Índice de Capítulo

    Os cavalos rasgaram o gramado por mais de quatro horas inteiras sem parar. Rutteo continuava na frente, brandindo ordens ao seu cavalo como se ele pudesse realmente entender suas palavras. No entanto, ele continuava se distanciando ainda mais, ganhando mais espaço entre os dois.

    Dante tinha ficado preocupado com a senhora Dalia por todo tempo, mas nunca achou que estariam em perigo dessa maneira. Ele devia ter ficado com ela, devia ter dito o que queria na hora. Mesmo que fosse contra suas ordens, ele queria ficar.

    Agora, todos estavam em perigo.

    Mais uma hora e avistaram o primeiro Acampamento. A velocidade dos cavalos assustou os soldados que faziam guarda, mas vendo Rutteo, eles abaixaram suas armas.

    — Me tragam três cavalos — gritou desesperado. — Agora. Tragam a porra de três cavalos.

    Os soldados ficaram assustados e saíram batendo cabeça até o outro lado. Dante e Rubbem chegaram, desmontando. Rutteo passou a rédea da sua montaria a outro soldado e ficou esperando. Dante nunca tinha visto ele tão nervoso quanto naquele instante.

    — Merda — gritou Rutteo. — Cadê os cavalos?

    — Senhor, só temos um.

    O soldado voltou correndo com um corcel marrom, alto e forte. Mas ele relinchava e tentava se soltar.

    — Capturamos ele recentemente, mas ainda não o domamos.

    Dante entregou Deco a outro homem e pegou a rédea do corsel. Ele deu uma puxada e esticou a mão para frente. O cavalo abaixou o rosto, tocando sua testa na palma, e parou de se mexer de um lado para o outro. Não posso perder tempo aqui.

    Ele montou sem sela e bateu na lateral do animal.

    — Rutteo, vou na frente. Me alcance quando puder.

    Dante disparou na frente sem ouvir as reclamações do Oficial. No entanto, as reclamações e xingamentos ele pôde ouvir por quase cem metros. Pelo nível de desespero que ele estava, a situação com Dalia no segundo Acampamento era terrível.

    Ele faria de tudo para tirar eles de lá.

    No meio do caminho, seu corpo pareceu ficar pesado. As pernas não queriam responder direito e seus olhos cansavam ao piscar. Parecia que estava ficando cada vez mais cansado à medida que passava.

    Foi quando Vick o alertou abertamente:

    “Níveis de Energia em 6%. Aconselho a desgastá-la, Dante”.

    — Consegue fazer um rastreamento, Vick? — Dante encarava adiante, mas nada do acampamento aparecer. — Quanto tempo vou precisar até chegar onde Dalia está?

    “Levando em consideração o tempo que vocês levaram da Capital ao primeiro Acampamento, minha estimativa é de cerca de 4 horas e 23 minutos a partir de agora. O cavalo irá se cansar em 3 horas. Você não chegará antes do anoitecer.”

    Dante continuou forçando o corcel ao seu máximo. Ele tinha que aguentar pelo menos essas três horas restantes. E não o deixou perder a força e velocidade enquanto estava em linha reta. O campo verde ao seu redor parecia um borrão de tinta enquanto atravessavam o terreno plano.

    Praticamente no mesmo tempo que Vick havia mencionado, o corcel começou a balançar a cabeça de um lado para o outro, não reagindo mais a ordem de seguir em frente. Dante segurava a crina dele, e deu um tapa com carinho no pescoço.

    — Você já fez o suficiente, garoto. Pode voltar agora.

    Dante girou a perna direita por cima das costas do cavalo e se jogou para o lado. O relincho do corcel ecoou na pradaria, e em seguida, um grito agudo, vindo dos confins do inferno, responderam a ele.

    No meio do imenso gramado, uma criatura veio correndo em sua direção. As duas patas batiam no chão depois das duas pernas, ganhando mais velocidade, e quanto mais chegava perto, mais Dante entendia que não era nada parecido com o que tinha enfrentado dentro da simulação.

