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    Quando Dante voltou para conversar com Porto, não esperava encontrá-lo já no campo de treinamento. Apenas um dia havia se passado desde o confronto, e ele ficou impressionado com a quantidade de pessoas que agora se reuniam para treinar. O ambiente estava vivo, cheio de energia e determinação.

    Porto parecia se divertir ao conversar com outros aspirantes à Vanguarda. Seus olhos se encontraram com os de Dante, e uma chama de desafio foi acesa.

    — Olha só — disse Porto, sua voz cortando o burburinho ao redor. — Parece que nosso mais novo colega voltou. E então, veio atrás da sua recompensa?

    Dante continuou caminhando, a espada escolhida no dia anterior pendurada em sua cintura. Ele puxou o casaco para o lado, deixando a lâmina bem visível para todos, mas parou a cerca de cinco metros de Porto.

    — Sua performance foi boa, velho — continuou Porto, sua voz carregada de um misto de respeito e provocação. — Vi poucos homens capazes de me deixar daquela maneira. — Ele acariciou o pulso, que ainda parecia vermelho e dolorido. Dante realmente o havia torcido com força. — E não me recuperei de tudo ainda. Mas nossa luta deu bastante resultado.

    Dante olhou ao redor, observando as pessoas que se aglomeravam. Trahaus também estava lá, esgueirando-se em um canto, suas adagas em mãos e os olhos fixos em Dante, como se estivesse avaliando uma presa. Algumas pessoas realmente nasciam para a batalha.

    O silêncio de Dante deixou Porto ainda mais angustiado, e o instrutor levantou a voz:

    — Vamos. Diga logo. Fale que veio zombar porque minha irmã me defendeu. Fale que você é melhor. Fale qualquer coisa, porra.

    Dante puxou a bainha da espada e a esticou para frente, determinado. Ele não estava ali para manchar a honra de Porto, mas também não permitiria que o homem o subestimasse.

    — Estou aqui porque quero pedir desculpas — disse Dante, sua voz firme e clara. — Lutamos como homens devem lutar. Aprendi com a nossa batalha, por isso, respeito você, Porto. Obrigado.

    A reação de Porto, no entanto, foi completamente oposta ao que Dante esperava.

    — Está de brincadeira? — Porto abaixou os braços, incrédulo. — Só pode estar de sacanagem comigo, seu merda. Como vem pedir desculpas para mim quando você me mostrou que até mesmo um senhor de idade pode ter maestria? Peça desculpas para sua falha, não pra mim. Seu merdinha.

    Dante abaixou o braço, um pouco assustado com a intensidade da resposta.

    — Eu só queria dizer que não queria…

    — Guarde essas palavras para você, Capital — cortou Porto, sua voz carregada de desdém.

    Dante virou-se para Thelia, que estava sentada em um dos caixotes, seu machado repousando sobre o ombro. Ela era forte e musculosa, diferente da maioria das mulheres. Se bobeasse, Miatamo era um pouco menos parrudo do que ela.

    A mulher o saudou com a cabeça.

    — Porto reconheceu sua força. Nós dois fizemos isso. Mas eu soube que você costumava lutar contra criaturas manchadas. Seu povo, o lugar de onde você veio, ainda espera seu retorno, não é?

    — Algum dia, vou voltar — respondeu Dante, sua voz carregada de determinação.

    — Então, te darei a mesma dica que dou para todos que entram na Vanguarda — disse Thelia, levantando o machado e empunhando a arma com apenas uma mão. Dante sabia o peso daquela lâmina; não era uma simples arma, mas algo pesado e brutal. — Se destaque.

    Dante arqueou uma sobrancelha.

    — Se destacar?

    Porto deu uma risada, sua voz ecoando pelo campo de treinamento.

    — Se destacar para ser um verdadeiro monstro. No mar, não existem regras, leis ou honra, velhote — disse Porto, brandindo a espada para o lado, fazendo alguns recuarem e outros se abaixarem. Ele parecia um lunático, mas suas palavras eram carregadas de verdade. — Para ganhar o verdadeiro desejo, para ganhar a promessa. É por isso que a Vanguarda luta tanto, por isso nos jogamos para o mar.

    Dante ficou um pouco perdido.

    — Do que ele está falando? — perguntou a Thelia, apontando para Porto. — Um desejo?

    — O Rei Bulianto tem apenas uma regra para a Vanguarda — explicou Thelia, sua voz calma, mas firme. — Lutar o máximo que puderem para se destacar. Se você fizer isso, Capital, ele pode te conceder um desejo. Nosso Rei fará de tudo para concretizá-lo. É para isso que nossa fama e prestígio servem.

    Esse conselho ia completamente contra o que Dante havia ouvido antes. Na verdade, sua mãe estaria desapontada ao saber que ele não seguira nenhum de seus conselhos. Ele estava praticamente fazendo o que achava ser o correto até aquele instante.

    E, no entanto, havia perdido miseravelmente para todos os verdadeiros inimigos que apareceram. Ele deixara Clara e Marcus, deixara Talia na Capital. E agora, assumira esse nome. Uma vergonha. Nem mesmo alguns Felroz…

    — E o que eu preciso fazer para ganhar prestígio? — perguntou Dante, interessado. — O que preciso fazer?

    — Porra, é óbvio — gritou Porto, entusiasmado. — Precisa vencer seus inimigos, afundar os navios deles e roubar seus tesouros para o Rei. Só então você vai ter esse direito.

    Dante abriu um sorriso de lado.

    — Então, vai ser fácil. Sou bom em quebrar as coisas.

    — Isso mesmo. É esse o espírito — disse Porto, olhando para as pessoas ao redor. — Precisam entender que até mesmo o mais rude dos homens precisa ter um espírito inquebrável. Isso serve para quando cairmos, a morte vai nos aguardar como um velho companheiro.

    Essas palavras… Dante já as ouvira antes. Anos atrás, em casa. Não eram as mesmas, mas parecidas.

    — E um velho companheiro saúda a morte como uma combatente — disse Dante, sua voz baixa, nostálgica. — Como me ensinaram.

    Percebeu, só então, que Thelia e Porto o encaravam. Não pareciam assustados, mas interessados. Dante soltou uma risada, puxando a espada e apontando para Porto.

    — Não é o que guerreiros fazem? Então, que o Rei me aguarde. Eu vou pegar esse desejo pra mim.

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