Índice de Capítulo

    — Parece que o senhor tem um grande renome – disse Nano ao ver Dante segurar o garfo e esperar o prato. – Nunca ouvi falar do senhor. Seria Dante, correto? Sem sobrenome?

    Com os dois pratos sobrepostos na frente de Dante, ele concordou com um sorriso de lado.

    — Praticamente. Eu sempre me apresentava como Dante, Comandante da Capital. – Ele espetou um pequeno pedaço de carne e fez menção de colocar na boca, mas parou ao ver os demais o encarando. – Ah, perdão. Eu espero.

    Os demais foram servidos, mas assim que foram colocados os pratos na frente, Dante enfiou na boca a carne. Tinha um gosto rebuscado, um pouco queimado, mas era saborosa por esse feito. Os outros Capitães ficaram sem reação ao vê-lo comendo, mas começaram.

    Depois de alguns minutos, Kamitase limpou a boca e os encarou, esboçando um sorriso de lado.

    — Acredito que podemos começar nos apresentando. – Ele abaixou o pano, tentando parecer o mais honesto possível. Seu rosto tinha um tom mais claro e ele não parecia ser o mesmo que Dante tinha conhecido antes. – Sou Kamitase, conhecido como Convidado. Normalmente, sou chamado para como convidados para ser um anfitrião para figuras públicas e políticas em terra.

    — Nós o conhecemos bem, senhor – disse Otomendi Missuri com a taça na mão. Ele virou o rum de uma só vez. Quando abaixou, observou que Dante era o único que não tinha parado para ouvir. – Capitão Dante, o Convidado está falando.

    — E eu estou ouvindo. – Dante mordiscou outra carne assada e lambeu o garfo. – É uma ótima carne. Gostaria que desse parabéns para quem a fez. De onde eu veio, esse tipo de carne é bem escassa.

    Os meses em Kappz lhe deixaram um pouco escasso de carne de carneiro, de boi ou qualquer que fosse. E eles comiam no mar sem nenhum tipo de preocupação. Gostaria de saber de onde eles tiravam tantos mantimentos.

    — Eu entendo seu ponto – interveio Nuno Moria. – O senhor pode ter uma educação das terras fluviais, mas assim que o Convidado fala, nós devemos parar de comer.

    — Por que eu deveria fazer isso?

    A sobrancelha, ombros, as expressões, todas tensionaram em conflito para ele.

    — Por que? É um procedimento que devemos seguir como cortesia por termos sido convocados. – Os grossos dedos de Otomendi envolviam sua taça com mais força.

    Dante também observou aquilo com divertimento.

    — Se apertar mais isso ai, vai cortar sua mão. – E pegou a sua, levantando com certa graça e colocando na boca. Arfou e limpou a boca em seguida, dando uma risada. – Sabe o que eu acho? Que não fui convocado aqui.

    — Capitão Dante. – Kamitase levantou a mão. – Eu o convoquei para que…

    — De novo, essa palavra. ‘Convocar’. – A mesa foi alvo de suas batidas, o dedo tocando levemente. – Convocar é quando sou obrigado a vir. Uma cena muito clara de que necessito vir até aqui porque você quer e eu preciso vir. Não estou aqui porque você quer, estou aqui porque você precisa.

    Pela primeira vez na mesa, Filipinas Salles deu uma risada. Debaixo do seu chapéu, ela mostrou os olhos azuis e um sorriso torto, com os lábios cortados. Uma cicatriz que subia até perto do olho esquerdo.

    — Eu gostei disso. – Seu tom mais grave do que Dante achou que fosse. – Ele tem razão. Convocar é uma palavra nojenta. Não preciso estar aqui, mas você pediu que eu viesse, Kamitase. Explique-se ou vou sair.

    A boca de Kamitase tremulou, mas Dante agiu primeiro.

    — Não, isso não. Acha que pode desrespeitar ele assim sem mais nem menos, garota? – O velho sacudiu o dedo de um lado para o outro, negando. – Pode ficar bem sentadinha ai.

    Filipinas e Nuno ficaram sem reação ao ver o velhote apontando seu dedo.

    — Quem você acha que é, velhote?

    Otomendi levantou-se com ferocidade. Estava pronto para arremessar a taça. A reação de Kamitasse foi mais rápida. Levantou e esticou a mão, o impedindo até mesmo de se mover.

    — Por favor, preciso que todos vocês se acalmem.

    O garfo acertou a carne novamente.

    — Estou calmo. Eles quem parecem não saber boas maneiras. – Dante enfiou outro pedaço na boca.

    — Ora, seu filho da…

    Otomendi ia dar a volta, mas Nuno ficou de pé esticando a mão para ele. A Energia Cósmica brilhou em sua palma, um tom fosco e opressor, mas eram suficiente para deixar o grandalhão assustado. Ele recuou um passo, afastando o rosto para o lado.

    — Esse tipo de situação é inadmissível – afirmou Nuno. – Senhor Dante, por favor, nós estamos aqui para ouvir a proposta de Kamitase. Ele veio falar de negócios, e solicitou o senhor por alguns motivos, mas nenhum deles foi o seu nome.

