Índice de Capítulo

    — Senhor — um dos homens de armaduras que pertencia a Aurora ergueu a cabeça. — Sou Kamitase Ealuri. Subordinado do Rei do Leste. Nós ficamos feliz com sua presença. É de nossa grande vantagem que viemos de portos menores, capturando prisioneiros, ervas e riquezas para que o senhor se fortaleça.

    Bulianto encarou seu assistente e apontou para uma das bordas.

    — Sim, senhor. — O gordinho saiu caminhando para onde fora apontado. — ‘Mistice’.

    A Energia Cósmica dele se libertou. A madeira foi remodelada, forjando uma cadeira de pedra e madeira. Bulianto caminhou até lá e se sentou,fazendo uma expressão de relaxamento.

    — Aurora vem fazendo um bom trabalho — disse Bulianto. Sua voz era grave e rouca, mas arrastava, quase travando. — Eu estive batalhando contra o Rei do Oeste, mas perdi alguma das minhas frotas nas últimas semanas.

    Aquelas cinco pessoas com armaduras, vestidos melhor do que todos os outros, ficaram chocados. Ainda ajoelhados, ninguém ousou se levantar.

    Não fazia ideia de quem fosse Bulianto, mas era um homem admirado e respeitado nos mares. Ser Rei do Leste, comandando frotas e tendo lugares em seu nome, Dante não conseguia tirar os olhos dele.

    Poderia ser que esse homem pudesse ajudá-lo? Não.

    Por que tinha esperanças em voltar quando se distanciava por meses? Eles não tinham sequer pisado em terra por tanto tempo. Não. Eles não iriam simplesmente ouvir sua história, de sua vida.

    Naquele momento, Dante era somente mais um prisioneiro.

    — O senhor perdeu para Oiadin, senhor?

    — Perdi — respondeu Bulianto. — Um dos meus antigos Capitães me traiu durante a batalha. Por isso, a maré mudou. Não foi nada demais. Eu já esperava que um deles fizesse aquilo, estava marcado pela Oráculo.

    Kamitase ficou ainda mais assustado.

    — Um dos Capitães te traiu, senhor? Por que fariam isso?

    — Foi a mesma pergunta que eu me fiz. Não é difícil de pensar que alguns são mais ambiciosos, e isso torna-se em ganância. — Bulianto parou de falar e passou os olhos nos dois prisioneiros que estavam separados. — Vamos ao que interessa. Esses são os dois que acharam ser promissores?

    — Sim, senhor.

    — Me fale sobre a capacidade deles.

    Kamitase olhou para as próprias pernas, ainda ajoelhadas. E encarou Bulianto, em seguida.

    — Posso me levantar, senhor?

    — Sim.

    Ao ficar de pé, Kamitase foi até o homem. O prisioneiro, assustado demais, tentou recuar duas vezes, mas foi segurado pelos cabelos. Arrastado para frente, até o Rei da parte Leste do Oceano Polar.

    Tremendo, ergueu a cabeça. Bulianto inclinou-se para frente, tocando seu rosto e depois o cabelo.

    — Não parece ser um bom guerreiro. — Encarou Kamitase. — Por que escolheram esse?

    — A habilidade dele, senhor. Foi nomeada como ‘Nomeadura’.

    — Ah, então, ele pode dar o nome as demais coisas. — Bulianto puxou o braço para trás. — Você sabe lutar com alguma arma? Preciso de pessoas fortes. Você sabe fazer alguma coisa?

    O homem continuou tremendo por mais tempo do que a paciência de Bulianto se estabeleceu.

    — Nomeadura é uma habilidade que você pode dar nome a algumas coisas e criá-las — disse Bulianto recuando o corpo novamente. — Ele pode ter uma habilidade forte, mas não consegue sequer ficar normal.

    — Senhor, esse homem pode ajudá-lo no campo se for bem treinado.

    — Não quero nenhum tipo de sacrifício. Preciso de guerreiros. Essa mulher é outra, quem é?

    Kamitase a segurou pelos braços, e a jogou de joelhos diante Bulianto. Diferente do outro prisioneiro, os olhos dela eram vidrados, sem tremer, encarando-o com vontade.

    — E qual a sua habilidade?

    — Criogenese… senhor.

    Ela curvou a cabeça e recebeu um sorriso do Rei.

    — E sabe lutar, mulher?

    — Fui treinada por um mestre em adagas, senhor. — Ela esticou os dois braços, todos cortados. Sua mão calejada, símbolo de seus anos de treinos. — Antes de ser presa, eu caminhava por Trahaus.

    Bulianto arqueou a sobrancelha.

    — Um lugar longe demais para ser chamado de casa.

    — Não é minha casa. Era meu trabalho.

    Bulianto encarou seu assistente e concordou.

    — Acredito que eles sejam os melhores que vamos achar por aqui. Quero que os nomeie e coloque junto dos outros para treinarem. Não vamos perder tempo e voltar para as correntes. Queremos chegar até a Ilha Filimato antes de…

    O Rei parou de falar. Ele piscou algumas vezes e ergueu a cabeça.

    — Algo de errado, senhor?

    A cabeça do Rei encontrou com os dois prisioneiros, mas se afastou, indo diretamente para o mastro principal. Dante o encarava de lado, sério, flexionado, mas não podia deixar de ficar impressionado.

