Índice de Capítulo

    Dante comeu, bebeu e encheu-se até não poder mais em menos de duas horas. Sentou-se entre seus novos companheiros, esperando que a embriaguez o levasse a cometer algum erro, a perder suas posses ou a envolver-se em alguma confusão. Mas nada disso aconteceu. Os homens ao seu redor beberam até cair, arrotando e gargalhando, enquanto as canecas eram reabastecidas sem cessar. Miatamo era um dos poucos que ainda se mantinha de pé, mesmo depois de esvaziar sua caneca mais de dez vezes.

    Ao terminar sua décima quinta caneca, Miatamo bateu-a com força na mesa e apontou para Dante.

    — Capital, quantas você tomou até agora? — perguntou, sua voz rouca e carregada de orgulho.

    Dante encarou-o, impassível. O álcool poderia nublar a mente dos fracos, mas ele sempre recorrera à Energia Cósmica para manter a clareza, mesmo em momentos como este. Até quando fora envenenado, durante um treino com seu pai, conseguira manter-se lúcido.

    — Só sete — respondeu Dante, erguendo a caneca meio vazia. — Não estou nos meus melhores dias. — Abriu a boca e soltou um arroto que durou três segundos, surpreendendo até a si mesmo. — Perdão, perdão. Não estou acostumado a beber tanto.

    Os homens ao redor explodiram em gargalhadas, batendo nas mesas e tropeçando uns nos outros. Guaca, sentado ao lado de Dante, passou o braço por trás de seu pescoço e empurrou outra caneca em suas mãos.

    — Não precisa pedir desculpas se não fez nada de errado — disse Guaca, com um sorriso largo. — Vamos, beba mais.

    E assim continuaram, falando de cervejas, vinhos e dos lugares distantes que Miatamo havia visitado. Dante manteve-se atento, mas o sono começou a pesá-lo. Ele inclinou-se para frente, enfiando a mão direita sob o casaco vermelho e segurando Nic com cuidado. Ali, no meio das risadas e das discussões, ele baixou a guarda.

    I

    Bulianto sentou-se em sua poltrona, respirando fundo. Levou a mão ao ombro e retirou a pesada placa de ferro com o símbolo do dragão, deixando-a tombar ao lado. Em seguida, arrancou a outra placa e esticou as pernas. Duas mulheres emergiram das sombras, ajoelhando-se ao seu redor para desamarrar suas botas.

    Ao fechar os olhos, Bulianto ouviu um som vindo de trás. Desejou que fosse apenas mais um ruído, mas era Nekop, aproximando-se com um caderno nas mãos.

    — Senhor, senhor — chamou Nekop, sua voz rápida e ansiosa. Ele era pequeno, quase um anão, e sempre parecia estar à beira de um colapso. — Por que o senhor não quer que façamos uma emboscada nas Pedras Gêmeas? Temos homens suficientes para isso. E o Bastardo quer se encontrar com o senhor. Temos agenda livre esta semana? O Gordo e o Magro querem um pedaço do terreno que conquistamos nas ilhas. Meu Deus, tem tanta gente querendo um pedaço de tudo. Por que o senhor foi inventar de fazer isso agora?

    As botas foram retiradas, e uma das mulheres levantou-se. Vestia apenas um traje fino e translúcido, que mal cobria seu corpo. Deitou-se ao lado de Bulianto, e sua mão deslizou sobre a nádega do capitão.

    — Avise que vou me encontrar com o Bastardo — disse Bulianto, ignorando parte das palavras de Nekop. — Mas o que ele quer desta vez? Da última vez, tivemos problemas com o terreno montanhoso. — Ele virou o rosto para o pescoço da mulher, sentindo seu perfume. — Está usando o que eu te dei, meu bem?

    — Sim, meu senhor. Uso sempre — respondeu ela, com um sorriso suave.

    Nekop soltou um gemido abafado, batendo na testa repetidamente.

    — Meu senhor, isso está errado demais. O Bastardo quer que o senhor o aceite como seu principal capitão. E disse que quer mostrar a força de sua frota em uma disputa justa.

