Capítulo 407: Informação Privilegiada
Dante ainda estava coberto de neve. As habilidades que Vick eram de longe uma das coisas mais impressionantes que já tinha presenciado. Longe demais dos olhares dos dois, pôde ouvir e também ver claramente seus semblantes.
Ela aproximava sua visão e também audição, até mesmo parando um bloqueador. Ele não lembrava dessas capacidades quando estava em Kappz. Apenas que sinalizava algo quando se aproximava, mas isso…?
“Quando me solicitou para que usasse na cidade de Kappz, eu não estava integrada ao seu sistema nervoso. Como tenho acesso a uma parte neural, consigo acelerar neurotransmissores e ajustar lacunas antes não comumente usadas”.
Dante respirou fundo, ajeitando-se de lado, pressionando os cotovelos contra o gelo, forçando os músculos para empurrar parte da neve que pesava sobre suas costas.
— Parece que até mesmo você tem segredos — comentou, meio rindo, meio desconfiado, enquanto limpava a neve do rosto. — Meu pai também usava esse tipo de habilidade?
“Não. Render nunca gostou que eu usasse minhas habilidades. Alegava que nublava a sua verdade.”
Dante ficou em silêncio por alguns segundos, encarando o horizonte branco, onde a tempestade parecia retomar força, soprando cortinas de neve que dançavam como véus. Um sorriso amargo cortou-lhe o rosto.
— Meu pai sempre foi um cara bem complicado. — A mão apertou a nuca, jogando um pouco da neve acumulada para trás. — Bom… perdeu algo bem interessante.
Virou a cabeça, atento. O vento trazia mais do que frio agora. Sons. Pequenos. Discretos. Mas reconhecíveis. O som distante de metal contra metal. Um estalo abafado. E logo depois, o que parecia ser um estouro, ou talvez uma detonação abafada pela neve.
— Alguma coisa está acontecendo. — Ele fechou os olhos, respirando fundo, como se aquilo pudesse ajudá-lo a ler melhor o espaço ao redor. — Pode ser um combate. Mas… não sei se temos tempo pra isso.
Fechou os punhos, estalando os dedos. O calor de sua própria energia começou a pulsar levemente, uma reação inconsciente sempre que se preparava para uma decisão mais drástica.
— Vick — chamou, mantendo o tom baixo, como se o próprio vento pudesse ouvir —, ache pra mim uma forma de chegar até um dos elevadores de Selenor. Rastreie qualquer sinal, qualquer rastro que possa nos levar de volta.
“O agente Jones, que interagiu com Aspas Saser há poucos minutos, está retornando para Selenor. A trilha que ele deixou é fresca, visível até mesmo em sensores térmicos. Acredito que este seja o caminho mais seguro e menos monitorado.”
Dante apertou os olhos, analisando a direção que Vick projetava no canto da sua visão. Pequenas setas digitais se ajustavam, alinhando pontos no mapa improvisado que ela calculava em tempo real.
— Entendido. — Respirou fundo, limpando os ombros e ajeitando Nick, que se aninhava mais apertado no pescoço, desconfiado da mudança no vento. — E me avisa se surgir qualquer movimento vindo daquele acampamento… ou dos próprios caçadores de Aspas.
“Confirmado.” — A voz dela ficou ligeiramente mais séria, mais calculista. — “Mas devo reforçar: se for retornar a Selenor, é imprescindível focar em entender três pontos fundamentais. Primeiro: como exatamente chegou até aqui. Segundo: quais são os reais interesses da família Saser, especialmente os envolvidos com a CryoBacia e com a esposa do chefe, cuja existência permanece oculta. Terceiro: entender a rede que conecta Selenor aos movimentos externos, inclusive agentes como French e outros que parecem operar além da autoridade do próprio conselho.”
Dante soltou uma risada seca, ajeitando os braceletes e ajustando a manta que usava para se camuflar.
