Índice de Capítulo

    Quando as chamas explodiram, Dante virou o rosto para o homem novamente. Ele ainda corria logo atrás, com uma ninhada intensa o perseguindo. Fez uma curva acentuada, por baixo de uma das copas pegando fogo, e usou o impulso do ar para disparar contra eles.

    A copa desabou com o impacto, acertando alguns, mas o homem subiu, mostrando seu controle. Não era somente as rédeas que ele segurava, mas sua frieza. Para controlar monstros desse tipo, sua inteligência e habilidade deveriam ser altos.

    Nunca tinha visto nada parecido antes. Apenas Rupestre tinha essa capacidade, mas porque fazia parte deles.

    Sobrevoando a cidade mais uma vez, Dante se viu jogando para cima, acertando as costas do Felroz. Ele subiu, passando pelas chamas, saindo da fuligem e fumaça. E quando viu os berros dos outros o perseguindo, ele saltou liberando sua espada.

    No ar, Dante se inclinou para baixo, puxando a arma para a direita, sentindo os ventos quentes o assolando pelo braço. O primeiro saiu atiçado, procurando sua presa, e sentiu a lâmina rasgar sua garganta na diagonal.

    Usando seu corpo como trampolim, Dante esperou o segundo e terceiro passarem, para então pular na direção deles. Cortou o segundo bem no peito, abrindo-a até embaixo, mas deslizando até a cauda, caindo.

    O terceiro tentou acertar uma bocada, mas ele girou no próprio eixo, usando a palma.

    O jato de ar foi liberado com imensa potência, expelindo Dante um pouco para cima, mas dando tempo usar a espada para acertar suas costas. A criatura rugiu ao mesmo tempo que seu mestre saiu de dentro das chamas.

    O homem viu suas criaturas sendo derrubadas. Dante não sorriu, continuando sua rajada para baixo.

    O bater de asas cortava o céu como navalhas. Dante olhava por cima do ombro, os olhos estreitados pelo vento e pela fumaça que subia das copas em chamas. O Felroz atrás dele era maior que os outros, um monstro negro com olhos de âmbar ardente, que reluziam como carvões vivos. E no dorso da criatura, o homem que ainda o perseguia.

    Tinha percebido só naquele momento que ele montava o Felroz como um rei montaria um cavalo de guerra. Postura firme, fria. As chamas acenderem sua imagem: a pele escurecida de fuligem, o cabelo preso em tranças grossas, que chicoteavam o ar. Ele segurava as rédeas de couro grosso com uma mão e uma lança comprida com a outra. Era um caçador, e Dante, a presa.

    O Felroz do inimigo batia as asas com precisão cruel, ganhando terreno rápido. E Dante sabia: aquela criatura não era como as outras, selvagens e guiadas pelo instinto. Não. Aquela obedecia.

    — Merda — rosnou, puxando as escamas do próprio Felroz, forçando-o a mergulhar entre as casas suspensas.

    O vento arrancava lágrimas dos olhos, mas ele não podia vacilar. Guiou a besta em zigue-zague, passando rente às plataformas, desviando de cordas que balançavam ao sabor das chamas. Por três vezes quase foi despedaçado contra vigas que pendiam das casas nas alturas.

    E na última, fez questão de usar uma das vigas para baixo, explodindo a cabeça de outro dos que o seguiam no ar.

    O perseguidor seguiu cada movimento com a precisão de um falcão em caça.

    Dante sentiu o estômago revirar quando a ponta da lança passou a centímetros de sua cabeça. O som do aço rasgando o ar foi um trovão na sua orelha.

    Preciso sair daqui, pensou, e lançou a criatura que montava num mergulho desesperado.

    Desceram entre raízes que rotacionavam como pilares retorcidos para o solo, atravessando um emaranhado de cipós e folhagens grossas. Os troncos ancestrais de Truman formavam um labirinto natural de sombras e colunas. E era lá que encontraria sua chance.

    Ele soltou um assobio curto e um tapa bem no meio da coluna, um comando que o Felroz que montava compreendeu, talvez por medo ou hábito. A criatura estendeu as asas ao máximo, quebrando a queda abruptamente, deslizando rente ao chão enlameado da floresta.

    O perseguidor mergulhou atrás dele, mais ousado do que Dante esperava. A besta negra que montava desceu com brutalidade, arrancando galhos no caminho, abrindo passagem no meio da mata como uma lâmina atravessando carne.

    Dante conduziu seu Felroz por um vão estreito entre duas árvores ancestrais, com as raízes grossas se fechando como mandíbulas. Ele passou por pouco, ouvindo o assovio do ar comprimido e o arranhar das garras da criatura roçando madeira.

