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    — Estou um pouco decepcionado com ela. — A Oficial Dalia e Tecno se colocaram presentes na sala de Humber, ambos em classe. O Comandante, no entanto, sentava atrás de sua mesa ainda olhando um relatório completo de um dos seus melhores Tenentes. — Gostaria que o senhor falasse a respeito do que aconteceu.

    — Por que eu deveria?

    A pergunta pegou os dois de surpresa.

    — Porque… o senhor conheceu o irmão dela, senhor. — Tecno ajeitou a postura, mesmo um pouco perdido pela resposta. — Nós temos medo de que Talia fique desesperada e acaba cedendo. Não sabemos como ela vai reagir.

    — Realmente, isso vocês não fazem ideia. — Era de esperar que eles estivessem desesperados, mas não por conta da garota procurar o irmão, mas pelo fato dos Oficiais terem um problema ainda maior nas mãos. — Talia está sob a supervisão de dois Comandantes, três agora porque o Comandante Vargo gostou dela.

    — O Comandante de Matrizes? — perguntou Dalia. — Achei que ele estivesse estudando fora da Capital.

    — Voltou faz alguns dias e eu tive uma conversa com ele. Mas, isso não vem ao caso. O que quero dizer é que vocês querem algo que não posso fazer, e gostaria que pudessem entender isso. — Humber abaixou o documento, os fitando. — Talia está em boas mãos. Eu pedi que ela estudasse mais, que fizesse os projetos que a Academia pede, e creio que ela não irá me decepcionar.

    — Como o senhor pode ter tanta certeza assim?

    — Porque pelo pouco tempo que estive com ela e com Dante, eu entendi que ambos são idênticos. — Sorriu ao se recordar do velho no navio. — Existe algo nas pessoas que nós precisamos ver com a alma, e os dois são assim. Observam um pouco mais longe do que o resto das pessoas, mesmo Dante sendo considerado uma… falha.

    — O senhor acredita mesmo nisso? — O rosto do Oficial Tecno era uma mistura de incredulidade e irritação. — Dante mostrou ser mais do que um erro.

    — Não tenho motivos para acreditar que ele não é uma falha. O pai dele mesmo disse isso, mas o que as pessoas dizem não deveria ser a verdade. Da mesma forma, o que Talia disse a vocês, ambos levaram como se fosse uma sentença. Ela não é uma criança, ela pode muito bem se proteger, ainda mais porque agora ela tem o que precisa para continuar subindo.

    — O que seria?

    — Determinação e um propósito. — Humber não deixaria que os dois ficassem interrompendo. — Sabe o motivo dos Oficiais e o Comando não serem amigáveis um com o outro? Por conta das diferenças de mentalidades. Oficiais foram forjados para o aço, para continuarem seguindo em frente no campo de batalha, e o Comando criado para assumir os problemas burocráticos e projetos da Capital. Vocês são as pernas que nos movem, e nós somos os braços que criam.

    Dalia ainda tinha a expressão dura.

    — Então, o senhor acha que nós estamos interrompendo o progresso dela?

    — Eu poderia dizer que sim, Oficial Dalia, mas prefiro fazer com um argumento. — Humber deu silêncio aos dois. — Há alguns meses, a Aspirante Talia tinha um projeto sobre Frequências, lembra? Um que ela tinha quase certeza de que seria bem visto.

    — Sei bem do que se trata o projeto.

    — Sei que sim, alias, a Cadeia de Oficiais tomou esse projeto para si depois que foi patenteada. — Humber cruzou os dedos e respirou fundo. — E essa ordem partiu porque um dos comentários ditos num dos projetos indicava que dois Oficiais estavam presentes como contribuintes.

    E foi uma decepção pelo que Humber tinha lido. Eles acabaram com tudo o que Talia havia criado. Um sistema complexo de comunicação que seria ideal para poderem se comunicar. Agora, estava na mão de pessoas incompetentes.

