Capítulo 256: Espada
Porto atacava com uma ferocidade crescente, seus golpes se tornando mais rápidos e precisos, como se cada movimento fosse uma tentativa de esmagar Dante sob o peso de sua experiência e força. Sua espada cortava o ar com um som sibilante, mas cada golpe era bloqueado, aparado ou desviado com uma facilidade que deixava Porto cada vez mais frustrado.
E, para piorar, Dante ria. Um riso leve, quase despreocupado, que ecoava no salão de treino enquanto ele dançava ao redor de Porto, sua espada movendo-se como uma extensão de seu corpo.
Não era apenas sorte. Dante tinha técnica, vontade e uma memória muscular afiada por anos de treinamento brutal sob o olhar implacável de seu pai. Mesmo que sua força estivesse longe de seu auge, o que restava era suficiente para mantê-lo vivo. Sua espada respondia aos seus comandos com uma precisão que surpreendia até Porto, bloqueando golpes que deveriam ser impossíveis de prever.
As lâminas se chocaram repetidamente, faíscas saltando no ar cada vez que o metal se encontrava. Porto tentou criar uma abertura, mudando de direção e forçando Dante a se mover para a direita, mas o velho o seguia com uma agilidade que desafiava sua idade. Quando Porto ergueu a espada para um golpe poderoso, a lâmina de Dante interceptou a dele com um impacto que fez o braço de Porto tremer.
— Está cansado, senhor? — perguntou Dante, bufando enquanto estalava os ombros. — Posso abaixar o ritmo para você, se quiser.
Porto recuou, respirando fundo. Seus olhos, antes cheios de confiança, agora brilhavam com uma frieza calculista.
— Não preciso disso — respondeu Porto, sua voz firme, mas carregada de uma tensão que não estava lá antes. — Apenas avaliando seu desempenho.
Dante sentiu uma mudança no ar. A Energia Cósmica de Porto começou a emanar, envolvendo-o como uma névoa gelada. A pele de Dante arrepiava-se, seus sentidos gritando em alerta. Ele sabia o que estava por vir. Era a mesma sensação que sentira ao enfrentar Moonlich, quando sua própria energia havia sido drenada à força.
— Ah, então você não é tão idiota — disse Porto, um sorriso cruel estampado em seu rosto. Sua espada ergueu-se novamente, mas desta vez, algo estava diferente. A lâmina parecia vibrar com uma energia própria, e os olhos de Porto brilhavam com uma luz prateada.
Dante avançou, sua espada erguida, mas Porto desviou com uma facilidade assustadora. Ele girou no próprio eixo, seu movimento fluido como o de um predador. Quando ergueu o braço para golpear o pescoço de Dante, o velho abaixou-se em uma diagonal, sua defesa aberta e vulnerável.
A chance de Porto estava ali. Ele arqueou o braço, e sua pele começou a mudar, tornando-se prateada e reluzente, como se fosse feita de metal. Seus dedos engrossaram, e a Energia Cósmica liberou-se em um fluxo poderoso. Porto desceu o punho com uma risada triunfante, certo de que o golpe final estava prestes a ser dado.
Mas Dante não estava acabado. Com um movimento rápido, ele moveu a espada para a direita, fracamente, quase como um gesto de desespero. O ar ao redor da lâmina pareceu dobrar-se, criando uma onda de força que atingiu Porto como um chicote. O instrutor foi arremessado para o lado, quase um metro de distância, e seu punho golpeou o chão com um baque surdo.
Dante permaneceu de pé, respirando pesadamente, sua espada ainda erguida. Ele olhou para Porto, que agora se levantava lentamente, seu rosto uma máscara de surpresa e raiva.
— Não deveria ter feito isso — disse Dante, sua voz calma, mas carregada de uma determinação feroz. — Sua intenção não era me testar.
A marca no chão era profunda, um testemunho silencioso da força desproporcional que Porto havia liberado. O instrutor olhou para Dante com desdém, seu rosto uma máscara de desaprovação.
— Acha que seus inimigos vão deixar que você ataque sem intenção assassina? — Porto balançou a cabeça, como se estivesse lidando com uma criança teimosa. — Sua ingenuidade não combina com sua idade, Capital. Você deveria saber mais do que ninguém…
— Eu sei — respondeu Dante, sua voz firme, mas carregada de uma irritação contida. — Sei muito bem do que está falando.