    Os dois se encararam por uma pequena fração de segundo.

    — Quem é aquele?

    Kamitase e os outros rapidamente se voltaram para Dante. E deram uma risada de leve.

    — Senhor, esse é o novo prisioneiro. Ainda não está apto para nada. Ele tem um problema no corpo, e também é velho demais para estar junto do senhor. Não tem proficiência em nada, nem mesmo sua habilidade é decente.

    Dante abaixou a cabeça, e fechou o punho, irritado. Eles tem sorte de falar isso hoje. Se fosse dois meses, eu teria acabado com esse navio de merda em minutos.

    — E por que diz que um homem é inapto apenas por ser velho? Você, velhote, qual o seu nome e de onde veio.

    Dante não tinha mais nada a perder mesmo.

    — Sou Dante e vim da Capital.

    — Capital? — Bulianto ficou surpreso novamente. — Não conheço esse nome. Vocês não disseram que ele foi o último a chegar?

    Antes do próprio Kamitase poder falar, a linha de doutores que esperava do outro lado, no qual Dante não tinha visto até o momento se moveu. Um dos doutores tentou sair, mas foi puxado. Esse pequeno caos foi suficiente para Bulianto entender que algo não estava certo.

    Ele esticou a mão para os doutores.

    — Soltem esse homem. Deixe que ele fale.

    — Senhor — interveio Kamitase. — Não é necessário. Nós iremos corrigir essa postura imprópria na sua frente.

    — Cale-se. Não pedi sua ajuda.

    A pressão foi agonizante. O navio inteiro balançou mais uma vez. Os mastros rangeram, quase se entortando para a lateral. Os cascos torceram também, e Aurora parecia ter descido mais no oceano. Só uma pequena porção da sua habilidade fez com que tudo desmoronasse.

    — Você. — Apontou para o doutor. Dante encarou Pomodoro ir adiante. Passou por ele e se ajoelhou diante de Bulianto. — Deve ter um bom motivo para fazer alarde bem diante de mim.

    Pomodoro ergueu o rosto, sem medo algum. Ele já sabia o que estava fazendo — Dante sentia.

    — Senhor Bulianto, sou Pomodoro Alixas. Sou um homem que veio de uma terra longe demais, feito de prisioneiro, e tratado a cuidar dos outros. Quero uma chance, senhor, de poder cuidar dos seus guerreiros, da sua frota. De ser mais do que apenas um simples homem, no meio do mar.

    Kamitase ergueu a voz antes de Bulianto:

    — Não, senhor. Não. Esse…

    — Eu mandei calar a boca.

    A pressão caiu em Kamitase e ele caiu de joelho. Seu peito colidiu contra o convés, afundando mais.

    Bulianto encarou Pomodoro novamente.

    — E o que pode oferecer?

    Pomodoro virou o rosto, encarando Dante por um segundo, e depois voltou a Bulianto.

    — Minha habilidade, senhor. Sou um doutor, renomado em ferimentos internos. Conheço todas as ervas orientais. Antes de estar aqui, fui reconhecido como um dos mestres de cirurgias. Eu posso reconhecer ferimentos, posso reconhecer maldições e até mesmo hemorragias. Com as ferramentas certas, farei com que seus subordinados não sejam mortos em batalha.

    Bulianto deu uma risada longa. E balançou a cabeça, voltando-se para os cinco presentes.

    — E pensar que vocês esconderiam uma joia de mim. Sabem o que é traição? Sabem o que acontece com traidores?

    — Senhor — Pomodoro o cortou. — Eles não sabiam da minha habilidade ou da minha história. Esses homens não são culpados. Poupe-os se for da sua benevolência.

    — Sua educação me impressiona, Pomodoro Alixas. Ótimo, eu aceito você. E levarei esses dois prisioneiros. Será dessa maneira, então, Kamitase.

    Antes de Bulianto se levantar, Pomodoro ergueu o rosto, o fitando.

    — Antes de partir, senhor. Eu tenho um pedido.

    O assistente de Bulianto rapidamente puxou sua espada da cintura, apontando para o doutor.

    — Quem acha que é para fazer colocações ao Rei, curandeiro? Se sinta lisonjeado por ser convocado para a tripulação do próprio…

    — Sua espada não me intimida — respondeu Pomodoro ainda fitando Bulianto de pé. — Já vi homens demais apontando suas armas e nenhum tendo coragem para fazer o que é necessário. Meu pedido é que faça do meu paciente seu prisioneiro. É meu dever continuar o tratamento dele.

    Bulianto fez seu assistente recuar a espada e guardá-la. E fez um sinal para que Pomodoro se levantasse.

    — E quem seria o seu paciente?

    — O homem que veio da Capital, senhor.

    Ao ouvir aquela resposta, Dante ergueu a cabeça assustado. Os olhos de todos estavam fixados nele.

    — O velho inútil — comentou o Assistente. — Mais uma boca para alimentar, Rei. Deveríamos nos atentar melhor a quem escolhemos para nosso navio. Esse homem irá nos atrasar.

    Bulianto apontou para Dante.

    — Capital, esse será o seu nome a partir de agora. Sua vida foi salva graças ao seu doutor. Terão cinco minutos para pegar suas coisas. Quero esses quatro a bordo de Nokia em trinta minutos.

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