Capítulo 3: Ordem e Chamado
Assim que retornou a Balsa, Dante não esperava que Reinald chegasse rapidamente ao seu encontro. Ele o segurou pelo colarinho e o empurrou rapidamente até a borda, com um rosto claramente nervoso. Dava para ver as rugas se formando ao redor dos seus olhos por conta disso.
— Por que cacetes um veterano está se alistando como um bronze, hein? — E inclinou as costas dele contra o vazio. — Por que ninguém mencionou nada sobre você, velhote?
Dante estava prestes a empurrá-lo com bastante força quando ouviu Dalia.
— Solte ele, Reinald . Agora.
O Oficial ainda o agarrava, e sua mão se abriu contra a sua própria vontade. Cada segundo que passava, tinha quase certeza de que a habilidade de Dalia era algo relacionado a dar ordens nos outros.
Ele se virou apontando para Dante, que se recobrava do empurrão.
— Acha correto isso acontecer? Mesmo que seja um veterano, deveriam avisar sempre. Homens como ele não devem ser colocados aqui. Tem lugares específicos. — Ele avançou um passo, mas viu Tecno e Freto erguerem a mão com cautela. Reinald parou. Sua voz foi perdendo força. Sua raiva s esvaindo. — Desde quando mantemos segredo? Era para ser justo. Na Capital, a seleção ocorreria. Por que está fazendo isso?
— Não estou fazendo nada — disse Dalia, indiferente. — Você cria história em sua cabeça, tentando encontrar explicações de coisas que não pode responder sozinho. Nunca disse que ele é um veterano, nem mesmo que escondi ele de você. Ouse me ameaçar, mas faça isso com decência. Eu mesmo levarei o velho para conversar, assim que acabar, vou mandar um relatório sobre o ocorrido.
O nariz de Reinald subiu e desceu, desgostando da resposta. Ele apontou para Dalia, com raiva.
— Se coloque no seu lugar, mulher. Mesmo que tenha chegado a Oficial, ainda precisa provar seu valor.
— Salvar sua bunda dos piratas não é o suficiente?
Ao redor, deu para ouvir e sentir que a resposta dela foi afiada. Dante ergueu a sobrancelha e abaixou a cabeça. O Oficial ficou mais irritado ainda e deu as costas.
— Quando chegarmos na Capital, eu mesmo farei um relatório sobre hoje — sua voz se arrastou até que ele desaparecesse descendo o convés.
Deu para ver Dalia respirar fundo e se virar para os seus dois subordinados.
— Isolem a cabine. Tecno, faça o relatório dessa vez. Me entregue antes de chegarmos a Capital. — Encarou Dante mais afastado. — Venha, temos que conversar sobre o que aconteceu hoje. É comum que façamos isso sempre.
Eles desceram as escadas pelo lado contrário do que Reinald tinha ido. Entraram em um corredor bem recheado de lamparinas pequenas, portas diversas tinham sido instaladas dos dois lados. Eles entraram na segunda a esquerda. A porta foi fechada e Freto passou o dedo indicador de ponta a outra.
Crish sentou na cadeira e colocou a mão na parede, se fundindo a ela. As pequenas frechas foram se fechado aos poucos, não dando nem mesmo tempo de Dante reparar a madeira do teto se fundindo com o aço.
Os dois terminaram o serviço e o fitaram na mesma hora.
— Senta direito. — Dalia foi bem direta ao puxar a cadeira para si e ficar entre os dois. — Antes de começarmos com toda aquela desgraça de roteiro para te dizer que você precisa escolher um lado, quero que saiba eu fico agradecida pelo que fez hoje. Poucos são as pessoas que se atiram para o campo de batalha e usam suas habilidades para ajudar. Sou grata.
— Por nada…
— Não acabei. Não me interrompa. — Dalia o fitou, séria. — A Balsa é uma seleção. Quando pisou aqui, seu nível de conhecimento, habilidade e Energia Cósmica foi testado. Não pude sentir de primeira o motivo, mas seu corpo é bem desenvolvido para um senhor de idade. E eu entendi quando lutou que sua força é além do que os outros podem mensurar. Sou uma Oficial da Capital procurando cadetes, na verdade, tenho disponível uma vaga apenas para cadetes. Então, quando chegar na Capital, terá que escolher. Quer viver uma vida voando pelos céus e esperando piratas atacarem comboios? — Ela deu de ombros. — Não vou negar que é um trabalho honesto, mas eu vi sua ficha, isso não é para você. Treinar tanto tempo para ficar agarrado aqui. Eu quero que veja a possibilidade na Capital, de se juntar a um esquadrão decente.
