Capítulo 255: Encontro Inocente
Dante encontrou-se com a Vanguarda em um dos cômodos mais recentes do navio, uma sala ampla e repleta de equipamentos de treino. Guaca o guiou, com um braço casualmente envolto em torno de seu pescoço, como se fossem velhos amigos. Diferente do dia anterior, a animação de Guaca contagiava o ambiente, e sua risada ecoava pelas paredes, chamando a atenção dos que lutavam.
— O Rei mandou criar este lugar para que sempre pudéssemos treinar quando cansarmos de beber e comer — explicou Guaca, gesticulando com entusiasmo. — Cada um deles está empenhado em se tornar um verdadeiro Vanguardista.
Dante olhou ao redor, observando os homens e mulheres que se enfrentavam com espadas, adagas e escudos. A intensidade dos combates era palpável, cada golpe e bloqueio executado com precisão e força.
— Calma — disse Dante, voltando-se para Guaca. — Eles não são Vanguardistas?
— Claro que não, Capital — respondeu Guaca, soltando uma risada. Ele se soltou de Dante e começou a caminhar de costas, ainda olhando para ele. — Quando você entra para o *Nokia*, precisa passar pelos testes. Nós temos alguns, mas o principal é a luta. Nosso maior padrão é a luta individual. Mesmo que você não consiga proteger um aliado, precisa saber proteger a si mesmo. Não concorda?
— Sim, plenamente — respondeu Dante, seus olhos ainda fixos nos combatentes.
Havia cinco dias que ele estava ali, e nunca tinha ouvido falar de uma ala de treino ou disputas. Mas, vendo a intensidade dos combates, era claro que isso era levado a sério. Um dos colegas de Guaca, um rapaz chamado Egiss, defendia-se dos golpes de uma espada com apenas uma adaga. Quando tentou contra-atacar, foi facilmente bloqueado, e um chute certeiro o lançou contra um colchão na parede. Egiss caiu de peito no chão, ofegante.
— Aquela é uma de nossas principais lutadoras, Thelia Porto — disse Guaca, apontando para uma mulher que observava o combate com olhos atentos. — A gente chama ela só de Thelia. Você vai ter que passar por ela para se tornar um Vanguardista, mas primeiro precisa se preparar. Sabemos que você esteve meio acabado nos últimos meses, então separamos alguém para te ajudar a voltar ao ritmo.
No mesmo instante, um berro ecoou do outro lado da sala. Uma mulher voou pela parede, batendo contra um colchão e ficando pendurada por alguns segundos antes de cair no chão. A voz de um homem elevou-se, carregada de irritação:
— Eu já não disse que precisa manter a guarda erguida? Merda, quantas vezes eu já mandei levantar essa porcaria de espada? Sua técnica não vai funcionar se você não estiver vivo para usá-la!
Guaca apontou para o homem, um sorriso.
— Aquele é Thelia Porto. Mas já tínhamos alguém com o nome Thelia, então ele ficou só Porto — explicou Guaca, rindo. Ele acenou para o homem, que os observava com um olhar severo. — Ei, Porto! Trouxe o velho novato.
Dante deu uma risada, tentando aliviar a tensão.
— Não sou tão velho assim.
Porto encarou Dante de cima a baixo, seus olhos frios e calculistas. Depois, apontou para uma parede repleta de armas.
— Pegue uma arma à sua escolha e venha — ordenou Porto, sua voz firme e sem espaço para questionamentos. — Não temos tempo a perder.
Guaca ergueu os braços, como se estivesse lavando as mãos da situação, e deixou claro para Dante:
— Você ouviu o homem. Está na hora do seu treino. Mexa essa bunda, pegue uma espada e tente passar nos testes. É assim que você vai poder ficar com a gente na linha de frente do campo de batalha. O Bastardo não vai esperar por nós.
Dante olhou para Guaca, ainda um pouco perdido.
— E os Vanguardistas? Onde eles ficam?
— Nós temos uma sala reservada para treinos e estratégias — explicou Guaca, com um gesto despreocupado. — Miatamo nos ensinou algumas coisas antes, mas há regras e leis nos mares. Você já sabe, Capital.