    O outro não foi tão cuidadoso.

    Houve um estrondo surdo quando a asa do Felroz perseguidor raspou uma das raízes. A criatura guinchou, perdeu o controle por um momento. Mas seu cavaleiro era bom—segurou firme, puxando as rédeas e forçando a besta a voltar ao equilíbrio.

    — Cacete — reclamou sozinho. — Me deixa em paz, porra.

    Ele não podia fugir para sempre. Não era esse o plano.

    Seguiu até um trecho onde as árvores se tornavam mais próximas e escuras. Lá, o céu sumia, e o cheiro de terra úmida se misturava ao do fogo distante. O ambiente abafava os sons, transformando tudo em um silêncio quase sufocante.

    Dante chutou as costas do Felroz, forçando-o a ganhar altura dentro do túnel de madeira e folhas. Precisava de visão. O plano já estava formado em sua cabeça.

    Ele avistou o tronco oco de uma árvore caída à frente. Rápido, deslizou para baixo, abandonando o Felroz no ar. A criatura disparou sem ele, voando em frente, atraindo o olhar do inimigo.

    Dante mergulhou para o interior do tronco, escondendo-se na escuridão. Controlou a respiração. A mão apertou com força o punho da sua espada. Ficou ali, imóvel, apenas escutando.

    O bater de asas ecoou. O Felroz negro surgiu logo atrás, atravessando as árvores com a mesma fúria. O homem que o montava franziu os olhos, notando a ausência da presa.

    Mas era tarde demais.

    Dante saiu de seu esconderijo como uma flecha, correndo pelas raízes, até alcançar a armadilha que preparara antes: três troncos pesados, presos por cipós trançados, pendendo acima de uma clareira estreita.

    Puxou o cabo grosso de fibra, rompendo o nó. As toras despencaram com um baque monstruoso, caindo bem no exato momento em que o Felroz e seu cavaleiro entravam na clareira.

    O impacto foi devastador. Os troncos esmagaram a asa esquerda da criatura, partindo ossos e rasgando membranas. O Felroz perdeu o equilíbrio no ar, girando descontrolado, e o homem foi lançado da sela improvisada.

    Ele caiu rolando nas raízes, mas ainda vivo.

    Dante não deu tempo.

    Correu até ele antes que o homem se erguesse. Mas, ele já segurava sua lança, apontando para frente. Dante bloqueou o movimento da estocada, o repelindo para o lado, e acertou um soco em sua barriga.

    A resposta foi imediata, o homem agarrou seu braço num giro forte, prendendo-o no solo. Dante usou a mão sem a espada para defender e os dois entraram num combate de corpo a corpo muito próximo.

    Dante bloqueava todos, desviando a cabeça. Quando o homem pisou na lama, vacilando, ele subiu seu joelho, acertando a barriga dele novamente, e usou três golpes secos em seu rosto.

    O homem o soltou. A Energia Cósmica de Dante já tinha sido acumulada até o máximo. Sua palma veio rotacionado, acertando seu peito, o enviando voando até uma das árvores. O impacto fez a copa inteira tremer e as folha secas caindo.

    Ele travou na árvore, caindo sem forças para conseguir se levantar. Dante se aproximou dele respirando fundo, um pouco cansado.

    — Essa foi uma viagem e tanto, hein? Como você controla eles? — Dante cuspiu as palavras, sua respiração vindo mais ofegante a medida que falava. — Como?

    O homem rosnou algo numa língua que Dante não conhecia, cuspindo sangue entre os dentes.

    — Não vai me dizer? — Dante apertou a espada e usou para penetrar em seu ombro. O grito veio forte, ecoando pelas árvores. — Tudo bem. Vou descobrir sozinho.

    Ele cravou a lâmina mais fundo, encerrando a luta ali mesmo.

    O Felroz, com uma asa esmagada e a outra tremendo de dor, tentou se erguer. Dante não hesitou. Pegou a lança caída e, com toda a força que lhe restava, a arremessou.

    A ponta perfurou o pescoço da criatura. O rugido se tornou um suspiro rouco, e ela tombou de lado, batendo o corpo pesado contra as raízes, onde ficou imóvel.

    O silêncio caiu pesado depois disso.

    Dante ficou ali parado, o peito subindo e descendo num ritmo violento, enquanto sentia o suor escorrer, misturado ao sangue que não sabia se era seu ou do inimigo.

    Ele ergueu os olhos para a copa das árvores.

    — Onde vim parar?

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