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    — O que vocês estão fazendo? — Os berros de Glossário podiam ser ouvidos até da parte debaixo da cidade. Ele atirava ordens para todos os soldados, e as ruas começaram a ficar socadas de gente.

    Não somente dos soldados, mas das pessoas que observavam uma fuga desenfreada do Carpinteiro. E os guerreiros, soldados e mercenários que brigavam para chegar até eles. E por mais que fosse uma visão completamente fora do comum, o que mais surpreendia era o homem gigante brandindo sua espada indo em direção a saída.

    — Aquele não é o Gregoriano?

    — Claro que é. Por que ele está ajudando esses forasteiros?

    Alguns dos boatos circulavam, chegando até mesmo aos mais antigos. Lojistas e comerciantes mais renomados, conhecidos pelo Segundo Anel.

    —- Ele havia jurado pelo Deus que nunca mais se curvaria ao tirano.

    Uma mulher segurava a porta, observando de longe.

    — Acima de jurar a Deus pela terra, jurou proteger as pessoas, lembra? Aquela mulher, eu nunca imaginei que estivesse viva. Como isso é possível?

    Eles continuaram a correr, saltando para fora do portão, subindo uma rampa larga e que demorava praticamente cinco minutos subindo. Não tinha como fazer aquilo com Carpinteiro e Elise agarrados.

    — A plataforma.

    Gregoriano apontou para cima. Recheado de correntes em suas pontas, era uma ponte móvel que descia em sua direção. O grandalhão virou para defender de um ataque de longa distância. Sua espada segurou duas flechas, mas um estalo alto e ecoante o enviou para trás.

    A placa de ferro no peito direito foi afundada para dentro. Gregoriano soltou um pequeno gemido, sem se abalar. Mas, seus olhos encontraram com o atirador.

    — Você!

    O homem sorriu escondendo seu sorriso por baixo de uma máscara com apenas o nariz e boca a mostra. Era de uma criatura diabólica. E mais ainda era o olhar dele. Essa mesma pessoa havia surgido cerca de dois anos atrás, quando ameaçaram o povo de Singapura.

    Agora, ele simplesmente havia retornado sem ao menos ter a vergonha ou determinação de enfrentá-lo no mano a mano. Um verdadeiro covarde que disparava contra os inimigos. Só mais um igual.

    — Ei, sai dai.

    Porto passou por ele, brandindo a machadinha e acertando dois outros. Antes de puxar sua arma da carne, ele encarou mais dois tentando chegar pela lateral. Um dos soldados usou correntes, se jogando por cima, e caindo na direção de Elise.

    Carpinteiro e ela ficaram assustados ao ver os soldados gargalhando. No momento seguinte, um jato de ar explodiu seu corpo e foi enviado de volta para os montes que brigavam para sair. Gregoriano observou Dante virar de voltar para a plataforma, mas ergueu a cabeça mais uma vez para o campo de batalha.

    — Consegue tomar conta disso? — sua perguntou pegou-o de surpresa.

    — O que vai fazer? O Glossário possuí alguns dos Mercenários mais perigosos. — Gregoriano brandiu a espada para frente. Os soldados recuaram com medo. — Não pode simplesmente ir lá. O último que tentou…

    Dante passou por ele, dando um tapinha em seu ombro.

    — Proteja eles. Já volto.

    Num salto rápido, ele se lançou para frente, fazendo um alvoroço entre os inimigos. Não era como os demais, nem mesmo igual ou parecido com alguém que Gregoriano tinha visto. Um velho que lutava como se estivesse no auge, sem ao menos balançar.

    O último golpe dele poderia quebrar mais do que apenas um portão, se fosse feito corretamente, cortaria um navio ao meio.

    A plataforma rangeu em suas costas. Todos subiram. Gregoriano recuou o primeiro passo, assistindo a luta de Dante tentando se aproximar do atirador. Depois mais um e outro, até subir completamente.

    — Não se preocupe. — Jack se jogou no chão, puxando a alavanca para baixo. — Ele volta.

    A plataforma começou a subir lentamente. Somente quando estavam na metade do caminho que suspiraram aliviados. Porto, Trahaus e Jack respiraram fundos. Os outros três o encararam como se fosse ridículo estarem tão confortáveis.

    Nem Gregoriano entendia a calma deles.

