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    Leonardo se aproximou de Dante, a tensão ainda evidente em cada movimento. Fabiana vinha logo atrás, seu semblante carregado de uma gravidade sombria.

    — Dante — começou Leonardo, a voz grave. — Essa mulher já foi membro da Cúpula, na mesma época que eu.

    Fabiana completou, seu tom baixo, mas cortante:

    — Ela tem a habilidade de mudar de aparência, desde que consiga o sangue da pessoa. — Ela lançou um olhar duro para Decoral, como se cada palavra fosse um ataque. — Se ela está aqui, então Clara foi levada. Essa mulher… é uma maníaca. Ela gosta de torturar, de machucar.

    Dante permaneceu calado por um momento, os olhos fixos no rosto da Condessa. A expressão de Decoral parecia beber do caos ao redor, alimentando-se do medo e do choque que pairavam na sala. Seu sorriso era uma lâmina afiada, cortando o ar com arrogância.

    — E sua amiga deve estar sofrendo agora — disse Decoral, a voz afiada como um chicote. — Amarrada, em algum lugar tão distante que vocês nunca vão encontrar. E o que podem fazer? Nada. Que pena. A vida é tão injusta, não é?

    Leonardo apertou os punhos, mas continuou encarando Dante.

    — Ela não está errada — disse ele, relutante. — Clara pode estar presa, em qualquer lugar.

    — Kappz é grande demais — Fabiana murmurou, os olhos ainda cravados na Condessa. — Até nas partes mais afastadas, há esconderijos. — Sua voz carregava um peso de memórias antigas. — Essa mulher sempre foi uma desgraçada. Tentou levar minha filha uma vez, alegando que queria fazer experimentos com Impuros. Disse que nosso sangue era… seco.

    O riso de Decoral ecoou pela sala, frio e cruel.

    — E vocês confirmaram isso, não foi? — provocou ela, com um sorriso que parecia um corte aberto. — Se não fosse esse velhote, ninguém aqui daria a mínima. Vocês são fracos. — Seus olhos passearam pelos presentes, cheios de desprezo. — Apenas insetos que se acham dignos de algo. Esta cidade pertence ao…

    — Ah, cala a boca.

    A explosão foi rápida. A Gun Se de Marcus disparou, atingindo a testa de Decoral. O impacto não a matou, mas a silenciou, empurrando-a contra a cadeira.

    — Fala demais — murmurou Marcus, abaixando a arma.

    Dante soltou uma risada, claramente satisfeito. Ele arrastou uma cadeira para mais perto de Decoral, posicionando-se a pouco mais de um metro dela. Sua presença era imponente, o charuto equilibrado entre os dedos enquanto seus olhos avaliavam a mulher com calma.

    As correntes de Juno recuaram lentamente, libertando a Condessa de seu aperto gélido. Simone e Clerk deram alguns passos para trás, ainda atordoados pela revelação. Clara não era Clara.

    — Você gosta de falar, não é? — Dante quebrou o silêncio, girando o charuto no dedo. — Percebi isso no primeiro dia.

    Decoral inclinou a cabeça, os olhos dela faiscando de ódio.

    — Vai me dizer que sabia desde o começo que eu não era sua amiga? — Sua voz estava carregada de escárnio. — Sou uma das melhores, senão a melhor, em criar transfigurações humanas. Conheço a história, os gostos, os costumes. Posso me transformar em qualquer um.

    Dante deu um sorriso lento, quase desdenhoso.

    — Do que adianta tudo isso, se você não sabe como ela trata as pessoas? Acreditou que falando comigo daquele jeito, eu não suspeitaria? Clara nunca iria querer que ficassemos parados sem fazer nada só porque a tempestade lá fora aumentou. Ela me mandou para GreamHachi, para o Reservatório. Ela pediu que Heian construísse e você manda ele parar porque tem medo.

    Mesmo sorrindo para ele, Dante podia ver a aflição dela.

    — Ela pode estar morta agora, sabia? — A voz de Decoral cortou o ar como uma lâmina fria. — Mesmo com todos vocês juntos, não conseguiriam resgatá-la. Deve ser bem triste não saber onde ela está.

    Dante não se abalou. Em vez disso, sorriu de forma enigmática, os olhos fixos nela.

    — Mas, quem disse que eu não sei?

    A mudança na expressão de Decoral foi instantânea e genuína. O sorriso de escárnio deu lugar a uma linha tensa de desconfiança.

    — Como saberia, velhote? Está blefando.

    Dante inclinou-se levemente para frente, seus olhos perfurando os dela.

    — Estou? No primeiro dia em que saí, você mandou Leonardo e a esposa ficarem afastados no nono andar, não foi?

    O leve estremecer dos lábios dela denunciava sua irritação, mas ela permaneceu em silêncio.

    — Mandou Gerhman interromper a contagem dos recursos e evitar contato com os moradores, porque alguns estavam receosos demais. Disse que a confusão entre Degol e Meliah precisava ser resolvida, porque, segundo você, isso estava atrapalhando sua concentração.

    Ele se aproximou mais, cada palavra carregada de intenção, a voz baixa o suficiente para que todos na sala escutassem com clareza.

    — E quando ordenou que Marcus não fosse ver Luma… o que passou pela sua cabeça?

    Decoral olhou ao redor, sentindo o peso dos olhares de desprezo e raiva que se reuniam atrás de Dante. Não era apenas a humilhação de ter sido descoberta; era o julgamento de todos aqueles que haviam sido enganados.