Era exasperante ver um homem como Porto no comando. Ele não instruía; ele agredia. E, de certa forma, isso fazia Dante se lembrar de casa. Seu pai, Render, não era diferente. Sempre o batia, sempre o fazia sofrer. Algumas vezes, em ataques de raiva, Render o atingia com uma espada de madeira centenas de vezes, deixando marcas que desapareciam na manhã seguinte, mas a dor permanecia.
Porto era parecido com Render nesse aspecto. Era como se a violência fosse apenas o “calor do momento”, uma desculpa para descarregar sua raiva.
— Sabe mesmo, Capital? — continuou Porto, sua voz cortante. — Deve ter lutado em alguma frente. Seu estilo não é ruim, mas você não ataca para matar. Está se segurando.
— Não faz sentido — respondeu Dante, abaixando a espada. — Não preciso atacar para matar alguém que considero aliado. Por que você pensa dessa maneira?
— Porque a Vanguarda é mais pesada do que seus treinos em casa, seu merda — respondeu Porto, sua insatisfação contaminando o ambiente. Ninguém mais treinava. Até Thelia, a grandalhona com seu machado, parou para assistir. — Não é como você viveu do lado de fora. Esse campo de batalha é sangrento.
— Todos os campos de batalha são sangrentos, moleque — retrucou Dante, sua voz agora carregada de severidade. — Cidades inteiras passando fome, lutando contra criaturas, vivendo um dia de cada vez. Sei o que é um campo sangrento porque vim de vários deles. Acha que sua espada ou seu punho vão me acertar só porque esteve em um deles?
Dante não esperou por uma resposta. A lâmina foi empunhada novamente, agora com as duas mãos erguidas.
— Ótimo. Eu estava um pouco desconfiado, mas agora tenho certeza.
Porto deu uma risada, gostando do que via.
— Certeza do quê, velhote?
— Da surra que vou te dar agora.
Num estalar de dedos, Dante deixou seu estado de inércia e apareceu diante de Porto. Ele atacou de todos os lados, seus golpes caindo como gotas de chuva, forçando Porto a recuar. As faíscas saltavam das lâminas, estalando de lado a lado, mas quando Porto abriu uma vantagem ao erguer a lâmina de Dante, o velho largou a mão direita do cabo e desceu como um porrete.
A parte debaixo de sua mão atingiu o rosto de Porto com um baque surdo. O instrutor recuou, segurando o nariz. O sangue escorria entre seus dedos. Quando ergueu a espada para se defender mais uma vez, Dante explodiu sua lâmina para o lado, e seu cotovelo acertou a bochecha de Porto com um impacto que fez o instrutor cambalear.
Dante jogou a espada no chão, cravando-a na madeira, e ergueu os dois punhos.
— Merda! — gritou Thelia, sua voz ecoando pelo salão. — Parem ele agora!
Ninguém se moveu, hipnotizado pela disputa. Thelia foi quem agiu. Sua Energia Cósmica acelerou seus passos, e ela se arremessou entre os dois.
Dante segurou o pulso de Porto, travando seu braço para o lado e torcendo-o. A espada caiu da mão do instrutor, e o braço esquerdo de Dante foi puxado para trás — sua atenção, força, Energia Cósmica e foco concentrando-se completamente naquele instante.
Vou fazer ele sentir o gosto da própria merda.
Um por cento de sua Conversão Cinética foi atribuída ao corpo. Seu braço inteiro tremeu, e ele desceu, urrando.
Sua pele tocou a lateral de um machado. O ar se contorceu, explodindo para frente, mas não moveu a arma de Thelia. Ela segurava o cabo, respirando fundo e encarando Porto com olhos furiosos.
— Seu doente — ela gritou, abaixando a arma. — Por que acha que isso é um parque de diversão? Poderia ter matado ele se continuasse assim.
Dante piscou algumas vezes, como se estivesse saindo de um transe. Quando observou, Porto estava coberto de espetos prateados, que saíam de seu corpo como se fossem seus próprios ossos. E o sorriso no rosto do instrutor, como se estivesse esperando o golpe, fez Dante entender.
Ele queria que eu atacasse com tudo.
— O Rei vai ficar irritado — disse Thelia, dando um tapa na cabeça de Porto. — Pare de sorrir igual um maníaco.
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