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    Dante sentiu os braços se envolverem ao redor do seu corpo, pesados de tanta força, como se os dois quisessem se certificar de que ele realmente estava ali. O calor dos abraços era real. Trahaus e Gregoriano não eram família, mas por um instante, pareceram ser. Ele apertou os dois com firmeza, fechando os olhos. Estava ali — e eles também.

    — Cacete — murmurou Trahaus, afastando-se um pouco com os olhos úmidos, os cabelos bagunçados pelo vento quente do verão que soprava por entre as colinas nevadas da capital. — Eu… nunca imaginei que te veria aqui de novo. Disseram que você tinha morrido.

    Gregoriano soltou o abraço com mais lentidão, ajustando as vestes amassadas, ainda incrédulo.

    — O senhor está bem mesmo?

    Dante respirou fundo e abriu os braços como se estivesse pronto para receber qualquer nova surpresa.

    — Tive uns problemas… mas estou resolvendo. Agora, se quiserem manter uma certa descrição, eu vou agradecer. — Sorriu e os puxou mais uma vez, apertando as mãos com a força de quem reencontra antigos aliados. — Se me dissessem que encontraria meus colegas aqui, eu teria me lançado nessa missão muito antes.

    Ambos sorriram com alívio.

    — Não tivemos escolha, Capitão — disse Gregoriano. — Quando o senhor foi trazido pra cá, também pegaram Pomodoro e Sinora. Mas não sabemos onde os levaram.

    A expressão de Dante endureceu por um momento. Pomodoro e Sinora… Por que os capturariam também?

    Os Lagmoratos nessa terra são imensos. É possível que tenham trazido Pomodoro por sua capacidade curativa e Sinora pela habilidade de mensagens.”

    A voz veio nítida, sem eco, sem som, direto em sua mente. Trahaus e Gregoriano se entreolharam, tocando a própria cabeça, como se tentassem entender o que tinham acabado de ouvir.

    — Vick é minha IA — disse Dante, ao ver as feições confusas. — Quando estive com vocês, ela estava inativa. Agora, é quem me ajuda desde que acordei.

    Eles ainda pareciam perdidos.

    — Não sabem o que é uma IA? Vick, consegue passar todos os dados que reunimos nos últimos dias.

    Antes que pudessem reagir, um estrondo sacudiu o solo. Atrás deles, o ar foi rasgado por uma explosão de Energia Cósmica. Fagulhas violetas e douradas cortaram o céu claro como lanças, e a pressão empurrou neve e terra em todas as direções.

    Mais caçadores gritavam, sendo lançados pelo impacto. A onda de choque arrastava tudo — pedaços de armaduras, estandartes e pedras.

    Uma nova leva de Felroz emergia das colinas ao sul. Criaturas bestiais, envoltas em armaduras naturais de gelo e terra, rugiam enquanto avançavam com garras abertas e olhos famintos.

    O painel que sinalizava o fim das hostilidades ainda não havia caído. Era como se a guerra estivesse apenas começando.

    — Estão multiplicando os azuis — resmungou Dante. — E quanto mais deles escapam, mais vermelhos surgem.

    Trahaus fitava o horizonte com um nó no peito.

    — Então a Rainha do Norte não está no comando?

    Ela abaixou os olhos, pensativa.

    — Deve ser por isso que Nekop não conseguiu a audiência com ela das últimas vezes.

    — Ele tentou vir?

    — Várias vezes, senhor — respondeu Gregoriano, cruzando os braços. — Queríamos negociar informações do Oceânico Polar com ela. Mas um homem chamado French barrava tudo, dizendo que informações de piratas eram sempre distorcidas.

    Dante assentiu, sombrio. Já ouvira esse nome. French era uma das peças do tabuleiro — talvez até mais perigosa que aparentava.

    — Hassini Saser — sussurrou Trahaus, com a voz um pouco mais lenta, pensativa. — Agora tudo faz sentido. Bom… se você pode estar aqui, então nós também podemos. Acredito que tenha vindo com outros motivos.

    Gregoriano deu um passo adiante, ficando ao lado de Dante. Trahaus acompanhou o movimento, formando uma pequena linha entre os três.

    — Que tipo de festa vai ser? — perguntou Gregoriano com um meio sorriso. — Estou pronto.

    Dante tirou algo de dentro do casaco. Brilhou sob o sol quente, refletindo tons dourados que reluziam como brasas antigas. Era a insígnia dos Saser.

    — O nome dos Saser precisa soar de novo. Por isso, trouxe um pequeno símbolo deles.

    Trahaus arregalou os olhos e soltou uma risada curta. Gregoriano o acompanhou, com a mão sobre o peito.

