Índice de Capítulo

    A Balsa pousou novamente. Depois de longos onze dias inteiros, seu casco tocou o imenso porto, remodelando as velas a se fecharem. As pranchas desceram, e os Oficias desceram com os mais novos recrutas seguindo. 

     Talia desceu respirando profundamente. Estava finalmente no lugar que tinha desejo por longos anos. A viagem não foi tão demorada, e deixar seus pais foi de partir seu coração. O rosto de sua mão vermelho, choroso, e Render ergueu sua mão, acenando e segurando um pouco da cara chorosa. 

     Como Dante tinha conseguido fazer aquilo de virar as costas e sair sem ao menos olhar para trás? Como a frieza dele foi maior que a saudade? Deixar seus pais para viver uma vida nova, com o objetivo único de poder auxiliá-los era o que Talia queria. 

     Precisava apenas encontrar Dante. Apenas isso no momento. 

     Ela desceu a ponte e se encontrou com um dos Tenentes que dava informações básicas da funcionalidade da Capital. Talia não prestou muita atenção, sua mãe tinha lhe obrigado a gravar completamente a planta interna da cidade, e apenas continuou fitando ao redor. 

     Viu muitos Soldados e Cabos indo para outro ponto, correndo apressados. 

    — Não fiquem na frente — ouviu um dos Soldados empurrar o Tenente. — Tivemos um grande problema. 

     Algumas pessoas entravam na Capital por um portal azulado. Machucados, sujos e alguns até mesmo cobertos de sangue. Talia não fazia ideia do que estava acontecendo, mas se aproximou pouco a pouco. Um dos Oficias tinham o papiro, prestes a rasgá-lo, Eles esperavam mais alguém sair lá de dentro. 

     E de repente, quando o portal mudou para um roxo, uma espada o atravessou, quebrando seu interior e o fazendo desaparecer na mesma hora. Um Capitão, pela medalha em seu peito, quem havia jogado a espada. E balbuciou algo que Talia não ouviu. 

     Foi a resposta de uma das Oficiais. Talia sentiu a dor dela com os gritos excruciantes, quase ordenando o Capitão acima a se afundar na própria merda. Dava para entender que seria. E a mulher foi lançada no chão por outros dois, agarrada por um terceiro e tendo seus braços presos. 

     O Capitão havia ordenado que ela fosse presa, amarrada e amordaçada enquanto existisse por ir contra ela. Ele estava descendo quando outro Capitão se aproximou de Hermes, o pegando pelo pescoço e o jogando contra um poste de ferro. 

    — Quem caralhos te deu permissão para bloquear uma transmissão direta de minha ordem, Hermes? — O homem ergueu o tal Hermes pelo pescoço, e segurou até que o rosto dele ficasse vermelho, quase indo para o roxo. — Quem te deu permissão pra isso, seu inútil? 

     Hermes foi enviado pro chão. O Tenente de Hermes tentou alcançá-lo, mas uma espada foi erguida em sua direção. 

    — Capitão Zunni — Rutteo o chamou rapidamente. — Precisamos levar os feridos. Mas, preciso que alguém seja enviado para o segundo Acampamento. Ainda tem um dos nossos lá. 

    — Vai logo. Eu cuido desse bostinha do Hermes. 

     Os soldados machucados passaram por Talia. Ela esperou a mulher que foi presa ser erguida, e assim que passou, percebeu os olhos delas cheios de lágrimas enquanto era abraçada. Talia ficou sem reação. 

     Seu primeiro dia e tinha assistido uma missão fracassar. 

    — Ele ainda está lá… — Talia ouviu a mulher ficando aos pratos. — Ele ficou lá, Tecno. 

     O Oficial Rutteo não tinha esperado e correu para o estábulo. Ele sozinho disparou para o lado de fora, atravessando o portão e sumindo enquanto alguns soldados o gritavam, mandando parar. 

     Talia não tinha ideia do que estava acontecendo, mas pelo que o Capitão Zunni estava gritando com Hermes, a situação inteira deveria ter sido um inferno. A Ala da Inteligência nunca ficava em campo, justamente por esse motivo. 

     Seguros, dentro da Capital, eles não precisavam se arriscar tanto. Mas… Dante estava ali, justamente para enfrentar as criaturas do lado de fora, para proteger as pessoas. 

     Ele devia estar aprendendo ainda sobre a cidade. 

     Dalia parou. Observava seus próprios pés de frente para a porta de madeira. Era a quinta vez que tinha parado diante do quarto de Dante. Queria tanto entrar, queria bater e ouvir um som de risada vindo de dentro. Queria poder dizer algumas palavras a ele, mas tudo o que restou ali fora era o silêncio.

    O andar todo vazio foi ordem de Dalia. Ela não queria que alguém a interrompesse. Mas, sempre que chegava perto, como ali, encarava sua mão. Tremendo, sem seu controle, os dedos nem mesmo queriam fechar.

    Ela segurou o choro, como se fosse a primeira, entretanto não era.

    Tão pouco tempo, Dalia viu Dante por tão pouco tempo. E as marcas deixadas de um homem com tal determinação, força e vontade não deveriam ser as de uma covarde.

    Sua palma agarrou a maçaneta e ela girou com força, empurrando.

