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    — Já escolheram quem vai vir primeiro? — perguntou Dante, sua voz calma, quase indiferente, como se estivesse conversando em um mercado, não no meio de um campo de batalha. Os homens à sua frente o fitaram, hesitantes, mas ele deu um pequeno aceno, como se estivesse convidando-os para uma dança. — Não precisam ficar assim. Vou até vocês.

    Nem deram tempo para reagir. Dante girou no próprio eixo, seu movimento fluido e preciso, jogando o braço para cima. A lança do primeiro homem foi arrancada de suas mãos, mas a arma, como se tivesse vida própria, esticou-se para trás, tentando pegá-lo desprevenido.

    Dante recuou o rosto, evitando o golpe por um fio, e levou a mão ao chão, erguendo o pé em um movimento rápido. O chute encaixou bem debaixo do peito do homem, enviando-o para o ar como um saco de farinha. Dante jogou a espada para o lado, forçando Fockus a recuar um passo, enquanto ele se levantava em um giro elegante, pronto para atacar novamente.

    O homem tentava defender-se de um lado para o outro, forçando-se a ficar de pé, mas suas chamas, antes imponentes, agora pareciam vacilantes. Elas se estenderam em direção a Dante, tentando envolvê-lo, mas a mão livre do velho açoitou o peito de Fockus com uma precisão cirúrgica, retirando o ar de seus pulmões em um golpe seco.

    Fockus curvou-se lentamente, como se estivesse desinflando, um filete de ar escapando de sua boca. Não havia sangue, nem saliva, apenas o som rouco de um homem que não conseguia mais respirar.

    — Sem oxigênio — disse Dante, sua voz suave, quase um sussurro, enquanto segurava o pescoço de Fockus e o levantava no meio do navio. — Sem chamas.

    As chamas que antes envolviam Fockus agora se acenderam com mais força, tentando libertar seu portador. Elas buscavam queimar a mão de Dante, consumir a madeira do navio, mas o velho não se moveu. Sua expressão era de pura determinação, seus olhos fixos no rosto de Fockus, que agora se contorcia em agonia.

    Fockus levou as mãos ao pulso de Dante, tentando se libertar, batendo as pernas no ar como um peixe fora d’água. Os homens ao redor assistiam, paralisados, enquanto as chamas eram suprimidas por um velho que parecia inabalável.

    — Fockus não pode morrer! — gritou uma voz do outro navio, carregada de desespero. — Tirem ele de lá!

    Dante deu uma risada ao ver a mulher com a espada do outro lado, lutando contra Guaca. Pelo que parecia, eles também tinham líderes. Então, ele precisava chegar até ela.

    — Ele não vai morrer — disse Dante, sua voz calma, mas carregada de uma promessa sombria.

    Ele sentiu duas presenças chegando pelas laterais, adagas brilhando em suas mãos. Dante virou-se rapidamente, jogando Fockus sobre um dos atacantes, e girou o pé para o outro. O homem parou, rindo ao ver o chute, como se estivesse confiante de que não seria atingido.

    — Não somos amadores, velhote — disse o homem, seu sorriso cheio de arrogância.

    — Nem eu, rapaz — respondeu Dante, sua voz tão fria quanto o aço de sua espada.

    A pressão do ar foi disparada pela sola de seu pé, enviando o homem para o outro lado do navio. Ele bateu contra o casco com um baque surdo e caiu na água, desaparecendo nas ondas. No outro lado, Fockus havia caído em cima do segundo atacante, que agora se debatia, empurrando o corpo em chamas que o consumia.

    Mas não houve tempo para comemorações. Uma estranha sombra surgiu pela esquerda, levantando-se como um monstro das profundezas. Dante fitou a criatura, seus olhos estreitando-se enquanto ela abria os braços, pronta para atacar. Ele rapidamente pisou no convés, liberando uma onda de pressão que balançou toda aquela parte do navio.