    — Como conseguem ficar tão calmos? — O Carpinteiro se aproximou de Jack, abaixando. — Por que continuam fazendo essas caras? Nós ainda estamos em perigo.

    — Se acalme — respondeu Trahaus. — Apenas… se acalme.

    A única que não fitava os três sentados era Elise. Sua atenção estava no grande homem usando a armadura. Aquelas placas de ferro erguidas, a espada larga, e também a postura. Alto e forte, como se lembrava dele.

    Mesmo estando em sua frente, ainda parecia uma miragem.

    — Como você… está vivo? — murmurou sozinha.

    Gregoriano sentiu o olhar e a confrontou de relance. Seu peito bateu mais rápido por baixo daquela proteção toda. Por anos, escondida bem diante dos seus olhos. A vergonha subiu seu peito, o obrigando a olhar para o lado.

    Eu poderia ter procurado mais, bem mais. Ela sempre…

    Seu pensamento foi interrompido quando a plataforma foi iluminada pela saída do alto. Jack levantou a cabeça, respirando fundo.

    — É areia. — Sua voz ganhou força mesmo que Carpinteiro reclamasse com Porto. — Ah, merda. E eu achando que não poderia piorar. Gregoriano, você ainda tem aquela habilidade ridícula de areia?

    — Como se eu pudesse não ter. O que foi?

    — É uma tempestade. Não está sentindo o cheiro?

    Na verdade, não. Gregoriano poderia ser um filho de Singapura, como chamavam, mas havia alto que algumas poucas pessoas poderiam ter ao nascer ali. E Jack era uma dessas pessoas. A sensibilidade a natureza isolante.

    Viver dentro de um monte de paredes de ferro poderia suprimir esse instinto. Mas, Jack foi pro mar. Ele não era mais um isolado.

    — O que deveríamos estar sentindo? — perguntou Trahaus.

    — É uma tempestade de areia. Não é uma boa notícia. Bom, pros nossos amigos. — Jack brandiu o braço levemente para Gregoriano. — A habilidade dele controla a areia. Vamos conseguir chegar sem problemas até o navio.

    Houve um estrondo vindo da base, no Segundo Anel. A plataforma balançou um pouco, mas continuou subindo. Carpinteiro e sua filha encararam os três membros do Nokia relaxados, sem ao menos se preocupar com o Capitão deles.

    — Não pergunte muito — disse Trahaus sentindo o olhar deles. — Não é algo que nós conseguiríamos explicar. É difícil.

    — Difícil quanto? — Gregoriano sentou-se, as placas de ferro balançando junto de suas pernas. — Me explique. Sabem quem é o Glossário? Sabem quem é o Bastardo? Esses dois são criaturas que não tem misericórdia.

    — Sabemos disso. — Jack o fitou de lado. — Bulianto morreu na nossa frente por causa do Bastardo. Nós sabemos do que ele é capaz. Você teme que o novo Capitão do Nokia não seja a altura, mas não se preocupe, o Comandante se mostrou muito articulado.

    Elise não estava ainda convencida.

    — Quais os feitos dele? Lembro que Bulianto teve uma enorme aprovação para se tornar o Capitão. Quanto ele teve?

    — Quanto? — Porto deu uma risada. — Nekop anunciou com todas as mãos levantadas. O Comandante Dante não teve nenhuma reprovação. Nenhuma.

    Nenhuma, os três ficaram um pouco alarmados. Carpinteiro sendo o mais chocado. Bulianto ganhou aquele navio, construído, mas seus pares foram contra seu título. O que forjou uma enorme batalha entre os tripulantes.

    Na época, eles simplesmente mostraram suas armas para Bulianto, e foram decapitados no navio. Depois disso, entre o respeito e o medo, o Capitão carregava o medo de seus tripulantes. Lembrava da história porque estava presente.

    Por algumas semanas, antes de voltar para casa, fez algumas reformas no navio, e sua filha esteve presente. Mas, foram muitos anos atrás, antes de qualquer problema se instaurar em Singapura. Nunca imaginou que Bulianto fosse ser morto depois de ter feito os espinhos serem jogados ao mar.

    O Bastardo não era um oponente fácil de lidar. Até quando se tornou aliado, alguns falavam dele. Uma habilidade e destreza beirando a perfeição, uma forma e determinação para chegar até o topo.

    Carpinteiro coçou os olhos, com a tristeza o envolvendo.

    Péssimas lembranças, pensou. Péssima hora.

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