Capítulo 420: A Competição Invisível
Anotações… Se a Frequência Baixa causava problemas para os Felroz, indicava possivelmente que o sistema nervosos deles tinha sido desenvolvido com algo relacionado. Existiam muitos relatórios indicando que a Capital não utilizava mais esse tipo de comunicação por medo de atrair as criaturas para lá.
Existia também um medo incessante da parte dos Comandantes que usavam o negro justamente porque se os Felroz retornassem, haveria uma luta desenfreada e muitas mortes por conta da falta de força do outro grupo: Os Oficiais.
Talia respirou fundo lendo o manual improvisado dado por Humber e Nagatamo, os dois Comandantes mais antigos registrados vivos dentro da Capital. O retorno de Humber foi tão chocante que metade das pessoas ser alguma criatura que conseguia se transformar em humano.
A ignorância da Capital estava cegando a verdadeira luta. Mas… Talia ainda se perguntava que tipo de luta era essa.
— Aspirante Talia… — a voz rouca do Subcomandante Koga chegou até ela, tendo a atenção dos demais na sala acadêmica. Ele carregava o papel, esticando para frente enquanto seus olhos se contraíam atrás dos óculos. — Sua prova.
Tinha esquecido da prova. Talia se levantou junto de mais alguns alunos e desceram os degraus para pegar. O quadro de Koga era largo, quase três metros, com detalhes da matéria que tinha passado metade do dia explicando.
Uma expressão físico-química envolvendo reações em escala que ela tinha aprendido quando tinha oito anos de idade.
Assim que se aproximou, pegou a prova e virou, voltando sua atenção para o livreto. Koga rapidamente a chamou:
— Não está interessada na sua nota, senhorita Talia?
— Acredito que eu tenha tirado 92. — Ela levantou os olhos, sorrindo para ele. — Estou certa, professor?
Koga abaixou a cabeça, focando nas outras provas, e esticando para outro aspirante.
— Sua facilidade de compreensão é impressionante, admito. Deveria focar melhor no seu desempenho nas notas ao invés de ler sobre rascunhos escritos por um homem que voltou dos mortos.
Comentário deselegante, mas Talia não rebateu. Apenas virou as costas e voltou ao seu lugar. Lá, deixou a prova em cima da mesa e continuou a leitura. O tempo que deveria se dedicar a ler sobre os estudos tecnológicos levavam mais do que apenas o próprio tempo, era sua energia para poder entender como os antigos, que viveram centenas de anos atrás, conseguiram criar um sistema de comunicação imediata.
Se fosse possível recriar, então…
Uma sombra apareceu ao lado de Talia, e se inclinou até a prova exposta.
— 92. — Pelo tom de arrogância e desprezo, dava pra reconhecer Edmundo Gomez de longe ou de perto. — Sempre uma nota mediana em matérias medianas. Ainda não consigo entender como o Comandante Humber viu algo em alguém que…
— Fica quietinho ai, Gomez. — Talia esticou a mão, pedindo que ele parasse. — Estou lendo e seu bafo de merda está me atrapalhando a se concentrar. Se puder falar comigo dez metros de distância, te agradeço.
Os xingamentos eram comumente utilizados entre os aspirantes. Talia não gostava da competitividade que eles colocavam sobre si, achando que isso resolveria o problema pessoal deles. No entanto, se fosse para xingar, ela tinha um conhecimento sólido e profundo que aprendeu com seu irmão mais velho.
E Dante era muito generoso em ensinar formas de humilhar criando a raiva no coração dos outros. Ela mesmo era vítima, mas desde que ele foi embora… fazia tempo que não aprendia algo novo e divertido.
— Sua nota só mostra o quanto você é medíocre — a voz dele aumentou, chegando até o Subcomandante Koga. Os aspirantes podiam ser colocados a prova, mas os patenteados, como Koga e os demais de posições superiores também queriam isso. — A sua média é uma das piores entre…
— Terceira melhor da turma. — Talia o fitou de lado, mantendo a neutralidade da voz. — Quarta melhor do ano. Segundo mais rápida em montar e desmontar BioFerramentas. Primeira em Física e Tecnologia, segunda em Matemática Avançada e Literatura Antiga. Quer mesmo falar da minha média?
