pulsantes como chicotes vivos. Os fios do destino se formaram novamente, dez desta vez, cada um apontando uma direção. Quando Leonardo ergueu o braço para desferir um golpe, seis desses fios desapareceram de repente.
Sua sobrancelha arqueou. Ele hesitou, girando no próprio eixo e afastando-se com um passo calculado.
As correntes de Juno atingiram o chão com força, o impacto criando um som estrondoso. Ela aproveitou o momento, girando as correntes como braços que pareciam ter vida própria, e lançou-se para frente novamente. Leonardo ativou sua habilidade mais uma vez, e agora quinze fios se ergueram, revelando falhas e pontos mortais. Mas quando ele posicionou sua lâmina para bloquear, sete deles sumiram.
Ela está reagindo a mim?
Dessa vez, Leonardo não esperou. Correu em direção a Arsena, que ainda se recuperava, e surpreendeu a todos. Juno abaixou-se de seu golpe com agilidade, a fagulha de energia em sua mão crescendo até quase um metro de comprimento. A lâmina de Leonardo aparou o ataque, desviando-o para o lado, onde explodiu contra uma parede próxima.
O movimento parecia abrir sua defesa, e Juno aproveitou, fazendo seus oito fios crescerem até vinte, um número que excedia qualquer previsão.
Ela realmente está reagindo. Fascinante.
Leonardo atacou com o pé, um chute certeiro em direção a ela, mas Juno foi puxada para trás por uma de suas correntes no último instante. Seus braços se esticaram para os lados, e por um breve momento, Leonardo enxergou algo mais ali. Não era apenas habilidade; era uma dedicação meticulosa, uma sinergia perfeita entre ataque e defesa.
Ainda assim, ela era jovem, e ele carregava o peso de anos de experiência.
Juno atirou-se novamente, usando as correntes para se impulsionar como uma flecha atravessando o vento. Sua mobilidade era impressionante, um pesadelo para espadachins presos ao solo. Mas Leonardo, sorrindo com uma confiança tranquila, ergueu sua espada.
Quando ela se aproximou, a lâmina desceu, cortando uma das correntes em um clarão de energia que a lançou para longe. Juno girou no ar, sem conseguir estabilizar-se a tempo. Leonardo estava sobre ela antes que pudesse reagir, segurando-a pelo braço com firmeza.
A espada desceu novamente, quebrando a corrente em seu pulso direito. Juno tentou girar, usando o momento para escapar, mas Leonardo a interceptou com um golpe de pé que a lançou ao chão. O impacto rachou o solo sob ela, e antes que pudesse se mover, o cabo de sua espada encontrou sua testa.
— Parece que perderam. — Leonardo falou, sua voz firme mas sem arrogância. Seus olhos pousaram em Arsena, que ainda estava no chão, a mão na garganta enquanto recuperava o fôlego. — Ainda falta muito para chegarem nesse velhinho.
Ele soltou uma risada, cheia de uma alegria inesperada.
— Mas foi um bom aquecimento para mim.
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