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    Duna se encontrava na frente de uma imensa mesa esticada, diferente das outras nos quartos. Essa era esticada na parede, tomando uma parede inteira para si. E Dante tinha pedido por isso justamente porque gostava de deixar suas coisas alinhadas para não esquecer. Agora, com Duna ali, tinha se enchido de manuscritos, e também papiros enrolados, além dos livros que usava e cadernos que escrevia.

    Era uma desorganização bem calma, se fosse ver que o velho sabia exatamente o que estava fazendo.

    — Eu quero minha antiga sala de pesquisa — a voz dele foi ofensiva. — Sabe quanto tempo demorei pra trazer tudo pra cá? E nem consegui metade das minhas tranqueiras. Não tem espaço pra nada nesse… quarto minúsculo.

    Dante deu uma risada.

    — Ainda vai ficar pronto. Heian tem que priorizar o pessoal que chegou, e tem um rapaz que gostaria de trabalhar com você, sabia? Pelo que sei, ele tem ideias bem parecidas com as suas.

    A frase pareceu até ser uma ofensa para Duna. Ele ergueu o braço metálico, seus dedos balançando no ar.

    — Igual a mim, é? Interessante demais. Traga o garoto pra mim e veremos se ele é realmente bom. De vez em quando sinto falta mesmo de grandes mentes, ainda estou tão pouco acostumado depois que perdi meus meninos para Havok.

    — Esse é um ponto para conversarmos depois também. — Dante continuou encarando os papiros, tendo uma pequena noção do que Duna queria perguntar. — Está trabalhando na comunicação ainda. Teve algum avanço?

    — Se comunicar por frequência é fácil. — Duna entregou um dos Cubos de Comunicação e segurou um outro. — Ainda temos o problema da Energia Elétrica, mas aquelas Pedras Lunares servem como catalisadores. Já falei isso.

    Dante segurou a pedra com um misto de saudade e também divertimento. O Oficial Tecno havia lhe dado o Cubo na primeira missão externa, mas também foi o que lhe fez salvar muitas vidas naquele dia.

    — Sim, falou bastante — respondeu Dante. — Qual o problema dessa vez?

    — Estou apenas lhe deixando a par do que consegui. —Duna fechou os olhos por um breve instante e se concentrou. O Cubo brilhou, respondendo à energia cósmica que fluía do velho. — Consegue ouvir? Ela está enviando a mensagem através da Energia Cósmica, mas não tem pra onde receber. Então, eu usei a Pedra Lunar, que vocês pegaram, e fiz isso.

    Ele apontou para a outra parte da mesa. Existia cerca de três Cubos de Comunicação, em um formato de triângulo, um em cada ponta, e a Pedra Lunar no meio. Duna apontou para a ponta direita.

    — Esse é o que estou usando. — Apontou para a ponta esquerda. — Esse é o que você está usando. E o de cima seria uma terceira pessoa. Todas elas sincronizadas pela Pedra Lunar, mas não faço ideia de como ela consegue gerar essa comunicação. Tenho quase certeza de que pode ser uma espécie de filamento.

    — Acha que os Cubos são Pedras Lunares?

    Duna de uma risada.

    — Você é muito mais esperto do que as pessoas daqui, hein. E olha que eu nem cogito em chamar elas de idiotas. O lugar que você veio, a tal Capital, tem essas Pedras Lunares, acredito que você nem deve saber disso, mas eles tiveram tempo e também recursos para conduzir experimentos para forjar comunicadores entre si. Agora, onde está a Pedra Lunar que liga tudo?

    Dante deu de ombros, sem realmente saber.

    — Eu só sei que os Cubos tem uma frequência que deve ser seguida. Os Felroz se comunicam usando as Altas Frequências, e nós fazemos em uma que eles não possam perceber.

    De repente, os olhos do velho se acenderam.

    — Por que não me disse isso antes? Merda, estou trabalhando faz semanas sem saber como lidar com os Felroz, e você me fala que já sabia a resposta? Retiro o que eu disse, você é idiota mesmo.

