Capítulo 426: Plano
— Então, o plano vai ser desmarcar French na frente da Rainha — disse Cleny depois de entender onde tudo se encaixava. — Se for possível, podemos dar cabo a essa aberração e os planos dele. Por isso que tudo está ficando cada vez mais perturbador aqui fora.
Dante negou de cara.
— Não acho que seja o melhor plano. Eu vi um dos seus colegas, Aspas se encontrando com um homem. Se possível, esperem até que todas as peças se encaixem.
A expressão de Yuri era a mesma. Mesmo sereno, seus olhos eram avídos por agir. Ele queria fazer de tudo para que French pagasse. Seu filho e sua esposa eram tratados como alvo enquanto ele se vestia como um peixeiro na cidade portuária.
Era de se imaginar que sua queria a cabeça do desgraçado.
— Ele deve ter muito apoio. Não quero que meu filho corra riscos. — Dando a volta na mesa, ele passou os dedos por cima da madeira, e parou respirando fundo. — A Rainha não saber como ele faz nos dá a possibilidade de pensar que ele não é o único que tem poder lá dentro. Conhecendo bem Selenor, pode ter certeza de que deve ter outras pessoas.
— Senhor, mesmo sabendo, é arriscado nos colocarmos dispostos desse jeito.
Yuri concordou ainda fitando a mesa.
— Entrar em Selenor vai ser um trabalho difícil até mesmo pra mim, agora. Eles devem ter feito muitos ajustes depois que meu filho voltou vivo. — Aos poucos, sua cabeça ficou ereta, sua postura arrumada. — Mas, eu sei que precisamos agir. E vamos fazer da maneira que eles detestam.
Os dois ficaram imóveis, esperando.
— Influência — concluiu Yuri. — Se a informação que Hassini nos passou até agora é realmente verdadeira. Estamos disputando Lagmoratos contra uma mulher nas Terras de Yieno.
Dante ficou confuso. Yieno…? Ele tinha dito Planície Central.
— Desculpa, mas Yieno fica perto daqui?
— Ah, claro. É normal que não saiba. As Planícies Centrais e Yieno são um conjunto, eles recebem o mesmo nome, mas são divididas por lugares. Selenor, por exemplo, faz parte da Planície Central, mas quanto mais a fundo no continente, mais os nomes se alteram. Se fosse colocar no papel, o continente é maior do que o Oceânico Polar de onde diz que veio.
Dante ficou ainda mais chocado. O tamanho do continente era subitamente largo, longo demais. E cada vez que pensava que demorava mais anos para voltar para casa, mais chateado e ressentido seu coração se tornava.
“Concluindo anotações. Yieno é um território pouco conhecido por Selenor, mas suas batalhas continuam acontecendo por anos. A Rainha do Norte acredita que os Lagmoratos de dentro do continente podem conter algum tipo de informações sobre a Energia Cósmica.”
Dante compreendeu a razão. Ela procurava algo parecido com o Bastardo, mas em terra. Pedras Lunares e Solares, algum resquício do verdadeiro poder. E usá-lo para benefício próprio. Como ainda não tinha ideia do que ela pretendia, não disse nada.
Mas, os olhos de Yuri Saser eram um caçador espreitando seu alvo. Ele poderia ler a mente, mas Dante não se importou com isso.
— Eu tenho uma colega que veio de Yieno. Ela estava em um dos navios que resgatei no mar. Defiane Yieno, pelo menos era assim que ela gostava de se chamar. — Dante fez uma pausa. — Ou era o sobrenome dela mesmo?
— Duvido que seja o sobrenome — respondeu Yuri. — Somente os filhos dos chefes de Palácios recebem o nome do lugar que vivem.
Ele deu de ombros. Defiane era muito brusca para ser filha de um renomado líder. Bom, Dante era filho de um guerreiro e não tinha os mesmos modos que ele…
“Render nunca transmitiu sua etiqueta corretamente a você, Dante. Isso é confirmado”.
Ótimo, agora eu estou errado duas vezes.
Ao cruzar os braços, ficou mais perto dos dois Saser, esperando que terminassem os planos. E foi apenas Yuri quem deu a palavra final depois de pensar por um tempo. Mesmo não querendo, ele teria que agir como um amigo.
— Os Saser não podem sair dessas terras em massa. Chamaria atenção até dos sentinelas. E os Caçadores já estão de olho daquele lado. — Ao girar a cabeça, fitou Dante. — Eu posso ser um homem complicado, mas sou justo. Não vou pedir que faça isso, mas se puder nos ajudar a encarar esse problema. Sei que tem feito o que pode para entender onde está, e sei que é perigoso demais lutar contra os Felroz, mas…
— O que mais quero é voltar para casa. É só o que eu quero. Voltar para minha família, para os meus amigos. — Dante sorriu de lado, um pouco triste. — E não tenho ideia de como fazer isso. Um amigo meu disse que existia um homem chamado Merlin capaz de criar uma porta, e eu poderia voltar, mas nunca entendi de verdade. Me prometeram o Desejo do mar, mas não faço ideia se é verdade. Eu tenho minhas próprias formas de querer sair desse inferno que eles fizeram pra mim, mas eu quero entender porque me prenderam tanto tempo.
Yuri esticou o braço, e Dante apertou.
— Você tem culhão, rapaz — disse Yuri. — Se eu negar isso, sou idiota. E eu posso te afirmar que Merlin existe. Se me ajudar com os Lagmoratos, eu farei o possível para conseguir achá-lo.
Dante concordou, mas seus pensamentos foram filtrados pela voz de Vick em sua mente.
“A família Saser não tem capacidade nenhuma de conseguir encontrar o Mago Merlin tão bem conhecido. Nossa verdadeira chance seria interrogar French ou a própria Rainha do Norte. Sem eles, então, estamos novamente na estaca zero.”
Mais do que só concordar, Dante aceitou as palavras dela. No entanto, ao largar a mão de Yuri Saser, ele recuou pouco.
— Me diga como ajudar e farei o necessário para que eles venham até aqui procurar por vocês. — A única coisa que não gostaria era ficar travado no mesmo lugar. E agora com Vick e Nick ajudando, seria a decisão perfeita para não precisar se segurar mais. — E quero saber sobre aqueles caçadores. Eles atuam nos Lagmoratos nessa fronteira de Yieno?
— Sim, exatamente isso. São contatados pelas famílias quando existe esse tipo de problema com as sirenes. Mas, ninguém disse o que causou elas.
Dante recuou um pouco o olhar. Seria ruim dizer que foi ele e Vick tentando achar respostas.
— Senhor — Cleny disse, preocupado. — Se eles encontrarem Hassini, capaz de quererem mandar de volta para Selenor. Ele precisa de algo para se misturar.
Yuri apontou, concentrado.
— Isso é verdade. Hassini, se importa se levar o nome Saser com você pra isso? Precisamos que você aja pelo nosso nome para que eles possam aceitar a derrota.
Dante deu uma risada.
— Claro que aceito. Nem precisavam fazer esse alarde. Hassini Saser não é um nome difícil de pronunciar. Então, só me darem uma posição e eu vou. Mas, primeiro. — Sua mão recaiu a barriga roncando. — Preciso de algo pra comer imediatamente.
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