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    Mais de cem soldados apareceram juntos pela rua. Corriam com suas armas erguidas e alguns por cima, usando suas habilidades de movimentação. Gregoriano não virou a cabeça, mas falou rapidamente:

    — Continuem em frente, sem parar.

    Dante concordou, mas fez uma curva no meio da rua, se jogando para uma das paredes e se lançando no ar. Os soldados que se projetavam na parte de cima foram pegos de surpreso. Não somente ele, mas Carpinteiro e Gregoriano também.

    Pegando o primeiro, girou com ele e arremessou nos outros. A propulsão do ar em seu pé o fez se arrastar para frente, mas não como antes, não como antigamente. Ele teve que diminuir, fazendo uma explosão de ar em sua palma aberta e se jogar para cima.

    Antes dos soldados terem qualquer tempo de reação, uma imensa força contra suas cabeças os enviou contra o solo. Dante deu uma risada, forçando seu braço pra trás e se arremessando para o meio dos que corriam na rua.

    Gregoriano virou-se para Elise.

    — Quem é aquele?

    — O novo Capitão do Nokia. — Ela ainda parecia tocada pela presença do homem, mas conteve sua emoção. — Greg…

    — Não está na hora de conversar.

    Ele aumentou sua velocidade e continuou em frente. Sua espada subiu e a Energia Cósmica se formou ao redor dela. E os inimigos se ajustaram. Mesmo com Dante se lançando e Gregoriano na sua frente, eles não se importaram.

    Sua espada desceu novamente, mas um dos soldados ergueu uma imensa muralha de ferro. O choque fez com que o metal se entortasse para dentro, mas não foi suficiente para rompê-la. Gregoriano se assustou com a defesa do homem, mas não teve tempo para reagir.

    Uma mulher passou das suas costas, deslizando sobre o gelo e se enfiou entre os dois soldados. A adaga dela arrastou sobre os dois enquanto fazia uma acrobacia estranha, completamente sem postura.

    Ao parar, os dois soldados soltaram um arfar e caíram sangrando pelos braços e peito.

    — O Comandante não pode ficar sozinho — avisou Trahaus. — Porto, eu vou ajudar. Fique aqui e proteja a retaguarda.

    — Deixa comigo, pirralha. Vai logo.

    Num gesto fraco, o solo foi se transformando em finas cristas de gelo e ela deslizou por entre os soldados. Gregoriano ergueu a cabeça para Jack. Havia reconhecido o homem antes, mas agora, vendo-o de perto, lembrou-se bem do que tinha acontecido anos atrás.

    E pela expressão azeda dele, também se lembrava.

    — Olha, eu não vou falar nada sobre…

    — Seu Comandante é confiável? — A pergunta que quebrou Jack também fez com que os outros ficassem assustados. — Ele se tornou Capitão e tomou o Nokia por qual motivo? Bulianto era adorado, mas não lutava. Esse homem… você o admira?

    Porto deu uma risada.

    — Comandante Dante fez de tudo para nos salvar. Ele lutou contra o Bastardo, batalhou em Truman. Ele me salvou.

    Os olhos de Gregoriano foram de Porto para Jack.

    — Você confia nele, Jack Jack?

    — Ele é o Capitão. Claro que confio nele. — Ele continuaram em frente. — Esse homem veio até aqui podendo ter enviado qualquer um no lugar. Duvido que outro seria tão maluco. Ele não é de linhagem nobre, da pra perceber.

    — O Comandante é um guerreiro.

    Quando encararam Porto, ele segurava o pé de um soldado, o arrastando pelo chão. Um deles tentou se esgueirar. Agora gritava contra sua vontade para ser liberto. Porto o arremessou por cima dos soldados, para o meio da multidão.

    — Não precisa se preocupar — gritou Porto dando uma risada. — O Comandante é um homem que nós depositamos nossas vidas. Ele vai nos vingar, vai vingar o que fizeram com o nosso Rei.

    Gregorio avistou pelos homens que tentavam acertá-lo. O velho Comandante girava numa precisão impecável, dando uma imensa pressão nos soldados e abrindo mais o caminho. E quando seus olhos se encontraram por poucos segundos, deu para entender.

    Esse homem não vai morrer tão fácil.

    A espada dele cortou dois, penetrou o segundo e cortou um outro. Antes de ser acertado, ele girou por cima, em uma pirueta perfeita, saindo do golpe de mais duas lanças no meio do ar. Quando voltou, a Energia Cósmica expandiu enviando mais cinco para longe.

    Trahaus lhe dava cobertura. Os pontos cegos do velho eram quase infímos, mas ela estava presente. A adaga segurava o golpe e escapava dos outros ataques. O gelo dela não era usado para a ofensiva, mas sua movimentação… perfeita.

    Os dois lutavam lado a lado simplesmente como se não estivessem observando o outro, e ainda assim, perfeitamente sincronizados.

    — Muralha!

    Cinco placas de ferro cresceram ao redor dos dois no meio, acordando todos eles. E a risada de Dante foi abafada quando as lanças penetraram o meio todas juntas. As chamas, água, pedra, agulhas afiadas e até mesmo cristais foram enviados para dentro.

    — Ele vai morrer — o Carpinteiro ainda tentava se ajustar no meio daquela batalha, mas era empurrado por Porto e Jack para se movimentar direito. — Gregoriano, por favor, nos guie. Esse homem é um lunático.