— Parece simples. — Jogou a cabeça pra frente, observando o caminho. — Uma cidade cheia de mentirosos, um líder que lê pensamentos, uma mulher que não existe, um garoto que quase virou cadáver no meio do gelo… e um traidor que se esconde no meio disso tudo. — Puxou o tecido até o queixo, respirando fundo. — Perfeito. Vamos nessa.
Num impulso rápido, ele se lançou para frente. As rajadas de ar dispararam juntas, o fazendo sair de cima do terreno nevado e disparar como uma bala. Em poucos segundos, já estava no rastro de Jones.
E por mais que parecesse estar perto, seus olhos recebiam pontos amarelados e vermelhos, indicando que ele fez algumas curvas no meio do caminho. Dante, então, parou rapidamente quando sentiu algo o observando.
Seus pés tocaram o terreno pedregoso, derrapando por um segundo, mas parando em seguida. Algo não muito distante o observava. Mesmo fitando o horizonte, ele ainda não podia enxergar. Não fazia ideia do que estava acontecendo, mas a sensação era muito irritante.
— Vick…
“Analisando…”
Dante não gostava nada disso. Um vulto passou correndo em alta velocidade no meio da neve, libertando flocos para o alto, e sumindo no meio dos arbustos. Depois outro, pelas suas costas. Não conseguiu acompanhar.
— Vick… — Dante começou a erguer os braços lentamente. — Eu não faço ideia do que estou enfrentando aqui, mas é bem rápido.
A IA ficou muda por alguns segundos. Os olhos de Dante corriam por todos os cantos, e os vultos multiplicaram, em sincronia, não muito distante dali. Eles atiravam-se contra os arbustos ou blocos de neve maior, sumindo sem ao menos mostrar seus rostos.
Foi quando um deles disparou para frente, a neve cobrindo seu corpo inteiro, mas era longo, quase como um animal quadrupede.
“Tomando notas… Felroz do tipo Mutante”.
Dante rapidamente se colocou lateralmente quando a criatura saltou tentando mordê-lo. Os dentes eram brancos, como cristalina, e seus olhos o seguiram, um pouco surpresos. O Felroz, talvez, nunca tivesse errado um golpe de tão perto antes.
O braço de Dante subiu como um martelo, o golpeando direto na barriga. A pressão do ar estourou pra cima, mas o Felroz se manteve apoiado sobre a mão de Dante. Ainda vivo, ele tentou fugir entre a neve que o cobria, mas Dante rapidamente o segurou pelo pescoço, o jogando contra o chão e trintando o solo com seu corpo.
— Olá, monstrinho. — Seus dedos apertaram mais e mais. — Achou que eu era uma refeição deliciosa, não é? Uma pena.
A criatura se rebatia para os lados, suas pernas e braços tentando encontrar uma saída. Os olhos focados em Dante, e estavam cheios de surpresa e medo.
“Dante, meu sistema está ativado. Posso fazer uma verificação para entender se esse Felroz está sendo controlado ou não por algum tipo de controle mental ou por habilidade.”
— Oh? — Essa era uma informação bem privilegiada. — Vamos com isso, Vick. Faça o trabalho. Nick, vou precisar que fique de olho pra mim. Acorde, garoto.
De dentro da roupa, um pequeno rastejo do pequeno corpo se jogou para fora. Nick caiu sentado em cima da neve, colocando as duas mãos nela, e tremendo em seguida. No entanto, segurando a neve logo em seguida, uma cortina se expandiu do pequeno Felroz, cobrindo-os completamente.
“Sugador de nome Nick ativou algo como uma camuflagem temporária que simula a realidade. Interessante. Nunca tinha visto uma criatura como um Sugador fazer isso”.
Dante também não.
— Vocês estão me impressionando muito hoje. Sem mais surpresas, vamos fazer o Felroz nos dizer se ele é só uma aberração ou está sendo controlado por alguém.
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