Capítulo 262: Fica Frio Ai
Dante bloqueou mais de dez golpes seguidos de Chama Viva, sua espada refletindo os ataques com precisão implacável. As chamas que cercavam o homem se espalhavam ao redor, mas não encontravam espaço para avançar. Era uma quantidade absurda de poder sendo liberada, e cada vez que Chama Viva era repelido, ele soltava um berro de frustração:
— Por que está fazendo isso, velhote? — gritou ele, sua espada descendo em linha reta, mas Dante se esquivou com facilidade. Ele se jogou para o lado, usando a adaga em sua mão livre para desferir dois socos rápidos no rosto do adversário.
Antes que Chama Viva pudesse reagir, Dante esticou o braço, bloqueando o próximo movimento. O fogo que havia sido enviado para o navio ao redor foi puxado de volta, criando uma barreira de chamas que impediu o avanço do inimigo.
— Eu já lutei contra um jovem que fazia esse tipo de coisa — disse Dante, lembrando-se de Magrot. — Dei uma boa surra nele.
— Não sou seu colega nem seu amigo — respondeu Chama Viva, recuperando o fôlego. O velho à sua frente não era bobo de ser pego em ataques diretos, nem lento o suficiente para ser dominado. Ele parecia calmo demais para um campo de batalha que rugia ao redor dele.
Esse tipo de inimigo, diferente de Thelia, exigia mais do que força bruta. Era necessário técnica, estratégia e paciência.
— Trahaus — chamou Dante, sem tirar os olhos de Chama Viva. — Vou precisar da sua ajuda.
Trahaus segurava Thelia, que ainda se recuperava de um ataque anterior.
— Não posso lutar com ele. Não está vendo que ele está pegando fogo? — respondeu Trahaus, sua voz carregada de preocupação.
— Não importa se ele está pegando fogo, cheio de armas ou se é um demônio — disse Dante, sua voz calma, mas firme. — O que você precisa fazer é levar Thelia até os curandeiros. Procure por Pomodoro. Ele vai ajudar.
Não era uma ordem, mas um pedido. Dante sorriu para ela, um gesto de confiança que fez Trahaus hesitar por um momento.
No instante em que Dante se descuidou, Chama Viva surgiu, expandindo suas chamas ao redor de si como um casulo e saltando em direção ao velho. Trahaus apontou, gritando em alerta:
— Capital!
Dante fechou o punho e deu uma risada, como se a situação fosse uma piada.
— Ei, sangue jovial — disse ele, sua voz carregada de ironia. — Você não acha que está ficando um pouco quente demais aqui?
Seu punho girou com o corpo, acelerando a Energia Cósmica que acumulava. A pressão do ar ao seu redor foi comprimida e liberada de uma só vez, enviando uma onda de força para frente. As chamas de Chama Viva colidiram com o ar comprimido, expandindo-se em um clarão que chamou a atenção de todos ao redor. O brilho intenso iluminou o campo de batalha, e o poder de Chama Viva parecia enfraquecer, suas chamas perdendo a intensidade.
Dante gargalhava no meio das chamas que o envolviam, deixando o homem do outro lado desconfortável.
— Você não está sentindo? — perguntou Dante, recuando o braço. Sua mão estava vermelha, uma queimadura superficial, mas ele não parecia se importar. — Está sentindo a adrenalina da batalha?
Moonlich havia deixado uma marca profunda em Dante, uma derrota que ele só havia sentido antes quando enfrentara seu pai. Agora, quanto mais ele pensava, mais o Desejo permanecia em sua mente. Voltar para casa, ver seus amigos, viver a vida pela qual se dedicara. Ele iria até os confins do mundo por isso.
— Você quer uma luta — disse Chama Viva, criando mais uma espada em sua mão esquerda, brandindo-a com fulgor. — Então, darei isso antes de massacrar completamente todos os que estão aqui. Incluindo aqueles dois malditos Vanguardistas.
— Está falando de quem? — perguntou Dante, um pouco interessado.
Trahaus e Thelia já caminhavam para longe, mas se viraram ao ouvir Chama Viva gritar:
— Farei com que cada homem desse lugar morra! — Suas palavras soltavam chamas, aumentando as labaredas enquanto atacava Dante. — Farei com que sintam o poder, a verdadeira forma. Eles mataram meus familiares, então, farei o possível e necessário para queimá-los.
— Ei, tocha humana, fica frio aí — respondeu Dante, sua voz ainda carregada de ironia.
Trahaus não entendia como Dante podia ficar tão calmo diante de um monstro como Chama Viva, mas ela tinha que carregar Thelia. Eles passaram por explosões de raios e Energia Cósmica, evitando os combates que aconteciam ao redor. Não era apenas Dante que enfrentava criaturas estranhas e homens com poderes fora do comum. O navio e mais outros dois estavam interligados, batalhando como se fosse uma questão de vida ou morte.
