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    — Bando de idiotas — a voz de Verônica ecoou no ambiente, sua figura holográfica tremulando com pequenas estáticas azuladas. Seu rosto, uma máscara fria de desdém, mal disfarçava a irritação. — Usaram a Pedra Lunar como catalisador e exponencial de frequência sem ao menos uma camuflagem. Querem mesmo morrer?

    Gerhman, sempre racional, dessa vez não conseguiu esconder a tensão. Seu olhar passava da imagem tremeluzente de Verônica para a entrada do abrigo, como se esperasse a qualquer momento o estrondo.

    — Dante, mesmo que a gente lute, precisamos proteger o lugar. Vou ficar para usar o Decreto — disse ele, a voz carregada de decisão.

    Dante apenas assentiu. Sua mente já corria à frente, organizando a batalha que estava prestes a acontecer.

    — Ótimo. — Ele ergueu a mão e apontou para Leonardo e Heian. — Façam a parte da frente. Juno, Magrot e Arsena, deem suporte. Se algum Ferloz passar por eles ou correr pela cidade, tragam-no de volta. Não deixem escapar.

    As respostas vieram quase em uníssono, vozes mescladas pela urgência e pela obediência incontestável.

    — Sim, senhor.

    O instante de silêncio foi destruído pelo som da explosão. A porta do metrô, reforçada com camadas de ferro e aço, foi arrancada de suas dobradiças em meio a um trovão de destroços e poeira. Correntes se romperam como se fossem de papel, chicoteando o ar antes de colidirem com a rodovia acima, fazendo o solo tremer com o impacto. O vento carregou o cheiro de ferrugem e fuligem, mas logo foi substituído pelo fedor pútrido daquilo que rastejava para fora.

    E então os monstros surgiram.

    Primeiro, as patas deformadas, garras tilintando contra o concreto. Depois, os torsos esqueléticos se retorceram para fora da escuridão, cabeças sem olhos virando de um lado para o outro, buscando algo, qualquer coisa. O ar ficou pesado, carregado por um chiado seco e inquietante vindo de suas gargantas atrofiadas. Em poucos segundos, mais de uma dezena deles se espalhou, hesitante, farejando a direção da energia que os atraía como mariposas para a luz.

    A Pedra Lunar pulsava em tons dourados, um coração batendo no silêncio da ruína. Dante não hesitou. Agarrou-a firmemente e apontou para a frente.

    — Podem ir.

    Leonardo e Heian avançaram primeiro. O espadachim puxou sua lâmina, o fio refletindo a luz mortiça do abrigo. Seu corpo permaneceu imóvel, mas seus olhos calculavam cada movimento. Quando um dos Ferloz se atirou contra ele, Leonardo saltou com a precisão de um predador. O aço cortou o ar e então a carne, partindo três membros distintos com um único golpe. O monstro cambaleou, sem equilíbrio, e caiu com um baque seco.

    Outro surgiu pela lateral, a pata já erguida para desferir um golpe fatal. Mas antes que pudesse completar o ataque, um estampido cortou o silêncio. O crânio da criatura explodiu para o lado em um borrão de osso e cérebro, e seu corpo seguiu logo depois, tombando como uma marionete sem cordas.

    Dante, ainda no meio do caminho, ergueu o punho sem olhar para trás, um gesto de reconhecimento silencioso.

    Jix, sempre atento, escaneou os arredores em busca do atirador.

    — Aquilo foi Marcus? — perguntou, franzindo o cenho.

    Magrot soltou um suspiro exasperado antes de responder, sem tirar os olhos do campo de batalha.

    — Eu odeio essa pergunta.

    Dante deu uma risada, reconhecendo o medo de Magrot. Alias, tinha sido Marcus quem garantira aquela vitória. Um tiro perfeito, disparado de uma distância absurda, longe demais para ser percebido, e mais longe ainda para ser evitado.

