Capítulo 237: Portas
Não queria esperar mais do que o necessário para encontrar com o Comandante. Pood parou na porta do quarto onde Dante havia sido posto. O antigo estabelecimento dados aos soldados eram um dos poucos lugares inabitados, por isso, era unicamente dado para ele.
Dante podia usar qualquer quarto, mas ele escolheu o primeiro. E Pood não sabia o motivo de estar tão ansioso para conversar com ele, mas vendo como o homem havia feito Dinamite, Secure e Fred serem humilhados, e depois ser chamado para conversar, Pood não tinha ideia do que poderia ser.
Talvez, planos para que ele fosse usado… Para que o Soberano Kalish pudesse ser pressionado de alguma maneira. Talvez, um acordo direto com ele sobre qualquer que fosse a posição de Dante.
Seu coração pulsava mais rápido. Aumentou mais um pouco quando a porta rangeu. Dante apareceu, com os cabelos meio despenteados e um rosto cansado, como se tivesse acabado de acordar.
— Ah, Pood — sua voz soou fraca. — Achei que viria mais tarde.
— Desculpa, senhor. — Ele ficou um pouco envergonhado. — Eu posso voltar mais tarde, se preferir.
Dante ergueu a mão para ele. Sorrindo, o rapaz era muito educado, mais do que estava acostumado em ver nas pessoas que viviam por ali. Nos últimos dias, esteve encontrando com Dinamite e Secure, mas Pood sempre ficava a espreita, apenas observando.
— Não precisa disso. Vou me vestir e podemos tomar café. Espere um pouco.
Pood recuou dois passos, concordando.
— Como quiser, Comandante.
Dante buscou seu casaco, prendendo no cabideiro, e juntou os braços, prendendo os botões e pondo a bota, amarrando os cadarços com cautela. Quando se levantou da cama, reparou que Pood o observava ainda, da mesma forma que fazia nos campos de treino.
Ele não era um lutador. Nem mesmo um guerreiro habilidoso. No entanto, um homem capaz de criar caminhos era mais raro do que aqueles que bloqueavam.
— Vamos. — Dante fechou a porta e apontou para o corredor. Eles caminharam juntos, lado a lado. —O que acha que deve ter de café da manhã?
— Acredito que como é o terceiro dia da semana, deve ter bastante bacon. — Pood o encarou de lado. — Posso fazer uma pergunta, senhor?
— Claro.
— Nos treinos, quando você começa a lutar a sério, você sempre está sorrindo. — Ele era observador, como Dante imaginava. — Queria saber o porquê faz isso. Como consegue se divertir quando sua vida está em risco?
— Foi a minha criação. — Dante retribuiu o olhar quando desciam as escadas para o nível inferior. — Você, por outro, lado, sempre está procurando uma forma de entender melhor como as habilidades funcionam, não é?
Pood foi pego de surpresa, dando uma recuada no olhar, e focando em sua frente. Quando chegaram no nível inferior, a porta de entrada estava aberta com mais cinco soldados do lado de fora.
Eram a escolta que Kalish queria para Dante.
— Não gosto de gente me seguindo — disse Dante. — Consegue fazer um daqueles…
Os dedos de Dante giraram no ar, e Pood arqueou as sobrancelhas, sem entender.
— Está dizendo fazer um portal? — Ele negou com a cabeça. — Não sou autorizado a conjurar nenhum deles sem a autorização de um Comandante.
Dante abriu os braços, ainda parado.
— Eu sou um Comandante, Pood. Vamos, faça.
Não houve um mexer de dedos ou um gesto de mão. Apenas um passo adiante, a Energia Cósmica se desgrudou de seu corpo, formando uma linha reta e depois quadricular, como uma verdadeira porta.
Sem ao menos dizer uma palavra, em poucos segundos, o portal havia sido aberto direto para o refeitório. Do outro lado, vários soldados e lojistas reconheceram Pood, acenando e até mesmo o chamando para entrar.
— Você primeiro — disse Dante.