    — É exatamente isso – Otomenti berrou. – Sua estadia aqui se dá por conta do navio, o mesmo navio que foi de um homem respeitado. Um homem que sabia as boas maneiras, conhecia os melhores homens e fazia os melhores acordos.

    — Está morto.

    Eles pararam ao ver Dante dar mais uma garfada. O próprio Dante deu uma risada quando viu as batatas caindo de volta no prato.

    — O quê? – Kamitase ficou boquiaberto. – Como consegue ser tão…

    — Direto?

    Dante os viu se calarem juntos. Ao abaixar o garfo, limpou a mão e boca com o pano e ajeitou sua postura.

    — Por que sou tão direto? Um homem honrado morreu. Tinha os melhores acordos, os melhores homens, uma bela embarcação – e fez menção ao navio atrás de si. – E morreu, como pode acontecer com todos os homens. Não importa se fez algo incrível, você não leva nada disso para o outro lado. Querem que eu seja educado? Por que?

    Ele fez uma pausa para que fosse respondida. Apenas Filipinas Salles teve a coragem.

    — Não é educação que é esperada, é o respeito por ter sido chamado. – E seu olhar cruzou com o de Kamitase. – Não convocado. Eu concordo com o velhote. Estive fazendo minha parte nos negócios a Oeste, mas ninguém foi me ajudar quando precisei. Eu enviei uma mensagem para vocês dois, tanto Nuno quanto você, Convidado.

    — Longe demais para ir – respondeu Nuno, seco, balançando sua taça. – Queria que meu navio entrasse numa batalha contra o Rei do Oeste só por causa de alguns armazéns de mantimentos? Esquece, garota. Nem que fosse a última coisa a se fazer.

    Kamitase também oscilou ao responder.

    — Não era como se eu pudesse mover as pessoas, Filipinas. Existe uma forma de chegar até onde você quer, mas nenhuma delas é boa de verdade, sendo honesto. Teríamos que cruzar metade de uma área só pra poder te encontrar.

    As respostas não agradaram a mulher. Suas cicatrizes pareceu dançar sobre seu rosto quando forçou uma expressão raivosa.

    — Covardes. – E repetiu com mais força: — Covardes miseráveis. Querem tirar o Rei do Oeste daquele lado, mas nenhum de vocês fez nada nesses últimos meses. E você, velhote, também é um fracote como esses caras?

    Dante respirou fundo e balançou a cabeça.

    — Antes de te responder, garota. – Ele esticou a espada da cintura. A lâmina subiu rapidamente, travando bem na garganta dela, parando por um centímetro, mas a fazendo tremer um pouco. – Não gosto da forma como fala de mim. Se não quer perder sua cabeça, espero que possa falar de forma adequada comigo. Não sou como seus colegas presentes que aceitam as ofensas. Eu tenho um objetivo, uma missão, e se você ou eles virarem um problema, farei com que vocês sejam carregados para junto do Bulianto.

    Filipina recuou o pescoço. Os outros Capitães também tiveram um pequeno vislumbre da capacidade de Dante. Não só sua forma de falar, mas sua habilidade. Foi veloz demais, tocando o pescoço dela sem ao menos ter resistência.

    E ele não hesitou.

    No outro canto, Gaster deu uma risada fraca ao ver o homem.

    — O que acha, Reinal? Essa é uma reunião completamente diferente do que estamos acostumados a ver, não acha?

    — Você está maluco. Só pode estar. – O suor escorria da testa de Reinal. Nem mesmo segurar a taça ele conseguia direito. – Você não faz ideia de quem é aquele cara ali, não é?

    — E eu deveria?

    — Merda, Gaster. – Reinal o segurou pela manga do terno. – Aquele velho é o cara que matou os homens do Duncan. Aquele que lemos no jornal. É esse velhote. Não entendeu? – Gaster ficou um pouco assustado. Reinal continuou: — Se ele quiser, pode matar todo mundo aqui e nada vai acontecer. Olha o navio.

    Gaster o fez.

    — Cada canhão está mirado para cá. Cada um dos miseráveis está mirando no navio do Convidado. Ele só precisa dar a ordem, e nós seremos enviados para conhecer nossos antepassados.

    A cada movimento de olhos, Gaster fazia a contagem de quantos canhões pareciam mirados na direção deles, todos inclinados para a posição da mesa. E não somente, ele focou um pouco mais, observando vultos passando entre as escotilhas.

    Estavam realmente esperando uma ordem.

    — Merda. – Os dois engoliram em seco e encararam o Capitão Dante. O velho parecia ter ouvido os dois conversando, porque os fitava de longe, sem preocupação alguma. E quando ele ergueu a taça, os saudando, ambos tiveram as espinhas corrompidas por um vento gélido e mortal. – Ele pode nos matar a qualquer momento.

    — Como fez com aqueles navios. – Reinal não conseguia tirar os olhos dele. – Deus tenha piedade de nós se um deles falarem algo que o desrespeite.

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