    — Está nos colocando como quem fez ela perder o projeto — disse Tecno. — Mas, ela mesmo disse que não iria colocar ele em andamento porque tinha uma outra prioridade.

    — Sim, eu soube também. Está nos relatórios do Comando. — Humber esticou o braço e pegou calmamente a pasta que continha os registros. — Alias, a Aspirante Talia vai voltar com esse projeto. Ele não pertence mais aos Oficiais.

    Deu pra ver o rosto dos dois ficando vermelho.

    — O que disse, senhor?

    — É o que ouviram. O projeto foi comumente realizado através de esforços envolvendo o Comando, por isso, eu tomei partido de conversar com o Capitão Feerle. Expliquei a situação, mostrei os dados que reunimos durante esse tempo, e ele cedeu para continuarmos aprimorando. — Humber não deu brechas para os dois. — Assim como Talia sentiu, eu também sinto muito, mas vocês estão dispensados dos dois projetos que envolvem a Aspirante.

    Não houve um som da boca dos dois. Vazio. Nada. Nem mesmo um sibilar ou um argumento contra. Dalia apenas balançou a cabeça, retendo a raiva em seu peito e saiu caminhando em direção a porta.

    O Oficial Tecno ficou por mais alguns segundos, fitando-o, sem acreditar no que tinha ouvido. Humber já tinha se acostumado a esse tipo de gente, que era batido da cabeça e nos pés, ficando sem andar ou pensar.

    Se eles fossem espertos, então, seguiriam seus próprios rumos agora.

    O único que deveria realmente estar vinculado a Dante nesse momento era a própria Talia. Humber esperou que eles fechassem a porta, para só então, pedir que Astrid entrasse. A garota fez silenciosamente, como sempre, parando alguns passos de distância, mantendo o respeito.

    — Senhor.

    — Quer se juntar a Aspirante Talia em dois projetos recentes do Comando?

    A jovem respirou fundo, e concordou rapidamente.

    — Senhor, eu nunca participei de projetos. Eu… como eu poderia ajudar? Não conheço tanto sobre tecnologia ou minérios.

    Humber deu uma pequena risada.

    — Não precisa se preocupar quanto ao tema. Você estará lá para aprender também. Hoje, você tem uma média acima de Talia e está perto de Nana. A chance aparece para quem está preparado, e você esteve esse tempo todo. — Um documento clareou a direita dele. Um papel bem diferente de todos os outros. — Eu preciso resolver algo agora, Astrid. Mas, produza um documento com sua participação, e inclua o projeto Expansão também nele. Quero as duas a par sobre isso. Avise a Aspirante Talia que é um pedido pessoal meu.

    Numa velocidade surpreendente, a garota se atirou para fora do escritório.

    Humber tocou o papel amarelado. Ele levantou, inclinado a inspecionar com mais delicadeza, e ficou bem intrigado pelas palavras que seguiam a aparecer nele. Era o papel que Sinora, uma das tripulantes havia entregue para ele e os outros capitães no Mundo Espelhado.

    E quem escrevia era o Anão, Nekop. O Teor da mensagem, entretanto, deixou Humber um pouco mais curioso do que nervoso.

    Capitão Dante se encontra ao lado da Rainha do Norte. Dois dos nossos também foram levados. Estamos esperando um retorno do que está acontecendo lá, mas o mar está caótico. Todos as zonas do Oceânico Polar estão enfrentando hordas de Felroz. O Nokia resiste, mas o Capitão Dante está longe demais”.

    Inusitado, achava Humber. Eles devem ter dito uma batalha contra o tal Bastardo que mencionaram, mas pela forma como o Anão escrevia, era bem mais complicado. Uma batalha no mar carregava bem mais do que apenas alguns poucos resquícios; e os Felroz haviam ficado mais ouriçados.

    Comandante Humber bateu novamente no sino, e a porta se abriu com Astrid segurando alguns papéis.

    — Peça para o Tenente Rem vir até mim.

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