    — O ponto amarelo…

    Os três riram juntos, mesmo que a tempestade estivesse prestes a cair sobre eles outra vez.


    Dante segurou o punho do Felroz com a mão envolta em Energia Cósmica. A força do golpe do monstro mal o fez recuar — apenas uma leve contração nos músculos das pernas para manter o equilíbrio. Atrás dele, a explosão de ar provocada pelo embate se espalhou como uma rajada viva, levantando a neve em espirais e fazendo os troncos das árvores se curvarem, gemendo sob a pressão repentina. Gotas de gelo giravam no ar, reluzindo como cacos de vidro ao redor.

    Mas Dante nem piscou.

    O ataque do Felroz havia sido fraco. Tão fraco que chegava a incomodar. Ele sentiu outra vez aquela chama, aquele ardor no peito que crescia conforme o tempo avançava. Não era dor — era combustão. Era energia.

    Sua respiração se intensificou por um breve instante.

    Sua animação é contagiosa, mas lembre-se de que seu corpo ainda não está apto para liberar acima dos 3%.

    A voz de Vick soou firme em sua mente, um lembrete necessário, mas ignorado com o mesmo desdém com que se encara uma nuvem passageira. Dante puxou o Felroz com brutalidade, trazendo a criatura para perto como se o peso colossal dela não passasse de um pano molhado.

    Dois golpes laterais vieram em sequência, rápidos e sincronizados — garras curvas mirando seu rosto. Ele inclinou-se de imediato, primeiro para a direita, depois para a esquerda, o corpo fluindo como uma folha desviando do vento. O último desvio foi tão baixo que o joelho quase tocou o solo.

    E ali, em meio à esquiva, Dante girou o quadril.

    Seu chute saiu torto, desengonçado até para os padrões de combate, mas carregado com a fúria de um trovão. O impacto acertou o peito do Felroz com tamanha violência que o ar ao redor se partiu num estalo seco. O monstro foi lançado como uma flecha disforme, rasgando o campo gelado, rolando por cima da neve, até se chocar contra outros da mesma espécie.

    Os três Felroz atingidos ruíram com o impacto, uma pilha viva de membros retorcidos, rugidos sufocados e ossos rachados. A terra abaixo deles tremeu.

    Dante ergueu os olhos.

    Encontrar com Trahaus e Gregoriano fez isso comigo.

    O pensamento veio enquanto ele virava a cabeça levemente para a direita, observando de onde viera. Era como se visse os dois ainda ali, mesmo que já estivessem fora do alcance. E pensar em perdê-los de novo reacendia uma dor que não tinha mais nome.

    — Ter que ver eles indo para longe de novo me deixou um pouco irritado. Me faz lembrar do porquê fui trazido para cá.

    Ainda contesta sua própria força como se fosse fraco. Qualquer um na batalha contra o Bastardo claramente seria morto em segundos. Controle sua respiração e termine o que começamos.

    A voz de Vick ganhou firmeza. Havia impaciência ali, e Dante a entendia. Segundo os dados da mulher capturada — uma das caçadoras —, logo os líderes de Selenor fariam seus movimentos. Não suportariam ver esse novo território sob domínio de alguém como ele. Eles viriam.

    Pela informação que recebemos da humana, assim que dominarmos em uma escala maior, os caçadores vão se aproximar para tentar tomar para Selenor.

    Dante soltou um longo suspiro, os dedos ainda em brasa com a Energia Cósmica que escapava pelas fendas das luvas rasgadas. A aura dourada e violeta vibrava ao redor de seus braços, criando círculos de energia que tremulavam como chamas presas ao vento.

    — Sendo sincero. — Ele olhou para frente. — É o que eu mais quero.

    Seus olhos brilharam por um momento, pupilas contraídas, e as veias do braço pulsaram de forma irregular. Ele esticou o pescoço, o corpo se movendo com tranquilidade, e seu peito subia e descia num ritmo constante.

    Capital, Kappz, Oceânico Polar e agora Selenor. Ele apertou as mãos novamente, tensionando suas pernas ainda mais. Estava na hora de fazer as coisas do jeito correto.

    Nick, Lilo. Dante vai precisar da ajuda de vocês.”

    Os dois subiram por dentro das vestes de Dante, se jogando para seus ombros.

    Naquele pequeno instante, Vick tinha certeza absoluta de que Dante poderia derrotar qualquer inimigo…

    Os dados armazenados de um lugar distantes a acertou em seguida, como um lembrete, um aviso. E ela reconsiderou.

    Talvez… nem todos os inimigos.

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