    — Justa? — Bulianto riu, um som baixo e carregado de desdém. — Ele está cobiçando essa posição há tempos. Diga que aceito sua proposta. Se ele me impressionar, talvez eu considere.

    — Senhor, mas quem vai enfrentar o Bastardo? Miatamo não pode se machucar; ele é o líder e mantém a moral da Vanguarda. Guaca e os Marujos do Norte não vão querer.

    Claro que não iriam. Eles não se importavam com posições ou cargos. Precisavam apenas de diversão. Morrer em batalha era seu sonho, e Bulianto lhes dera essa oportunidade. “Apenas lutem as verdadeiras batalhas”, dissera ele. “Apenas aquelas em que suas vidas estarão em risco.” E desde então, eles se empenhavam em vencer todas.

    — Diga ao Bastardo que meus homens lutarão contra os dele como em uma verdadeira batalha no mar — ordenou Bulianto, fazendo uma pausa para puxar o queixo da mulher para perto de si. — Quero que ele sinta o desespero dos homens mais corajosos antes de assumir qualquer posto de responsabilidade.

    Nekop anotou rapidamente, sua pena riscando o papel com urgência.

    — Farei imediatamente, senhor.

    — Nekop — chamou Bulianto, antes que o homenzinho pudesse sair. — Traga o novo doutor para cá.

    Nekop concordou com a cabeça, sem tirar os olhos do caderno, e saiu apressadamente.

    — Sim, senhor, senhor.

    I

    — Você disse que era um velho forte, mas está se superando, Capital.

    Dante deu uma risada maliciosa, mantendo a força.

    — Está impressionado?

    Os dois batalhavam friamente em uma ‘Queda de Braços’, forçando um ao outro de cada lado da mesa curta. Todo mundo gritava ao redor, vendo Guaca ser pressionado levemente. E quanto mais força ele fazia, mais Dante sentia sua conversão.

    Ele não tinha perdido sua Habilidade, o que era importante. Ele continuaria lutando para voltar. Para Kappz ou para a Capital. Primeiro, ele tinha que mostrar um pouco de respeito. Deixou sua força cair mais e mais, com o braço de Guaca rapidamente tomando controle da disputa.

    E Dante fez o mínimo de esforço até ter seu braço tocado na mesa. Ele recuou, batendo na mesa.

    — Merda, achei que ganharia.

    Guaca soltou uma risada e levantou os braços, mostrando seus músculos.

    — Eu disse que o papai aqui não perde para ninguém. — Esticou a mão em seguida, mostrando respeito pelo velho. — Nunca vi alguém tão velho ser tão forte. Eu gostaria muito de ter visto no auge, Capital.

    Dante sorriu, mas foi um triste.

    — Bom, acho que você teria mais problemas. — Não tinha percebido até ver o rosto deles, mas sua frase saiu um pouco triste demais. — Ei, ei. O tempo faz isso mesmo. É normal, não quero que fiquem com pena de mim. Quando eu me recuperar das minhas feridas, sei que vou ficar ainda melhor.

    Miatamo apontou para ele, soltando um gargalhar alto e concordando. Quebrou a tensão de antes.

    — É assim que um guerreiro deve viver. Sempre procurando por mais batalhas, sempre querendo morrer enquanto ainda pode manter sua espada viva. É disso que gostamos, Capital. Você é um dos nossos, entendeu?

    Dante levantou o braço, concordando com a cabeça. E uma caneca se arrastou pela mesa, em sua direção.

    — Enquanto estiver sob a bandeira do Nokia, sempre terá um lugar na Vanguarda. — Não foi somente Miatamo, os demais ergueram suas canecas. Novamente, depois de terem apagado por beber demais, erguiam a cerveja e vinho, alguns até mesmo seus pratos. — Pela Vanguarda, pelo Nokia, pela nossa história.

    Eles repetiram juntos:

    — Pela Vanguarda, pelo Nokia, pela nossa história!

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