Capítulo 297: Subindo Anéis (I)
Dante agarrou o primeiro soldado pelo pulso, sentindo uma descarga elétrica correr pelo braço como uma mordida ardente. O sujeito abriu um sorriso cruel, achando que tinha vantagem. Mas em um movimento fluido, Dante o ergueu como se não passasse de um boneco de pano e o lançou para cima. O corpo do homem girou no ar, colidindo violentamente contra outro soldado que avançava logo atrás.
O impacto foi brutal, os dois foram arremessados contra o telhado de uma das casas próximas, quebrando as telhas em uma explosão de destroços.
Ele se abaixou no último segundo, escapando de um golpe direcionado à sua cintura. Girando sobre o calcanhar, puxou sua espada em um único movimento e cortou para cima, sentindo a lâmina rasgar carne e tecido. O soldado atingido gritou enquanto caía para trás, o sangue quente espalhando-se no ar frio.
O tempo parecia desacelerar. O mundo à sua volta reduzia-se ao som das botas dos soldados batendo contra o chão de pedra, da madeira rangendo sob o peso dos combatentes nos telhados, das espadas sendo desembainhadas. Mais deles surgiam das ruas estreitas, formando um enxame implacável, uma avalanche de corpos armados. E outros, mais ágeis, se posicionavam nas alturas, esperando o momento certo para atacar.
Quanta determinação.
Dante saltou para trás em recuos curtos, desviando dos avanços. Ele precisava de terreno. Com um impulso, saltou sobre uma das casas, sentindo o vento frio cortando sua pele.
Um dos soldados mais jovens passou próximo, deslizando por uma corda presa entre os prédios. Dante aproveitou a oportunidade, com um movimento rápido da palma da mão, disparou um jato de ar comprimido contra as costas do rapaz.
O golpe o lançou para o lado oposto, arrancando-o da corda. O jovem caiu desajeitado, rolando sobre os paralelepípedos.
— Não posso negar que é divertido — Dante murmurou para si mesmo, um sorriso puxando o canto de seus lábios.
Abaixo, um dos soldados parou no meio da rua, observando a cena com desdém. Ele franziu a testa antes de gritar para os demais:
— O velhote está atrapalhando todo mundo!
Dante continuava correndo pelos telhados, saltando entre construções, sem pressa aparente.
— Peguem ele! Esse desgraçado acabou de chegar e já quer bancar o dono da cidade!
Dante riu.
— Calma, garotos…
Quando chegou à beira do telhado, flexionou os joelhos e saltou. Seu corpo girou no ar, como um acrobata experiente, antes de aterrissar em uma nova construção. Os soldados hesitaram. Estavam mais perto da Forja, mas algo no jeito que ele se movia os deixava inquietos. O velho era… estranho. E perigosamente habilidoso.
Ele se virou para encará-los, o vento balançando seus cabelos.
— Estamos todos atrás do mesmo alvo, não estamos?
Os soldados entreolharam-se, desconfiados.
— Então por que está ferindo os nossos? — Um deles perguntou, cerrando os punhos.
Dante arqueou uma sobrancelha e abriu os braços, como se a resposta fosse óbvia.
— Essa é uma batalha pelo Desejo, não é? Por que eu deveria ser benevolente com meus inimigos?
A gargalhada que soltou ecoou pelas ruas, ricocheteando entre as paredes de pedra. O som reverberou entre os soldados e, mais além, entre os moradores e lojistas que espiavam dos becos e janelas.
Ele observou as expressões ao redor e sorriu ainda mais.
— Sempre fico pensando que preciso me divertir, mesmo nos momentos mais caóticos. Meu pai detestava, mas eu sou assim, senhores. Então, vamos continuar com essa brincadeira, certo?
E então, girou a espada entre os dedos, pronto para mais uma rodada.
I
— Esse é o seu Comandante? — O Carpinteiro arregalou os olhos, incrédulo. — Ele é muito velho. E essas roupas… Espera…
Ele percorreu os olhos pelas vestimentas dos outros. O couro escuro reforçado, as tiras de tecido ajustadas para não prenderem nos movimentos, os cintos carregados de pequenos dispositivos e lâminas ocultas. Todos vestidos da mesma maneira. Todos uniformizados.
— Por que estão vestidos como eles?
