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    — Quem é você? — rosnou Dante, os olhos varrendo cada detalhe daquele sujeito. A voz saiu tensa, como se buscasse firmeza no meio da tempestade. O homem usava uma roupa escura, de tecido denso, forrada de camadas táticas. Mas o que mais chamava atenção era o símbolo cravado em seu peito. Um emblema estranho, intrincado, que se movia discretamente como se estivesse vivo. — Capital… — Dante murmurou, os olhos estreitando. — Você é da Capital?

    O homem deu uma gargalhada larga, sem se importar com o caos ao redor. O som ecoou pelo vento como se zombasse das ondas e dos trovões.

    — Podemos conversar depois, — respondeu ele, girando o pescoço como quem se preparava para a batalha. — Agora, precisamos destruir essa onda.

    Dante se virou, e o que viu o fez prender a respiração.

    A parede de água se erguia como uma muralha viva, imensa e ameaçadora, já alcançando quase o céu — a espuma fervilhava no topo, e o próprio ar parecia fugir do caminho daquela massa líquida. A luz solar era engolida a cada metro, afogada no azul cada vez mais escuro. Não era apenas uma onda. Era uma sentença.

    Por um segundo, Dante sorriu. Um riso curto, surpreso, quase nostálgico.

    Não era possível… A Capital, aqui, deste lado do mar? Podia ser?

    — Capitão! — a voz de Nekop cortou o devaneio, forçando todos a se virarem. — Os outros navios estão mirando em nós! Precisamos nos defender!

    Dante puxou a espada com um estalo metálico, o braço firme, os olhos voltando a queimar. Virou-se de novo para o estranho.

    — Consegue proteger aquele lado?

    O homem sorriu com os dentes.

    — Consegue destruir essa onda?

    Dante soltou uma risada contida. Por um instante, sentiu-se de volta àqueles dias distantes, quando enfrentava os Oficiais nos becos abafados da Capital. Aquela tensão no ar. O mesmo cheiro de metal queimado e adrenalina. O mesmo silêncio entre o caos. Era como estar de volta… entre os seus. Mesmo que por pouco tempo.

    O homem deu-lhe as costas e estendeu o braço. Uma lança apareceu em sua mão com um clarão pálido, surgindo como se sempre tivesse estado ali. Ele a girou com precisão, encaixando-a sobre os ombros como quem venera e domina a arma ao mesmo tempo.

    — Homens! — bradou, a voz grave se espalhando como um trovão firme. — Defesa, nada diplomática. Agora este navio é o nosso. Vamos em frente!

    Os soldados de branco se ergueram de uma só vez. Seus movimentos sincronizados, frios, calculados — como máquinas de guerra recém-ativadas. Em poucos segundos, estavam armados, e sem hesitar, saltaram rumo à borda do navio, correndo direto na direção do mar.

    Foi então que o céu se acendeu.

    Uma dúzia de disparos cruzou o espaço entre os navios. Energia Cósmica brilhou em feixes multicoloridos, acompanhada de habilidades elementares — relâmpagos, labaredas, lâminas de vento. A lacuna entre os conveses virou um campo de batalha aérea… mas todos os soldados já haviam pulado, como se antecipassem cada movimento inimigo. Nenhum foi atingido.

    Dante voltou-se para frente.

    A onda agora alcançava quase cem metros de altura. Era uma parede colossal de água e escuridão, avançando com força destrutiva. A luz do sol não conseguia mais perfurar aquela massa — como se o oceano tivesse decidido engolir tudo, silenciosa e cruelmente.

    — Não tem como… — murmurou Trahaus, de boca aberta, a voz abafada pelos pingos de chuva que já começavam a cair, lentos, pesados, tocando os rostos como dedos frios.

    Dante sentiu algo dentro de si se reacomodar. Seus lábios se curvaram, não em loucura, mas em instinto — uma lembrança antiga voltando à tona. Algo despertava em seu corpo. Uma voz silenciosa o chamava para frente, direto contra a onda, como se ele fosse parte de algo maior.

    Que tipo de força poderia se levantar contra a própria natureza?

    “Redução de Maldições. Recebendo Energia Cósmica da Fonte Mundo Espelhado. Iniciando bateria. Calculando porcentagens. Uso de Energia Cósmica liberado em… 15%.”

    A mensagem reverberou dentro de sua mente, clara como um comando de dentro de um sistema que ele mal sabia existir — mas que reconhecia como parte de si.

    Dante arregalou os olhos. Abriu a boca.

    — Vick?! — gritou.

    “Dante, recobrando sentidos. Nada de impulsos. Tempo limitado enquanto estiver dentro do Mundo Espelhado. Uso de Habilidades liberado”.

