Capítulo 253: Ervas
— O que acha? — Bulianto ergueu a cota de malha, revelando o ferimento na costela. A pele ao redor estava manchada de negro, com filamentos escuros que se espalhavam como raízes venenosas. — Ruim demais?
— Ruim seria se te matasse agora — respondeu Pomodoro, secamente.
O doutor aproximou a mão do ferimento, e quando seus dedos estiveram a um palmo da pele, um dos filamentos negros esticou-se em sua direção, como uma serpente pronta a atacar. Pomodoro puxou a mão para trás a tempo, e o filamento retraiu-se, contorcendo-se de volta à carne de Bulianto.
— É o ‘Comedor de Tecidos’ — declarou Pomodoro, afastando-se e arrancando a luva, que jogou em um cesto de lixo. — Você foi atacado por algum usuário de veneno?
Bulianto baixou a cota de malha, cobrindo o ferimento novamente. Ao tentar levantar-se, uma expressão de dor cruzou seu rosto.
— Sim, havia um desses. Ele conseguiu flanquear-me durante uma brecha na batalha. Matei o bastardo depois que ele tentou me esfaquear, mas não antes que ele me tocasse. — Bulianto esperou enquanto Pomodoro abria uma pequena caixa de madeira, e o aroma de ervas encheu o ar. — Os outros doutores disseram que eu precisaria de um Augento de Ceres. Uma erva tão rara que só existe no Fim do Mundo.
— Eles não mentiram — confirmou Pomodoro, examinando o conteúdo da caixa. — Um Augento é criado sob condições extremas, incluindo a exposição ao magma. No Fim do Mundo, no coração da Fagulha de Ossuan, nasce essa erva. Onde as águas dos Polos Norte e Sul se encontram, e o magma a condensa.
Bulianto levantou-se com dificuldade, esticando as costas e estendendo a mão para trás. Das sombras, duas mulheres emergiram, carregando seu grande casaco negro. Elas o ajudaram a vesti-lo, suas mãos ágeis e silenciosas.
— E por que você parece procurar algo nessa caixa? — perguntou Bulianto, observando Pomodoro revirar o conteúdo. — Por acaso já esteve no Fim do Mundo?
— Nunca fui, e nem gostaria de ir, para ser sincero — respondeu Pomodoro, sem levantar os olhos.
Bulianto apreciou a franqueza, mas Pomodoro continuava sua busca. Ele retirou um pequeno graveto cinza, uma pétala rosada e um frasco com um líquido verde. Organizou-os meticulosamente sobre a mesa antes de fechar a caixa.
— Aproxime-se, por favor — ordenou Pomodoro.
Bulianto moveu-se com dificuldade, mas obedeceu.
— O que são essas ervas? — perguntou, fitando os itens dispostos.
— São o que vai mantê-lo vivo por mais tempo — explicou Pomodoro, apontando para o graveto cinza. — Esnoea, cultivada em cativeiro em uma cidade flutuante, distante daqui. Tem uma das melhores taxas regenerativas conhecidas, mas sua pulsação de Energia Cósmica é elementar. Ela vai resfriar o vírus que se instalou em você. — Movendo o dedo para a pétala rosada, continuou: — Esta é a Esbelata Rig, que cresce apenas nas árvores de ameixa do litoral oriental. Ela inflama a Energia Cósmica do corpo e ataca os invasores com o elemento fogo.
— Vai recriar o Augento? — perguntou Bulianto, interessado.
— Recriar, não. Vou apenas retardar o avanço do vírus, dando-lhe tempo para encontrar o Augento verdadeiro. — Pomodoro apontou para o frasco verde. — Áqua Pantiniano. Tem propriedades para curar feridas que sofrem dos males do fogo e do gelo. Como o vírus será atacado por ambos, sua pele será forçada a se regenerar mais rapidamente.
Bulianto não hesitou. Pegou o graveto cinza e engoliu-o inteiro, sem mastigar. Esperou.
A explosão de frio atingiu sua costela como uma lâmina. Ele cambaleou para trás, erguendo a cota de malha novamente. O gelo começou a se formar sobre a área enegrecida, mas a dor era insuportável. Bulianto caiu sentado em sua poltrona, soltando um rugido de agonia.
— Você não me disse que doía tanto — gritou, segurando o braço da poltrona com força. — Merda, me dê os outros dois!
Pomodoro entregou-lhe a pétala rosada e o frasco verde. Bulianto engoliu a pétala e derramou o líquido sobre o ferimento. Em segundos, sua pele começou a ficar avermelhada, e ele apertou o braço da poltrona com tanta força que o navio inteiro pareceu tremer. Chamas dançaram sobre o gelo, tanto dentro quanto fora de seu corpo. Ele segurou a cintura, rangendo os dentes e arqueando as costas.
— Merda, quanto tempo isso vai durar? — gritou, suando profusamente.
— Alguns minutos — respondeu Pomodoro, calmamente, observando Bulianto se contorcer. — A dor vai passar. Mas não seja imprudente. Se entrar em batalha novamente, acabe-a rapidamente. E evite usar sua Energia Cósmica em excesso.
No meio da dor, Bulianto soltou uma risada rouca. Seus olhos, antes carregados de agonia, encontraram os do doutor, e um brilho de determinação surgiu em seu olhar.
