Capítulo 24: Partida
— Senhor, eu recebi um chamado estranho agora a pouco. — O Sargento Endrik entregou uma única folha nas mãos do Tenente Micael. — Parece ser um pedido de socorro pelo código que está sendo tratado.
Micael tomou a folha e viu a numeração lançada. Repetia as mesmas palavras, sempre com uma letra presente, o ‘T’ no meio.
— Sim, é um pedido. Mas não é um oficial como recebemos por Baixa Frequência. — Ele devolveu o papel. — Não precisa se preocupar. Os acampamentos têm blindagem contra as criaturas. Quase certeza de que estão bem.
Endrik tomou o papel e deu uma olhada novamente. Encarou Micael entrando novamente na sala do Capitão Hermes. Ele nunca se importou com o lado de fora, nunca teve um pingo de consideração pelos soldados que se arriscaram do lado de fora.
— Um pedido não oficial — falou para si enquanto outros Cabos e soldados passavam ao redor. — Deve ter alguém que consiga ler isso.
Ele desceu as escadas do terceiro andar do Hospedeiro, e foi atrás do único Oficial que tinha certeza de que poderia ajudá-lo. E por algum motivo, quando perguntou por todo o pátio, era de que Rutteo estava no estábulo.
Era um lugar bem incomum onde um Oficial poderia estar. E quando se aproximou mais, viu que não somente ele, mas Dante, o dono da loja de Armas, Dimitri, e o Cabo Rubbem estavam presentes também.
Ele parou de correr e parou para entender.
— Por isso que eu não pude sair de perto deles, senhor Dante — disse o Cabo Rubbem, abaixando a cabeça em um tom respeitoso. — Eu jamais falaria algo para Dimitri dessa maneira. E quando fiz, fui repreendido de maneira que aprendi o que significa essas palavras. Sinto que o senhor carrega esse mesmo sentimento que ele sentiu na época, peço desculpas pelo que Radius disse ao senhor e se ofendeu sua história.
— Ele não me ofendeu — respondeu Dante ainda tocando Deco no pescoço. Tinha uma escova em mãos, parecia estar alisando o pelo do animal antes. — Minha mãe uma vez foi quase estuprada por um dos Sargentos que foi ao meu vilarejo. E só não fez porque meu pai arrancou o braço dele. A punição do Sargento? Nada. No mês seguinte, ele apareceu com uma medalha no peito e tinha ganhado o cargo de Tenente.
— E esse homem continua andando dentro da Capital, creio eu.
Dante balançou a cabeça.
— Já parou pra pensar que sou uma pessoa bem delicada quanto a esse assunto. O Sargento disse que minha mãe não valia o pau que ela chupava, e que eu era um resto de aborto, que minha irmã seria a próxima a ser abusada. E que meu pai seria decapitado quando ele voltasse. — Dante parou de fazer carinho no cavalo e o olhou torto. — Meus pais estão vivos, Cabo Rubbem. Até hoje, os dois estão saudáveis.
— Acredito que a sorte tenha favorecido vocês todos.
Dante riu.
— Você gosta de ser ingênuo ou é impressão minha?
Rubbem não pareceu entender, então Rutteo respondeu, sentado em uma pilha de feno amarrado.
— O Sargento que se tornou Tenente morreu. Ficou bem óbvio.
A cara de Rubbem ficou sombria. Ele abaixou o rosto junto de Dimitri que também pareceu bem abalado.
— E o seu pai quem matou um membro da Capital, senhor Dante? — Rubbem ergueu a cabeça, o encarando bem centrado. — Ou você quem cometeu esse crime?
Dante deu de ombros.
— Sei que as últimas palavras dele foram ‘seu merdinha Estrangeiro, você sabe quem eu sou?’.
As palavras não agradaram nenhum deles. Nem mesmo Rutteo que fitava Dante com um olhar bem sério. O clima estava bem tenso, Endrik sentia que a qualquer momento eles poderiam puxar suas armas.
