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    “E se houve um tolo que dissesse que os mais corajosos morreram por causas nobres?”

    A frase ecoava na mente de Gregoriano como um estalido incessante, reverberando através de suas lembranças como o eco de um sino distante. Uma gota tocava o oceano, criando uma ondulação quase invisível, mas que ainda assim se alastrava, persistente, até alcançar a superfície.

    Alguns homens, diferentes dos que acreditavam na pureza da moralidade, entendiam que Deus não poderia dar tudo sem tirar o equivalente. Essa era a lógica dos desastres e dos milagres.

    A mais pura verdade.

    Gregoriano uniu as mãos diante do peito, os dedos se entrelaçando em um gesto de contemplação. Seus pulmões trabalhavam em um ritmo pesado, puxando o ar impregnado pelo aroma denso do incenso que queimava ao seu redor. Manteve os olhos fechados, permitindo que a fumaça dançasse ao redor de sua pele, ancorando-o nos recônditos mais íntimos de sua consciência. O cheiro o confortava, puxando-o de volta para os momentos em que sua guerra era física, brutal, tangível — e não travada dentro de sua própria alma.

    — Greg.

    Uma voz o chamou à realidade, distante, mas firme. Ele não abriu os olhos imediatamente. Inspirou fundo, deixando o incenso preencher cada canto de seus pulmões antes de responder.

    — O Glossário retornou — continuou o mensageiro. — Estão dizendo que o Carpinteiro virou alvo dele. O que vamos fazer?

    Gregoriano suspirou, inclinando a cabeça levemente para o lado, sentindo o peso das palavras se assentando sobre seus ombros.

    — Um espinho e tanto, esse homem — murmurou, quase para si mesmo.

    Inspirou mais uma vez, sentindo o cheiro do incenso se infiltrar em seu ser como um antigo cântico de guerra. Seu peito subiu e desceu lentamente, antes de continuar:

    — O Rei Bulianto foi morto por um dos Lordes… e agora esse homem aparece tentando arrancar nosso lar de nós.

    O mensageiro hesitou por um momento antes de acrescentar:

    — Sua armadura já está preparada, meu senhor.

    Os olhos de Gregoriano se abriram, frios como o aço que cobriria seu corpo em instantes.

    — Ótimo. Façam rapidamente.

    Ele se ergueu, seu porte carregando a solenidade de um homem que caminhava para o inevitável.

    — Não temos tempo a perder.

    I

    — Eles se moveram para o canto oeste do Segundo Anel, senhor. — Eufoeu gritou mais de trás. Ainda era impossível acompanhar a velocidade do seu senhor mesmo que o homem fosse um brutamonte imenso e cheio de placas de metal e ferro sobre o corpo. — Todos os soldados se reuniram lá.

    Gregoriano saltou mais uma vez, dando um mortal, e caindo em cima do telhado de uma casa. Com três andares, a visão era perfeita. Realmente, a quantidade de soldados era imensa, tanto que dava nojo.

    Tantos para pegar um único homem, um único alvo. E havia um grupo lutando, brandindo suas armas e protegendo o Carpinteiro e sua filha. Gregoriano abriu sua boca, chocado.

    — Minha… Elise.

    A mulher realmente estava no meio daquele caos. A mão de um velho tocou seu ombro, a empurrando para o lado e bloqueando um golpe. O contraataque dele foi solene, afiado e preciso, abriu o pescoço do soldado, mantendo seu grupo atrás de si.

    Sua maestria com a espada não era tão ruim, era rígida demais, mas era necessária.

    Finalmente, Eufoeu parou ao seu lado. Ele arfava, segurando uma imensa espada no peito, brandindo para frente.

    — Senhor, sua espada. Não pode esquecer.

    — Elise está ali.

    Eufogeu fitou o campo, um pouco chocado. Seus olhos se arregalaram.

