Capítulo 412: Um Passo para o Caos
Uma avalanche de Felroz vinha descendo como uma onda viva, fundida ao branco da nevasca, mas pulsando com fúria e garras. Criaturas deformadas, algumas com duas cabeças, outras com cascos quebrados ou tentáculos latejantes nos ombros. Não havia formação, nem tática, apenas fome e instinto. Uivos preenchiam o vale, reverberando na própria torre de Selenor.
— Vick! — gritou ele, os olhos ainda fixos no caos que se aproximava. — Se apresse, agora!
No segundo seguinte, ele flexionou os joelhos e, sem hesitar, lançou-se na direção da avalanche.
A primeira criatura tentou saltar, mas ele a agarrou pelo crânio e arremessou contra o gelo com força brutal, fazendo a mandíbula dela se estilhaçar. A segunda o acertou com a lateral do corpo, os espinhos cravando-se em seu braço, mas Dante girou no impacto e desferiu um soco que abriu uma cratera no chão, enterrando a criatura sob uma camada de gelo.
O peso dos corpos era esmagador. Eles vinham como enxames descontrolados, pulando, se agarrando, rasgando com unhas negras, tentando derrubá-lo.
Dante ativou o Pulso Cinético: o estalo de seus dedos ecoou como um trovão, e o ar ao seu redor explodiu, lançando cinco Felroz para longe como bonecos quebrados. Eles bateram uns contra os outros e se levantaram sem ao menos se importarem que seus braços ou pernas tinham sido destroçados.
Mas eles não paravam.
Um dos Felroz, maior que os outros, surgiu pela lateral e o acertou com as duas patas traseiras. Dante voou por alguns metros e rolou pela neve. Levantando, usou o impulso recebido para pisar contra o chão.
A neve se levantou como uma manta, tapando a visão de todos eles. E ao levantar os dois braços, Dante retirou todo o ar do seu pulmão, acalmando seus instintos, focando nos sentidos. Os cinco primeiros apareceram, quebrando a parede de neve.
Num giro violento, Dante acertou as costas da mão contra o maxilar de um dos Felroz, o som do osso partindo seco, nítido mesmo com o vento zunindo. A criatura caiu para o lado, mas Dante não perdeu tempo — segurou-o ainda no ar e usou o próprio corpo do inimigo como trampolim, impulsionando-se numa pirueta alta.
No ápice do salto, abriu os dois braços como lâminas vivas e, com os antebraços, travou os golpes que vinham dos três Felroz que saltavam para agarrá-lo. O impacto do bloqueio ressoou pelos seus músculos, mas o resultado foi imediato: os três inimigos paralisaram com a força do choque, imóveis por um segundo crucial.
Mas Dante já tinha visto o que vinha a seguir.
Outros dez Felroz surgiam da base da ladeira, correndo em ziguezague entre a tempestade de neve. Os olhos selvagens brilhavam com fome, garras abertas, uivos crescendo. Todos viram o humano acima deles. Um alvo em queda livre.
Girando no ar com precisão, Dante se projetou para baixo como uma lança, mirando diretamente no maior dos inimigos. O impacto foi devastador. O Felroz soltou um grito excruciante, algo entre um rugido e um lamento, enquanto Dante esmagava seu torso contra o gelo endurecido.
O grito ecoou por todo o campo, reverberando como um sino distorcido. Os outros hesitaram, apenas por um segundo; tempo suficiente para Dante se erguer e girar o corpo, desviando do ataque de um dos outros e soltando um berro bruto ao desferir um soco reto à frente.
O impacto do golpe foi brutal. O ar se deslocou à sua frente com tanta violência que a própria tempestade se dividiu, abrindo um túnel momentâneo entre ele e os inimigos. O vento comprimido explodiu em todas as direções, atirando dois dos Felroz mais próximos para longe como bonecos de carne e osso.
Dante respirava fundo, os olhos fixos na trilha escancarada pela força de seu ataque. E ali, no meio da clareira momentânea, viu.
Viu a verdadeira avalanche que o aguardava. Felroz aos montes. Dezenas, talvez centenas. Descendo pelas encostas, escalando rochas, abrindo caminho com violência. Cada um mais grotesco que o anterior, alguns com bocas abertas demais, outros sem olhos, mas todos convergindo para ele.
A visão era surreal. Um pesadelo vindo à tona, sem pausa, sem lógica. Apenas destruição viva.
— Vick… — murmurou, a voz falhando, arranhada pela tensão. Mas a IA já via o mesmo que ele; — Proteja Nick, entendeu?
“Sua iniciativa em lutar contra essas criaturas pode ter uma falha drástica. Aconselho a ficar…”
— Não se preocupe.
Com um gesto fluido, puxou o casaco das costas e o deixou cair, encharcado de sangue e neve. Ficou apenas com a parte inferior do uniforme, os braços expostos ao frio, os músculos vibrando com energia cósmica ainda pulsando sob a pele.
Abriu os braços.
E por um instante… estava em casa. No meio do campo de bambus.
A brisa cortando entre as folhas, a voz de seu pai ao longe. Não havia gritos, nem monstros. Só a disciplina. Só o combate. Só ele.
Kappz. O Farol. O Oceânico Polar.
Todos eles de volta, em um segundo condensado.
Virou o rosto para trás, os olhos encontrando o pequeno ser encolhido entre os fios e a neve. Nick o olhava em silêncio. Mas havia ali mais do que medo. Havia algo quente. Confiança. Fé.
— Nick… — disse com um meio sorriso, o rosto parcialmente coberto pelo vapor quente que saía de sua respiração. — É assim que nós lutamos sempre. Então, fique quietinho e me assista, tá bem?
O Sugador ergueu o pequeno braço, cerrando o punho com força. Um gesto de determinação. De entendimento.
Dante soltou uma risada alta, selvagem, cheia de vida e loucura.
— É isso aí, meu garoto!
— As sirenes estão tocando por qual motivo? — Refel gritava para um dos operadores. O homem tentava a todo momento apertar os botões, acessando os painéis, em abas que não mexia fazia anos. E Refel o via usar o programa que uma das grandes mentes criou para eles. No entanto, ainda sendo uma grande mente, não fez nada para conter o barulho infernal. — Todos vocês, terminem isso agora.
A sala inteira com painéis era ocupada por mentes consideradas brilhantes. Escolhidos a dedo para que ficassem responsáveis por melhorias, e nenhum deles conseguia parar um simples alarme.
— Senhor, nós acabamos de verificar que essa sirena está trazendo os Felroz todos para cá. O som e a frequência está organizando eles para os elevadores. Todos os elevadores estão sob ataque agora. As famílias e os coletores estão todos lá, senhor. É o horário de voltar.
Refel virou, encarando French que ainda mantinha o olhar frio.
— Não vai fazer nada? Vai ficar plantado ai?
— Diferente de você que gosta de fazer as coisas no impulso. — French virou o rosto para a janela. — Eu já resolvi esse problema antes de chegar. Antes de pensar com os músculos, use a cabeça.
— O que você fez?
— Nós temos uma equipe especializada em matar essas criaturas aqui em cima justamente porque tivemos problema com isso no passado. Derrotar Felroz que voam sempre foi uma dificuldade, então, eu enviei todas as equipes para os elevadores.
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