— Se isso me fizer bem — disse ele, com a voz ainda tensa, mas firme —, então você tem direito a um pedido pessoal.
Seu punho cerrado golpeou o braço da poltrona, quebrando-o com um estalo seco. A madeira rachou, e os estilhaços voaram pelo ar. Entre os minutos de agonia, o alívio finalmente chegou. Bulianto ergueu a cota de malha, revelando que a marca negra do vírus havia diminuído quase por completo. Restava apenas um pequeno filamento, agora envolto por uma crosta de gelo.
Ele esticou-se, estalando as costas e os ombros. Em seguida, girou a cabeça, soltando o pescoço. Tudo estava no lugar, e o peso que antes o consumia havia desaparecido. Ao respirar fundo, sentiu o ar encher seus pulmões sem a dor que antes o acompanhava. Antes, até comer e beber eram tarefas árduas, com a dor irradiando de sua costela para as costas e descendo até as pernas. Agora, nem o simples ato de erguer os braços o incomodava.
— Incrível — murmurou Bulianto, enquanto a porta se abria. Nekop entrou, seus olhos arregalados ao ver o capitão de pé, sem dor.
— O senhor está caminhando… sem dor — disse Nekop, quase sem acreditar. — Isso é incrível, senhor.
Bulianto sorriu, fechando o punho novamente.
— Como pode ver, Nekop, agora tenho mais tempo para pensar em um plano arriscado. — Seus olhos voltaram-se para Pomodoro, que permanecia impassível perto da mesa. — Doutor, você pode fazer um pedido. O que quiser, apenas peça. Farei o que for necessário e o que estiver ao meu alcance.
Bulianto nunca gostara de conceder desejos aos tolos. Mesmo que suas realizações fossem grandiosas, ele acreditava que recompensas deveriam ser dadas apenas aos sóbrios e calculistas. A ganância, ele sabia, poderia matar até os mais fortes.
— Um pedido, você diz? — Pomodoro manteve a serenidade, sua voz calma e medida. — Então, quero que me escute, Rei. Porque, diferente de mim, é você quem está em perigo. Se quer mesmo ter tempo para curar suas feridas, me escute.
— Um pedido diferente — respondeu Bulianto, sentando-se novamente na poltrona. Sem dor, ele balançou a mão, indicando que o doutor continuasse. — Prossiga. Farei o que pediu.
— Antes de estar no barco do Convidado, Kamitase, eu estava em outro navio. A Rainha do Norte e a Rainha do Sul estão em um conflito armado. — Pomodoro não hesitou, sua voz firme e clara. — O Oceânico Polar I será palco de mais batalhas do que nunca, mas você perdeu sua frota e um de seus capitães. O Rei do Oeste quer sua cabeça porque sabe que você está enfraquecido. Até agora, eu não sabia o motivo, mas você me mostrou sua doença.
— Já sabia desses fatos — respondeu Bulianto, com um sorriso irônico. — Mas eles não têm o mesmo número de homens que eu.
— O Rei do Oeste tem cerca de vinte mil homens em espera, em Duncan Pailo. E ele sabe que você vai atracar lá eventualmente. Quando isso acontecer, ele usará esse movimento para reunir suas forças. — Pomodoro retirou uma pequena carta do bolso e estendeu-a a Bulianto. — Minha missão era reunir informações, mas meu Mestre pediu que, se eu estivesse no mesmo navio que o senhor, deveria entregar isso a você.
Bulianto arqueou uma sobrancelha, impressionado.
— Vinte mil homens? Como sabe disso tudo?
— A carta deve revelar tudo o que o senhor espera. Mas, antes de ler, quero que saiba: o Rei do Oeste está criando o caos em suas próprias terras. Por isso, ele contratou os mercenários do Polo Sul. Você é o alvo dos três porque é o mais fraco.
Pomodoro inclinou a cabeça, num gesto de respeito.
— Quero me desculpar pelas palavras rudes que proferi, mas eram parte da missão que meu Mestre me confiou.
— Mas você não estava preso por mais de dez anos no mar? — Nekop aproximou-se rapidamente, seu caderno aberto. — Como você…
— Mentir é fácil quando se sabe o que faz — respondeu Pomodoro, sem perder a compostura. — Estou viajando há menos de um ano. Conheço as histórias do mar, mas passei a maior parte do tempo no continente.
Bulianto segurou a carta, ainda fechada, e balançou-a levemente.
— Mercenários, não é? Entendi agora. Pomodoro, você tem meu respeito. Se quiser um lugar de renome em meu navio, você terá.
— Não, senhor — respondeu Pomodoro, sem hesitar. — Não quero nenhum posto. Apenas quero cuidar do meu paciente.
Nekop folheou rapidamente seu caderno até encontrar um nome.
— Dante da Capital.
— Ele está com um problema para o qual não tenho uma solução aparente. Pretendo terminar meu trabalho como curandeiro. — Pomodoro apertou o maxilar, determinado. — Depois, minha missão estará cumprida, e poderei ajudá-lo, Rei.
Bulianto suspirou. Lealdade como aquela era rara. Quem dera todos fossem assim.
— Ótimo, Pomodoro. Você terá seu paciente.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.