Guaca acenou em despedida e desapareceu por outra porta, fechando-a atrás de si. Dante ficou sozinho, olhando ao redor, mas logo se dirigiu ao estandarte de armas. Espadas, lanças, adagas, rapieiras e até foices estavam dispostas, mas não havia armas de fogo, como as que Marcus costumava usar. Era um arsenal medieval, brutal e direto.
— Não é pra admirar — a voz de Porto ecoou, cortante. — Pegue logo o que você se identifica. Não lutamos sem armas no mar.
Dante estendeu a mão, seus dedos tocando o cabo de uma espada. Respirou fundo e fechou os olhos. O som das lutas ao redor desapareceu, como se o mundo tivesse silenciado por um momento. A espada, com sua lâmina reta e fina, parecia chamar por ele. Era a escolha certa.
Quando abriu os olhos, ele puxou a espada e a encaixou na bainha. Correu de volta para onde Porto estava instruindo uma mulher. Foi então que Dante percebeu: era a mesma que o Rei Bulianto havia escolhido no Aurora. Ela também o reconheceu, mas desviou o olhar, mantendo o rosto impassível. Seu corpo estava encharcado de suor, como se tivesse passado horas naquele treino exaustivo.
Porto, com seu porte rígido e olhar severo, apontou a espada para Dante.
— Está pronto, Capital?
— Claro, senhor — respondeu Dante, ainda estranhando o tratamento. Ele estava acostumado a ser chamado de Comandante, não de “Capital”. — O que eu preciso fazer?
— Lutar, porra! — Porto revirou os olhos, como se a pergunta fosse a coisa mais óbvia do mundo. Ele apontou para a mulher. — Trahaus, você pode descansar enquanto eu bato nesse aqui. E não saia dessa sala, ou vou te matar na próxima vez, sua cadela.
Dante ficou surpreso com a grosseria. Trahaus abaixou a cabeça, claramente irritada, mas não respondeu.
— Por que a chamou de cadela, senhor? — perguntou Dante, incapaz de conter a pergunta.
— Por que você se importa, pedaço de merda? — A espada de Porto ergueu-se, pronta para o combate. — Se quer responder alguma coisa, precisa ter força para isso. E ela não tem. Então, vai querer ficar…
Porto parou de falar subitamente. Uma aura começou a emanar de Dante, uma energia roxa que irradiava como uma camada protetora. Sem perceber, Porto recuou um passo. Não apenas ele, mas todos na sala perceberam que o instrutor havia se afastado do velho.
— Se é assim que vamos resolver — disse Dante, erguendo a espada. Uma estranha sensação de conforto tomou seu peito. A batalha, a adrenalina, a ardência, a determinação, a raiva e o medo. Tudo isso se misturava, deixando-o mais instigado do que nunca. — Vamos nessa.
Porto soltou uma risada quebrada, como se finalmente tivesse encontrado um desafio digno.
— Parece que você não é só um velho.
Dante avançou, correndo em direção a Porto e saltando. Não foi um salto comum. Ele parecia pairar no ar por um instante, a espada arrastada para trás, como se o tempo tivesse desacelerado. No momento seguinte, as lâminas se chocaram com um estrondo metálico.
Porto aumentou a intensidade de seus golpes, forçando Dante a bloquear de todos os ângulos. Mas o velho não cedia. Ele rodopiava, gingando e saltando, desviando de cada golpe com uma agilidade surpreendente. Em um movimento fluido, Dante jogou a espada da mão direita para a esquerda, aparou um golpe e chutou com força. O pé de Dante parou na mão de Porto, que manteve o rosto impassível.
— Está querendo brincar, Capital? — zombou Porto, segurando o pé de Dante com firmeza.
Dante recuou o pé e, ao erguer a espada novamente, uma força invisível empurrou Porto cerca de um metro para trás.
— Merda — murmurou Porto, tocando o próprio peito, como se tentasse entender o que havia acontecido. Ele olhou para Dante, seus olhos agora cheios de desconfiança. — Que merda é essa, Capital?
— O senhor não queria uma luta? — Dante ergueu a espada novamente, agora com a mão esquerda. Uma faísca de determinação brilhava em seus olhos. — Vou te mostrar como lutamos na Capital.
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