Índice de Capítulo

    O chão ainda tremia com o impacto da muralha de ar que Dante havia lançado. Estilhaços de pedra, flocos de neve suja e faíscas dançavam no ar denso. Das frestas abertas na cortina de destruição, surgiram Helena e Gallohel pela esquerda, Phill e Maiky pela direita, seus corpos em pleno voo, olhos fixos no alvo como predadores.

    — Mantenham a formação! — gritou Phill no ar.

    Dante não respondeu. Seus olhos brilhavam com o reflexo esverdeado de Vick ativada, e o leve tremor nas pernas era a única pista de que o limite de sua força já tinha sido ultrapassado. Mas seus pés se firmaram no solo — e ele não recuaria um milímetro.

    Gallohel foi o primeiro a tocar o chão, girando o corpo em meio a dezenas de lâminas finas e longas que surgiam a partir dos próprios braços e costas. Os pelos endurecidos como lâminas cortavam o vento e giravam como hélices.

    — Não se aproxime — murmurou Dante.

    Ele ergueu o joelho com precisão e girou o corpo, chutando uma pedra congelada. A rocha disparou como um projétil e acertou Gallohel no abdômen, antes que pudesse lançar qualquer ataque. O homem foi empurrado para trás, rolando na neve, com o ar sumindo dos pulmões.

    Dante girou, pronto para o segundo.

    Helena já estava com os braços envoltos em brasas carmesins. As chamas escorriam de seus pulsos como serpentes flamejantes, e num salto rápido, ela girou no ar.

    — Queime até os ossos!

    As chamas se alastraram em um arco largo. Mas Dante avançou direto em sua direção. Ele chutou o solo com força brutal, e o impacto liberou um jato de ar que colidiu com o fogo, desviando as chamas para cima como se fossem velas em tempestade. Helena aterrissou mal, sem equilíbrio, e Dante apareceu atrás dela em silêncio.

    Ele não a golpeou — apenas estendeu a palma e a empurrou com a Energia Cinética acumulada. Helena foi lançada como uma flecha, voando em linha reta até atingir uma das colunas da estrutura metálica. Um som agudo de metal reverberou, e a neve caiu dos andaimes com o impacto.

    — Dois. — Dante murmurou.

    Mas o tempo lhe foi roubado.

    Phill apareceu ao lado dele com velocidade impressionante. O ar ao redor de Dante se tornou espesso, como se o mundo estivesse sendo dobrado por camadas invisíveis. Phill ergueu a mão.

    — Aqui termina.

    O ar congelou.

    Dante sentiu o peito apertar, os músculos cederem. Como se a própria gravidade estivesse sendo manipulada ao seu redor. Ele não conseguia respirar direito. O som ficou abafado, como se estivesse sob a água. Nick se encolheu em seu ombro, quase apagado.

    Mas Dante sorriu.

    E então, soltou um rugido surdo.

    Do seu corpo, ondas de Energia Cósmica se expandiram como pulsos sísmicos. O campo de Phill foi fragmentado em segundos. Dante deu um passo à frente, e o solo rachou sob seus pés.

    — Vai ter que fazer melhor do que isso.

    Com o antebraço, ele rebateu Phill como se estivesse empurrando uma parede de vento. Phill voou, sendo pego no ar por Maiky.

    E então, o garoto atacou.

    Maiky se movimentava com uma graça estranha — como se estivesse sempre a meio segundo à frente. Seu corpo deslizava, antecipando os ataques de Dante. Quando o punho de Dante cortava o ar, Maiky já estava três passos fora do alcance.

    — Impressionante — disse Maiky. — Mas você é previsível.

    — Será? — respondeu Dante.

    Ele girou o tronco e não atacou. Em vez disso, chutou o chão, levantando fragmentos de gelo e detritos. Maiky se moveu para o lado, já esperando um ataque de trás.

    Mas Dante apareceu no centro. O golpe foi limpo — um gancho no estômago que não pôde ser previsto. Maiky sentiu o ar escapar do peito e caiu ajoelhado, olhos arregalados.

    — Tática, garoto. Intuição é só metade do combate.

    Os quatro tinham caído perante um único homem, mas suas feições não eram de derrota. Diferente do que estavam acostumados, ser derrotado em grande número tirava deles uma estranha energia interior.

    Era o desafio, e Dante conhecia isso bem. A única diferença é que seu principal inimigo nunca lhe deu brechas para vencer, nem mesmo nos seus melhores dias. E seu sorriso para o abismo era reconfortado apenas ao saber que ali fora, no mundo que se seguia, ninguém conseguiria tocar os pés do homem mais forte que conhecia.

