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    — Não faça nenhuma besteira, está bem? — Kalish deu dois tapinhas no rosto de Fred, sua voz carregada de uma mistura de advertência e preocupação. — Essas pessoas não querem ninguém morto. Já temos a atenção deles, entendeu?

    Fred, de cabeça erguida, ainda fitava o pátio onde a luta aconteceria. Seus olhos brilhavam com determinação, mas ele concordou com um aceno breve.

    — Apenas vou mostrar por que o senhor é um Soberano.

    — Deixe de soberba — respondeu Kalish, sua voz mais firme agora. — Essas pessoas venceram GreamHachi, e Leonardo está aqui dentro. — Ele olhou ao redor, observando seus subordinados, que estavam próximos, enquanto os moradores da Cuba, incluindo Clara, mantinham distância. — Ainda não sei como eles venceram Leonardo ou Gerhman, mas não subestime Dante.

    — Farei o que puder para mostrar o que o senhor representa — insistiu Fred, sua voz cheia de convicção.

    Kalish não tinha orgulho de ser apenas um homem de negócios, mas se Fred demonstrasse o que Dante era capaz, talvez fosse mais fácil fechar algum acordo. Homens movidos por batalhas eram os mais fáceis de manipular, e um grupo forte como a Cuba… bem, eles eram uma peça valiosa no tabuleiro.

    — Estou pronto — anunciou Fred, afastando-se de Kalish e caminhando em direção ao pátio.

    A noite de sono havia sido boa para Kalish. Ele dormira profundamente, mas em um momento de insônia, levantara para beber água e ouvira seus subordinados conversando do lado de fora. Eles comentavam sobre como o lugar era estranho e malfeito, incapazes de ver a beleza que florescia no meio do caos. Para Kalish, no entanto, a Cuba era um ninho perigoso — e ele estava feliz por tê-los conhecido antes que alguém mais o fizesse.

    Enquanto se preparava para o dia, Kalish procurou por Silas. O doutor havia sido colocado em um canto, amarrado e amordaçado. Ele era um incômodo, com uma habilidade peculiar de irritar os outros, e Kalish achou que seria interessante que ele também visse o que estava prestes a acontecer.

    Fred se aproximou de Dante, que o encarou com um olhar tranquilo, quase indiferente. O velho acenou com a cabeça, perguntando:

    — Está pronto? — Dante não parecia se importar muito. Depois de uma noite bem dormida ao lado de Clara, nada ali poderia ser tão estressante. No entanto, o rosto de Fred parecia duro demais, como se carregasse um peso invisível. — Aconteceu alguma coisa?

    — Apenas quero mostrar do que somos capazes — respondeu Fred, sua voz firme. — Sei que o senhor pode ter uma alcunha, mas não o temo.

    Essas palavras causaram um silêncio pesado ao redor. Leonardo e Heian, que estavam próximos, recuaram alguns passos. Juno e Arsena também se afastaram, tomando as medidas necessárias. Até Clara, que mantinha Marcus sentado em um banco ao seu lado, ficou mais distante, observando com atenção.

    — O senhor é forte — continuou Fred, sua voz agora mais baixa, quase respeitosa. — Sinto isso. Por respeito ao meu senhor, levarei a sério este combate. A Zona Cega cria os melhores guerreiros, e não posso deixar que o senhor apenas diga que derrotou aquelas pessoas em GreamHachi.

    — Você os conhecia? — perguntou Dante, sua voz calma, mas curiosa.

    — Sim, senhor — respondeu Fred, seu olhar distante por um momento. — Raver e Januário, eu os conheci muito antes de serem da Cúpula. Dividi boas conversas, até mesmo sonhos. Não quero que os nomes deles sejam manchados por um homem qualquer.

    Ele ergueu sua espada, assumindo uma postura firme e precisa, a lâmina fina e brilhante apontada para Dante.

    — Então, se vamos lutar, que seja sério — completou, seu olhar fixo em Dante. — Não quero fazer meu senhor perder tempo.

    Aquele homem não era apenas um falador — era um espadachim habilidoso, e isso era evidente em sua postura e movimentos.

    — Uma pena… — murmurou Dante, seu comentário soando um tanto tristonho. Ele então virou-se para Arsena, que estava cruzando os braços, claramente entediada. — Arsena, pode me emprestar uma das suas espadas?

    — De novo? — respondeu a jovem, erguendo uma sobrancelha. — Você nem luta com armas, por que quer uma?

    Marcus, que estava sentado com o corpo curvado, observando tudo atentamente, interveio com um olhar firme para Arsena.

    — Entregue uma.

    Arsena suspirou, mas obedeceu, tirando uma de suas espadas e entregando-a a Dante. O velho pegou a arma com uma naturalidade surpreendente, como se fosse uma extensão de seu corpo.

    — Prometo que pego leve — disse Dante, com um sorriso tranquilo, enquanto se voltava para Fred.

    O pátio ficou em silêncio, todos os olhos fixos nos dois homens que se preparavam para duelar. Dante ergueu a espada e depois a fez tombar, mas antes de tocar o solo, ele mudou a postura dos dois braços, girando o peito para o lado e erguendo na lateral.

