Índice de Capítulo

    O ar ao redor de Miatamo começou a zumbir. A Energia Cósmica dourada se concentrou nas palmas de suas mãos, correndo pelos braços como relâmpagos vivos. Seus pés afundaram levemente no convés do Nokia, e seus olhos, antes divertidos, agora brilhavam com pura seriedade.

    Dante fechou os olhos por um segundo, respirando fundo, sentindo o mundo desacelerar por um instante. O cheiro da madeira molhada, da pólvora queimada, do sangue no vento. E então, ele os abriu de novo, olhos de um guerreiro que já morreu antes e voltou só para terminar o que começou.

    — Vamos lá, Miatamo. — ele disse, quase em sussurro. — Me joga como se não houvesse volta.

    — Se errar, eu vou com você pro inferno. — ele respondeu.

    Com um estalo seco, Miatamo girou sobre si mesmo e soltou um rugido, liberando a força concentrada em seus braços. Dante foi lançado como um projétil, rasgando o ar com um estrondo que ecoou pelos céus do Mundo Espelhado. Atrás dele, o Nokia pareceu tremer com a força do lançamento.

    Atravessou o espaço entre os navios como uma flecha viva, a capa esvoaçando, os cabelos brancos açoitados pelo vento. A pressão do voo fazia seus músculos gritarem, mas ele não piscou. Lá à frente, o navio onde os soldados da Capital lutavam já estava à vista — um campo de batalha sobre o mar.

    Explosões. Luzes de Energia Cósmica. Gritos.

    Ele girou no ar, trazendo a espada rachada para perto do corpo. Assim que pousou no convés, o impacto estalou como um trovão: o chão quebrou sob seus pés, jogando destroços para cima e abrindo uma pequena cratera onde aterrissou. Vários soldados foram arremessados para trás, e por um instante, todos pararam para encará-lo.

    Dante ergueu o rosto em meio à poeira. A armadura de energia ainda pulsava fraca sobre seu corpo, fragmentada. Seu peito subia e descia, e a espada em sua mão ameaçava desmanchar.

    Mas ele sorriu.

    — Tem espaço para mais um nessa brincadeira? — a voz dele cortou como lâmina afiada. — Porque eu fico honrado de lutar ao lado dos homens da Capital.

    O homem do tapa-olho apareceu entre a fumaça, descendo um inimigo com um soco devastador.

    — Você é completamente maluco. — ele riu, ofegante, com sangue escorrendo do queixo. — Mas que bom que está aqui. Parece que temos um problema maior do que eu pensei.

    Eram os inimigos. Eles vestiam roupas completamente diferente de tudo o que Dante tinha visto. Eram vermelhas, com lapsos bordados e negros, alguns vestiam roupas mais largas, com espadas escondidas atrás do braço e mantas cobrindo seus rostos.

    Eles pairavam nos níveis mais altos, olhando para o novo chegado.

    Os soldados de branco, mesmo exaustos, se reagruparam ao redor dele. Um deles gritou:

    — Eles nos superam em número!

    — Desde quando a Capital ficou desse jeito? — Dante rosnou, disparando para frente antes mesmo que alguém respondesse.

    Um inimigo, veloz e com olhos que ardiam em vermelho, surgiu no caminho como uma flecha viva. Ele girou a espada pela esquerda, criando um brilho cortante no ar. O choque entre os dois foi instantâneo — faíscas explodiram quando as lâminas colidiram no ar, travadas com violência.

    Dante prendeu o pé no chão e empurrou, girando o corpo. Fingiu um soco com o braço esquerdo, mirando o flanco do oponente, mas o homem não caiu na armadilha. Ao contrário, recuou num salto ágil… só para ser atingido por uma rajada invisível de ar, disparada no mesmo ângulo da finta. A pressão o arremessou para trás.

    Antes mesmo que o inimigo entendesse o que o atingira, Dante já havia avançado. A espada, apesar das rachaduras, desceu com precisão implacável. Um corte limpo atravessou o capacete, o rosto e a espinha. A cabeça do homem se separou com um estalo surdo — e no mesmo instante, o corpo inteiro se fragmentou em dezenas de cacos espelhados, esfarelando como vidro em meio ao ar pesado do Mundo Espelhado.

