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    Heian desviou de dois braços que tentaram pegar, mas o túnel parecia estar recheado dessas criaturas agora. Antes, quando passaram por ali, nada além da escuridão os observava, agora os olhos esverdeados espreitavam saltando e pulando em suas direções.

    Ele olhou pra trás, não deixando Leonardo ou Juno pra trás, mas ouvindo constantemente os pedidos de ajuda das aberrações ao seu redor.

    “Ajude-me.”
    “Dói.”
    “Fique.”

    — Continuem em frente — ouviram de Veronica em suas mentes. — Se os Sugadores conseguiram imobilizar qualquer um de vocês, não vai ter nem mesmo um segundo para revidarem. Continuem em frente.

    Ao ouvir a IA, o corpo de Heian brilhou em um tom mais azulado, e ele diminuiu a velocidade. Ele deixou Leonardo e Juno passarem e esticou a mão pra frente, na direção das costas dos dois. Não havia nada a se fazer além disso, era eles primeiros.

    — O que está fazendo, seu idiota? — Leonardo gritou, a voz ofegante.

    A luz da superfície começou a surgir mais perto, na direção da rua onde tinham enfrentado os Felroz. Mas, se saíssem todos de uma vez, eles levariam as criaturas diretamente para a Cuba.

    — Proteja as pessoas de lá.

    Um impulso foi enviado na direção de Leonardo, e ele tentou segurar a mão de Heian, mas não aconteceu. Por centímetros, pequenos centímetros, seus dedos não tocaram um no outro. Ele apenas encarou seu antigo mentor, o homem que ele admirava, ser enviado duas vezes mais rápido para o lado de fora.

    Heian estagnou sua própria velocidade, se jogando pro chão e girando enquanto era arrastado pela água. As criaturas continuaram a vir, numa onda interminável de fome e lamentos. Suas vozes tentavam ganhar forma, querendo que Heian respondesse ao seu chamado, tão terríveis que nem mesmo o tom humanizado de antes existia.

    — Eu perdoo vocês — disse Heian esticando o braço. — Fatal Fuug’ah.

    Heian juntou as mãos, entrelaçando os dedos e erguendo os dois indicadores. Assim que as duas pontas se tocaram, o fogo se expandiu para todos os lugares ao mesmo tempo.

    As chamas rugiram como uma fera solta, devorando tudo ao redor. A água fervia e se evaporava em segundos. As paredes vibraram com o impacto da luz súbita. O mundo dentro do túnel virou uma fornalha.

    E Heian, no centro da tormenta, permaneceu ali.

    I

    — Dante — a voz de Marcus se arrastou de cima. — Você precisa ver isso, agora.

    O velhote correu pro lado de fora. Arsena o acompanhou até a entrada. Quando pararam, entenderam o motivo de Marcus estar tão tenso. Era uma quantidade que nem mesmo a tempestade podia esconder. Não somente os corpos se arrastando, a morte que entoavam juntos, numa suplica sombria.

    Claramente os Felroz teriam trabalho para devorar até mesmo essa quantidade de criaturas. E não eram humanas. Podiam caminhar em duas pernas, terem os braços e cabeças, mas não eram nada parecido com seres vivos.

    — Dante — a voz de Marcus soou mais baixo. — Todos entraram. Mas, eles ainda estão lá fora.

    Um turbilhão no meio da rodovia chamou atenção tanto dos vivos quantos dos mortos. Da entrada do metrô, uma luz azul foi emergida. Uma imensa tira feita de eletricidade agarrou-se na rua e se jogou pra cima.

    Juno e Leonardo estavam juntos, passando por cima dos Sugadores. Dante, no entanto, não viu Heian sair.

    — Arsena, me dê uma das suas espadas.

    A mulher rapidamente puxou da bainha e entregou-lhe pelo cabo.

    — Eu quero ela de volta, entendeu?

    Dante não sorriu, saindo de perto dela a passos curtos. Puxou o Cubo, colocando no bolso do peito, por dentro.

    Acima, Leonardo e Juno se equilibravam na estrutura precária da rodovia, tentando afastar as criaturas enquanto subiam. Mas a horda era grande demais, densa demais. E Heian…

    Heian ainda estava lá embaixo.

    Dante apertou os dedos ao redor do cabo da espada. A tempestade seguiu rugindo. Mas não o bastante para esconder o eco dos Sugadores rastejando. E não o bastante para esconder a certeza gélida que agora corroía Dante por dentro.

    — Marcus, ajude os dois.

    — E Heian? — o disparo silencioso do Atirador derrubou cerca de três de uma só vez que tentavam subir pelas paredes atrás dos dois. — Vai até lá agora? Leve alguém.

    Não era necessário, Dante tinha total certeza de que era só ir em frente.

    O clarão explodiu da entrada do metrô, rasgando a escuridão como um trovão nas entranhas da terra. Primeiro veio o brilho, um azul profundo tingido de vermelho, uma combustão tão violenta que fez a tempestade hesitar. Então veio o fogo.

    O chão se rompeu, os bueiros explodiram como se uma força titânica os cuspisse do subsolo. As tampas voaram alto, ricocheteando contra prédios e carros abandonados, enquanto as labaredas subiam em colunas que transformavam neve em vapor no instante do contato. O cheiro de ferro queimado e carne carbonizada preencheu o ar.

    E, no coração do inferno, estava Heian.

    Dante sentiu o estômago se revirar. Aquilo não era poder comum. Era energia crua, despedaçando tudo ao redor sem misericórdia. Um sacrifício vivo, queimando como um facho de vela ao vento.

    Então Vick sussurrou em sua mente.

    “Quantidade de Energia Cósmica resultante da utilização da vitalidade. Rastro de Energia: Heian Cerberus. Ele está impulsionando as chamas com a própria vida.”

    — Não. — A palavra escapou antes mesmo que percebesse.

    O corpo de Dante reagiu antes da mente. O ar rugiu ao seu redor quando os jatos nos pés se acenderam, propulsionando-o adiante. O vento cortava seu rosto, mas não importava. Nada importava além de chegar até ele.

    — Não, não, não. Ele vai morrer se continuar assim!

    A lâmina em sua mão brilhou antes do impacto. O golpe veio como um trovão, rasgando o ar com um estalido seco. O primeiro Sugador partiu ao meio antes de entender o que o atingira. O segundo e o terceiro foram arremessados contra as chamas, seus corpos retorcidos consumidos sem resistência.

    Dante não parou.

    Cada passo o aproximava do metrô, da fornalha viva onde Heian queimava. As labaredas pulsavam como um coração febril, ofegante, faminto. O ar fervia ao redor, consumindo o oxigênio em um abraço mortal.

    — Heian! — Dante gritou, a voz se esvaindo contra o rugido das chamas. — Heian!

    Nada. Nenhuma resposta.

    — Vick, faça a conversão da Energia Cósmica!

    O fogo continuou a subir. O chão se partiu mais uma vez. E, no centro da devastação, a silhueta de Heian tremulava entre as labaredas, imóvel.

    E então Dante soube.

    Se ele não chegasse a tempo, tudo o que restaria seria cinzas.

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