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    Humber deu um passo à frente, o som das botas ecoando no convés, até parar ao lado de Dante. Ele olhou para o horizonte, onde o navio inimigo se ajustava, como uma fera se preparando para morder.

    — Sabe que eu vou me juntar a essa briga, né? — disse, com aquele sorriso torto, mais leve do que as palavras pesadas que viriam depois. — Mas se eu entrar nessa… você vai ter que tirar todos nós daqui com vida.

    Dante não respondeu de imediato. Apenas o encarou, firme. Mas os olhos dele diziam: “Eu já tinha me comprometido com isso”.

    Atrás deles, passos firmes ecoaram. Kefiane parou ao lado dos dois, tirando os cabelos loiros do rosto com um movimento brusco da cabeça. O olhar dela era decidido, mas havia um toque de amargura, como se cada palavra tivesse um peso acumulado ao longo dos anos.

    — Eu também não vou ficar parada. Fui derrotada, sim, mas ainda tenho minhas forças — ela disse, com a voz firme, sem vacilar. — Não pretendo morrer nesse inferno. Já esperei tempo demais por uma saída. Se lutar ao lado de vocês for a única forma de escapar… então que seja.

    Humber arqueou uma sobrancelha, olhando para ela de lado.

    — Tá me dizendo que vai obedecer ordens?

    — Não se empolgue. Só até a gente sair daqui — ela respondeu, com um meio sorriso. — Depois disso, talvez eu mesma queira matar vocês.

    Dante soltou uma leve risada e puxou a espada das costas, girando o pulso como se fosse o gesto mais natural do mundo. O vento soprou mais forte. O navio inimigo já se alinhava, prestes a disparar. E o mar, lá embaixo, ainda fervilhava com algo desconhecido.

    — Então vamos fazer valer essa aliança. Porque se cairmos aqui, não vai ser por falta de vontade.

    Ele girou o corpo e ergueu a espada acima da cabeça.

    — Tripulação! Armem-se! Essa pode ser nossa última batalha nesse maldito mundo — gritou, e sua voz cortou o ar como trovão. — Mas se for, que seja lutando juntos!

    Um grito de guerra explodiu do convés. Os soldados da Capital batiam lanças contra o chão. A Vanguarda ajustava suas armas. Os guerreiros de Yieno batiam os punhos no peito, e até os tripulantes do Nokia, hesitantes no início, agora gritavam em uníssono.

    — Então, se vocês vão estar comigo, então, vamos lidar com essas coisas como se fosse a nossa única missão. — Dante apontou para o outro navio que não tinha sido destruído pela criatura. — Primeiro, nós vamos lidar com eles. Depois, com aquela criatura. Vocês dois, peguem a minha Vanguarda e se jogam no meio daquele navio agora.

    — E o da criatura? — perguntou Humber.

    Dante ergueu a cabeça e respirou fundo.

    — Eu vou tomar conta disso. Alguém, me traga uma arma agora.

    Thelia veio ao seu lado. Ela esticou uma espada lisa, uma parecida com o que ele usara até aquele momento. Deixou a quebrada cair e guardou a nova na cintura.

    — Homens, é agora. Não existe volta. Tecnicos, quero o disparo concentrado, mas usem tudo o que tiverem para colocar esse navio para frente. Não importa o que estiver na nossa frente, não importa quem está vindo pelas nossas costas, nós seguiremos em frente. — Dante bateu o pé no convés e ele estremeceu. — Agora!

    A ordem de Dante se espalhou pelo convés como um raio. Humber girou a lança em um movimento amplo, criando um redemoinho de vento à sua volta. Mas, não tinha sua própria habilidade, mas sim um dos soldados.

    De repente, todos os soldados receberam esse mesmo contorno do vento, balançando ao redor deles, os levando. Dante ficou impressionado; a precisão da habilidade era tão único que nenhum dos que recebeu tinha instabilidade.

    — Vamos acabar com isso rápido! — gritou Humber, antes de se lançar pela lateral do Nokia, seguido por quatro membros da Vanguarda.

    Kefiane saltou logo em seguida, seus cabelos loiros chicoteando com o vento. Atrás dela, os guerreiros de Yieno se jogaram com destreza, alguns cravando lâminas nas cordas para deslizarem até o outro navio. Era como uma tempestade viva se aproximando, uma colisão inevitável.

    O navio inimigo viu o ataque chegando. Gritos de alerta ecoaram, tambores começaram a rufar. Arqueiros se posicionaram nas bordas, e escudos foram erguidos com pressa. Mas o impacto foi brutal.

    Humber caiu como um meteoro no convés, a lança abrindo caminho em linha reta por entre os primeiros guardas, empurrando os corpos para o chão como peças de dominó. Ele girou a arma com uma mão e empurrou com a outra, abrindo espaço para que os demais desembarcassem ao seu redor.

    — Limpem tudo! — rugiu.

    Kefiane desembainhou suas foices curtas, girando os braços em movimentos circulares, elegantes e letais. Ela deslizou entre os inimigos, como se dançasse sobre o convés. Cada passo era preciso, cada golpe abria uma nova brecha.

    — Avancem até o comando! Quero o capitão deles ajoelhado! — berrou ela.

    Enquanto isso, a Vanguarda agia com tática e precisão. Um dos soldados fez sinal, e cordas voaram para prender o navio inimigo ao Nokia, facilitando o acesso de mais combatentes. Outros jogaram bombas de fumaça para cortar a linha de visão dos arqueiros. Os soldados da Capital, embora recém-chegados, se espalhavam com disciplina. Era uma operação orquestrada.

    Lá de cima, no Nokia, Dante observava tudo com atenção. Suas mãos apertavam com força o cabo da nova espada.

    — Eles estão segurando bem — disse Thelia, ao seu lado, os olhos atentos. — Acredito que vão conseguir lidar sozinho com tudo aqui, Capitão.

    Dante não respondeu. Estava com o olhar fixo no centro do outro navio inimigo, onde uma figura alta, com um manto de escamas azuis e prateadas, surgiu entre os guerreiros derrotados. Trazia um cajado de marfim com cristais pulsando em verde.

    O homem ergueu o cajado. O céu ficou mais escuro.

    — Ah, quando a gente acha que não pode piorar — ele suspirou. — Sempre aparece alguma coisa pra deixar a gente chocado.

    — O senhor gosta de nos surpreender sempre — respondeu Thelia. — Agora, o destino está te mostrando o mesmo.

    Relâmpagos começaram a se formar acima dos mastros. Uma tempestade artificial se agitava, criada pela Energia Cósmica. O céu espelhado também recebeu estranhas nuvens, lançando gotas pesadas.

    Os ventos mudaram também, sendo chicoteado contra as velas mais fortes do que estava antes. Nada parecia ser tão impossível quanto aquela cena. Dante simplesmente sorria encarando o que mais se assemelhava as histórias contadas pelos seus pais.

    “O próprio Fim do Mundo”.

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