Índice de Capítulo

    — Não tenho por que dizer meu nome — rosnou Dante, dando um passo para trás, firme.

    Nick, sentindo a hostilidade no ar, correu rapidamente para dentro das roupas de Dante, enfiando-se entre as camadas de tecido como uma criança assustada procurando abrigo. Mas os olhos de Phill acompanharam o movimento com precisão quase predatória.

    Num impulso, Phill tentou alcançar o pequeno Sugador. Sua mão rasgou o ar na direção do casaco, dedos prontos para agarrar. Dante reagiu sem pensar. A mão dele interceptou o movimento no meio do caminho, agarrou o pulso do homem e o girou com brutalidade, torcendo-lhe o braço em um movimento seco e cruel.

    Phill reprimiu um grunhido, os dentes trincados com a dor súbita. Mas não recuou. Ele contra-atacou, jogando o braço com força, tentando passar por baixo do casaco de Dante, mas o bloqueio veio novamente, tão preciso quanto o primeiro.

    O confronto escalou num piscar de olhos. Eles trocaram mais cinco, seis movimentos em um turbilhão de braços, punhos e bloqueios, as mãos de Phill buscando abrir brechas enquanto as de Dante respondiam com precisão letal. A cada choque, o som abafado de impacto reverberava no ar, ecoando por entre a neve.

    Quando Phill esticou o braço num avanço mais ousado, o ar ao redor deles pareceu comprimir. A gravidade se alterou, o ar se tornou denso, opressivo, como se uma muralha invisível tivesse sido levantada entre eles. Dante sentiu os músculos endurecerem. O peso que recaía sobre seu corpo era brutal, como se tivesse uma montanha pousada nos ombros.

    Era isso. A habilidade de Phill.

    — Por que está andando com um Felroz no bolso do casaco? — perguntou o homem, tentando manter o tom neutro, mas com os olhos fixos, duros.

    Os demais membros do grupo se aproximaram com cautela. Não era comum ver Phill sendo forçado a usar sua habilidade dessa forma — e menos ainda alguém resistir a ela.

    — Não se meta nos meus assuntos, moleque — respondeu Dante entre os dentes, o braço direito se elevando. Ele forçou o movimento contra a pressão esmagadora. A energia cinética acumulada em seus músculos estava sendo convertida a cada segundo. Não era visível, mas estava lá: como eletricidade acumulando-se em uma tempestade prestes a explodir.

    E eles não notavam.

    — Não estou aqui pra te machucar — insistiu Phill, com a mão estendida e prestes a tocar a aba do casaco. — Estou apenas curioso. Um homem da sua idade, enfrentando Felroz daquele jeito… e ainda carregando um. Você por acaso… controla eles?

    — Estou te avisando — sussurrou Dante. Sua voz era rouca, carregada. — Se tocar em mim, eu vou acabar com você. Aqui e agora. E não vou deixar pedaço suficiente para alguém reconhecer o que sobrar.

    Um dos homens do grupo se aproximou mais. Usava óculos protetores e um turbante tampando nariz e boca. Dante não tirou os olhos dele por nenhum segundo. O sujeito ergueu a mão e a abaixou como se ativasse algo.

    Foi sutil, mas algo atravessou Dante. Um calor frio, uma pressão estranha que invadiu suas entranhas como uma presença indesejada. Seu corpo reagiu com espasmos internos e um leve desequilíbrio. Ele apertou os dentes.

    — Phill — disse Gallohel, a voz tensa. — Desfaça a habilidade. Agora.

    Phill não respondeu de imediato. A mão dele estava quase dentro do casaco, prestes a tocar Nick.

    — Eu só vou…

    Foi a última palavra.

    Uma onda de pressão se formou no ar, como o prelúdio de um trovão.

    E explodiu.

    O impacto lançou Phill para trás como um boneco de pano, voando e rolando pela neve até parar aos pés de Helena. Ela o segurou por reflexo, mas a força do choque a arrastou também, ambos rolando quase vinte metros.

    Maiky e Gallohel foram arremessados em direções opostas. A neve voou como poeira, o chão tremeu, e o vento cortante trouxe um silêncio abrupto depois da destruição.

    Phill se ergueu com dificuldade, cuspindo neve e respirando pesado. Helena o ajudou, tirando parte da neve de seus ombros.

    — Sempre checar o inimigo — comentou ela, com um sorriso zombeteiro. — Nos ensinou isso e subestimou um homem comum. A habilidade dele é corporal, chefe.

    Phill respirou fundo, os olhos ainda arregalados pela surpresa.

    — Isso eu já sabia. Eu estava tentando entender a relação dele com aquele monstro.

    Ele limpou as roupas com as mãos, agora mais calmo.

    — Agora sabemos que eles são próximos demais.

    Helena virou o rosto para Gallohel, que tinha uma das mãos erguidas.

    — Gallohel tem informações, senhor.

    — Se junte aos outros. — Phill começou a caminhar de volta para o velho. — Aquele ali é meu.

    Do outro lado, Dante respirava fundo enquanto uma fumaça cinzenta escapava de sua boca e narinas. Seu corpo tinha recebido uma imensa quantidade de pressão, e converteu em força física e Energia Cósmica.

    O único problema era que a quantidade foi tanta que o limite que Vick havia dito foi ultrapassado em alguns poucos porcentos. E a dor muscular era tanta que chegava a travar seus músculos, como ombros e joelhos.

    Ele simplesmente… não deixaria ninguém tocar Nick. Nem Felroz… Nem Humano. Ninguém.

    Aproximação do inimigo, Dante. A habilidade regenerativa de Bastado consegue amenizar sua torção e dor. Você pode se mexer mais livremente mesmo que esteja sobrecarregado. Use a Energia Cósmica em um grau maior para voltar ao normal.”

    Dante levantou a cabeça, extremamente irritado. O tal Phill se aproximava correndo com uma espada em mãos. Então, Dante fez a raiva se transformar em um sorriso de lado.

    — Ótimo. Nick, se prepare. Vick, me mostre o que esse idiota está aprontando.

    O pequeno Sugador subiu correndo por dentro da roupa e se jogou agarrado em seu ombro. Ao mesmo tempo, os olhos de Dante se fundiram ao sistema de Vick, tornando seus sentidos mais afiados.

    Habilidade decifrada. Conclusão: travamento das partículas de ar, sobrepondo um corpo. Ele te tornará imóvel se chegar perto demais. Calculando…”

    — Não precisava se preocupar. — Dante abriu os dois braços lateralmente. — Ele precisa me tocar para conseguir usar essa habilidade, não é?

    Afirmativo.”

    — Só não me encostar, então.

    Ao voltar os braços para junto, o estalo foi alto. E o ar se moldou ao seu comando, enviando para frente como uma muralha, levantando a neve, as pedras, os galhos e até mesmo partes metálicas que caíam da estação.

    Um golpe de ar se tornou praticamente uma avalanche de dez metros praticamente, descendo com violência.

    Dante separou os braços de novo, e respirou fundo.

    — Vick, agora.

    Analisando… Conversão Cinética caindo para 1%. Aconselho a manter nessa quantidade para que consiga equilibrar suas atribuições corporais. Nick e eu faremos o necessário para que não precise ir além disso.”

    A muralha foi perfurada em dois lugares diferentes por chamas carmesins. De dentro deles, os quatro saltaram, dois de cada lado, se mantendo no alto. Dante os encarou, com um humor renovado.

    — Desde que eu acordei, esses dias têm sido bem mais corridos.

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