Índice de Capítulo

    — Eu não gosto dele — disse Otomendi para Kamitase.

    Ainda estavam no navio. O Capitão Dante tinha saído fazia cerca de dez minutos. Os demais ficaram sentados. Gaster, no entanto, solicitou que sentasse na mesma mesa que eles, sendo saudado por eles.

    — Ninguém gosta de ninguém no oceano — disse Nuno. — O que temos que fazer é se a ajuda dele com o Nokia vai ser realmente importante ou podemos descartar. Convidado, o que você acha?

    — Mesmo que eu não goste, Nokia tem um fundamento muito bom no mar. Ele é antigo, respeitoso e também mostra a história do antigo Rei. — Mesmo detestando a ideia, precisava dele. — Dante pode ser um homem teimoso e bem impaciente, como vimos, mas ele é o Capitão do navio.

    — Usem ele.

    Gaster disse o que ninguém queria. Ele manteve a postura de um homem de negócios, mas respirou fundo separando os pedaços de carne de seu prato.

    — Usar um homem que tem um navio poderoso?

    — Deveriam ser inteligentes ao verem um homem que quer algo que todos nós queremos. — Gaster levantou o olhar, mostrando um olhar quente, determinado. — Se ele quer tanto, então, faremos com que ele pegue para nós e quando virar de costas, nós o usamos.

    — E como faríamos isso? — perguntou Filipinas Salles. — Não viu o que ele pode fazer?

    Parecia que o pescoço dela ainda tinha uma lâmina erguida. Kamitase e os outros também sentiam a pressão causada por ele. Um peso estranho que caiu sobre seus ombros.

    — Estão vendo essa situação muito diferente do que ela é. Essa é uma corrida contra o tempo, mas precisamos saber exatamente onde precisamos ir. Otomendi Missuri conseguiu o contato de um homem que pode nos levar até a última localização. Nuno Moria conhece a Rota D’água melhor do que todos nós e conseguimos chegar na metade do tempo. Filipinas conhece cada uma das ilhas e também dos lugares onde o Rei do Oeste pode estocar suprimentos. Se nós usarmos o nome do novo Capitão do Nokia para ser nosso chamariz, não precisamos nos preocupar.

    — Vai usá-lo como a cabeça enquanto nós faremos tudo?

    — Não sei se sabem, mas eu ouvi ultimamente que o Capitão Dante atacou cerca de três navios de Duncan Reborn. Ele pode até ter salvo alguns comerciantes, mas fez alguns inimigos poderosos. — Gaster mostrou um sorriso. — O Bastardo, o Glossário, Duncan Reborn e agora o Rei do Oeste. Dante vai ter todos esses inimigos enquanto nós apenas navegaremos para pegar a Pedra Solar. Alias, essa reunião era justamente para decidir o que fazer com ela, não é?


    Dante caminhava no corredor e parou. A falta de luz e também seus pensamentos foram nublados por estar naquele lugar. Nenhum daqueles Capitães eram confiáveis, então, por que deveria ser tão honesto quanto suas ações?

    As portas que seguiam pelo corredor se abriram todas juntas. Os tripulantes do Nokia esperavam, ansiosos, preocupados, mas nenhum deles tinha conflito em seus rostos. Essa sensação de confiança, Bulianto também tinha?

    — Parece que nossos novos amigos não gostaram muito da gente. — E um sorriso começou a se mostrar, mas Dante deu de ombros. — Não é como se fossemos os melhores do mundo.

    — Eles nunca gostaram da gente — ouviu de um Curandeiro. — Kamitase sempre quis um lugar ao lado do antigo Rei, senhor. Ele não vai aceitar seu pedido.

    — Isso mesmo. — Um dos Técnicos brandiu da outra porta. — Já ouvi que eles sempre tentaram sabotar planos dos outros Capitães de Frota justamente porque não conseguiram um lugar, Capitão. Não podemos confiar neles.

    Nekop saiu de uma das portas com Miatamo em suas costas. O Anão carregava seu caderno, e fitou seus companheiros ao redor.

    — Nem um pouco. Kamitase pode ser um lunático, mas aqueles homens lá não são apenas idiotas, são idiotas com centenas de pessoas os segurando, prontos para lutarem ao lado deles. Nós não temos como lutar sem Capitães de Frota, senhor. Precisamos agir com cautela.

    Dante abaixou e sentou-se no chão. Os demais foram fazendo o mesmo. Alguns, como Porto e Trahaus, ficaram de pé, bem distante dele, do outro lado do corredor.