Uma das pessoas atrás de Talia era Astrid, “apadrinhada” do Comandante Humber. Ela deu uma risada de lado. Humber sempre dizia que irmãos eram parecidos, e que o tal Dante era uma pessoa completamente imprevisível em lutas, mas era meio idiota em conclusões.
Sua irmão, por outro lado, era muito inteligente e racional nos sentidos didáticos.
— Gomez — disse Astrid. — Sua posição é a nona, não é? Nono melhor da turma ou caiu pra décimo. Sabe que se você cair pra décimo primeiro, o seu padrinho não vai gostar nada, não é? Tenta se empenhar mais em estudar fórmulas básicas.
O rapaz engoliu a raiva, sem levantar a prova.
— Está do lado dessa preguiçosa?
— Onde a preguiça reside, existem formas de se aprimorar — respondeu Astrid, cruzando os braços acima da mesa. — Não tenho um lado a escolher. Só acho que está procurando motivos para falar com ela sendo que você está pior.
Talia girou o rosto. Astrid e ela se encararam, com a jovem gesticulando lateralmente a cabeça para ela. Foi um sinal de… compreensão? Ela não entendeu direito. Mas, foi o suficiente.
— Espero que sejam destroçadas no exame final. — Gomez se virou e saiu batendo o pé, da mesma forma que fazia sempre quando era atacado e não tinha respostas.
E com ele, a pequena gangue que sequer parecia se importar com Talia. Edmundo Gomez era o único, que por algum motivo, se sentia extremamente atacado com a posição de Talia na turma. Com mais de cem alunos, somente ela parecia ter atraído a sua atenção indesejada.
Assim que o jovem se foi, outra pessoa apareceu, essa mais condecorada. Usando a boina negra do Comandos, com o uniforme impecável. Essa era Nana Sasuin, vinda de uma família bem rica dentro da Capital e com os melhores recursos.
A postura dela, o jeito de falar, até mesmo sua facilidade em resolver problemas era oriundo da sua criação impecável. No entanto, assim que se aproximou, revelou um suspiro.
— Seu talento é inegável, mas seu foco precede a queda dele.
— Estou lendo, não gosto de ser atrapalhada.
Astrid viu o sorriso se formar de canto em Nana, e ela concordar e sair sem dizer mais nada.
Os Subcomandantes e Comandantes escolhiam a dedo os melhores alunos, e entre os próprios Comandantes existiam aqueles cuja fama precediam as muralhas e escapavam dos mitos criados contra criaturas ou façanhas.
Mas, o único que realmente tinha a atenção de um General era Nana Sasuin. Pelo fato de ser a melhor entre todas as dez turmas de Aspirantes, a melhor em média de notas, a melhor nos exames práticos, e tendo uma habilidade de criação de recursos que ajuda muito o Centro de Pesquisa do Comando.
Se havia alguém que estivesse mais perto de sair da posição de Aspirante no próximo ano, então, era Nana Sasuin. E assim como Gomez, ela também tinha alguma coisa contra Talia. Astrid não sabia o porquê até conhecer Humber.
Não era a habilidade, não era a personalidade bruta, era sua fundação.
— Por que está me olhando? — perguntou Talia, ainda de costas. — Esteve a aula e o intervalo inteiro me encarando como se eu fosse um tipo de comida.
E sua estranha facilidade de sentir algo que outras pessoas não conseguiam. Fosse uma pequena ideia, fosse uma sensação desconfortável.
— Por que eu teria interesse em você? — Astrid voltou a sua posição original. No fundo, a única coisa que afetava verdadeiramente Talia era o segredo que ela escondia. — Não vai conseguir subir o Comando tentando traze de volta uma pessoa considerada morta.
Era o irmão dela.
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