    Elise se apressou, mas Jack a segurou pelo pulso.

    — Não saia do meu lado.

    — Seu Comandante vai ser morto e você sequer está fazendo alarde. Sua confiança pode ser grande, mas são muitos na nossa frente. — Ela puxou o braço, se libertando do seu golpe. — O Glossário não é tão fácil de ser derrotado.

    Os olhos de Jack se estreitaram.

    — E o que te dá o direito de pensar que meu Comandante vai morrer assim? Você não ouviu o que Porto disse? Ele não é um guerreiro. Um verdadeiro Guerreiro.

    A muralha foi explodida de um lado. Seu metal foi retorcido para dentro e outro havia um corte, enviando para longe. Os soldados gritaram ordens para avançar, querendo encurralar os dois. No entanto, os próximos foram simplesmente desarmados pela energia estranha que emanava do velho.

    A aura dele, como Gregoriano também sentia, era agressiva, brutal e mortal. Se qualquer um se movimentasse para dentro do seu campo, seria cortado de uma vez só. A espada em sua mão não era a mais apropriada, mas era temida.

    Todas as habilidades fizeram efeito. Sua roupa parecia chamuscada e molhada em algumas partes, os espinhos e cristais de vidro perfuraram a calça, mas apenas ele. Trahaus, logo atrás, não estava ferida.

    Ele protegeu sua companheira naquela situação sozinho?

    — Eu estou… — Dante sorriu e levantou sua espada. — Me sentindo bem hoje.

    Foi um movimento simples: Dante passou a mão por baixo do outro braço, inclinando a espada um pouco para a direita. Seu corpo, sua mente, sua Energia Cósmica, tudo parecia alinhado. Desde que tinha acordado naquele navio, até o momento que se tornava um Capitão.

    A derrota, o gosto de ser lançado contra o oceano, a sensação do desesperado, da dor e da angustia. O querer voltar para sua casa, a dependência, a responsabilidade. Todos no navio precisavam da sua volta, do seu retorno.

    Era a confiança, a vontade, os sonhos e medos.

    Eles precisavam de um Capitão que suprisse todos aqueles pequenos erros e falhas cometidos, que falasse quando suas vozes se calassem.

    Nunca ser um protagonista, nunca ser um herói.

    — Jamais serei. — A voz de seu pai ecoava em sua mente. — Eu sou a falha.

    Sua Energia Cósmica se libertou dos poros, exalando uma pressão angustiante. Não só os soldados, mas os presentes no Segunda Andar puderam sentir. Até o Glossário entendeu, da cabine, que aquele não era só uma demonstração de poder, era o poder em seu estado puro.

    — E não importa quantas vezes aconteça, eu não vou morrer enquanto os sonhos dessas pessoas existir.

    Ele brandiu a espada na direção do portão de ferro. O imenso paredão de ferro e aço, um metal duro e compacto, sendo agora o único desafio para superá-los.

    — Não importa quantas vezes aconteça. — Dante imitou o movimento de Render, erguendo a espada para a saída. — Eu nunca vou poder me comparar ao senhor. Por isso, nesse momento, eu só posso ir até o meu limite.

    Gregoriano viu a Energia Cósmica, que estava espalhada por todo o Segundo Anel, se converter em um só movimento, em linha reta e tomar o Comandante como uma armadura.

    Dante segurou a arma, gargalhando fortemente. Esse divertimento, a sensação da liberdade, de se desprender dos grilhões, de buscar o que sempre almejou. Acima de tudo, acima de qualquer coisa, ele treinou para vencer, e vencer deveria ser divertido.

    — Ei, Glossário — sua voz chegou até o homem na cabine, ainda assistindo, desesperado e gritando para os soldados. — Pode ter conhecido muita gente, mas nunca pisou na minha casa. Não importa quantas vezes seja, eu sempre vou além.

    Ele forçou o punho para dentro e num gritou de batalha, libertou a pressão acumulada.

    — ‘Montanha que Atravessa o Céu’.

    A Energia Cósmica desceu num corte seco. A pressão fez com que o ar e a terra balançassem. A lâmina da espada se quebrou a medida de sua descida, sobrando apenas um filete do que foi um dia.

    E então, o estrondo que balançou a estrutura inteira da cidade.

    O portão se partiu em dois, criando uma explosão de ar que enviou todos os soldados esperando. Tão forte que algumas das lojas mais perto tivessem suas portas escancaradas, suas placas levadas, alguns caixotes voaram.

    Dante se manteve erguido com um sorriso erguido.

    — É assim que se deve lutar de verdade. — Ele virou-se para todos atrás de si. — Vamos, abri caminho pra gente.

    Porto encarou Jack, que tinha a boca aberta, sem entender o que tinha acabado de acontecer.

    — Mas que porra foi essa?

    Gregoriano ficou impressionado. Não era somente o poder, foi a postura, o ângulo, o trajeto. A concentração mesmo no momento de fala, sua intenção.

    Intenção, o ensinamento que recebeu anos atrás. Esse era a intenção, expor o que sua mente e corpo desejava.

    Dante, gargalhando, encarou-os novamente. Seu mando obrigava eles a irem adiante, mas nunca esperou que fosse realmente conseguir aplicar a réplica daquele ataque, mas não importava. Ele jogou a espada para o lado e continuou correndo.

    Acesso Negado. Acesso Negado. Acesso Negado. Acesso…”.

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