Índice de Capítulo

    — Quer dizer, então, que esse bicho fala? — Dante sorriu, contrariando qualquer que fosse as expectativas de Heian ou da própria criatura. — Que interessante. Mas, você não morreu igual os Felroz ou humanos.

    — Não me compare a vocês ou aos…

    A criatura nem teve tempo. Dante partiu pra cima dela, agarrando dos seus braços e explodindo sua barriga com uma joelhada. O ar foi disparado pra fora, forçando-a a ficar sem equilíbrio, e por um segundo, naquele pequeno espaço, o punho dele emergiu, acertando seu rosto e o enviando pra dentro da escuridão.

    Dante respirou fundo e voltou a caminhar.

    — Heian, sobe agora. Não vou te dar bronca nem nada parecido aqui embaixo. — E apontou pra entrada. — Vai, não me faz repetir.

    — Dante, eu…

    — Eu disse pra ir — o velho disse com raiva. — Não quero ouvir mais nada. Sobe agora. Juno e Leonardo estão te esperando.

    Ele abaixou a cabeça e subiu as escadas, uma a uma, como se nada ali embaixo tivesse tido efeito. Mas, quando chegou bem perto da saída, a risada do Sugador voltou a ecoar.

    — O que acha que vai acontecer se sair daqui? — Ele surgiu de dentro da escuridão, seu rosto deformado pelo soco, mas ainda vivo, de pé. — Caçar humanos é ainda mais divertido do que caçar Felroz. Eles não pensam, não fazem nada além de gritar.

    Dante se virou e ignorou, subindo as escadas. Lá em cima, no meio da tempestade, ele levantou a mão, mandando um sinal.

    — Pare de me ignorar, humano! — A criatura correu pra fora do túnel, mas quando deu de cara com o velho, não esperava que recebesse outro soco.

    O punho dele afundou no peito, o jogando pra trás e quebrando parte do suporte da rodovia. A parede se desprendeu, e os Sugadores ao redor gritaram juntos.

    — Papai… não.

    Dante ficou parado enquanto Heian se distanciava as pressas. Ele não precisava fazer mais nada, não sozinho.

    — Eu nunca vi uma criatura falar — disse Dante enquanto o Sugador se levantava com os braços, ficando ainda maior. — Eu não tinha ideia de que era possível isso, mas a gente já viu muita coisa diferente pra se assustar com um Felroz que fala.

    — Eu… não sou um Felroz — o Sugador gritou, fazendo o ar vibrar. — Sou o que faz ele correrem. Eu estava preso naquele lugar, mas vocês me soltaram. Eu amo… lutar contra gente forte. Amo ver as pessoas implorando pelas suas vidas. Amo tudo que envolve os humanos. Quero aprender com vocês, mas eles me trancafiaram lá.

    Dante respirou bem fundo. Outra criatura estranha que parecia querer se aventurar aprendendo ou se misturando com as pessoas. Já não bastava essa quantidade infinita de pequenos Sugadores? Ele queria lutar?

    — Sabe o que significa uma aposta? — Dante teria que recorrer a velha forma de resolver as coisas. — Eu poderia muito bem te dar uma surra aqui e agora, destroçar tudo que tem ao meu redor e mandar esses seus filhos ou irmãos, não sei o que eles são seus, pro inferno. Mas, você diz que bate nos Felroz, não é? Então, vamos fazer uma aposta.

    — Que tipo? — A criatura nem parecia ter tomado dano do soco. — Quer fazer uma aposta comigo? Sou mais forte, melhor…

    — E mais arrogante — confirmou Dante. — É o seguinte, Sugador, lutamos contra você. Aqui e agora, o vencedor leva a cidade. Mas não matamos o outro. Você disse que precisa dos Felroz, então, leve eles pra vocês. Se perder, vai ter que sair daqui, seguir seu rumo e não voltar mais.

    O rosto retorcido começou a se alterar de um lado pro outro.

    — Se eu ganhar, fico com tudo.

    Dante afirmou com a cabeça.

    — Eu quero aquele humano. — O dedo esquelético da criatura se esticou na direção de Heian que chegava na Cuba. — Ele tem… vitalidade. Eu preciso disso. Preciso… melhorar. Eu… fui amaldiçoado.

    — Uma maldição que você está carregando, então, nós vamos fazer assim. — Do bolso do casaco, Dante tirou uma Pedra Lunar, com um brilho fosco e pesado, que fez os olhos esverdeados da criatura brilharem. — Isso se chama…

    — Rastro!