Crish e Freto não deixaram a surpresa escapar de seus rostos quando ouviram-na.
— Quero que pense no meu esquadrão, senhor Dante — continuou Dalia. — Porque temos muito a oferecer.
Dante não esperava pela chamada. Claro, tinha feito um estardalhaço do lado de fora, mas uma Oficial estava o convocado para ser parte do seu esquadrão. Nunca pensaria que chegaria perto de impressionar alguém com um título tão formidável. Ainda mais alguém tão séria e dura como ela.
— Eu amo lutar e treinar. — Sua frase os pegou de surpresa. — Fiz isso por muitos anos com o meu pai. Vou ser sincero, ele me surrou muito. Tanto que aprendi a receber a dor com um sorriso no rosto. Eu quero poder fazer isso e poder dar dinheiro para ele e para o vilarejo que eu vim. Puderam ver que é um lugar precário, sem nada, mesmo assim é um posto de embarque. Longe da Capital, tudo é mais complicado. Não quero ser protagonista de nada, mas quero poder ajudar. Se estiver disposta a me ajudar com isso, então eu posso aceitar seu pedido.
Freto mostrou o dedão, bem orgulhoso da resposta. E Crish balançava a cabeça para cima e para baixo. Ambos calados.
No entanto, Dalia ainda o fitava com fervor.
— Ajudar seu pai? — E sorriu ligeiramente. — Entendo. Você é um homem de raízes bem aprofundadas. Não tem problema, se é o que quer fazer, eu te darei boas lutas.
Dalia afastou a cadeira e deixou os dois avançarem. Crish e Freto se colocaram adiante, perguntando sobre sua habilidade. Dante explicou de maneira resumida sobre a ‘Conversão Muscular’ era quando o atrito de algo em seu corpo era convertido em energia muscular. Dessa forma, sempre que ele fazia algum movimento, gerava essa energia e ela se acumulava de maneira que pudesse liberar.
Claro, Dante não explicou como as variações funcionavam. Ele tinha todas as suas cartas na manga. ‘Explosão’ e ‘Explosão Tardia’, por exemplo, eram carregadas da mesma forma, um soco no ar. A primeira fazia a energia ser disparada no momento do impacto, resultando numa explosão do físico reunido com a energia. E a segunda era quando o soco já tinha acertado, e um segundo depois, a energia é disparada.
Esse tipo de controle, Dante demorou muito tempo para ter facilidade. Mas, sorriu ao ver que ambos tinham admiração sobre sua habilidade. E quando encarou Dalia, ela o fitava de maneira curiosa.
— Você pode voar. — Ela cortou os dois. — O ar liberado pelos seus pés te mantém suspenso enquanto o ar ao seu redor faz atrito na pele e converte em energia muscular. Você flexiona a sola dos pés liberando quantidade absurdas de forma plana, se mantendo equilibrado.
Dante ficou impressionado.
— Você conseguiu ver através da minha habilidade com aquele pouco tempo?
— Qualquer um veria — respondeu Dalia perdendo a curiosidade na mesma hora. — Isso indica que pode batalhar de curta e longa distância. Adaptável.
Droga, como ela consegue saber tudo isso só me vendo usar um pouco da conversão?, Dante concordou sem esconder nada.
— Tenho ferramenta para lidar dos dois modos.
— Vai servir.
Crish e Freto acenaram com o dedão mais uma vez, orgulhosos. A Oficial abanou a mão e a porta voltou a se abrir, dessa vez sozinha. Ela saiu sem dizer mais nada, os deixando ali.
— Ela gostou muito de você — Crish disse chegando mais perto. — Sabe, faz tempo que ela está procurando mais um novato para o esquadrão. Eu não quero ser rude, sabe? A gente nunca pensou que seria um senhor de idade. É bom ter uma faixa etária bem extensa.
Freto deu uma risada e concordou.
— Isso é um ‘bem-vindo a bordo’, eu acho.
Os dois ficaram de pé.
— Se quiser, pode descansar aqui — falou Freto. — O lugar é pequeno, mas da pro gasto. Temos que sempre acompanhar a Oficial. Mas, tenta relaxar. Quando chegarmos na Capital, vai ter que ter peito pra aguentar.
Antes de perguntar, a porta se fechou rapidamente.
— Aguentar… o quê?
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