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    Dante chegou ao centro da cidade, à praça onde havia derrotado Januário e Raver, deixando ambos caídos à beira da morte. Ali, onde conquistara sua primeira vitória, o sangue já havia manchado o chão uma vez. Agora, o mesmo lugar seria palco de mais um confronto.

    Ele olhou ao redor, absorvendo a cena. Um homem já havia morrido ali, consequência de suas próprias escolhas. Mas eles queriam mais. Sequestrar Clara… Como a mente dessas pessoas poderia funcionar?

    — Veio porque sua amiga foi sequestrada.

    A voz feminina cortou o silêncio. Uma figura emergiu das sombras atrás da fonte, sua armadura refletindo a pouca luz que atravessava a tempestade. A mesma armadura da última vez, a mesma postura rígida. Era a Comandante de GreamHachi. Sua espada já estava desembainhada, balançando sutilmente, como se aguardasse apenas um sinal para o ataque.

    — Eu queria poder dizer que entendo seus motivos, mas invadir a minha casa tornou isso impossível.

    Dante não recuou. Seu olhar se manteve fixo nela, sem pressa, sem hesitação.

    — Eu não tenho nada com você.

    Antes que a mulher pudesse responder, uma sombra deslizou para perto de Dante. Leonardo surgiu silencioso, sua presença discreta, mas letal. A lâmina já desembainhada reluziu ao seu lado.

    Ele caminhou à frente de Dante, sem medo, e apontou na direção de um grande arco de vidro, à frente.

    — O caminho é por ali. Ela está lá. A Caixa Preta.

    A voz da Comandante se ergueu num grito cortante:

    — Traidor!

    Seus olhos ardiam em fúria.

    — Você deixou esta cidade em chamas! Fugiu com sua família, abandonando suas responsabilidades! Você…

    Leonardo interrompeu, sua voz firme como aço.

    — Fiz o que achei ser certo para proteger aqueles que um dia jurei defender mais do que a mim mesmo.

    Ele ergueu a espada levemente, observando seu próprio reflexo na lâmina.

    — Meu juramento sempre foi proteger o meu povo. Prometi que faria de tudo para que GreamHachi fosse a maior cidade, a melhor cidade.

    — Nossa cidade… — murmurou a Comandante, a raiva oscilando com algo próximo à tristeza.

    — Nossa, não. — Leonardo negou sem hesitação. — Sua cidade. Vocês me trataram como um traidor. Me colocaram contra um pedestal. Queriam minha cabeça. Vocês podem esquecer… mas eu não.

    A expressão da mulher se fechou, sua fúria e mágoa se misturando numa máscara de gelo.

    — Ainda assim, morrer com a honra da sua cidade seria melhor do que viver como um traidor.

    Leonardo respirou fundo, ajustando a postura. Suas mãos firmaram-se no cabo da espada, os pés girando levemente para um lado, preparando-se.

    — Morrer nunca foi a melhor opção.

    Seus olhos encontraram os dela, sem desvio, sem receio.

    — A mulher que vocês capturaram… foi quem me acolheu. Quem alimentou minha família. Quem me deu tudo quando vocês arrancaram de mim sem sequer hesitar.

    A Comandante ergueu sua lâmina, o movimento sutil e controlado, como se estivesse lidando com algo inevitável.

    — Morreria por esse homem atrás de você?

    Leonardo sorriu de lado, sem hesitação.

    — Quantas vezes fosse necessário.

    A Comandante avançou com passos calculados, medindo cada movimento, escolhendo o ângulo perfeito para atacar. Mas no momento em que desferiu o golpe, Leonardo respondeu com precisão absoluta. Sua lâmina interceptou a dela num impacto seco, desviando a trajetória do golpe para o lado. Em um único movimento fluido, ele ergueu a mão livre e acertou um soco firme na lateral do rosto da mulher.

    O estalo ecoou pela praça. A Comandante cambaleou para trás, cuspindo sangue. Antes que pudesse recuperar o equilíbrio, Leonardo não hesitou. Sua espada desceu com força, encontrando a cota de ferro da armadura inimiga. O impacto reverberou pelo metal, um risco se formou na superfície da proteção, e Leonardo recuou por um breve instante, sentindo uma pontada no braço devido à colisão.

    Dante observou o duelo apenas por alguns segundos. Ambos estavam focados, trocando golpes como peças bem ajustadas de uma engrenagem mortal. Mas Leonardo era Vulkaris. Ele não precisava de ajuda.

    Sem mais delongas, Dante seguiu adiante.

    O caminho até o Arco de Vidro se revelou à sua frente, e os soldados, amedrontados, encolhiam-se nos becos, afastando-se sem ousar levantar as armas. Um corredor humano se abriu entre ele e a imensa estrutura de mármore. Homens, mulheres, idosos e crianças o encaravam com olhos arregalados, paralisados pelo medo.

    Aquele era o terror de ver sua casa sendo tomada, de sentir algo valioso ser arrancado diante de seus olhos. E, em breve, eles entenderiam o que era perder o mais precioso de tudo: a confiança em sua própria terra.

    O Arco de Vidro era uma construção imponente, erguida em mármore puro, seus cubos perfeitos refletindo a luz trêmula das tochas. Não havia janelas, nem portas laterais. Apenas uma única entrada, que também era a única saída.

    Por dentro, tornava-se a própria Caixa Preta.

    — Dante.

    A voz veio de cima. Heian estava posicionado no telhado de uma das casas, sua silhueta recortada contra a tempestade.

    — Vi movimentação mais à frente. Eles estão transferindo alguém para fora. Você precisa se apressar.

    Dante assentiu, a expressão inalterada.

    — Certo.

    Ele elevou o pé e, ao pisar novamente no solo, o impacto reverberou como um trovão. O chão vibrou, rachaduras se espalharam pela superfície, e os que estavam próximos perderam o equilíbrio, caindo sentados. Os soldados, já esgotados pelo medo, largaram suas armas. Não havia mais luta ali.

    Cinco minutos depois, Dante estava diante do Arco de Vidro.

    A estrutura colossal subia em espiral, girando lentamente, como se o próprio mármore respirasse. No topo, o vidro cintilava ao tocar a barreira energética da cidade, refletindo uma luz azul etérea. Era uma construção que Talia certamente gostaria de ver algum dia.

    Mas Dante não tinha tempo para se perder no passado.

    Ele se moveu mais uma vez, mas não precisou ir muito longe.

    No caminho, uma figura emergiu da penumbra.

    Uma mulher de cabelos azuis, sua presença tão calculada quanto sua aparência. O vestido largo, adornando seu corpo como se fosse uma extensão de sua própria soberania. Um enfeite, belo e perigoso.

    Ela ergueu uma das mãos num gesto displicente, abanando-a para o lado, enquanto uma risada suave escapava de seus lábios.

    — Parece que finalmente nos encontramos, Dante.

    Ele a encarou, sem reconhecimento em seu olhar.

    — E eu te conheço, por acaso?

    A mulher inclinou a cabeça, convencida, um sorriso brincando no canto da boca.

    — Claro que me conhece. Afinal… quem mais seria capaz de roubar sua preciosa líder bem debaixo do seu nariz?

    Ela estendeu a mão para o lado.

    A porta do Arco de Vidro rangeu, suas dobradiças metálicas protestando enquanto se abriam lentamente. O eco do movimento reverberou pelo espaço, como um aviso, como uma sentença.

    E então, a mulher falou, com uma provocação gotejando de cada palavra:

    — Por que não dá um olá para sua querida amiga, Dante?

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