Capítulo 437: O Confronto de Monstros
O campo branco foi quebrado pelo som do gelo rachando. O Felroz Mutante deu seu primeiro passo e, por um instante, tudo pareceu se curvar ao redor da criatura — os flocos de neve desviavam de sua presença.
A natureza tinha medo de tocá-lo.
Dante sentiu a pulsação no peito crescer. Seu corpo, agora reconstituído pela Energia Verde, vibrava com ferocidade. Ele não esperou. Nem um segundo. Disparou para frente, os pés esmagando a crosta gelada com força suficiente para abrir crateras.
Ambos se lançaram. Dante soltou o primeiro soco — um arco largo, com toda a massa de seu corpo por trás. O Felroz respondeu com a garra, e os dois impactos se encontraram no meio do ar, gerando uma onda que explodiu as árvores próximas em estilhaços.
O segundo movimento foi instintivo: Dante abaixou, girou e acertou o joelho da criatura com um chute lateral. O som do impacto reverberou como um trovão subterrâneo. O Felroz recuou apenas um passo antes de saltar e morder o ombro do humano com uma mandíbula de aço negro.
Dante gritou, mas girou no ar, cravando o cotovelo na lateral da criatura. O Felroz voou, mas se estabilizou com as garras no gelo, rachando tudo em volta. A cada segundo, os dois estavam aprendendo um com o outro — e aumentando o tom da batalha.
O Felroz bateu as asas deformadas, criou uma rajada escura e avançou. Dante respondeu com o Pulso Cinético — sua técnica favorita — que explodiu de seu punho como uma onda de destruição focalizada. A criatura voou para trás, mas aterrissou de pé.
O humano sorriu, os dentes vermelhos de sangue.
— Tá entendendo o jogo, né?
O Felroz rugiu. Sua pele começou a mudar de cor — pigmentos escuros surgiram como rachaduras brilhantes, liberando vapores ácidos. As garras cresceram mais.
Dante se curvou levemente, os braços tremendo com o acúmulo de força.
E então, eles se jogaram um contra o outro mais uma vez.
A ferida em seu ombro foi se curando aos poucos, o verde e o roxo se misturando. Era a sensação da luta, a sensação de uma disputa acirrada. Houve uma pressão esmagadora em sua cabeça, o obrigando a ceder.
Mas ele negou para si.
— Essa habilidade não vai funcionar, eu já disse.
Antes de conseguir se mexer, Dante perdeu o monstro de vista. Piscar custou mais caro, e o Felroz estava em cima dele.
O primeiro soco pegou no queixo. Um som seco, direto, como madeira quebrando.
Dante girou com o impacto, rindo. Cuspiu sangue e girou o corpo em resposta, acertando o rim da criatura com o punho direito. Outro baque surdo. Não houve conversa. Nenhum deles precisava falar agora.
O Felroz atacou de novo — gancho, cotovelo, chute direto. Cada golpe cavava mais fundo no corpo de Dante, que recuava aos poucos, o sorriso crescendo.
— Mais… — sussurrou, com o olho esquerdo já fechado por um hematoma. — Me dá mais.
O Felroz respondeu com um avanço brutal. Cravou a cabeça no estômago de Dante e o empurrou contra uma pedra, esmagando suas costas. Dante grunhiu, mas aproveitou a posição: envolveu o pescoço da criatura com os dois braços e bateu com a testa bem no meio dos olhos da fera. Um estalo seco.
Ambos recuaram um passo. Respiravam pesadamente. Sangue escorria de ambos os corpos, evaporando no frio do Lagmorato.
Então o Felroz fez algo diferente.
Estendeu as asas deformadas. Um estalo repulsivo atravessou a região quando ossos regenerados romperam a carne e cresceram. As membranas negras se abriram. Ele avançou outra vez, mas desta vez agarrou Dante pela cintura.
— Vai querer me levar pra passear? — Dante riu, cuspindo mais sangue.
E eles subiram.
O Felroz batia as asas com força animalesca, cortando o céu branco do norte. A subida foi vertiginosa, deixando para trás os rastros de destruição e o campo enregelado. O vento arrancava a respiração, e a altitude fazia o ar doer nos pulmões.
Mas Dante não se importava. Era mais uma chance.
Ele socava o rosto da criatura mesmo enquanto subiam. Um, dois, três golpes no maxilar. A cada soco, seu corpo vibrava, o som se perdia no vento. A criatura devolvia — socos nos rins, garras nas costas, um chute que quase arrancou a perna de Dante.
Eles se batiam como dois pedaços de metal quente, colidindo em pleno voo.
