Capítulo 236: O Arranho de Consyegas (II)
Dinamite simplesmente ergueu o olhar e o braço de Dante já estava em sua face. Os dedos grossos e calejados do velho seguraram sua bochecha, e o fez sair da inercia, o puxando para frente e girando velozmente no próprio eixo.
Quando Dante parou, ele forçou Dinamite para cima. O rapaz foi voando para o teto, chegando perto de alcançar o metal nas alturas, mas usou a explosão para se equilibrar no ar. Assim que suas duas primeiras explosões saíram, ele percebeu que Dante estava no meio do ar, perto demais.
Rápido demais, Dinamite não teria tempo para se mover. Dante adentrou com um chute giratório, o enviando para baixo. O rapaz não teve a mesma sorte de poder usar sua habilidade. Assim que chegou perto do solo, usou as duas pernas para suportar o choque.
O gemido foi alto quando suas pernas tiveram de suportar seu peso pela aceleração.
Naquele momento, Dante reconheceu que o rapaz era inteligente. As duas explosões que usou para se equilibrar foram o que resultou no golpe anterior. Dessa vez, ele usou o próprio físico para aguentar o tranco, assim poderia se defender.
Ele é cego, mas não burro.
Quando o rapaz procurou Dante no ar, ele já tinha sumido.
— Está me procurando?
De mão aberta, o tapa nas costas de Dinamite o lançou pro chão, rolando várias vezes até se levantar. E Dante estava ali de novo, rindo, como o abismo. Rápido demais, forte demais. Dinamite foi bloqueado duas vezes, seu braço direito agarrado e um soco acertou seu queixo.
Ele girou, antes mesmo de parar, e um dos chutes acertou seu peito, o enviando diretamente contra a parede. O choque fez com que Dinamite soltasse o ar inteiro dos pulmões. Secure e Dinamite ficaram lado a lado, travados em uma pequena cratera que seus próprios corpos criaram.
Dante se aproximou, em passos lentos dessa vez. E só parou quando ficou cara a cara com os dois. Ele passou a mão uma na outra, limpando. Retirou o charuto da boca e soltou a fumaça cinzenta em um sopro lento e demorado.
— Não são ruins. Admito. Perderiam para Leonardo, Juno, Marcus e Heian, mas não são ruins. Tem certa capacidade de adaptação, aprendem com os erros, mas o mesmo problema que vejo em todas as pessoas que luto, vocês também tem.
Fazendo uma cara dolorida, Dinamite puxou um dos braços da parede, tremendo.
— E o que seria?
— Se montam em cima das habilidades e esquecem de treinar o corpo. Mas, ainda tem tempo para fazerem isso. — Dante apontou para Dinamite. — E não perca essa ousadia. Ela vai te ajudar bastante nas suas futuras lutas.
Secure foi observado, mas Dante apenas encarou suas mãos.
— Sua habilidade é muito mais forte e irritante do que pensa. Se pensasse direito em como utilizar ela, seria massiva. Para ser um Comandante, precisa comandar primeiro.
Dante bocejou e deu as costas, caminhando na direção de Kalish.
Ele não deixou barato a luta. A humilhação não viria se entendessem suas fraquezas, mas ele não estava ali para ensinar. Sua missão era vencer o que Kalish dizia ser o Confyete. Não podia negar que queria poder utilizar mais da sua capacidade, mas começou a entender que os humanos eram simples demais.
A carcaça deles era fraca, então, não precisava ir além.
Se eu usasse tudo o que tenho, essas pessoas morreriam.
Precisava controlar mais sua força. Sentia que seu corpo se adaptava a pressão da Energia Cósmica. Tinha chegado a usar cerca de 12% quando enfrentou o Felroz, mas contra Maethe, sua carga foi praticamente 7%.
Uma luta demorada poderia levá-lo a esse patamar. No entanto, ali, com aqueles homens e mulheres, não era onde sua força seria aplicada em totalidade. Deveria se contentar com isso, aos poucos.
Ele não era invencível, claramente. Render tinha deixado essa marca por quase três décadas.
Kalish notou Dante se afastando por um caminho pela lateral, assistido pelos demais. E respirou fundo quando sua veracidade e aposta foi ganha. Ele não precisava provar nada a ninguém dentro de sua cidade, mas seus subordinados deveriam entender a diferença entre eles.
— Foi o suficiente — disse para Virgo. Ele ficou de pé, ajeitando os botões de seu casaco pesado, um a um. — Está na hora de tratar de assuntos comerciais agora.
Virgo ficou de pé e seguiu Kalish em suas costas.
— Como pode simplesmente ir embora depois da surra que eles tomaram, Kalish?
— Quer que eu abrace e os conforte? São soldados. Precisam aprender a perder. Melhor agora do que morrer quando encontrarem alguém mais forte.
Os saíram do pátio interno e privado de Kalish. Saíram em uma estrada longa e larga. O Comércio Dourado, era como chamavam aquela rua. Comerciantes locais, grandes e pequenos, se juntavam para conversar e negociar.
Os tecidos dourados, azuis e vermelhos de suas vestes se misturavam, e as barracas também. Lado a lado, cada um dos comércios tinha seu representante, e esperavam por visitas. Kalish passou por eles como se fosse somente mais um.
Ninguém o saudou e nem mesmo fez questão de pará-lo. Virgo continuou com ele, no mesmo passo, chegando até onde o Comércio Dourado ganhava três vias. Eles tomaram a esquerda, e seguiram para a Torre do Soberano.
— Por que quer o Confyete, Kalish? — Virgo tomou a sua direita, ficando ao seu lado. — Por que logo agora?
— Já se passaram muitos anos desde que as sansões ficaram mais fortes. Quem vence o Confyete pode escolher uma regra dentro da Zona Cega. — A Torre do Soberano era guardado por mais de dez soldados na porta, esperando pacientemente. — Eles já pegaram tantos para si. Não pagam mais pela comida, não pagam mais pela estadia, não nos chamam para o conselho. Tomam decisões sem a nossa concepção.
Quando as portas foram abertas, Kalish parou. Suas duas mãos estavam dentro dos bolsos, e ele encarou Virgo, bem-humorado.
— Tem muita coisa em jogo, Virgo. Precisa entender que como chefe de uma cidade, as pessoas que vivem aqui devem ser minha prioridade. Se existem rivais e inimigos, nós precisamos de aliados que possam estar a altura.
— E o Comandante Dante está a altura dos seus… inimigos? E que inimigos são esses, Kalish? Eu não sou adivinha.
— Precisa ver para entender, Virgo. — Kalish voltou a caminhar, sozinho dessa vez, para dentro da Torre do Soberano. — Eu entendi pra ver quem são meus verdadeiros inimigos. E não vamos ter misericórdia com eles. Nenhuma.
Virgo viu a porta se fechar. Ela ficou do lado de fora. Sozinha, pensativa. Mas, se Kalish tinha um plano, então, Dante era sua principal peça para o Confyete.
Tomou o rumo, indo na direção de onde o Comandante de Kappz poderia estar.
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