    Trahaus, Miatamo, Guaca e Porto congelaram por um momento. Todos ouviram — não com os ouvidos, mas dentro da mente. Uma voz antiga, familiar e distante, como se estivesse chamando por Dante através de memórias esquecidas. Chamando-o não como um estranho, mas como um velho conhecido, como alguém que finalmente retornava ao seu lugar.

    Dante esticou o braço devagar, sentindo uma pulsação quente e viva ao seu redor. A Energia Cósmica começou a se condensar em espirais suaves, girando ao redor de seu corpo com uma tonalidade violeta profunda, viva, quase líquida. Seus dedos formigaram ao tocar a corrente invisível que o envolvia.

    — Eu… posso usar isso? — murmurou, mais para si do que para os outros.

    A lâmina em sua mão reagiu de imediato. Um som metálico ecoou quando ele apertou o punho, e a pressão ao seu redor explodiu para fora, como uma esfera invisível de poder. A Energia começou a se moldar em torno de seu corpo — uma armadura espectral surgindo, placas translúcidas se encaixando como peças de vidro e aço, vibrando em silêncio.

    “Tempo limite: até o Mundo Espelhado colapsar. Iniciarei a análise completa de todas as composições absorvidas. Por favor…”

    A voz da IA, calma e distante, ecoou como um canto digital em sua mente.

    — A onda, Dante! — Guaca gritou, puxando-o de volta à realidade.

    E então, ela tombou.

    A parede de água despencou do céu como um monólito líquido, engolindo a luz e trazendo consigo o peso do próprio oceano. O ar ao redor de Dante se curvou com a pressão. O casco do Nokia gemeu como se estivesse prestes a se partir, e um estalo poderoso sacudiu o convés sob seus pés.

    Dante ergueu o braço.

    Foi um gesto rápido, quase automático, como se seu corpo soubesse o que fazer mesmo antes dele ordenar. A lâmina subiu zunindo, deixando um rastro de energia cintilante no ar — mas no meio do trajeto, trincou. Um fio tênue, quase imperceptível, correu pela extensão da arma.

    Todos prenderam a respiração.

    A onda estava a segundos de esmagá-los. Mas então… ela parou.

    Não era possível, e mesmo assim aconteceu.

    — Faz tanto tempo… que eu não consegui me conter, Vick. — murmurou Dante, a voz profunda reverberando entre eles. — Ataque em… 10%.

    O ar implodiu.

    Uma onda de choque invisível sacudiu o Nokia, afundando seu casco quase dois metros na água. O rugido ensurdecedor da tempestade cessou por um momento, como se o próprio tempo tivesse prendido a respiração. Dentro do Mundo Espelhado, formou-se uma bolha de silêncio — uma paz artificial e sinistra. E então… a explosão.

    A energia liberada foi como o impacto de um cometa. A onda colossal foi lançada para cima, como se uma mão invisível a tivesse agarrado e arremessado para os céus. Um vórtice se abriu bem no centro, criando um tornado de água ascendente. As correntes se dobravam, puxando a força da natureza para dentro da escuridão do mundo espelhado, como se fossem engolidas por um abismo.

    Dante abaixou o braço, o suor escorrendo em seu rosto, sentindo o esgotamento invadir cada centímetro do corpo. A energia o deixava com violência, sugando seu vigor. Seus dedos entortaram, o braço estremeceu. A dor não veio como um impacto, mas como um maremoto interno, quebrando tudo de dentro para fora.

    “Corpo inadequado para utilização de Energia Cósmica acima de… 1%.”

    Ele ofegou. Seu corpo vacilou. E naquele instante, mesmo sem palavras, todos entenderam — ele havia ultrapassado o limite. De novo.

    Nekop ficou paralisado, os olhos arregalados.

    Mas o perigo ainda não tinha passado.

    A água arremessada aos céus agora descia em milhões de gotas. Mas não eram simples gotas — eram espinhos cristalizados, afiadas como agulhas translúcidas, cada uma refletindo a luz como pequenos espelhos de morte.

    — Desviem! Se escondam! — Dante berrou, mas sua voz saiu fraca.

    As gotas começaram a cair em velocidades absurdas, perfurando o ar. Espinhos prateados, chuva assassina.

    — Alguém pegue o capitão! — gritou uma voz. Foi Guaca.

    Sem pensar, o homem abriu os braços, o corpo todo se enrijecendo com a força do impulso.

    Ele puxou o ar com violência para os pulmões, como se sugasse o próprio mundo.

    — Canto de Liberdade! — bradou com força.

    Uma onda sonora reverberou do centro de seu peito, criando uma barreira invisível, um escudo de vibração que se espalhou pelo convés como uma muralha viva, tentando proteger Dante e os que estavam próximos da chuva cristalizada.

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