O Felroz o girou no ar e o segurou pelos ombros, as asas agora imóveis. Começou a cair com ele, direto em queda livre.
Dante entendeu o plano. O desgraçado queria enterrá-lo com o impacto, quebrar cada osso, esmagar até não sobrar carne.
Mas ele abriu um sorriso largo. Se ele queria tanto, então, ele teria.
A queda começou. Na direção contrária a de onde estavam indo, chegando mais próximo da montanha. Dante soltou uma risada quando rapidamente jogou uma das mãos para trás, e expulsou o ar, girando fortemente o sentido que estavam indo.
As asas batiam em desespero, não por medo, mas por fúria primitiva. O vento não era aliado, era obstáculo. Cortava-lhe as membranas como cacos de vidro invisíveis. A altitude fazia os ossos vibrarem, o céu tinha gosto de eletricidade. A pele do humano sob suas garras não se desfazia — ela resistia. Quente, pulsante. Viva demais.
E ele… ria.
O som não tinha forma. Era uma vibração dissonante, antinatural, como se o riso fosse uma arma. A mandíbula do Felroz se retesou. Tentou compreender. A criatura em suas garras — Dante — não temia a morte. Ele a desafiava. Se deliciava com ela.
Aquilo causava um erro interno.
O sistema sensorial do Felroz — que lia calor, pressão, movimento, intenção — vacilou. O padrão se tornava imprevisível. Não havia fuga, nem defesa. Só ataque. Instinto por instinto. O Felroz lançou outro soco, a carne cedendo sob a força do golpe. Dante se virou com o impacto… mas voltou.
Não era natural. Não era humano.
A cabeçada veio densa, crua, como se Dante fosse um osso lançado por um predador maior. O crânio colidiu com a testa do Felroz. O mundo piscou em branco. O campo de visão dobrou. As asas falharam por um instante.
Ele grunhiu. Não em dor, mas em surpresa.
Onde estavam os padrões? Onde estava a lógica?
Não havia.
A força que sentia vindo daquele humano não era feita para resistir, era feita para romper. E ela estava se acumulando. Os dados eram erráticos. A dor nos sensores faciais aumentava, a visão se fragmentava, mas o inimigo ainda estava sorrindo.
O Felroz tentou recuperar o equilíbrio no ar. As asas bateram forte. Mas algo travou.
Seu braço. Preso.
Dante o agarrava com força descomunal, com músculos que se retorciam como cabos de metal sob a pele rasgada. O Felroz viu a densidade do ar mudar. Sentiu as partículas ao redor vibrarem. O ar estava… respondendo à presença dele. Havia massa onde não deveria existir.
Energia.
A pressão girou.
Seu punho — aquele que deveria esmagar carne — foi torcido. Dante o utilizava como eixo. O Felroz gritou, mas o som foi consumido pela altitude.
O giro aumentou. A inércia foi quebrada.
Dante apareceu no campo de sua visão com um sorriso aberto, olhos selvagens, e já vinha girando o corpo no ar com um chute. A perna atingiu bem no centro de seu rosto, onde ficavam seus sensores olfativos, logo acima das placas nasais. O crânio tremeu por dentro. Fragmentos de gelo foram lançados ao redor. O Felroz afundou mais na montanha, sentindo a terra ceder como areia sob os pés.
Mas não ficou parado.
Instinto. Reflexo. Movimento sem pensamento.
Agarrou a perna do humano ainda no ar, com garras largas que podiam rasgar um tanque. Prendeu-a. Sentiu os tendões se retesarem. A carne cedeu um pouco sob a pressão.
Ele abriu a boca. Rapidamente.
Não era uma boca como a dos humanos. Era um arco de placas serrilhadas, feitas para cortar e triturar minerais. Era ali que concentrava sua força total, a mordida de uma espécie que evoluiu para devorar pedra e carne com o mesmo apetite.
E então foi atingido.
Uma dor absurda, súbita, espalhou-se por seu peito como uma segunda explosão, mas esta não fez som. Fez silêncio. Um vácuo que se abriu dentro de si. Como se algo tivesse cavado um buraco através de suas costelas. Os sensores internos registraram falha estrutural. Sangue. Estalos. Colapso parcial do segundo coração.
— Está tentando me comer, cara? Vamos, me dê mais. Eu quero ver até onde nós dois aguentamos. Você não é o dono daquele Lagmorato. — A voz dele chegava, mesmo que não entendesse completamente.
O Felroz entendia aqueles gestos e acenos.
O Humano queria lutar…
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