    — Senhor, por favor, se contenha. A senhora Elise…

    — Me disseram que ela tinha morrido. — Gregoriano não piscava, ainda fitando o grupo ser encurralado pouco a pouco. — Aquele maldito do Bastardo. Eu fiz o que ele mandou, abri as portas da minha cidade para um tratado e ele me devolveu uma morte…

    — Senhor, não deve ser a mesma pessoa.

    Gregoriano abaixou a cabeça e fechou os olhos. Somente os tolos poderiam acreditar em uma verdade forjada sem autenticá-la primeira. Era o que foi instruído, então, por que acreditou naquelas palavras?

    — Eles estão sendo dominados — chamou Eufoeu. — Senhor, o que fazemos?

    Seu braço veio a lateral vagarosamente, sua mão aberta. Eufoeu reconheceu o gesto e entregou a espada. Ao fechar os dedos sobre o cabo, sentiu a textura dura, enrijecida. Os calejados dedos sentiram as lembranças ao segurar novamente em sua arma.

    — Se prepare — disse Gregoriano. — Nós vamos lutar.

    Ele se atirou pelo telhado, pulando por dois obstáculos e chegou até a ponta. Suas pernas tensionaram, seu salto foi alto. Gregoriano segurou a arma, girando para o lado, forçando seus músculos a endurecer com as placas de ferro tintilando.

    A Energia Cósmica criou uma pressão ao redor da cidade, fazendo os soldados ergueram suas cabeças. O velho que protegia o grupo fez o mesmo, entortando suas sobrancelhas. Gregoriano observou ele mudar sua postura, segurando sua espada com as duas mãos.

    Os soldados gritaram apontando para Gregoriano e ele desceu com um estrondo.

    O choque da sua larga espada fez o chão criar rachaduras, mas o impacto da Energia Cósmica foi o que enviou todos eles para longe, rolando e batendo contra as paredes das lojas, explodindo. Gregoriano levantou devagar, puxando sua espada e viu os que não foram afetados.

    — Greg — a voz do soldado de boina chamou sua atenção. — O senhor não deveria estar aqui. O Glossário não permitiu.

    — E quem é você?

    A espada desceu velozmente, mas não acertou o homem. Ele conseguiu escapar se jogando para trás, bem ágil.

    — Gregoriano.

    Aquela voz suave, um tom triste e melancólico. Gregoriano não queria virar o rosto, mas ele fez aos poucos. Elise estava afastada, atrás de uma outra mulher, mas seus olhos e seu choque era evidentes.

    — Você está vivo? — Os olhos dela se encheram de lágrimas. — Como você… me disseram que… sua morte.

    Os dentes dele se prensaram contra o outro. Ele respirou pesadamente.

    — Essas pessoas que salvaram o senhor seu pai são confiáveis, senhora Elise?

    Ela não conseguiu responder. Gregoriano estava tão focado nela que nem sentiu o avanço do velhote. O homem saltou em sua direção com uma bala. Greg não iria conseguir aparar o golpe, mas o velho apenas passou por ele, bloqueando dois golpes de uma lança e decepando o braço e perna de dois soldados em um movimento rápido.

    Ele não mirou em mim.

    O velho homem olhou para trás.

    — Não sei que você é, mas não podemos mais ficar aqui. Grandão, precisamos sair. Quer ajudar ou vai ficar parado ai impressionado? Sei que sou bonito, mas precisamos tirar eles dessa cidade.

    — Que ousadia — ouviu a resposta de Elise e Eufoeu juntos. — Esse é o senhor Gregoriano Singapura, seu idiota.

    — E eu sou Dante da Capital e Kappz. Agora, vamos parar de conversar e seguir adiante.

    Gregoriano gostou dele de cara, revelando um sorriso.

    — Sua beleza não muda em nada o que vamos fazer aqui, senhor. Mas, se quer mesmo sair, então, farei questão de mostrar o caminho para vocês. Me sigam.

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