    Arsena e Leonardo se atentaram na mesma hora. Dante puxou a espada para cima, sua Energia Cósmica fluindo com calma e cautela, como uma corrente suave que se erguia ao seu redor. Fred fez o mesmo, igualando sua própria Energia, mas de uma forma mais agressiva, como se estivesse tentando impor sua presença. Os dois não saíram do lugar, medindo-se mutuamente, até que, em uma breve respiração, o guerreiro da Zona Cega desapareceu dos olhos de todos.

    Ele simplesmente surgiu à direita de Dante, seu corpo esticando no ar como uma flecha, a lâmina da espada cortando o vento em direção ao pescoço do velho. Dante, no entanto, nem se mexeu. Era como se estivesse em uma luta de verdade, com o pescoço mirado, a garganta como um alvo. Quantas vezes ele já não tinha sentido o mesmo golpe vindo em sua direção?

    Um milhão de vezes, talvez? Ele nem sabia mais.

    Dante ergueu a espada com uma velocidade surpreendente, bloqueando o golpe de Fred com um movimento preciso. O impacto fez o braço de Fred subir, e Dante aproveitou para mirar seus olhos no guerreiro, como se estivesse avaliando cada movimento.

    — Que surpresa agradável — comentou Dante, sua voz calma, quase divertida. Ele desceu a espada em um corte firme, mas Fred desapareceu novamente, como se nunca tivesse estado ali.

    A lâmina de Dante tocou o solo, mas ele deu um passo para frente, evitando um golpe que surgiu de suas costas. A espada de Fred não o atingiu, mas Dante girou o braço sem nem olhar, continuando a trajetória até metade do caminho.

    Fred era rápido, sem dúvida. Sua habilidade de movimentação estática era impressionante, tão ágil quanto a de Juno ou Leonardo. Mas para Dante, era fácil demais de prever. Ele ergueu a mão livre para a direita, com o punho fechado, e Fred apareceu exatamente naquele ponto. O guerreiro da Zona Cega se assustou no mesmo instante, cruzando as sobrancelhas e abaixando-se para evitar o golpe.

    Mas ele não viu o braço de Dante descendo em seguida.

    Dante parou o movimento no último instante, quando a espada de Fred se projetou para defender. Ele recuou o membro, observando o sorriso confiante no rosto do guerreiro.

    — Não quer perder um braço, senhor? — perguntou Dante, sua voz carregada de ironia.

    Arsena riu das palavras dele, soltando um comentário baixo:

    — Idiota…

    Ninguém entendeu o xingamento, mas no momento seguinte, Fred foi pressionado contra uma força invisível, como se uma mão gigante o tivesse agarrado. Ele foi jogado contra o chão e arrastado para longe, na direção do pátio, parando apenas depois de girar algumas vezes, com um pouco de dificuldade para se levantar.

    Kalish viu Jodrick avançar, claramente inconformado com o que havia acontecido.

    — Essa é uma luta de uma pessoa — sua voz se arrastou, chamando a atenção de todos ao redor. — Não deve ser interferida por mais ninguém. Quem o enviou para longe?

    Dante ficou parado, olhando para a espada em suas mãos. A lâmina refletia um pouco do seu rosto, mas lutar com armas realmente não era o que ele preferia. Ele havia aprendido a lutar com os punhos, de todas as formas possíveis, e abaixar seu nível para tentar manter os outros em pé de igualdade era um pouco… entediante demais.

    Maethe o havia contornado dessa maneira. Ela usara uma habilidade de controle mental, e eles tiveram sorte de Clara ter o tirado do transe. Agora, ele repetia o mesmo processo, mantendo-se calmo e controlado.

    — Quem foi? — Jodrick puxou sua espada, claramente irritado. — Mostre-se.

    Com uma risada, Dante chamou a atenção dos dois guerreiros. Ele riu por um momento, um som longo e descontraído, antes de encarar Jodrick diretamente.

    — Quem usou habilidade? Quem fez isso e quem fez aquilo? — Dante parou, deixando a pergunta pairar no ar. O homem ficou confuso, sem saber como responder. — Por que acho que preciso de ajuda para vencer um ou outro soldado? Acha que o resultado seria diferente? Ótimo.

    A espada que estava em suas mãos foi jogada de volta para Arsena. Ela a pegou no ar, sorrindo também, como se estivesse curtindo o espetáculo.

    — Eu estava sendo educado até o momento porque são visitas — continuou Dante, sua voz agora mais firme, mais séria. — Mas realmente querem levar esse negócio de testar nossas forças a sério.

    Seus dois punhos se fecharam, e ele os ergueu próximo ao rosto, assumindo uma postura de luta.

    — Então, vou tratar vocês com a devida maneira.

    O ar ao redor pareceu ficar mais pesado, como se a própria atmosfera estivesse respondendo à determinação de Dante. Kalish sentiu um frio na espinha, percebendo que as coisas estavam prestes a ficar sérias. E, pela primeira vez, ele questionou se havia subestimado o velho Comandante de Kappz.

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