Ele passou depois de Pood, tocando o solo frio e duro do refeitório, e ainda assim, encarando o seu dormitório. Era uma distância de praticamente duzentos metros de caminhada, demoraria cerca de cinco minutos. O espaço foi encurtado em centímetros.
A habilidade mais incrível e estranha que Dante tinha visto até aquele momento, junto com o ‘Estalo’ de Secure.
— Senhor Pood — um dos cozinheiros acenou de trás do balcão. — Traga seu amigo até aqui.
Soldados esperavam de um lado e do outro, esperando com suas bandejas. Preparando seus pratos, e sentando em mesas quadriculares largas. Muitos dali Dante não conhecia, mas seus olhares já diziam muito.
O boato de que Dante estava lutando contra alguns soldados deveria ter chegado até eles.
Pood pediu que o seguisse. Eles pegaram uma das bandejas, chegaram na bancada, e o cozinheiro pegou um bocado de bacon, um pouco de linguiça e até mesmo frango frito. Dante ficou vendo a comida que estava bem diante dos seus olhos.
— Clara daria tudo para ver isso.
Pood o fitou lateralmente.
— Clara? Uma amiga sua?
— Mais do que uma amiga. — Ele sorriu para o rapaz. — Vamos sentar?
Escolheram um lugar mais afastado da massa de soldados. Reservado mais ao canto, Pood sentou-se de frente para Dante, ainda curioso. Dava para ver naquele olhar afiado que ele queria respostas.
— O senhor pode me falar agora o que queria de mim?
— Vou ser direto, filho. Não gosto de enrolar quando sei que temos muito a fazer ainda. — Dante pegou o bacon, colocando-o na boca. E fechou os olhos na hora e fez uma expressão contente. — Puta merda, isso é muito bom.
— Essa é uma das melhores carnes que temos. Mas, seria direto, senhor.
— Ah, claro. Esqueci de continuar. — Dante apontou para Pood com o garfo. — Vou te contar algo e perguntar no final sobre sua habilidade. Algo que é de importância para mim, mas não tenho esperanças.
Pood manteve o silêncio, ainda mastigando a carne suculenta.
— Não sou de Kappz, rapaz. Não faço parte dessas cidades. Na verdade, eu vim de muito longe. — Dante pegou outro pedaço de bacon. — Um lugar tão longe que demoraria dezenas de anos para chegar até lá. Quando eu cheguei aqui, eu vim de um portal, como o seu.
As sobrancelhas dele se ergueram e depois abaixaram.
— Tinha alguém que conjurava uma porta como eu, senhor?
— Não, Pood. Eles utilizavam uma ferramenta de transporte. Um pergaminho com inscrições que quando colocada Energia Cósmica abria um portal. Eu entrei por um deles, mas acredito que deve ter acontecido alguma coisa e eu cai em Kappz.
O garfo do rapaz caiu de sua mão, tocando a bandeja.
— O senhor… foi transportado pelo espaço de um lugar para o outro sem ao menos saber para onde estava indo? — Ele quase engasgou, batendo no próprio peito. — Cacete. Desculpa. Como? Como você sobreviveu?
— Como assim?
Dante não estava entendendo o porquê ele parecia estar tão desesperado.
— Senhor, pode ser que não conheça os princípios de uma porta. A minha habilidade é testada faz anos pelo senhor Kalish, mas nunca tivemos sucesso em criar portais estáveis em mais de um quilômetro. Para o senhor ter entrado em um portal que te levou para um lugar onde demoraria muito pra chegar é quase impossível.
— Por que seria?
— Senhor, quase ouvir a pergunta que está me fazendo? — Pood olhou ao redor. Ninguém parecia estar escutando a conversa deles. — Ter sobrevivido a um colapso de portal é mais do que grande façanha. Ninguém consegue, todos morreram. É como nos foi ensinado.
— Por quem, Pood?
— Senhor, o único homem que conseguiu caminhar em continentes e voltar. — Pood abaixou a voz e se aproximou. — Ele é considerado o Pai do Espaço. O nome dele é Sir Merlin GodSnow.
Dante parou por alguns segundos e deu uma risada.
— Que nome ridículo.
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