    Dante respirou fundo e girou o pescoço, olhando rapidamente para o Nokia, como se quisesse confirmar algo.

    Lá, no convés, uma figura se materializou entre faíscas. Era o mesmo homem. As mesmas roupas. Sem ferimentos. Seu corpo caiu desajeitado sobre a madeira do navio, como um boneco sem alma.

    — Ah… então é assim? — murmurou Dante, franzindo o cenho.

    Ele elevou a voz, mirando os olhos de um dos comandantes do outro lado do convés.

    — Ei, Comandante! Eu sou Dante da Capital! — o tom carregava raiva e peso. — Antes disso aqui acabar, você vai responder às minhas perguntas! Está entendendo?!

    Mas não houve resposta.

    No instante seguinte, um jato de chamas azuis irrompeu do flanco do navio inimigo, cobrindo Dante por inteiro. As labaredas rugiram como bestas, o engolindo de corpo inteiro. O calor distorceu o ar, e a madeira ao redor começou a rachar.

    Porém, em meio à dança do fogo, um movimento.

    Com um giro de braços, Dante redirecionou as chamas. Elas giraram como um redemoinho ao redor de si e se lançaram de volta ao ponto de origem. Quando as brasas se dissiparam, ele ainda estava de pé — os olhos faiscando, a energia em torno de seu corpo oscilando entre tons púrpura e dourado.

    — Você também me deve respostas, — ele rosnou.

    Uma nova figura apareceu por entre a fumaça.

    Alto. Ombros largos. Olhos fundos. Usava um traje da Capital de modelo antigo, mas limpo, reforçado com placas. Seu rosto parecia ter sido moldado pelo tempo — não por rugas, mas por cicatrizes que não cicatrizavam de verdade. Uma lança se projetava de sua mão como se tivesse vida própria.

    — Alias, — disse ele com naturalidade. — Me chamo Humber Jovenick.

    Num movimento quase imperceptível, sua lança se esticou como um chicote e atravessou o peito de um inimigo de preto. No segundo seguinte, ele desapareceu num borrão e reapareceu atrás de outro, golpeando-o no pescoço com precisão militar. O corpo caiu aos pés dos soldados da Capital e desapareceu em seguida.

    Dante sequer piscou.

    Em resposta à brutalidade de Humber, os soldados da Capital gritaram e avançaram, como se a própria presença dele fosse um estandarte. A batalha explodiu de vez. Raios, fogo, vento e luz giravam no convés como uma tempestade presa num lugar pequeno demais.

    O navio começou a ranger sob a pressão. Faíscas corriam pelas rachaduras da estrutura. Era como lutar sobre um barril de pólvora aceso.

    E ainda assim, eles não recuavam.

    Na mente de Dante, a voz da IA surgiu firme:

    “Relatório: Humber Jovenick. Considerado desaparecido há vinte anos dos registros oficiais da Capital.”

    — Esse cara — Dante murmurou, estreitando os olhos.

    Humber lutava como um verdadeiro guerreiro, usando sua habilidade de esticar a arma para golpear e ferir os inimigos, e quando ele simplesmente gargalhava, Dante recobrava de alguns poucos dias que se manteve na Capital.

    Esse homem, por algum motivo, tinha as respostas. E queria descobrir o quanto antes.

    Por isso, Dante não podia se dar o luxo de perder. Precisava mostrar, acima de tudo, que ele era um dos soldados da Capital, do seu lar.

    A Energia Cósmica bombeou em sua pele, expelindo para todos os cantos, e ele inclinou-se para frente, como um animal pronto para dar o bote. E antes do inimigo se dar conta, a espada havia o fatiado.

    Não precisa ligar para matá-los. Eles caíam no Nokia, sem entender nada, mas sabendo que precisavam defender o navio que agora era dono deles. Pra isso, Dante forçou mais uma vez sua Energia Cósmica até o pulso.

    — “Montanha que Corta os Céus”.

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