    — Eu tinha dito que a frequência mais baixa era melhor, mas você ignorou. — Dante se divertia vendo Duna pegar um caderno e começar a anotar. Ele lembrava sua irmã no quesito pensar, estava claramente tentando alcançar uma nova invenção, mesmo que já tenha sido produzida. — A frequência mais baixa também pode ser implementada em rádios. Podemos ter um noticiário algum dia.

    Duna mandou ele calar a boca. Dante esperou sentado na cadeira, e pegou um dos livros dele para ler. As anotações eram sempre variadas dentro dos conceitos lógicos, Duna tentava reproduzir baseado no que experimentou, no que viu, no que estudou, mas nunca no achismo.

    Acreditava que homens como ele, visionários por natureza, se davam para conhecer o mundo através da lógica humana e da razão universal, não da emoção que existia dentro da mente humana. Dante, por outro lado, sempre entendeu que a emoção era uma alavanca.

    Quando Talia nasceu, ele tinha seus quinze anos, mas foi notável que a atenção pela inteligência dela foi praticamente tomada. Dante nunca se importou de treinar feito um louco todos os dias, mas também viu a irmã enfurnada nos livros desde os seus dois anos.

    Talia era sua rival e irmã, mesmo que em âmbitos diferentes. Dante adorava ouvir as teorias dela sobre as civilizações quando era mais novo, e isso lhe deu tantos sonhos de como seria a Capital, mas também conversavam sobre física, química e até mesmo teologia.

    A pequena garota tinha ideias de que as religiões antigas eram todas voltadas para um único Deus, um só que tinha levado a humanidade a se libertar dos pecados e ser guiado para um mundo novo, eterno.

    Entretanto, a mãe e o pai continuaram a pedir que ela focasse na ciência primeiro.

    — O mundo é cruel com os mais religiosos — dizia Linda. — E não quero que vocês sejam tomados de mim por pensarem diferente.

    Dante não entendia e nunca questionou, também nunca mais falaram sobre.

    Ainda lendo sobre motores antigos, Dante ficou um pouco surpreso por Duna querer gerar um automóvel novamente, mas não deixou a ideia descartada. Muitas pessoas não teriam como se mover como ele ou Juno, então, não seria uma ideia absurda.

    Ele só errava na forma de gerar combustível.

    Duna se levantou do nada, segurando o caderno.

    — Acabei. — Parecia que nem ele acreditava nisso. — Merda, eu realmente terminei. Isso vai ser… bom.

    Os dois se entreolharam.

    — Quer testar a merda da sua teoria de teoria? — Duna deu uma risada. — Tá na hora.

    — Pra onde?

    Duna começou a pegar os Cubos da mesa e jogou a Pedra Lunar pra Dante.

    — Lá fora, temos que testar essa brincadeira aqui. E… — ele parou, erguendo o dedo metálico. — Chame Clara, ela vai querer ver isso.

    Os dois começaram a sair da sala rapidamente.

    — Vai que vendo o quão sou bom ela não me dá a porra da minha sala. — A gargalhada dele começou a ecoar entre os corredores do segundo andar. Algumas pessoas abriram suas portas apenas para ver Duna passar com um monte de coisa em mão. — O que foi, seus fedelhos? Um gênio não precisa se segurar. É um assunto importante.

    Dante passou cumprimentando e explicando que Duna estava criando algo novo. Os mais novos moradores não entenderam, mas os antigos apenas concordaram em sorrisos, voltando para seus quartos.

    Esse era um pequeno passo, apenas um, para que as coisas se acertassem. Não teriam mais problemas se houvesse comunicação entre as pessoas. Dante olhava para as costas de Duna com admiração, a mesma de quando assistia sua irmã aprender algo novo e queria aplicar do lado de fora de casa.

    Tantas lembranças, tantas recordações boas.

    Que saudade de Talia.

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