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    A porta da prisão se abriu com um rangido metálico que ecoou pelas paredes de pedra fria, no exato momento em que Bastardo empurrou Gladius para dentro com violência desmedida. O guardião caiu pesadamente de peito no chão, o impacto expulsando o ar de seus pulmões.

    Ele girou com dificuldade, arfando em busca de oxigênio, enquanto gotas de suor misturavam-se ao sangue que escorria do corte recente e profundo em seu rosto – marca deixada pela lâmina impiedosa de Hindoe. A ferida pulsava com cada batida de seu coração acelerado, lembrando-o constantemente de sua derrota.

    Cayan, com os olhos arregalados de preocupação, abaixou-se rapidamente ao lado do companheiro caído. Suas mãos trêmulas seguraram o ombro de Gladius com firmeza gentil, tentando oferecer algum conforto em meio ao caos que se desenrolava.

    O toque, embora reconfortante, pouco podia fazer contra a dor que se espalhava pelo corpo do guardião.

    Bastardo passou por eles como uma sombra apressada, seus passos decididos ecoando no piso de pedra. Não lançou sequer um olhar para os homens caídos, como se fossem meros obstáculos insignificantes em seu caminho. Sua indiferença era mais cortante que qualquer lâmina.

    — Cloud, prenda todos eles — ordenou, sua voz carregada de autoridade cruel que não admitia questionamentos.

    As raízes, até então adormecidas nos braços de Cloud, despertaram com vida própria, rotacionando velozmente ao redor dos prisioneiros como serpentes famintas. Elas se estenderam e multiplicaram com uma velocidade aterradora, envolvendo os corpos dos cativos e os pressionando impiedosamente contra a parede áspera.

    O que começou como filamentos delgados logo se transformou em uma estrutura orgânica monstruosa que crescia e se expandia pelo imenso hall de entrada, quase forjando uma árvore inteira de pesadelos.

    As raízes se ergueram cada vez mais alto, carregando os prisioneiros para longe do chão, bem acima de qualquer olhar curioso que pudesse testemunhar seu sofrimento. A ascensão forçada era apenas o começo do tormento.

    Quanto mais subiam, mais os músculos dos cativos eram comprimidos e torcidos pelas raízes implacáveis, que pareciam sentir prazer em cada gemido arrancado de suas vítimas.

    — Mesmo que ache o que procura — a voz de Gladius emergiu fraca e entrecortada, cada palavra custando-lhe um esforço visível — você vai perder o que já tem. É meu último aviso.

    Os passos de Bastardo cessaram abruptamente, como se tivessem encontrado um muro invisível. Ele virou-se vagarosamente, cada movimento calculado e deliberado. Um sorriso inquietante brincava em seus lábios, revelando uma confiança que beirava a insanidade.

    — Sempre tive tudo sob controle — declarou com uma calma perturbadora, antes de voltar seu olhar penetrante para Cloud. — Se aquele velho entrar, use esses três como reféns. Ele ainda é bonzinho demais para deixar as pessoas morrerem.

    Cloud retribuiu o olhar com uma mistura de lealdade cega e arrogância mal disfarçada.

    — Já derrotei ele uma vez, lembra? Não vai ser difícil.

    Como se respondessem à confiança excessiva em sua voz, mais raízes se estreitaram ao redor do corpo de Cayan, que se contorceu violentamente com um gemido abafado que reverberou pelas paredes da prisão. A dor se espalhava como fogo líquido pelos seus ombros, pulsando e intensificando-se a cada nova torção das raízes que pareciam ter vida própria. Cada fibra de seu ser gritava em agonia silenciosa, enquanto seus músculos protestavam contra a pressão implacável.

    Gladius, testemunhando o sofrimento do companheiro, tentou erguer a cabeça em um gesto de desafio, mas seu corpo, traído pela exaustão e pelos ferimentos, pesava como chumbo.

    O sangue escarlate escorria lentamente do corte profundo em sua testa, formando um padrão sinistro ao pintar o chão frio da prisão com gotas que pareciam contar os segundos de sua impotência.

    Bastardo, indiferente ao sofrimento que causava, já caminhava com passos firmes em direção ao fundo do salão, onde os portões blindados, maciços e impenetráveis, guardavam as celas mais profundas e seus segredos sombrios.

    Seus passos ecoavam no mármore frio como batidas de um relógio que contava o tempo para algo terrível. Mesmo com os estalos e os chiados orgânicos das raízes que se espalhavam como veias pulsantes por toda a entrada, o único som constante e imperturbável era o eco firme e ritmado de suas botas, marcando sua determinação inabalável.

    — Você vai perder o que já tem — repetiu Gladius com as últimas forças que conseguiu reunir, tossindo em seguida com violência, como se tentasse expelir não apenas sangue, mas também a própria impotência que o consumia por dentro.

    Dessa vez, Bastardo o ignorou completamente, como se as palavras do guardião fossem apenas o zumbido irritante de um inseto insignificante. Ele manteve os passos firmes e chegou até o outro lado do hall imponente.

    Outra porta imensa, esculpida em metal e magia antiga, separava os cômodos como um guardião silencioso. Bastardo não precisou tocar nela; com um simples gesto de sua vontade, a porta obedeceu ao seu comando invisível, rangendo pesadamente sob seu poder. As dobradiças protestaram com um gemido metálico quando os batentes bateram na parede ao darem espaço para sua caminhada triunfante.

    Ele avançou com a confiança de quem conhece cada centímetro do território inimigo. Ao seu redor, as celas do primeiro nível se alinhavam em uma grade perfeita e opressiva. Eram estruturas quadriculares, forjadas no mais resistente ferro encantado, projetadas não apenas para conter, mas para quebrar o espírito de seus prisioneiros.

    Cada cela abrigava uma história de desespero, cada barra de metal era testemunha silenciosa de súplicas ignoradas.

    Bastardo caminhou lentamente pelo corredor, exibindo deliberadamente seu sorriso para cada um dos homens e mulheres que se mantinham aprisionados. Seus olhos brilhavam com uma satisfação perversa ao contemplar o sofrimento alheio, como um colecionador admirando suas relíquias mais preciosas.

    — Não se preocupem — sua voz arrastou-se pelos corredores como veneno destilado, cada sílaba carregada de uma promessa sinistra que fez os prisioneiros recuarem instintivamente para o fundo de suas celas. — Eu os libertarei desse lugar.

    As últimas palavras pairaram no ar como uma sentença de morte disfarçada de misericórdia, enquanto seu sorriso se alargava, revelando a verdadeira natureza de sua “libertação” – uma que muitos ali suspeitavam ser pior que a própria prisão que os continha.

    Ele puxou de dentro de seu manto uma esfera vermelha, com sua profundidade em uma cor amarelada. Era essa a sua maior arma, mas não somente ela, e sim sua funcionalidade. O ar ficou rarefeito, a pressão aumentou sobre os ombros daquelas pessoas.

    Até mesmo a luz parecia ter diminuído, puxada pela pedra, enquanto um estranho brilho amarelado corroía das celas. As pessoas começaram a entender que aquele brilho saía de seus corpos, puxados para dentro da Pedra Solar, a preenchendo.

    E Bastardo sorria, alegre.

    — Finalmente eu tenho os animais perfeitos para meus experimentos.

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