    As vozes ao redor falaram juntas, em um coro bem pesado. O próprio Sugador que falava também ficou encantado. Ele não queria se aproximar, mas quando viu, já se arrastava pra mais perto. Ele ficou com os dois joelhos no chão, estupefato.

    — Como você… dominou o Rastro?

    Dante não sabia do que ele estava falando. Claro, o Rastro ele conhecia. Veronica havia explicado meses atrás, mas como a Pedra Lunar era o Rastro? A não ser que…

    O Rastro possuí similaridade com a Energia Cósmica em seu estado bruto. A confusão deve ser justamente por ele sentir os resquícios do que ela é formada” — Vick soou em sua mente. “A IA Veronica não deve ter informado sobre esse fato ou escondeu de propósito”.

    Dante abaixou o braço, ficando um pouco mais cansado. Ainda tinha tanta coisa acontecendo, tantos mistérios que ficavam longe da sua visão. Como Veronica tinha tanto conhecimento e ainda assim mentia sobre tantas coisas?

    Como ela não sabia dessas criaturas debaixo da terra? E por que eles falavam?

    — A aposta que vamos fazer — a criatura ergueu os olhos —, eu abro mão para ter essa pedra. Ela é uma fonte de Energia, tão forte e densa, que pode nos livrar das maldições. Eu… faço qualquer coisa por ela. Pelos meus filhos, pela minha vida.

    — Antes de tudo, deixe eu perguntar. — Dante abaixou e colocou a Pedra Lunar bem em cima de um amontoado de neve. — Quem foi quem te amaldiçoou? Foram os Humanos? Foram os Felroz?

    A criatura negou com a cabeça, ainda chocada com o brilho amarelado.

    — Foram os Morbides. Só eles podem fazer isso… — O Sugador chegou mais perto. — Foram eles que destruíram essa cidade. Mataram todos. Você não consegue ver? Nós não conseguiriamos derrubar as casas humanas. São grandes demais. São pesadas demais. Os Felroz não conseguiram, mas os Morbides, sim.

    Dante encarou a criatura com extrema estranheza. Não que o nome fosse difícil ou que pensar na possibilidade dos prédios caindo e tombando pela força deles fosse impossível, mas quando encarava ao redor, para a destruição que a cidade parecia carregar como lembrança de si, as palavras do Sugador não pareciam impossíveis de se imaginar.

    Era justamente esse o fator principal que levou a Dante a acreditar.

    — E o que são esses Morbides? E onde eles estão?

    — Não sei. Eu nunca sei de nada. Eu estava preso, mas… — o braço esquelético se ergueu, como um galho torcido na direção de Heian. — Ele nos salvou. A vitalidade… foi o que os Morbides tomaram para si. Eles queriam o corpo, queriam as pessoas.

    — E sem sinal deles aqui.

    — Humano ingênuo — disse o Sugador, esticando a mão na direção da Pedra Lunar. — Eles sempre voltam. Sempre. E quando souberem que as Pedras da Vitalidade estão vivas de novo, vão destruir tudo.

    Dante fechou o semblante.

    — E o que você acha dos Morbides?

    — Meus filhos não são nada comparados a eles, mas nós temos isso. — Seu dedo foi apontado para os próprios olhos. Verdes, brilhantes. — O que temos é a capacidade, é a visão. Eles e os Felroz não podem ver a Energia Cósmica. E quando os Felroz comem isso…

    — É, eu sei. Ficam mais fortes.

    A criatura negou com um olhar triste.

    — Eles pensam. Pensam como os Morbides. Comem como os humanos, mas são muito mais fortes. Precisa… tomar cuidado, humano.

    Ao pegar a Pedra Lunar, Dante esticou na direção dele.

    — Olhe pra isso aqui. Está vendo bem? — Dante fez com que ele concordasse. — Eu tirei de um Felroz que estava voando. Ele comeu isso, e nós fizemos ele cair. Os Morbides vão vir, como disse, mas você consegue derrotar eles?

    — Não…

    — Exato. — Dante puxou a Pedra Lunar pra si. — Mas, eu consigo. Então, vou te fazer uma proposta irrecusável, Sugador. Você me ajuda a construir um lugar adequado, e eu te ajudo com os Morbides e a sua maldição. O que me diz?

    A criatura não tirava seus olhos do objeto.

    — O Rastro vai nos trazer as respostas — respondeu ela. — E como diz, uma proposta irrecusável, humano. O que precisa que eu faça?

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