    Dois chifres se torciam para o lado e depois para trás, quase forjando uma coroa de ossos deformados e cheios de buracos. A boca carregava tantos dentes, afiados e vibrantes, pareciam vivos como se protegessem a língua que balançava em saliva.

    Isso é um Felroz?

    — Então, que seja o primeiro.

    Os dedos de Dante torceram para trás e ele se arremessou como uma flecha. Abriu os dois braços assim que chegou perto da criatura, e fechou o punho.

    — Pode me ouvir, aberração?

    O Felroz se moveu rapidamente para o som e seus sentidos aguçados formaram o corpo de Dante no ar, em perfeito formato. Ele fechou o punho também, soltando uma risada deformada e socando na direção dele.

    — Cadê a senhora Dalia?

    Os dois punhos se chocaram. Uma imensa explosão de ar se formou, carregando a grama para todos os lados, e gerando a subida de uma parede. As nuvens no céu se separaram. O solo trincou com o impacto.

    I

    Tecno sentava no chão esperando um retorno da única mensagem que conseguiram enviar. Seu braço ainda sangrava, mesmo com os pontos aplicados por Freto e Crish. Sua pele tinha sido remodelada, mas foi um sucesso.

    Se tivesse certeza de que o plano funcionaria, não teria hesitado. Se… é sempre esse ‘se’.

    — Usar a Alta Frequência foi uma ideia esperta — disse Gorumet uns dois metros dele, sentada. Ela suava. O calor debaixo da terra começou a se tornar sufocante aos poucos, obrigando a tirarem o excesso de roupa. — Mas, se você colocou aquele ‘T’ no meio, eles não vão querer saber. Hermes é pragmático, ele não vai mandar ninguém para cá.

    Tecno fechou os olhos e se encolheu no canto. Seu braço direito ardia tanto que ele tinha que apertar os dentes um no outro para não xingar. Queria poder falar mais, xingar a vontade aquele pessimismo da Oficial, mas manteve-se quieto.

    Ele não precisava fazer nenhum alarde. Se fosse para ficar ali, então faria sem causar problemas a ninguém. Preferia assim.

    Ajeitou sua farda, toda amassada e suja, e reclinou para deitar um pouco. Quando enfiou a mão dentro do bolso, sentiu algo gelado, sólido. Ele a puxou devagar, se dando conta de que estava com um Cubo de Frequência desde cedo.

    — Isso não vai funcionar — disse Dalia observando seu entusiasmo. — Mesmo que possamos mandar uma mensagem, não tem quem receber. E os cubos precisam da mesa para criarem a Alta Frequência, lembra?

    Tecno ergueu mais um pouco assim que Dalia e os demais viraram o rosto para o outro lado.

    — Esse Cubo não está sincronizado com nenhuma mesa, senhora Dalia.

    A luz dele se acendeu aos poucos, um pequeno flash do azul mar. E depois mais um.

    Tecno abriu um sorriso, vitorioso.

    — Ele está sincronizado com o Cubo que eu deixei com o Recruta Dante.

    O Cubo acendeu fortemente, e Tecno o puxou rapidamente, inserindo sua Energia Cósmica, criando uma conexão imediata. Não podia perder essa chance, nem mesmo se alertasse os Felroz lá de fora.

    Os ruídos começaram a aparecer, e em seguida, um zumbido agudo.

    Do lado de fora, alguma criatura soltou um berro longo e agudo, exatamente como o cubo. Eles sentiram o tremor do solo acima deles balançar enquanto as patas pisoteavam fortemente se distanciando dali.

    Outro grito, dessa vez dolorido, e parou de repente.

    Tecno forçou o máximo que pôde sua Energia no cubo, mas ele começou a escurecer de repente.

    — Não, não. — Tecno o pegou com o braço ruim e apertou. — Não, Dante. Pelo amor de Deus, não.

    Gorumet ficou irritada e se levantou.