Porto passou ao seu lado e, sem cerimônia, agarrou-o pelo braço, puxando-o em direção à porta lateral.
— Você faz perguntas demais. — Sua voz era um grunhido impaciente. — Quer sua filha ou não? Então anda logo. E para de falar sobre ficar aqui. Se continuar, vai morrer antes mesmo de ter chance de conversar com ela.
Trahaus passou primeiro pela abertura na lateral da forja, os olhos atentos para qualquer movimento na rua. Deu um breve aceno, permitindo que Jack e Porto seguissem em frente, arrastando o Carpinteiro consigo.
A luz amarelada das lamparinas os recebeu do lado de fora, junto com o cheiro metálico impregnado no ar. O Carpinteiro avançava relutante, os passos pesados. As ruas eram estreitas, os prédios de pedra e madeira formando um labirinto de sombras e paredes manchadas de fuligem. Mas o pior era o silêncio que se instalou quando eles apareceram.
Os olhares dos moradores se voltaram para eles. Pessoas comuns, vendedores, artesãos, famílias inteiras paradas nos becos e nas portas de suas casas. Todos observavam o homem que havia vivido ali por tanto tempo ser escoltado como um prisioneiro. Sussurros começaram a se espalhar como um rastilho de pólvora. Jack sentiu um nó no estômago. Comentariam. Sempre comentavam. E quando esses comentários chegassem aos ouvidos errados…
— Glossário é um porco, pra falar a verdade — murmurou o Carpinteiro, sem se preocupar com a tensão no ar. Ele ainda conseguia ouvir os gritos dos soldados na forja. — Mas por que ele quer tanto o maldito navio? Se precisava de um, era só mandar construir outro. Tem gente mais qualificada do que eu pra fazer isso.
— O problema não é o navio — respondeu Trahaus, sem desviar os olhos da rua à frente. — O problema é tudo que estava ligado a Bulianto. O Bastardo e o Glossário querem apagar qualquer rastro do antigo Rei. Não sei a história deles direito porque sou nova, mas é um ódio sem fim.
— Claro que teriam ódio — Porto murmurou.
Eles dobraram uma esquina e, de repente, deram de cara com uma multidão.
Barracas alinhadas lado a lado. Moradores negociando suprimentos, sacolas cheias em mãos. O cheiro de especiarias e metal quente misturava-se no ar frio. O corredor era estreito, praticamente bloqueado pelo movimento lento e preguiçoso da feira. O barulho dos comerciantes e das conversas abafava os gritos e o caos que deixaram para trás.
Porto rangeu os dentes.
— Merda… Vamos ficar presos aqui por horas.
Ele olhou para Jack, esperando que tivesse uma solução. Jack retribuiu com um olhar sombrio.
— Não faço ideia do que vamos fazer.
Porto bufou, irritado.
— Ótimo.
— O único caminho pro Segundo Anel é por dois meios. Um está cheio de mercenários, e o outro… é esse. Se não passarmos, vamos ficar encurralados.
— Minha filha está no Segundo Anel! — O Carpinteiro elevou a voz, os olhos faiscando. — Não tem outro jeito. Precisamos passar.
O grupo ficou parado por um instante, avaliando a situação. E então, impaciente, Trahaus passou por eles e ajoelhou-se.
Jack viu quando ela pressionou a palma da mão contra o chão de pedra.
Um sibilo agudo cortou o ar, e então a Energia Cósmica se libertou dela de uma só vez.
O efeito foi imediato. A energia serpenteou pelo solo, espalhando-se sob os pés dos comerciantes e dos moradores. Cristais azulados começaram a emergir, rachando a superfície da rua, espalhando-se por entre as barracas como raízes famintas.
E então, o caos.
O primeiro morador escorregou, tentando se segurar em vão. Depois, outro. E outro. Em segundos, os pés vacilaram, corpos tombaram para os lados, braços estendidos buscando apoio. A feira se transformou em uma avalanche de corpos deslizando e tombando contra as próprias barracas, derrubando cestos de frutas, virando mesas, criando um rastro de pânico e confusão.
Quando a poeira baixou, um caminho vazio se formou bem no meio da multidão.
Trahaus se levantou, satisfeita.
— Pronto. Temos um caminho.
Sem esperar os outros, saltou sobre o solo gélido e seguiu em frente.
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