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    Dois dias, foi o tempo que Talia precisou para entender as matrizes. Não que era uma das coisas mais complicadas do mundo, no entanto, sem uma breve prévia do que realmente era aquele estranho sistema, precisou de apenas uma pessoa para ajudá-la.

    Comandante Vargo. Um dos poucos homens que havia no Comando que somente aparecia nos dias mais caóticos da Capital. Talia mesmo precisou perguntar para mais cinco pessoas onde poderia encontrá-lo, mas o homem foi cordial.

    Magricelo e alto, tinha cabelos longos e um olhar cansado. Se não fosse pelo piscar dos seus olhos, Talia jurava que era um cadáver. E a farda preta caía como uma luva, justa e bem ornamentada. Por outro lado, diferente de muitos outros, Comandante Vargo possuía uma estrela de prata e e uma de bronze do lado direito do peito.

    Era um homem condecorado.

    Após ouvir por praticamente meia hora, ele fez uma gesto vago de cabeça, concordando com tudo.

    — Suas dúvidas têm fundamento, Aspirante Talia. — O pergaminho aberto em sua mesa era idêntico ao que Humber havia mostrado para Talia. Mas, ela não iria mostrar o que descobriram. Ela desenhou perfeitamente em outro, apenas para apresentar. — Nosso teletransporte tem muitas falhas, mas eles são abertos mediante a Energia Cósmica. O problema é que eles não podem mais ser utilizados depois por conta da fatalidade do sistema.

    — Foram programados para serem usados somente uma vez?

    Vargo assentiu.

    — Não é algo que nós possamos simplesmente quebrar. Existe uma harmonia entre as matrizes, e ainda é complexo demais para podermos visualizar. Camadas e mais camadas, mas que se misturam, formando esse sistema. — Ele esticou seu dedo para outra parte, uma das letras na diagonal. — Aqui, por exemplo, é onde a formação é quebrada quando uma Energia Cósmica muito forte colide contra a formação.

    — Pode ocasionar na quebra do teletransporte?

    — Sim, é algo que os Aspirantes estudam no Terceiro Ano. — Ele recuou o braço, curioso. — Por que tem tanto interesse nessa matéria agora? Tem a ver com o seu irmão?

    Não tinha como negar algo tão bem conhecido.

    — Sim, senhor. Queria poder conhecer melhor o que fez ele desaparecer para que ninguém mais passe por isso. — Eu quero trazê-lo de volta. — Se o senhor puder… me mostrar algum conteúdo…

    — Não posso lecionar, não mais. — O Comandante suspirou bruscamente. — Muitos dos nossos pergaminhos estão selados por conta dos problemas que encontramos durante os anos. Por isso, só podemos usar os mais simples e em quantidade menor de tempo. Muito tempo atrás, nós tínhamos uma pessoa que lia esse tipo de escritura, mas ela se foi.

    Talia viu o rosto dele afundar em uma tristeza. Então, a história de que Vargo era filho de um Ocultista era verdade. Ele não teria como esconder isso dela, não com aqueles olhos tristes.

    — Entretanto — Vargo ergueu o rosto —, tem minha permissão para pegar qualquer material na biblioteca do Comandos para que possa estudar. Nunca iria deixar um dos Aspirantes no escuro, então, supra sua curiosidade, mas não se afogue nele. Estamos entendidos?

    — Sim, senhor.

    Precisava da permissão para ir mais afundo. Então, foi o que ela fez. Desceu até a biblioteca, usou todos os seus fundos para pegar o máximo de livros possível e os levou em um carrinho de volta para seu quarto.

    Ela tinha três dias de folga até as provas finais. Então, espalhou eles por cima da bancada inteira. Praticamente trinta livros, alguns abertos, outros fechados, mas Talia permaneceu travada encarando cada um deles.

    Na bancada ao lado, os pergaminhos desativados que Comandante Humber lhe deu foi suficiente para preencher completamente o primeiro nível. Ela guardou os demais embaixo, no suporte, enrolados e lacrados.

    E por dois dias, ela leu os livros. Pegou cada um com delicadeza, e começou a ler seu conteúdo. Símbolos, Matrizes, Ligamentos, Numerologia e Camadas. Cada um deles se aprofundando, mantendo até mesmo a estrutura diferente por terem sido escritos por pessoas diferentes em épocas diferentes.

    No final do primeiro dia, Talia já estava rabiscando em um pergaminho em branco. Replicava lentamente o que aprendia, tentando manter a constância, e acabou pegando no sono.

    Sonhar era o mesmo que sofrer. No dia seguinte, ao abrir os olhos, ficou tonta por alguns segundos. Era naquele sonho de ver seu irmão que sua raiva e tristeza tomavam conta de seu peito. Ela foi até o seu banheiro, dando uma boa olhada no espelho e respirando fundo.

    Lavou o rosto, escovou os dentes e voltou a sentar na cadeira, pegando o pincel.

    Passou praticamente o dia inteiro naquele pequeno pergaminho. Assim, iniciou outro, seguindo as intruções de um dos livretos mais antigos que se tinha na biblioteca sobre as matrizes. Demorou praticamente metade do dia para desenvolver completamente o que se pedia.

    Assim que terminou, ela se levantou. A barriga roncava, a fome batia e seu corpo pedia para que ela o esticasse. Talia então colocou o pincel bem no meio do pergaminho de transferência na ponta direita.

    Levantou, indo até o banheiro e novamente lavou o rosto. Ajeitou o cabelo, prendendo como normalmente fazia, atrás da cabeça e pegou a boina, ajustando no topo. Assim que virou, foi até a porta.

    O refeitório ainda deveria ter alguma coisa para ela. Fechou a porta, mas lembrou que precisava do seu documento para entrar lá depois do horário estipulado. Voltou, indo até sua escrivaninha, e pegou o cartão com seu nome e foto.

    Assim que virou, encarou a mesa. A bagunça, o caos que tinha se tornado, tudo jogado para o lado. Mas ela respirou fundo. Precisava disso mais do que nunca. Seus pais falharam com Dante, a Capital falhou com Dante, todos eles pareciam ter desistido…

    Mas, Talia não faria isso. Nunca.

    Quando chegou perto da mesa, sua sobrancelha se elevou. Talia tinha certeza que tinha colocado o pincel do lado direito, na ponta. Então…

    — Por que ele está na esquerda?

    E diferente de antes, ele tinha ganhado uma cor escura. Talia chegou ainda mais perto, e prestes a tocar nele, ouviu o som na porta. Três batidas graves e fortes.

    — Aspirante Talia. — Era um dos Tenentes, mas pela voz, duvidava que reconheceria. — Comandante Vargo pediu para entregar algo para você.

    Recuando a mão, Talia respirou profundamente e se afastou na direção da porta. Ela o abriu, dando de cara com Tenente Rem, um dos colegas de Vargo nos estudos. Ele tinha um pergaminho nas mãos. Esse era diferente, tinha duas pontas azuladas e com algumas linhas, além de letras juntas.

    — Isso é um mapa?

    — Não necessariamente um mapa que você está acostumada. — Rem entregou. — É um dos poucos mapas de Energia Cósmica que tivemos atualizado nos últimos anos. Eu tentei decodificar, mas não tive sucesso, então…

    Pela expressão dele, entregar um pergaminho que o próprio Comandante havia lhe dado não era muito divertido ou caloroso. Ainda assim, manteve a cabeça erguida.

    — Espero que consiga ser mais eficiente do que eu.

    Talia tomou e agradeceu.

    — Está com fome, Tenente Rem? — Ela deu uma risada. — Porque eu preciso comer e conversar sobre matrizes.

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