Índice de Capítulo

    Bulianto teve certeza no momento em que viu Bastardo parado no timão, fitando-o com olhos frios e calculistas. Ele não estava ali para se tornar um Capitão. Ele estava ali para matar. E se era assim, então, não havia motivos para se segurar. Mas tudo havia sido cuidadosamente planejado por Bastardo. Os navios estavam interligados de maneira que limitavam a habilidade de Bulianto, prendendo-o em uma armadilha.

    — Ele planejou isso com cuidado — sibilou Bulianto para si mesmo, seus dedos apertando o beiral de madeira até rangir. — Qual é o seu plano, Bastardo?

    Miatamo e Guaca estavam sendo reprimidos por mais de vinte mercenários. O mesmo acontecia com outros membros da Vanguarda. Suas habilidades estavam praticamente seladas pelo ambiente, que havia sido preparado para isso. Eles estavam ali para matar, e o alvo era claro: Miatamo, o antigo parceiro de Bastardo. Sem o líder da Vanguarda, a linha de frente cairia, e o suporte dos Técnicos cederia. Bulianto sabia que, se Miatamo fosse derrotado, o Rei do Oeste teria sua chance.

    — Protejam Miatamo, agora! — gritou Bulianto, sua voz ecoando pelo campo de batalha.

    Mas ninguém respondeu de imediato. A luta era repressiva, com uma quantidade maior de mercenários pressionando os Vanguardistas, deixando seu verdadeiro alvo exposto. Bulianto sabia que, se ele descesse para ajudar, estaria declarando que seus homens eram inferiores aos de Bastardo. Seria uma vitória moral e estratégica para o inimigo.

    Ele segurou o beiral de madeira, seus dedos rangendo de frustração. Ele havia sido atraído diretamente para um golpe. E Miatamo estava sendo sobrecarregado. Se ele caísse agora, tudo estaria perdido.

    I

    — Protejam Miatamo, agora! — a voz de Bulianto ecoou novamente, e Dante ouviu.

    Ele tirou o rosto na direção de Miatamo, que estava sendo pressionado por mais de vinte homens. Era uma batalha difícil, mas algo estranho chamou a atenção de Dante: Miatamo não estava usando sua habilidade. Era como se ela estivesse sendo suprimida, em escala.

    — O que está olhando? — Fockus, o homem das chamas, girou suas duas espadas em um X e tentou cortar Dante.

    Foi bloqueado com um único movimento, a espada de Dante pressionando exatamente no meio das lâminas de Fockus.

    — Estou vendo quem será meu próximo alvo — respondeu Dante, brandindo o braço para cima e expelindo as duas armas de Fockus. Ele encurtou o espaço entre eles e desferiu um soco no rosto do homem, fazendo-o recuar dois passos.

    Fockus bloqueou o próximo golpe, mas Dante abaixou e aplicou uma rasteira. Antes que o homem caísse, Dante acertou um chute, enviando-o para o ar. Ele se levantou e saltou para a direita, deixando Fockus para trás.

    Se Miatamo precisava de ajuda, Dante precisava levar mais gente para lá.

    Fockus levantou as duas espadas, defendendo-se com força, mas foi empurrado para trás. Dante o viu se afastar e avançou novamente. Ele deslizou pela madeira, evitando os ataques de longa distância, deixando as chamas acertarem o navio. A cada movimento, a face de Fockus se contorcia de frustração.

    Dante pulou por cima de dois homens que se atacavam e se jogou para a direita, passando por trás de uma multidão. Ele viu Miatamo sozinho, encurralado, brandindo sua espada enquanto cortes marcavam seu corpo.

    — Se Miatamo cair, nós perdemos — alguém gritou nas costas de Dante. — Tirem ele de lá.

    O chão estava cheio de armas jogadas por homens caídos. Dante correu, abaixou o braço e pegou um machadinho. Ele apareceu novamente na frente de Fockus, que ergueu um sorriso gigante.

    — O que houve, velhote? Está sem fôlego? — provocou Fockus.

    Dante não respondeu. Ele tensionou as pernas, focando apenas nos homens ao seu redor. Encurtar o espaço, cortar um braço, abrir vantagem.