Era o certo interferir agora? Ele devia levantar a voz no meio dessa confusão toda? Mesmo sendo Sargento, o Oficial Rutteo era quem deveria liderar esse problema. Não ele. E esses dois, Dante tinha surrado Calton de um jeito que o deixou de cama por dois dias, e Rubbem era um Cabo do Comando.
Ambas credibilidades eram excelentes para não arrumar confusão.
— Dante — disse Rutteo —, creio que o certo seria dizer quem finalizou esse Tenente e qual o nome dele. Assassinar um membro em serviço da Capital é uma pena severa, tamanha que seria decapitado também. Se eu tratasse essa história como verídica, poderia ir até o vilarejo que viveu e trazer seu pai para depor.
O silêncio tornou-se pesado demais para Endrik assistir de longe. Ele se aproximou mais um pouco.
— No entanto — continuou o Oficial dando um tapa em sua própria perna e apontando para o velho do cavalo —, você tem suas razões quanto a acusação. Conheci homens desprezíveis que fizeram o mesmo em um outro lugar, e o fim deles não foi tão honrado. O termo Estrangeiro carrega o peso que muitos do lado de fora sabem. Coisas terríveis, e eu posso provar para você que qualquer um que fizesse o mesmo estando no meu esquadrão seria morto na mesma hora, sem pena ou regalias. Sem honra ou reza.
— Oficial Rutteo…
— Nesse momento, o termo usado feriu seu orgulho como ser humano. — Rutteo concordou. — E Rubbem veio lhe pedir desculpas e não levar para o pessoal. A escolha dele é limitada, assim como a de muitos na posição. Soldados que são carregados pelo Comando são atribuídos a treinar com gente de diversas criações. Eu peço para que reconsidere lutar contra ele a fim de causar dor extrema.
Dante encarou Rutteo e depois Dimitri. Depois Rubbem e voltou para Rubbem.
— Certo. Eu aceito suas desculpas, Cabo.
Eles foram adiante e Dante apertou sua mão, mas não soltou.
— O nome do homem que morreu naquele dia também levou a criança presente. — E puxou ele para perto. — E sejamos sincero, ser Estrangeiro não te faz pior do que ninguém, mas me deu motivação suficiente para estar aqui. Avise ao seu colega que se ele fizer novamente, outra placa de identificação vai estar enterrada.
Rubbem engoliu em seco e concordou rapidamente.
— Deixarei claro pra ele, senhor.
Endrik viu sua chance e se aproximou rapidamente. Quando os olhos caíram sobre ele, entendeu que a situação era muito pior do que aparentava. Cada um deles parecia prestes a devorá-lo vivo, e mesmo assim, eram todos abaixo dele. Apenas Rutteo sorria.
— Ah, Sargento Endrik. O que houve?
— Senhor, eu recebi uma chamada hoje cedo muito estranha. Mostrei para o Tenente Micael, mas ele disse que era informal e não deveria ser levado em consideração. — Entregou para ele. — Eu queria uma segunda opinião.
À medida que Rutteo lia, mais seu sorriso morria e ele se levantava. Quando terminou, seu rosto tinha se fechado.
— Certo. Endrik leve isso de volta e entregue para o Capitão Zunni. Diga que eu mandei. E informe que estou saindo com Dante imediatamente para o segundo Acampamento. — Rutteo apontou para o cavalo. — Dante, monte agora. Vamos partir agora.
Dante subiu num salto e Rutteo pegou um dos cavalos. Sem ser chamado, Rubbem fez o mesmo. Endrik ficou parado, sem saber o que estava acontecendo.
— E o que eu falo para ele, senhor?
— Diga que o Acampamento está infestado de criaturas manchadas. E que Gorumet está usando a habilidade de mudar o terreno.
Endrik concordou e saiu correndo. Ouviu os galopes em suas costas, e quanto mais corria para dentro da Capital, menos ouvia os cavalos.
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