    — Qualquer um poderia achar que era nervosismo — continuou Dante, sua voz gotejando desprezo. — Mas o que você não sabe sobre Clara é que ela nunca trataria ninguém assim. Nem mesmo Magrot, Arsena ou Duna. Você ainda se considera pura, mesmo aqui fora, mesmo depois de tudo.

    — Eu sou! — Decoral explodiu, a voz dela fervendo de indignação.

    Dante deu uma risada seca, sem humor.

    — É mesmo? — Sua raiva era palpável, mas controlada. — Clara está em GreamHachi. Disso, eu tenho certeza. Mas o local exato? Isso, você vai me contar.

    Antes que Decoral pudesse responder, seu rosto começou a mudar, transformando-se no de Clara. Mas ela não teve tempo de concluir a transfiguração. O soco de Dante veio rápido, direto e brutal, estalando a mandíbula dela e interrompendo o processo.

    Dante nem sequer se levantou da cadeira. Sua mão voltou ao lado do corpo enquanto ele olhava para o próprio punho, agora manchado com um pouco de sangue.

    — Pelo visto, os Puros também sangram.

    — E sangram bastante — completou Marcus, a voz cheia de ironia.

    Atrás de Dante, o silêncio era pesado, mas ele ergueu a mão, chamando a atenção de Magrot.

    — Vou precisar de você e de Heian.

    Os dois se aproximaram sem hesitar. Dante puxou gentilmente o cabelo de Decoral para trás, revelando o rosto inchado e a mandíbula marcada.

    Ele virou-se para os demais, sua voz grave e firme:

    — Nunca fui uma pessoa ruim por natureza. — Ele fez uma pausa, encarando cada um na sala. — Na verdade, nunca gostei de machucar ninguém… até perceber que existem pessoas que fazem isso sem pensar duas vezes nas consequências.

    O peso de suas palavras pairou no ar, como um lembrete sombrio de que até mesmo os mais pacientes têm seus limites.

    E a de Dante já tinha ultrapassado fazia bastante tempo.

    — Condessa Decoral. — Dante falou, sua voz carregada de ironia. — Seu nome é bonito, sabe? Me lembra os tempos em que a humanidade ainda era viva. Curioso… antigamente, homens queimavam pessoas com nomes assim. — Ele deu uma pausa, inclinando-se ligeiramente para frente. — Queimavam como símbolo. Como exemplo.

    Os olhos de Decoral brilharam de irritação, mas ela permaneceu em silêncio.

    — Esse aqui à minha direita — continuou Dante, indicando com um gesto firme — é Magrot.

    O som metálico das botas pesadas de Magrot ecoou quando ele deu um passo à frente, seu corpo metade carne, metade metal, irradiando uma presença intimidadora. Decoral lançou-lhe um olhar, examinando-o de cima a baixo, mas não disse nada.

    — Magrot tem uma habilidade bem interessante — explicou Dante, sua voz fria e deliberada. — Ele controla as chamas. E, dependendo da cor, elas podem purificar. As chamas douradas, em particular, são perfeitas para purificar o que você chama de Impureza dentro do seu corpo.

    O rosto de Decoral se contraiu levemente, mas a expressão de escárnio começou a desaparecer. A garganta dela se moveu enquanto engolia em seco, pela primeira vez parecendo realmente preocupada.

    — E este aqui ao meu lado — Dante apontou para o outro homem — é Heian Cerberus. Ele vai garantir que você sobreviva.

    A expressão de Decoral endureceu, mas Dante não parou.

    — Heian tem o poder de curar rapidamente qualquer dano, até os mais extremos. Pele queimada, cabelo, unhas, órgãos… ele repara tudo antes mesmo do coração parar de bater.

    Um murmúrio inquieto percorreu a sala. Não foi apenas Decoral que recuou visivelmente; Clerk, Simone e Fabiana também deram passos hesitantes para trás, o peso do que estavam ouvindo se tornando quase palpável.

    — Essa é a punição que você merece — continuou Dante, seus olhos fixos nela. — Por tudo que fez.

    Ele se virou levemente, chamando Gerhman com um movimento da cabeça.

    — Gerhman, aplique o Decreto. Sete vezes, por cada dia que ela se passou por Clara.

    Gerhman deu um passo à frente, com uma expressão resoluta. Ele arregaçou a manga do casaco, preparando-se para o que estava por vir.

    — Marcus, faça uma ronda com Leonardo e os outros. — A voz de Dante soou como uma ordem inquestionável. — Ninguém deve se aproximar daqui. Juno, Jix, mantenham os arredores sob controle. Duna, leve os outros para fora e diga a todos que estamos apenas lidando com… problemas internos.

    Dante virou-se para Meliah e Degol.

    — Vocês dois, ajustem o sistema que perdemos durante essa semana. Sigam exatamente como Clara ensinou.

    Decoral começou a respirar mais rápido. Pela primeira vez, o medo dominava seu rosto. Não era apenas o medo da dor, mas o medo de homens que estavam dispostos a ir até o fim.

    — Todos, saiam — ordenou Dante, sua voz cortante.

    Um a um, os outros deixaram a sala, suas expressões sérias e sombrias. Assim que a porta se fechou, Dante cruzou as pernas e acendeu um cigarro. Ele exalou a fumaça devagar, o olhar frio fixo em Decoral.

    — Podem começar.

    As chamas douradas de Magrot se ergueram, iluminando a sala com uma luz intensa. Durante toda a noite, o som do crepitar das chamas misturou-se aos gritos agonizantes de Decoral, ecoando pela cidade.

    Dante não desviou o olhar uma única vez. Ele sabia que, se recuasse, perderia muito mais do que aquela batalha.

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