Capítulo 411: Chamado Inesperado

Dante encontrou o restante do rastro do homem que conversou com Aspas Saser. Quando chegou perto de um dos elevadores que dava para o alto, em direção a Selenor, no entanto, ele já não estava mais lá. Na verdade, o único que estavas presente era o próprio Dante.

“Sem registro ou atividades humanas presentes” — Vick o informou mesmo sendo óbvio. — “Acessando registro, e disponibilizando para que possa enxergar atividades elétricas.”

— Nick… — Dante olhou para o lado. O pequeno Sugador encarava o alto, com os olhos verdes, e com uma expressão impressionada. Era a primeira vez que estava se dando conta da distância e tamanho do elevador. — Nick…

— Alto demais, concordo. — Dante deu uma batidinha na cabeça dele enquanto se aproximava da estrutura metálica.

Dante piscou algumas vezes. Sua retina se ajustou, e a paisagem se modificou sutilmente. Linhas azuis e veios fluorescentes começaram a pulsar nas paredes da torre. Era como enxergar as veias de um corpo adormecido.

— Aqui, então?

Abaixou-se, cravou os dedos sob a borda da placa e puxou com facilidade. A chapa ergueu com um estalo metálico e revelou um emaranhado de fios. Eles se ramificavam como raízes elétricas para dentro da terra congelada, sumindo no gelo.

“Minhas capacidades tecnológicas são muito inferiores aos que Veronica possuía. O máximo que posso fazer é interagir com o sistema para pegar informações sobre movimentações dos elevadores. Atualmente, meu sistema fundamentado é inoperante. Se for de importância, recomendo que possa pegar tecnologias para que eu avalie.”

A voz dela parecia um pouco… chateada? Seria porque ela não conseguia fazer mais do que isso?

Ele respirou fundo, estendeu a mão e encostou nos fios. Na mesma hora, uma descarga elétrica subiu por seus dedos. O calor queimava a pele, mas ele resistiu, apertando com força. Os músculos de seu antebraço começaram a vibrar, a energia tentando encontrar um caminho para o interior. As terminações nervosas disparavam alertas em todas as direções. Mas ele continuou.

A pressão, aos poucos, foi cedendo. A Energia Cósmica que passava por ele ajudava a redirecionar a carga, convertendo-a em algo que não o ferisse, mas o moldasse.

— Consegue avaliar agora?

“Sua imprudência me comove, Dante. Mas, sim, consigo.”

Um baque surdo ecoou dentro da torre, profundo e abafado como o rugido contido de uma fera adormecida. O som reverberou pelas estruturas metálicas, fazendo tremer as placas sob os pés de Dante.

Ele e Nick ergueram os olhos ao mesmo tempo.

No alto da estrutura, a uma distância impossível de calcular a olho nu, algo havia parado abruptamente no meio da subida. Uma das plataformas de transporte, antes em movimento constante, tinha travado no ar com violência, e agora repousava imóvel como um bloco suspenso entre o céu e a base do mundo.

Dante deu um passo para trás, tentando entender o que exatamente tinha acontecido, quando percebeu algo novo.

Do lado direito da estrutura principal, quase oculta entre colunas de suporte e cabos espessos, uma ramificação metálica se estendia na horizontal. Como um túnel reforçado, ela abria caminho por entre as montanhas geladas e estruturas artificiais. Dentro dela, um novo tipo de elevador — não vertical, mas lateral — deslizava preso a trilhos suspensos, semelhante a um cubo metálico achatado, idêntico ao que ele mesmo havia usado na descida.

Era impressionante.

— Elevadores horizontais… — murmurou.

Mas a admiração durou pouco. Um som estridente cortou o silêncio, vindo do alto como um trovão distorcido. O eco de uma sirene se espalhou por Selenor. Ainda que distante, seu som se propagava com força crescente, até enfim alcançar o nível mais baixo da torre. A vibração atravessou o peito de Dante como uma advertência.

Ele cerrou os punhos, atento.

— Vick, o que houve?

A resposta não veio de imediato. Durante alguns segundos, só se ouvia o som constante e crescente do alarme, mesclado ao sopro do vento que descia com a força de uma avalanche invisível. Então, a voz de Vick se projetou em sua mente, sóbria, quase hesitante.

— Aparentemente, um sistema de defesa foi ativado contra invasores externos. O protocolo parece ter sido ativado de forma emergencial. Possivelmente, fui a causadora do disparo.

— O quê? — Dante franziu o cenho, olhando para o painel aberto ao lado dos fios expostos.

“Como eu disse antes, minha capacidade de interação com sistemas tecnológicos de Selenor é limitada. Meu acesso não foi reconhecido como autorizado e, por isso, posso ter desencadeado uma resposta automática. Ainda assim… estou registrando os padrões para que, no futuro, possamos simular um acesso legítimo e burlar esse tipo de sistema.”

Dante ficou em silêncio por alguns segundos. A sirene continuava tocando, mas agora com intervalos mais regulares.

Nick se encolheu em seu ombro, os olhos verdes faiscando com inquietação.

— Ah, merda. Vick, como que nós fazemos agora? Precisamos sair daqui, então.

“Caso sairmos do local, não conseguirei nenhuma informação relevante sobre a família Saser ou sobre como podemos recuar. Estou fazendo uma pequena pesquisa, preciso que fique… mas, acredito que teremos problemas.”

— O que… houve agora? — Dante respirou fundo.

A resposta foi um imenso rugido vindo do meio da tempestade, rugidos altos e guturais que cresciam e se expandiam em um eco medonho.

Dante reconheceu os uivos. Um padrão já conhecido em sua curta, mas brutal jornada por aquelas terras. Era a assinatura dos Felroz. Mas não eram só eles. O som de impactos, estalos cortando o ar, e guinchos metálicos se misturavam aos rugidos. Alguém ou muitos deles estavam lutando.

Então veio o tremor.

Pequeno, no início. Como o passo de uma criatura de médio porte. Mas em segundos, repetidos estalos começaram a vibrar no solo congelado. Como cavalos, mas mais pesados. Como tanques, mas vivos.

Dante firmou os pés no chão, sentindo a reverberação passar pelas botas. Não era imaginação.

— Tropas?

“Nenhum sinal de atividade humana no perímetro imediato. Mas estou detectando oscilações de calor e radiação cósmica… muito parecidas com os registros da presença do Bastardo na região da prisão Onkotho. Esses Felroz não são comuns. Estão sendo… estimulados por algo.”

Nick levantou a cabeça devagar, encarando o horizonte turvo. Seus olhos brilharam com mais força. Ele sentia também.

Dante puxou o pequeno para mais perto do peito.

— Merda. Vick, tem algum sinal sendo enviado ao redor? Lembra da frequência que Tecno uma vez me ensinou? Alta Frequência chama eles.

“A sirene pode estar enviando um tipo de frequência que esteja estimulando os Felroz a vir. Se sair daqui, perderemos todo o contato que temos e também as informações. Preciso de, pelo menos, alguns minutos a mais. Solicito que…”

— Nick, vou precisar que você fique com a Vick aqui. — Dante o tirou dos ombros e colocou para perto dos fios. O pequeno Sugador ficou estático, mas fechou a mão arduamente. — Usa a Energia Cósmica para não ficar ferido. Vick, assim que terminar, me avisa, entendeu?

“Claramente, avisarei. Preciso apenas de mais alguns minutos para… aprender a burlar o sistema defensivo de Selenor.”