    — Agir com cautela nos deu uma fama que nem todos aprovaram. Os jornais nos dizem ser piratas, mas não somos apenas isso, somos sobreviventes além do que um dia poderíamos dizer. Existem homens que morreram por nossa causa, mas eu sempre me pergunto, o que estamos procurando?

    Nekop ficou sem dizer nada, ninguém entendeu realmente a pergunta.

    — O que nós estamos procurando nesse oceano, senhores? — Dante perguntou de novo. — O que vocês querem de verdade? É lutar ou nos firmamos?

    — Nós queremos vingança.

    Egiss saiu do portal de um dos cômodos e mostrou sua face.

    — Eu quero vingança pelo que fizeram a todos nós. O Bastardo nos traiu, o Glossário quer nossa cabeça. Aqueles capitães claramente não vão querer se aliar a nós. — Ele brandiu o braço, irritado. — O que eu procuro é me vingar de todos eles.

    Dante não se afobou e olhou ao redor.

    — É o que vocês querem de verdade?

    Trahaus ergueu a mão, ainda afastada ao lado de Porto.

    — Eu quero poder conhecer o Fim do Mundo.

    — Sempre quis conhecer as Terras Fluviais.

    Tantos pedidos. Tantas vontades. Dante se encheu de orgulho ao ver que esses homens poderiam contar com ele. Ouviu tantos deles falando, tantos deles conversando entre si sobre seus sonhos. Eles estavam no oceano, mas não para serem guiados para a morte.

    Depois de praticamente cinco minutos, eles respiraram fundos.

    Foi quando Nekop ergueu a mão para Dante.

    — O senhor, Capitão, o que você quer?

    — Gosto daqui, mas minha casa nunca foi o mar. Eu quero poder voltar para o lugar onde meu coração está. Antes de vir parar aqui, eu estava em Kappz, o Berço da Criação, mas vim da Capital, um lugar longe demais. Eu gostaria de voltar para quem meu coração pertence, mas antes de ir, preciso fazer com que todos vocês possam realizar os seus sonhos. Quanto tempo levaria para concretizar isso tudo? Não posso…

    — Pouco tempo… se nós o ajudarmos.

    A resposta veio de Miatamo, direto, sem hesitação. Ele continuava olhando Dante nos olhos, como se quisesse enxergar mais fundo do que palavras permitiam. Apesar de já ter sido um dos mais críticos em relação à forma como o Nokia era conduzido, seu rosto agora não carregava mágoa nem frustração. Era o mesmo semblante sereno e atento do dia em que Dante o conhecera.

    — Nós servíamos ao Bulianto porque ele prometeu nos proteger dos horrores do continente. E ele cumpriu essa promessa por muito tempo. Agora, o senhor nos oferece algo diferente. Promete nos conduzir até onde nossos desejos mais profundos possam ser alcançados.

    Fez uma breve pausa. Não parecia buscar palavras, mas sim pesar o que dizia com a exatidão de um ferreiro moldando uma lâmina.

    — Eu, pessoalmente, não me importo se o meu desejo nunca se realizar. Não é por isso que continuo aqui. — Ele inclinou levemente a cabeça, em respeito. — O que importa é que o senhor assumiu esse posto, mesmo quando poderia ter recusado. Mesmo quando o mais lógico seria ir embora.

    — Não me arrependo disso — disse Dante, firme, sem alterar o tom.

    Miato assentiu.

    — Justamente por isso… não posso me dar o luxo de ficar irritado ou frustrado quando as coisas não saem como espero. — Ele levou a mão ao peito, um gesto antigo entre os tripulantes, carregado de respeito e lealdade. — Seja como fantasma, guerreiro ou apenas um sobrevivente… eu não quero viver preso aos mesmos pesadelos de sempre.

    Ergueu o olhar com convicção.

    — O senhor consertou este navio. Trouxe suprimentos quando todos acreditavam que iríamos afundar. Fez deste lugar algo mais que um abrigo, fez dele um lar. Por isso, Capitão… nenhum de nós aqui tem o direito de questionar seus métodos. Não depois de tudo.

    “O respeito era uma arma adequada para levar os homens a morte acreditando em seus corações”, já tinha ouvido essa frase antes. Quem tinha escrito não poderia ou nunca teve homens com aqueles olhares determinados, prontos para ir adiante.

    Nunca poderia os enviar para a morte por ele. Nem esses homens nem aqueles que viriam depois dele.

    — Nekop. — Dante quebrou o silêncio. — Nós vamos atrás dos Capitães de Frota antes de nos juntarmos para pegar a Pedra Solar. Liste o que vamos precisar antes de irmos, e vamos em frente. Não importa se eles estão longe demais, nós vamos trazê-los de volta.

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