    — Pare de criar falsas esperanças, idiota. Olhe o estado em que estamos. Temos que esperar um resgate completo, não um Recruta a cavalo.

    Dalia ficou de pé e esticou a mão para ela, impedindo que fosse adiante.

    — Não.

    A situação já era ruim demais para que ficassem uns contras os outros. Gorumet fechou a cara e saiu andando para longe. Tecno apertava o cubo o suficiente para que sua pele fosse cortada pela diagonal, seu sangue escorria e pingava em sua calça.

    Dalia abaixou ao seu lado.

    — Tecno. Guarde isso.

    — Não. Ele veio. Tenho certeza. — Seus olhos estavam lacrimejando. Toda a sua expressão era de uma destroçada. — Não podemos morrer aqui, senhora.

    Dalia levou a mão ao rosto tapando os olhos. E depois ergueu a outra, pondo por cima do Cubo.

    — Dante, se você estiver ouvindo as palavras de Tecno. Por favor, não pare. Estamos embaixo do segundo Acampamento. Precisamos de ajuda.

    II

    Dante recuou dois passos e socou duas vezes rapidamente, explodindo a pele do Felroz e o mandando de volta para trás. Saltou de um soco e bateu com a palma no rosto do outro. Puxou o chifre do terceiro e afundou sua cara no chão, pisando em cima. Fez o corpo desse último de trampolim e se jogou para o alto.

    Não esperava que até mesmo no ar as criaturas saltariam para pegá-lo. Dante abriu mais a base dos braços, e segurou o dedo indicador com o dedão, forçando para baixo.

    — Peguem esse peteleco.

    Os disparos bateram contra os peitos e cabeça, enviando as criaturas de volta no chão. Dante brandia a mão contra cada um que se aproximava, mas vendo de cima, eles eram uma matilha.

    Deve ter mais de cinquenta deles aqui.

    “Atrás de você” — Vick soou alto.

    Dante girou rapidamente no próprio eixo e deixou um dos Felroz passar gritando. Mas, não o deixou ir muito longe. Segurou sua perna e lançou contra o chão. A explosão não foi tanta quanto antes, a Conversão estava ficando cada vez menos eficiente.

    “Taxa de 1%. Aconselho a unir atrito, Dante”.

    A sola parou de se mover em espasmos e Dante desceu em queda livre. Os Felroz gritavam, tentando subir um no outro para pegá-lo. Queriam sua carcaça, queriam seu corpo. Mesmo que fossem uma matilha, um grupo, uma multidão, ainda eram fracos, lentos e irracionais.

    — O seu maior inimigo é você mesmo. — Dante ouviu essas palavras de seu pai tantas vezes. — Não se afogue em desespero. Eu também sou falho. Os humanos são. Então, aquelas bestas possuem uma abertura. Ache e acabe com isso.

    Antes de tocar o solo, uma voz surgiu entre a troca de posição de ataque.

    — Não. Ele veio. Tenho certeza. — Houve uma pausa. — Não podemos morrer aqui, senhora.

    — Tecno?

    Ele olhou ao redor. Seu Oficial estava presente?

    — Onde vocês estão? Tecno?

    Um dos Felroz o pegou no meio da sua desconcentração. Dante recebeu um soco muito forte nas costas, sendo mandado na direção de onde o Acampamento estava. Rolou na grama, e se levantou ouvindo o grito agudo dos malditos desgraçados.

    Ele saltou para trás, bloqueou um soco da direita e rebateu outro para a lateral. A criatura abriu sua boca e tentou morder seu braço. Dante usou uma cotovelada no queixo dela, libertando um urro dolorido.

    E então, uma outra voz surgiu.

    — Dante, se você estiver ouvindo as palavras de Tecno. Por favor, não pare. Estamos embaixo do segundo Acampamento. Precisamos de ajuda.

    Apertando o punho fortemente, Dante soltou um grito estrondoso para frente, na direção de quase dez Felroz.

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