    A criatura ondulou, como se fosse feita de gelatina, e Dante soltou uma risada.

    — Vocês estão muito longe de conseguir me assustar.

    Quatro homens avançaram em direção a Dante, seus passos ecoando no convés de madeira, enquanto ele erguia a espada com uma calma quase perturbadora. O ar ao redor de um dos atacantes começou a vibrar, e uma infinidade de pedras surgiu do nada, envolvendo seu corpo em uma armadura improvisada. Era como se a própria terra se levantasse para protegê-lo, mas Dante não se intimidou. Ele usou a espada para segurar o primeiro atacante, bloqueando seu golpe com um movimento preciso, enquanto seus olhos calculavam os próximos passos.

    O segundo e o terceiro atacantes vieram pela direita, suas adagas brilhando sob a luz do sol. Dante saltou por cima do homem que segurava com a espada, seu corpo girando no ar com a graça de um gato. Quando seus pés tocaram o chão, ele já estava em movimento, chutando a dobra da perna do próximo atacante. O homem caiu de joelhos com um grito de dor, e Dante não hesitou. Seu punho cerrado acertou o rosto do homem com um impacto seco, enviando-o ao chão, desmaiado.

    Dante então se virou para os dois últimos atacantes, que pareciam irmãos. Seus rostos eram tão semelhantes que poderiam ser confundidos, mas seus estilos de luta eram distintos. Um era rápido, seus golpes precisos e letais, mirando o pescoço ou o coração com a destreza de um assassino. O outro era mais desajeitado, brandindo suas adagas com força bruta, como se confiasse mais na força do que na técnica.

    Dante usou a mão aberta para desviar a adaga do primeiro irmão, deixando que ele se aproximasse mais do que deveria. Em um movimento rápido, ele acertou o pescoço do jovem, enviando-o para o alto como um boneco de pano. Dante então saltou em um mortal para o lado, deslizando por cima do segundo irmão, mas não sem antes agarrar seu colarinho. Quando seus pés tocaram o chão novamente, ele puxou o homem com força, arremessando-o diretamente sobre seu irmão. Os dois colidiram no ar e despencaram juntos, um amontoado de membros e gemidos.

    Mas, no momento em que Dante se levantou, fibras elétricas começaram a correr pelos braços dos irmãos caídos, criando um zumbido audível no ar.

    — Oh, isso parece um pouco perigoso, meninos — disse Dante, sua voz carregada de ironia, mas seus olhos nunca perderam a seriedade.

    Ele jogou a espada para trás das costas, caminhando vagarosamente em direção aos irmãos, como seu pai costumava fazer quando o disciplinava. Passos curtos, postura ereta, uma aura de autoridade que parecia emanar de seu corpo. Era a demonstração da forma, a elegância de quem sabia que a verdadeira força não estava apenas nos músculos, mas na mente.

    Seu pai sempre dizia que Dante era mais forte do que ele, mas nunca havia sido derrotado. Isso significava muitas coisas. A técnica, a sobrevivência, a experiência — tudo isso importava mais do que o poder bruto. O poder servia para refinar e melhorar as outras características, talvez, mas nunca para substituí-las.

    Dante ainda procurava a resposta para a maldição que Vick havia infligido nele, mas, no momento, sua mente estava focada na batalha. Ele olhou para os irmãos, suas mãos agora envoltas em faíscas elétricas, e sorriu.

    — A única coisa que realmente importa — disse ele, cada palavra saindo de sua boca com a mesma cadência que Render costumava usar —, é como se portar diante do inimigo.

    E, com isso, ele avançou, pronto para enfrentar o que quer que viesse a seguir.

    Os dois soltaram uma imensa rajada de relâmpagos, libertando suas fúrias em gritos unidos. Dante esticou a mão para frente, a Energia Cósmica se reunindo em sua palma. A concentração mais alta, o que podia usar daqueles 1% que sobrou da sua capacidade.

    Se meu pai conseguia, eu também consigo.

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