Capítulo 378: Dores do Peito
Fosse fuga ou combate, os ossos de Dante vibravam em dor. Uma dor diferente, mais funda, mais certa. Quando tentou virar para Gladius, algo cedeu. Os músculos pesaram. Os joelhos cederam. Caiu para frente, o rosto contra o chão sujo da prisão. Nem chegou a ouvir com clareza — só um zumbido. Só um vazio.
E, então, a voz impessoal cortando tudo:
— Atualização de Controle. Aumento de Danos em… 50%.
Desmaiou sabendo que Vick fizera algo. De novo.
— Não importa… — a voz de Nekop ecoava entre os membros e tripulantes. No entanto, quando abaixava a cabeça, ficava mais surpreso por ver o velho simplesmente ter cabelos e uma barba tingida, além da pele. — O que aconteceu lá dentro?
Eles rapidamente subiram no navio. Dante era carregado por diversos homens em uma maca improvisada, mas o Anão manteve-se parado na prancha, ainda tocando os pés da prisão. Quando se virou, viu Duncan.
Não queria ter que contar sobre a derrota de Dante, mas o velho capitão parecia nem ligar se Dante estava ou não ferido.
— Bom, parece que nossos negócios se encerraram. — Ele ergueu a mão e uma rocha amarelada pulsou ao seu toque. Com um sorriso vitorioso, ele fez um leve agradecimento. — Minhas condolências ao Capitão Dante. Ele cumpriu o que prometeu, então, darei mais uma dica, Anão.
— Se for qualquer merda, não quero saber.
— Se fosse qualquer merda, eu mandaria você ir até ela. — Bufou com desdém. — Nós estamos muito ao norte, e na divisão de Oceânicos. Se não quer ser pego pela marinha, então, você precisa conversar com a Rainha.
Só de ouvir o título, o rosto dele se contorceu.
— Aquela mulher não gosta de gente nos territórios dela, ainda mais sendo a gente.
— Não se preocupe com isso. Antes de virmos para cá, eu avisei que vocês fariam uma visita para ela. — Duncan encarou o caminho por onde Dante tinha sido levado. — Só não esperava que ele fosse ficar nesse estado.
Nekop conhecia Dante o suficiente para entender que ele teria lutado até a morte contra o Bastardo, mas não fazia ideia do que tinha acontecido lá dentro. Quando entrou, tudo estava aos pedaços, os prisioneiros também tinham conseguido escapar por um rombo causado do outro lado, e Gladius não tinha forças para levantar.
Bastardo tinha se tornado muito mais forte, e também conseguiu fugir. Mas, ele não matou o velho. Não conseguiu matar um homem.
— Anão — Duncan o acordou dos seus sonhos. — Não se esqueça de tratar das feridas de todos os seus homens. Nós conseguimos fazer boa parte da frota inimiga recuar, mas ainda pode ter alguns esperando uma chance de vir.
— Farei isso. E o Glossário? O que aconteceu?
Houve um certo silêncio, mas Duncan apontou para o mar.
— Ele estava lá antes de eu entrar. E parece que uma das Pedras Solares foi com ele. Aposto que ficou esperando a poeira abaixar para pegar. Até porque… até hoje eu não sei qual o tipo de habilidade dele.
— Não sabe? — o Anão cruzou as sobrancelhas. — O que quer dizer?
— É um assunto para outro dia. Cuide dos seus homens. E peça a Rainha do Norte um lugar no continente. Vocês vão estar mais seguros lá.
Ele começou a se retirar com passos curtos, acenando para seus navios. Muitos deles tinham sido frente de linha nos disparos causados contra o Nokia, mas suportaram bem. Uma boa parte deles era revestida de ferro por completo, diminuindo esses danos.
Duncan sabia lutar suas batalhas e ganhava o que queria através do método sujo de não se aventurar nas piores lutas. Agora mesmo, ele sacudia a Pedra Solar como se ela fosse apenas um brinquedo, mas tinha sido essa mesma pedra que Bastardo usara.
Por que eles eram tão fanáticos por essas rochas brilhantes?
Sua caminhada de volta para o Nokia foi rápida, e ele pediu que Guaca e Eggis ficassem responsáveis por conduzir o navio. Ele pediu que ficassem a deriva, e que depois conversaria com Nero sobre o que seria feito.
Os demais tripulantes, tanto da Vanguarda quanto os Técnicos, ficaram esperando. Nekop desceu diretamente para a cabine do Capitão. Ao se aproximar, sentiu o cheiro forte de ervas no ar. Ele não bateu, ansioso para entender o que havia acontecido.
Assim que colocou o rosto para dentro, viu Pomodoro sentado em um banco, virado para sua caixa de suprimentos. Tinha agulhas em sua mão, e algumas flutuando ao redor deles, e ele despejava um líquido em cima de uma delas.
Ao redor da cama, cerca de outros seis ajudantes, também doutores, com pequenas pastas vermelhas colocando nas juntas. Eles passavam vagarosamente, e esperavam um pequeno retorno, mas o velho nem se mexia.
— O caso pode ser um pouco mais grave do que nós achávamos — disse Pomodoro. Ele pegou uma das agulhas no ar, agradeceu a jovem ao seu lado, e desceu com ela até o peito de Dante. A ponto tocou a pele, e antes de conseguir afundar, um líquido azul escapou pelo pequeno furo. — É a mesma doença do Ratiero.
A agulha foi afastada e a jovem, ao lado, manteve-a flutuando.
— O que é essa doença? — Nekop se esgueirou por trás de um deles e foi até uma cadeira. Os cabelos de Dante estavam escuros, com algumas mechas brancas no topo da cabeça, no entanto, eram tão brancos quanto a neve. — Como ele… ficou assim?
— Não encoste nele agora — alertou um dos ajudantes. — Nós estamos aplicando Mefuze.
Nekop olhou para Pomodoro, questionando.
— É um tipo de soro que aplicamos direto na veia. Antigamente se fazia muito isso. Dante pode ter sido contaminado com Energia Cósmica. Isso é a doença Ratiero. — Ele apontou para o líquido azul que tinha se coagulado onde a agulha tinha perfurado. — Quando existe uma imensa quantidade de energia armazenada no corpo e ele não consegue colocar pra fora, começa a criar isso que está vendo.
Pomodoro aproximou o dedo e assim que a ponta tocou no líquido, ele solidificou no mesmo momento.
— Precisamos encontrar alguma ala hospitalar em terra para tratar dele com remédios e ervas descentes. Nós temos o necessário para ficar uma semana tratando, mas preciso de alguns materiais melhores. Podemos atracar em algum lugar de confiança?
— Dunca me disse que conversou com a Rainha do Norte, mas não quero ficar dependendo de mais gente igual… igual… nós sempre temos que…
Ele socou levemente a própria perna.
— Ele é o segundo que cai pro Bastardo. A gente não consegue fazer mais nada…
— Por que está tão focado nisso? — Pomodoro retirou o excesso de líquido de cima do peito de Dante, e um dos ajudantes passou uma pomada esverdeada. Em seguida, a pasta cresceu em um formato arredondado, puxando o líquido azul para fora. — Dante está vivo. Ele só precisa de tratamento médico adequado. Foque nisso por enquanto, está bem? Não fique procurando problemas que não chegaram.
Numa respirada funda, Nekop sentiu o peso caindo nos ombros novamente.
— Queria poder ser tão relaxado igual a você quando temos tanta gente machucada.
— Eles sabiam no que estavam se metendo. Agora, foque em nos levar para um lugar seguro.
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