    Mesmo que fosse chamado do pior nome possível, ainda seria o melhor inimigo que uma criatura poderia ter.

    Um segundo, foi o suficiente para Gallohel se levantar usando uma corrente que chegou a Dante. Ele segurou e enroscou ao redor do membro, o puxando para perto. O homem foi mais esperto, e travou o pé dentro de um buraco, forçando o braço de Dante em um deles.

    Maiky se juntou a Helena, correndo juntos, o garoto sendo uma sombra da mulher. E as chamas delas se juntando aos braços e pernas em uma armadura avermelhada e aquecida. Quando Dante esticou o braço, sorrindo, também viu Phill vindo pelas suas costas.

    Travar sua posição, criar um espaço para um golpe direto. Sem se comunicar, eles sabem o que fazer. São oponentes coordenados e bem equilibrados. São fortes, Dante.”

    Dante soltou uma risada.

    — Nick, pode comer.

    A luta tinha deixado Nick animado e bem energético. As chamas de Helena foram rapidamente se tornando uma espécie de machado, mas sua vibração era a mesma que quando Dante usava Energia Cósmica.

    Então, Dante girou o braço na direção de Phill.

    — Está me subestimando? — A voz de Helena surtiu até ele. O machado subiu, tocando o mais alto que ela conseguia erguer. — Nem um Felroz mutante consegue parar isso aqui.

    — Que bom que não tem nenhum desses aqui. — Dante riu. — Nick, agora.

    O Sugador saltou e abriu a boca. O que parecia ser o próprio ar sendo sugado, na verdade, se mostrou diferente. Não era o ar que está sendo puxado para um redemoinho da boca dele, e sim a Energia Cósmica.

    As chamas do Machado de Chamas estavam sendo puxados como alimento para a boca do faminto Felroz Sugador. E Helena começou a perder sua força, sua energia e sua esperança do ataque.

    — Pega o Felroz — gritou Gallohel para Maiky. — Não deixa ele puxar as chamas. Isso vai deixá-lo mais forte.

    Dante soltou outra risada, mas já era tarde. Metade das chamas já eram puxadas e a outra metade já tinha sido praticamente consumida, se tornando ainda mais fraca.

    Pelas costas, Phill se aproximou como uma bala, e quando sua mão chegou perto de tocar o ombro de Dante novamente, a neve abaixo de Dante se moveu. O formato alongado, parecido com o de uma cobra, mas ele não tinha tempo para se mover.

    Era forçar sua habilidade ao máximo para travá-lo por alguns segundos. Não fazia ideia de quem era aquele velho, mas agora, tudo o que precisavam era pará-lo. Nunca teve tanta dificuldade com um inimigo humano.

    Sempre forçados pela habilidade, sempre forçados a usar o que achavam ser especial para conduzir a vitória. Phill já tinha visto a derrota desses homens, mas esse velho… por algum motivo, ele não era como os outros.

    E precisava saber o motivo.

    Quando sua mão chegou centímetros dele, o Sugador no ombro de Dante esticou o braço para trás.

    A neve abaixo dos pés de Phill explodiu para cima, jogando toda a manta branca e fria para o alto. Phill ficou cego, e então algo agarrou seu braço. Algo afiado e bem forte, e por alguns segundos, ele travou.

    — Deve ser um pouco decepcionante ter que lidar com algo que você não faz ideia do que é. — Era a voz de Dante. — Eu já passei por esse tipo de coisa centenas de vezes. Então, sei como é irritante.

    — O que… é isso?

    Dante sorriu quando a neve estagnou no ar, mas Phill se mantinha da mesma forma, também travado.

    — É o que acontece quando você mexe com quem está quieto.

    Havia uma boca fechada, travando seu avanço. Era uma criatura escurecida, com os olhos esverdeados, grande para quem estava escondida debaixo da neve, e mais estranha por ser parecer com um…

    — Isso é um Felroz?

    Havia certa raiva em seu tom. Ele tinha sido levado até aquele instante, todos eles. Travados por um único oponente que sequer os levava a sério. E mesmo assim, a curiosidade assolava essa raiva com destreza.

    Dentro de Selenor, somente alguns teriam capacidade de duelar diretamente contra Caçadores sozinho e desarmados. E esse cara na sua frente… nunca tinha ouvido falar dele antes.

    — Adivinhou, então?

    Phill ficou travado no mesmo lugar, impossibilitado de andar.

    — Quem é… você?

    Dante gargalhou. Antes de responder, outra voz ecoou até os demais.

    — Hassini… — Distante, mas ainda firme, repetiu: — Hassini, o que você está fazendo aqui?

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