    — A técnica reside na memória — a voz de Render ecoou em sua mente.

    Dante respirou fundo, lembrando de Talia.

    — Irmão, sabia que se você colocar uma vela dentro de um copo, a chama apaga? — O experimento em cima da mesa durou cerca de 10 segundos. A vela se apagou, liberando apenas a fumaça. — Quando não tem mais oxigênio para queimar, ela apaga.

    Oxigênio, pensou Dante.

    Fockus moveu os braços novamente, as espadas girando em um X. O mesmo golpe de antes, vindo de ângulos diferentes, para não dar a Dante alternativa de defesa. Um mesmo golpe, duas vezes aplicado. Uma vergonha.

    Dante simplesmente brandiu o braço, enviando a adaga da mão esquerda para frente.

    Fockus já tinha ambos os braços erguidos e viu o brilho da pequena arma. Ele se jogou para trás, fazendo seu corpo inteiro se entortar. Quando ergueu os olhos, o machadinho vinha girando em sua direção.

    Suas duas espadas. Ele precisava se mover. Jogou os braços para cima, desviando da adaga, mas quando procurou Dante, o velho havia desaparecido. Fockus focou nas armas e esqueceu do homem. Por algum motivo, mesmo diante daquela multidão, o sumiço de Dante lhe causou um calafrio.

    — Está olhando pra onde, jovem? — a voz de Dante surgiu atrás dele.

    Fockus sentiu as mãos de Dante agarrando seu pescoço. Ele saltou para frente, carregando Fockus na direção de Miatamo.

    — Me solta, porra! Me solta! — gritou Fockus, desesperado.

    Dante forçou adiante, carregando a Chama Viva em direção a Miatamo. Quando Fockus viu o que ele estava fazendo, gritou:

    — Todos vocês! Ataquem esse homem!

    Miatamo e os demais Vanguardistas encararam as chamas sendo carregadas em sua direção. Quando Dante parou, ele jogou o braço para trás, expelindo sua Energia Cósmica. As chamas de Fockus aumentaram ao ponto de queimar quem estava a dezenas de metros de distância, fosse amigo ou inimigo.

    — Isso aqui é de vocês — disse Dante, arremessando Fockus na direção dos inimigos.

    A onda de chamas começou a tombar sobre eles. Fockus berrou ao cair, mas todos saíram da frente. Miatamo se afastou rapidamente, chegando mais perto de Dante, respirando fundo.

    — Te agradeço depois, Capital — disse Miatamo, sua voz carregada de dor. — Preciso recuar um pouco. Guaca e Egiss estão sozinhos. Precisamos reagrupar.

    — Vai se tratar com Pomodoro — respondeu Dante, sorrindo. — Deixe que esse velhinho educa os mais jovens.

    Miatamo deu uma risada meio dolorida. Seu braço e peito haviam sido acertados várias vezes. Mesmo a malha de ferro não havia sido suficiente para aparar os ataques mais firmes.

    — Não acho certo deixar meus inimigos pra você, Capital.

    Os homens afastaram Fockus, enviando-o para o lado. Eles ainda focavam em Miatamo, mas Dante deu um passo na direção daqueles vinte e um homens presentes. Puxou a espada e tocou sua ponta no chão, apoiando seu peso sobre ela com sutileza.

    — O líder da Vanguarda vai dar uma pausa — disse Dante, sua voz repercutindo entre eles. — E eu fiquei responsável por chutar suas bundas, bater na cara e todas as outras coisas que me deram direito.

    — Ninguém se aproxima. — Um dos mais distantes veio caminhando com uma lança na mão. Ele tinha o rosto marcado por uma cicatriz que ia da boca até o pescoço, e quando sorria, a bochecha se alargava, mostrando os dentes por dentro. — Esse é meu!

    Fockus rapidamente brandiu suas chamas, chegando mais perto.

    — Não, esse desgraçado conseguiu me deixar irritado.

    — Ei, pessoal. Se acalmem.

    Dante ergueu a mão, tentando deixá-los mais irritados, fingindo uma falsa sensação de apreço.

    — Depois que vocês morrerem, não vai ter reclamações.

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