Trahaus subiu as escadas, vendo um dos homens do Rei ser derrubado. No topo, um homem careca com uma tatuagem no rosto encarou as duas. Ele mostrou os dentes em um sorriso raivoso e ergueu sua arma.
— Pelo Bastar… — começou ele, mas uma imensa explosão de ar o arremessou para o lado, na direção do casco. Ele caiu e rolou para o meio da batalha, puxando sua arma e desaparecendo ao dar um passo.
— São todos mercenários — disse Thelia, ainda com a mão no peito. — O Bastardo contratou esses caras para nos pegar. Isso não é um teste para ele se tornar um Capitão. Isso é uma verdadeira sucessão.
No topo, depois da escada, encontraram um grupo de curandeiros cuidando dos feridos. Havia homens com braços cortados, membros fatiados e outros que já não tinham mais vida, caídos ao lado.
— Trahaus — disse Thelia, fazendo-a parar. — Você precisa chegar até Bulianto. Diga a ele que isso… não é o que ele pensa. É uma armadilha.
Trahaus não hesitou em continuar carregando Thelia.
— Pomodoro! — sua voz ecoou no meio da batalha, quase não sendo audível. — Pomodoro!
— Pare de gritar, criança — disse uma voz calma.
Um homem passou ao seu lado, caminhando tranquilamente com as mãos atrás da cabeça. Ele era novo, talvez com trinta anos, mas tinha um olhar frio e vazio. Usava o branco dos curandeiros e se abaixou ao ver o ferimento de Thelia.
— Ah, a chama que nunca se apaga — disse ele, examinando o ferimento. — Faz tempo que não vejo isso. Quem era?
— Fockus — respondeu Thelia, sua voz fraca.
Pomodoro assentiu levemente com a cabeça.
— Preciso que se sente — disse ele, preparando seus instrumentos. — O tratamento vai demorar um pouco, mas temos tempo.
Trahaus ajudou Thelia a se sentar em um canto onde pudesse recostar.
— Fockus tem uma habilidade que impede a carne de se regenerar — explicou Pomodoro para Trahaus. — Você o impediu ou ele ainda está vivo?
— Eu não queria, doutor. Não queria mesmo — respondeu Trahaus, sua voz carregada de culpa. — Mas quem ficou com ele foi o velho.
Pomodoro parou ao ouvir isso, sua expressão mudando levemente.
— Capital está lutando contra ele? — perguntou, sua voz agora mais séria.
— Desculpe. Eu soube que ele é seu paciente. Ele ainda não…
Pomodoro soltou uma risada que deixou ambas desconcertadas.
— Se Capital está lá, vocês precisam ficar despreocupadas — disse ele, esmagando uma erva verde e misturando-a com um líquido azul.
Trahaus arqueou as sobrancelhas e levantou-se para verificar. O campo de batalha ainda estava sendo devastado, e ela passou os olhos para o canto onde estavam antes. Capital e Fockus, como era chamado Chama Viva, ainda trocavam golpes. Eles brandiam as armas como se aquilo fosse uma disputa para ver quem resistia mais, mas quanto mais as lâminas se chocavam, mais Fockus era repelido. E a risada de Dante chegava até eles, mesmo com a batalha ao seu redor.
— Como eu disse — continuou Pomodoro, aplicando o líquido no ferimento de Thelia. — Não precisa ficar preocupada. Aquele velho não é como os outros.
— O que quer dizer? — perguntou Thelia, massageando o próprio peito. — O Bastardo não veio aqui…
— Todo mundo já percebeu isso, Thelia Porto — respondeu Pomodoro, seu tom calmo, mas firme. — Deveria entender que as pessoas ao seu redor sabem que o perigo é evidente. Vocês viajam pelo mar tempo demais para esquecer que, na terra firme, os verdadeiros inimigos não são humanos. São monstros.
— Se isso mudasse alguma coisa, então, as pessoas fariam questão de vir para o mar — respondeu Thelia, sua voz carregada de amargura. — Nada importa se não souber se proteger.
Pomodoro levantou um sorriso, confiante e quase arrogante.
— Capital, quem é ele? — perguntou Trahaus, sua voz carregada de curiosidade e um pouco de receio. — Por que fala dele assim?
— Não existe uma resposta definitiva para a sua pergunta, jovem — respondeu Pomodoro, misturando mais ingredientes em seu pequeno pote.
Trahaus e ele tinham praticamente a mesma idade. Era estranho ser chamada de “jovem” por um igual.
— Então, por que acredita tanto no Capital? — insistiu Trahaus.
— Porque, numa luta, não é a força ou a técnica que mais importam — respondeu Pomodoro, sua voz calma, mas carregada de convicção. — É a taxa de sobrevivência, de adaptação. E Capital… ele sobrevive.
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