    No entanto, nenhum outro som veio em seguida. O silêncio pesado foi interrompido quando Heian Cerberus ergueu os dois braços, e, em resposta, imagens sólidas de mãos flamejantes, com quase três metros de altura, se formaram ao seu redor. Ele comandou uma delas adiante, desferindo um golpe poderoso que consumiu três criaturas de uma só vez. Os gritos estridentes de agonia ecoaram na noite, mas Heian permaneceu impassível. Com um movimento firme, desceu o segundo braço flamejante em uma linha vertical. O impacto fez as chamas se espalharem pelo chão, devorando tudo em seu caminho, derretendo o gelo e a neve instantaneamente.

    Dante observou a reação dos Felroz. Alguns hesitaram, afastando-se instintivamente da carnificina. Mesmo diante do caos abrasador, outros não conseguiam resistir ao chamado da batalha e avançavam, trôpegos, determinados. A cada instante, mais e mais emergiam da escuridão do metrô. A contagem já passava da dezena, e não havia sinal de que fosse cessar.

    Leonardo girava em saltos ágeis, movendo-se com uma destreza que desmentia sua idade. Ele rompia a linha inimiga à direita, enquanto as mãos flamejantes de Heian vaporizavam qualquer um que se aproximasse pela frente. No entanto, a retaguarda permanecia vulnerável.

    — Precisa comandar — comentou Jix, atento ao campo de batalha. — Eles estão focados demais para perceber que os Felroz estão recuando.

    — Eu sei. — Dante olhou para Arsena e Juno. — Vocês duas, pelas costas. Eles querem fugir, mas não vamos permitir.

    A ordem foi o estopim. Como se despertasse as correntes elétricas de Juno, ela envolveu Arsena com duas delas, usou os carros ao redor como trampolim e se lançou para cima dos Felroz. Quando aterrissou próxima à entrada do metrô, liberou uma onda elétrica que reverberou pelo solo. O impacto gerou uma corrente paralisante que manteve os Felroz imóveis por preciosos segundos.

    Arsena aproveitou. Em um único movimento fluido, sacou suas espadas e decepou três inimigos antes de ser puxada para um novo ponto de ataque.

    — Magrot, cobre a direita.

    O homem o encarou, os olhos cheios de resolução. Não era medo. Era algo mais profundo. Algo que carregava um peso que só ele compreendia.

    — O que quer que eu faça?

    — Leve os desgraçados para o inferno.

    Um meio sorriso apareceu no rosto de Magrot, e ele saiu correndo. Os passos metálicos de sua perna ecoavam pelo chão, ritmados como tambores de guerra. Jix observou, depois virou-se para Dante, comentando:

    — Magrot ainda não tem mobilidade suficiente para lidar com muitos ao mesmo tempo.

    — Sei disso. — Dante ergueu o braço e apontou para Magrot, um sinal silencioso para Marcus, que entenderia de imediato. Jix riu.

    — Você sabe aproveitar as pessoas ao máximo. O lado esquerdo vai ser nosso.

    Eles avançaram. No caminho, Dante notou dois Felroz fugindo de Leonardo. Estavam apressados, o medo impregnado em cada movimento, mas, ao darem de cara com os dois velhotes, soltaram um urro estridente, agudo e lancinante.

    Dante apenas sorriu. Com calma, retirou um charuto do bolso do casaco. A simples ação bastou para que os Felroz hesitassem. Era um aviso. Um lembrete de que aquele homem não estava na linha de frente ou na retaguarda. Ele era o verdadeiro campo de batalha.

    — Até o último de vocês, dentro da minha cidade.

    O ataque veio de cima. Dante desviou com um passo lateral e ergueu o punho. O golpe foi seco e preciso. O impacto reverberou dentro da criatura, que parou subitamente e tombou, inerte.

    Ele virou-se para outro adversário e estendeu a mão. O ar vibrou com a força do disparo invisível. A criatura foi lançada para o alto e atingiu a rodovia com força. Antes que pudesse se levantar, Arsena já estava lá. Sua lâmina brilhou por um instante antes de lhe decepar a cabeça.

    Arsena apontou a espada para Dante, os olhos faiscando indignação.

    — Pare de mandar os seus problemas para mim, velhote. Já temos trabalho demais por aqui!

    Dante riu e deu de ombros.

    — O que posso fazer? Eles estão com medo de vir para o meu lado.

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