Índice de Capítulo

    O brilho azulado das Pedras Lunares pulsava no escuro como corações gêmeos. Dante observava a oscilação das energias, o jogo de forças invisíveis que colidiam e se repeliam, formando um véu de camuflagem quase imperceptível. O ar ao redor parecia eletrizado, carregado com aquela força bruta e incompreensível.

    Não esperava que Veronica ajudasse tanto. O desgosto da IA pelos humanos era quase palpável, mas os projetos que passara a Duna funcionavam. Era um raro momento em que as peças do tabuleiro estavam onde deveriam estar.

    Duna ergueu um Cubo de Comunicação e analisou sua superfície refletindo a luz bruxuleante das pedras.

    — Posso testar de novo? — perguntou, segurando o cubo como um troféu. Um sorriso enviesado se formava no canto dos lábios. — O que acha? Dessa vez não vai dar merda.

    Dante soltou uma risada fraca.

    — Tem certeza?

    — Nunca tive mais.

    Duna fechou os olhos por um instante e então canalizou a Energia Cósmica. O brilho das pedras aumentou em resposta, envolvendo-se em uma aura tênue que dançava em torno delas. No instante seguinte, algo esquentou no bolso de Dante. Ele franziu a testa, enfiou a mão no casaco e retirou sua própria Pedra Lunar. Ela pulsava em resposta, refletindo a mesma frequência da outra.

    — Duvidar de mim é maluquice — murmurou Duna, quase como um sussurro para si mesmo. — Só precisava de um pequeno reajuste.

    Dante permaneceu quieto. Ele aprendera, ao longo dos anos, a não se precipitar com boas notícias. Antes de comemorar qualquer coisa, era melhor verificar se nada saíra do controle.

    — Vick, análise — ordenou.

    A resposta veio quase de imediato, a voz da IA ecoando em sua mente como um sussurro metálico:

    Uso correto da Pedra Lunar. Sem resquícios ou sinalização da Alta Frequência.”

    Duna girou o Cubo de Comunicação entre os dedos e, sem hesitar, aproximou a boca do objeto.

    — Estão me ouvindo? — O silêncio respondeu. Ele sorriu, sacudindo a cabeça. — Para os que estão me ouvindo, aqui é o seu capitão. O mestre da tecnologia antiga e pioneiro das novas. O homem que vai revolucionar o mundo inteiro, sou eu…

    — Cala a boca, Duna.

    A voz de Arsena irrompeu do cubo como um trovão. Duna piscou, surpreso, antes de lançar um olhar para Dante.

    — Capitão de merda — outra voz se fez ouvir, desta vez carregada de sarcasmo. Magrot. — Consertou esse troço sem precisar nos mandar pra morte? Grande inventor.

    Dante deixou um meio sorriso escapar.

    — Parece que agora temos uma tela de comunicação. Como estão as coisas do lado de fora?

    Arsena respondeu, sem a empolgação habitual:

    — Mesma coisa de sempre, velhote. Frio e vento pra caralho.

    Dante esperou que ela dissesse mais alguma coisa, mas a hesitação ficou evidente do outro lado. Então, veio a pergunta que ele já esperava:

    — Sem sinal daqueles três ainda. Já se passaram três dias. Eles estão bem mesmo?

    O silêncio que se seguiu era pesado como uma lápide. Dante se permitiu um momento para processar a preocupação dela. Ele não temia por Leonardo e Heian, e Juno era rápida o suficiente para escapar de qualquer situação. Mas três dias era tempo demais.

    Ele não deixaria transparecer qualquer dúvida.

    — Eles vão voltar — afirmou, sem hesitação. — Até porque, temos Marcus lá em cima.

    Virou-se para o canal aberto.

    — Marcus, está vendo alguma coisa se movendo na direção do túnel?

    A espera foi longa. Dante quase podia ouvir o vento cortante do lado de fora, o silêncio cruel das planícies brancas. Então, a voz do atirador veio, curta e afiada como uma lâmina.

    — Negativo.

    Finalmente.

    Dante abaixou os braços e soltou um longo suspiro. Ele queria gritar, queria socar o ar ou simplesmente rir, mas a única coisa que fez foi fechar os olhos por um momento.

    A comunicação estava funcionando. E isso mudava tudo.

    Ele abriu os olhos novamente. Agora era questão de tempo. E tempo, em um mundo como aquele, valia mais do que qualquer Pedra Lunar.

    Ele e Duna saíram do quarto em passos firmes, descendo para o pátio. O ar ali estava mais cortante do que antes, o frio apertava os ossos como garras invisíveis. O céu cinzento pesava sobre a fortaleza improvisada que chamavam de lar. Mas nada disso importava agora.

    Quando chegaram à base da escada, Clara surgiu correndo como um vendaval. Seu capuz caiu para trás, revelando o cabelo desalinhado e as faces ruborizadas pelo frio e pela pressa. Os olhares ao redor se voltaram para ela, mas Clara não hesitou nem por um instante antes de se lançar contra Dante, os braços envolvendo-o num abraço feroz.

    O impacto o fez dar um passo para trás, mas ele segurou a garota com firmeza, sentindo o coração dela disparado contra o peito.

    — Eu ouvi. — Clara afastou-se apenas o suficiente para encará-lo, os olhos brilhando com uma alegria incontida. — Vocês conseguiram. Isso é ótimo. Você disse que ia instalar, e instalou.

    — Ele disse isso? — Duna meteu-se entre os dois, arqueando uma sobrancelha. — Olha só, dona Clara, vamos deixar uma coisa bem clara aqui. Conhece a mente pensante que estava por trás disso tudo? — Ele apontou para si mesmo. — Pois é, sou eu. E, sendo assim, acho que mereço uma boa refeição. Algo decente. Um pedaço generoso de carne, talvez. Pensar cansa.

    Dante suspirou, mas não disse nada. A presença de Duna era irritante e reconfortante ao mesmo tempo.

    Do lado de fora, a porta rangeu quando Magrot e Arsena entraram, segurando seus Cubos de Comunicação como troféus. Gerhman estava mais afastado, ajudando Simone com a distribuição das roupas. Dante observou cada um deles, sentindo o peso do momento.

    Eles tinham vencido uma batalha, ainda que pequena.

    As casas precisavam ser finalizadas, os túneis reforçados, os suprimentos repostos. Mas a comunicação… a comunicação era a chave para algo maior.

    — Está tudo saindo do jeito que pensamos. — Dante não escondeu o sorriso. Abriu os braços, como se pudesse abraçar a conquista, como se pudesse sentir o futuro se desenrolando diante deles. — Agora podemos falar com qualquer um que esteja dentro da cidade e tenha um Cubo.

    Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, Clara saltou nos braços dele novamente. Dessa vez, ele riu e a girou no ar, ouvindo a gargalhada dela se misturar ao vento.

    Os pequenos momentos devem ser apreciados como se fossem os últimos, Render sempre dizia isso. E Dante acreditava.

    Porque, no fundo, sabia que cedo ou tarde, a calmaria acabaria. Outra tempestade viria, cedo ou tarde, mas estariam preparados para receber qualquer que fosse a ameaça.

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