    O quarto de Dante estava perfeitamente arrumado. As cobertas dobradas em cima da cama, a colcha esticada, os livros e cadernos que recebeu de Tecno para estudar a Capital na escrivaninha em um canto.

    Dalia deixou a porta aberta e entrou. Sem luz, sem calor. Apenas o vazio deixado por um grande guerreiro.

    Mas um que morreu pelas escolhas que fiz.

    Ela sentou na cama e respirou fundo. Não queria mais lembrar do rosto de cada um que se perdeu pelas suas péssimas escolhas. Tecno havia dito que encontrariam Dante a qualquer custo. Eles foram até o segundo acampamento, e o que encontraram? Nada.

    O único traço da presença de Dante naquele inferno eram as marcas que deixou ao acabar com as criaturas para que ela fugisse. O sorriso dele no meio do conflito, a aura de que um humano poderia derrotar um grupo inteiro de Felroz.

    Mas, aquelas criaturas eram novas. Eram Maldições, algum tipo de mutação que ocorreu e que lhes deu capacidade para rastreá-los. Se ele não tivesse voltado com Rutteo, talvez…

    Dalia afastou os pensamentos da cabeça e ficou de pé. Poderia lamentar a ida de Dante, mas não ficaria agarrado em tanto sofrimento. Assim que passou pela cabeceira, viu uma carta. O papel foi lacrado com o selo da capital, bem como Tecno fazia.

    — Meu pai pediu para eu enviar uma carta toda semana pra ele. — Dante havia dito pra eles uma vez quando caminhavam. — Vou enviar assim que voltar a Capital.

    Na parte de fora da carta, os nomes ‘Render, Linda e Talia’. Sua família.

    Dois toque na porta, Tecno inclinou-se para dentro, e curvou-se um pouco.

    — Ela está aqui, como pediu, senhora.

    Dalia saiu limpando o rosto. Junto de Tecno, havia uma menina, tão nova que cheirava a flores, um grande olhar curioso e também cabelos pretos longos, amarrados em um rabo de cavalo. Não usava o branco de Recruta, nem o azul de soldados. Ela usava o preto, do Comando.

    — Recruta Talia se apresentando, Oficial Dalia. — A mão dela foi ao peito. E o queixo orgulhoso. — O Oficial Tecno me informou que gostaria de conversar comigo a respeito de algo importante. E eu gostaria de perguntar algo a senhora, se me permite.

    Dalia esticou a mão ainda segurando a carta, a deixando falar.

    — Faz algumas semanas que estou presente na Capital, e estive procurando por uma pessoa. Um homem velho, do tamanho de uma porta, e que tem uma risada estranha. — Talia a encarava e deu um sorriso. — Ele veio uma semana antes de mim.

    — Ele é o que seu, Talia?

    — Procuro meu irmão, senhora. O nome dele é Dante.

    Tecno olhou para Dalia. A Oficial abaixou um pouco os olhos e esticou o braço na direção da porta.

    — Esse aqui era o quarto dele, Talia.

    A jovem perdeu a postura e entrou, encontrando tudo vazio, mas bem-arrumado.

    — Pelo menos minha mãe realmente ensinou ele a deixar tudo bem organizado quando saísse. — Talia deu uma risada e encontrou o antigo traje de batalha. — Ainda está com o cheiro dele. Ele não lavou isso direito?

    Dalia deixou que ela pegasse algumas coisas, comentando sobre como o irmão era bagunceiro quando estavam em casa. Tecno e ela ficaram na porta, mas Dalia não teve coragem. Não queria falar sobre o desaparecimento do irmão com tanta facilidade.

    — Recruta Talia — Tecno entrou no quarto. — Melhor se sentar. Tenho que lhe contar algo.

    A carta, Dalia queria saber o que estava escrito. Entregou a Tecno, o deixando tomar conta. Dalia saiu do quarto, mas parou ao lado da porta, recostada na parede.

    A voz de Tecno se manteve indiferente, tendo a formalidade intacta enquanto a história de como Dante venceu um duelo direto contra os Felroz, havia salvado todo um batalhão no segundo Acampamento, mas não o encontraram.

    Tecno contou ainda que estavam fazendo rondas caso ele voltasse, mas ainda estavam longe de entenderem o que houve.

    Nada da Recruta responder. Dalia queria entrar lá para falar, mas o soluço de choro da garota a desarmou completamente. A força de suas pernas sucumbiu e suas costas vieram deslizando pela parede.

    — Ele… morreu? — A garota segurava e muito o choro. — Está me dizendo que o Dante… morreu em combate?

    — Desculpa, Talia. Não fazemos ideia do que aconteceu. O portal que abrimos…

    Talia chorou mais um pouco, cortando Tecno.

    — O portal que o Capitão Hermes fechou — ela disse, em tom raivoso. — Foi o dia que eu cheguei, não foi? Ele… matou meu irmão.

    As mãos de Dalia se fecharam enquanto ela lembrava da sensação fumegante em seu peito, de querer matar Hermes no meio da praça pública. Da falta de consciência que teve em quase usar sua habilidade contra um Capitão.

    — Dante deixou isso aqui antes de partir, Talia. Aposto que ele queria que você ficasse com isso.

    A carta. Dalia fechou os olhos. Quase uma semana, e a dor ainda não tinha sumido.

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